quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

ENTREVISTA COM GIL FIRMINO, DESENHISTA E EDITOR DA REVISTA PORRADA!


Quem é que não conheceu a famosa revista Porrada? 
Quem é que nunca ouviu falar da lendária editora 
Vidente, uma das mais importantes 
casas editoriais do país,
que além de Porrada também lançou 
a revista Pau Brasil e uma centena
de outros títulos populares? 
Se você nasceu na década de 70 e 80, provavelmente,
 nos anos 90, algum dia ouviu falar da revista
 Porrada e de seu editor. Pois é, o cidadão que 
deu o seu depoimento – um papo cabeça -, nesta
 entrevista, além de ser um velho e querido bengala
 friend, também sempre foi um excelente
 desenhista, redator e editor. 
Foi o responsável pelo lançamento da revista 
Porrada, publicação especializada em histórias
 em quadrinhos que marcou época e de
 mais uma centena de outros títulos dos
 mais diversos gêneros.
 Este grande batalhador e produtor gráfico
 também foi o fundador da famosa editora 
Vidente, empresa editorial que lançou
 inúmeros títulos nas bancas nacionais,
 que fizeram história, Ele deu oportunidade
 para muita gente publicar nesse país – 
veteranos e iniciantes.
Amigos, web leitores, saibam mais 
sobre essa intrépida criatura. 
Saibam mais sobre o incrível...

GILBERTO FIRMINO,
                                                         
EDITOR DA 

LENDÁRIA EDITORA

VIDENTE E DA REVISTA

CHAMADA PORRADA!

Entre seus opositores ele é tido como
"O Homem Mau, do quadrinho brasileiro!"


Uma das belas capas da revista Porrada feita pelo argentino Hector
Tony 1- Cara, que prazer poder lhe entrevistar,
 professor Gil - também conhecido entre 
os amigos por Gibão. 
Ultimamente, só tenho entrevistado feras e você, 
obviamente, não poderia faltar nesta festa. 
Vamos direto ao assunto... 
Você nasceu em que dia, mês, ano, em que 
cidade e estado? O povo quer saber (Rsss...).

FIRMINO: Sou natural da cidade de Araçatuba 
localizada na região noroeste do estado de São Paulo.
 Vim ao mundo no ano da graça de 1964, no 
vigésimo dia do mês de novembro na manhã de
 uma quarta-feira ensolarada.
 Terceiro filho de uma família de seis irmãos. 
Segundo a lenda caí, ainda bebê, de um disco
 voador desgovernado no quintal da casa do
 velho Firmino, que me alimentou com livros
 e revistas, mas eu também 
gostava de comer jornais...(rs).

Araçatuba - Cidade do interior de São Paulo

Tony 2-  Um alien? Que gostava de Comer jornais, 
além de HQs? (Rsss...). Começamos bem... 
vamos nessa, ET... Eu o conheci na editora 
Noblet, se não me engano.
 Você também passou por lá, ou seja, trabalhou 
lá no tempo do Paulo Hamasaki, nosso editor
 chefe da época. Diga-me... como foi que você
 foi parar na Noblet e como foi conviver 
com o mestre e grande guru do 
Oriente Paulo Hamasaki? 
O cara é, até hoje, fissurado por horóscopo.
 Nunca vi igual...por isso costumo chamá-lo de 
“Nosso astrólogo do Oriente” (Rsss...).

FIRMINO: Quando cheguei aqui em São Paulo, aos 
18 anos, em 1983, as duas únicas editoras que
 publicavam quadrinhos nacionais na
 época eram a D'Art ,do Rodolfo Zalla, e a 
Noblet, do Joseph Abourbih. 
Conheci o Zalla e comecei a colaborar como 
roteirista nas revistas Calafrio e Mestres do 
Terror (ele achou que o meu traço ainda
 era meio inseguro, mas que eu escrevia muito bem ).
 Ele me deu as dicas do mercado e falou para eu 
visitar a Noblet. Liguei para lá e falei com o 
Hamasaki, que marcou para eu passar numa 
sexta e tomar cerveja com os artistas da casa 
que se reuniam toda semana no boteco-escritório 
para receber os amigos no happy-hour...rs.

Foto 1: Fausto Kataoka e Paulo Hamasaki (ao fundo), 
em primeiro plano Gil Firmino). Foto 2: Fausto 
e Gil, "bebemorando".

Tony 3– Esses happy hour eram memoráveis... haja
 “loiras geladas” (Rsss...). Cara, então você
 começou com o mestre Zalla, 
jamais imaginei isso. 
Como digo sempre, é por isso que essas 
entrevistas são ótimas, sempre acabamos 
conhecendo um pouco mais sobre os amigos
além de revelar coisas de bastidores do
mundo das HQs. 
Continue...

FIRMINO - Quando o Hamasaki descobriu que nós
 dois éramos da mesma cidade (por uma feliz
 coincidência do destino) fez questão que
 eu fosse trabalhar na editora. 
Ele foi um mestre para mim naquele início e 
foi prazeroso compartilhar de sua inteligência 
e seu conhecimento astrológico...rs.

Tony 4 - Hmmm... já vi tudo... afinidades astrológicas,
bairrísticas e etílicas (Rsss...). 
De fato, nosso guru do Oriente sempre foi um
 poço de cultura geral e tarado por astrologia.
 Até hoje vive dizendo que sempre nos demos 
bem porque nossos signos 
zodiacais são compatíveis. 
Nunca acreditei nessa coisa, principalmente,
 depois que escrevi durante anos seções de
 horóscopos sem entender de
 porra nenhuma (Rsss...).
 O que você fazia na Noblet?
 Era assistente do Hama, como eu fui?

FIRMINO: Para minha sorte (outra vez), você tinha
 acabado de se demitir da editora deixando uma vaga 
no departamento de arte que eu ocupei...
 obrigado, Tony!...kkk. Comecei com as revistas 
infantis, mas depois acabei fazendo de tudo:
 Akim, Sexyman, Hot Girls, Contos e por aí afora. 
Capas, arte-final, textos, revisão, HQ's 
 e até fotolitos...rs.

Foto atual do intrépido editor, com
pinta de mafioso

Tony 5 - Não tem de que... Exatamente, pedi demissão, 
acho que pela quarta vez... era um drama. 
Eu e o mister No (Sr. Joseph Abourbih, nosso
 editor) vivíamos quebrando o pau, nossos 
santos não se bicavam. Ou como dizia 
o Hama: “Seus signos não combinam.”), e o Hamasaki
 vivia nos conciliando (Rsss...). Eu pedia a conta e 
ele sempre me recontratava pagando mais, até
 que, por fim, por estar de saco cheio, chutei
 o pau da barraca e decidi sair de vez e abrir 
meu primeiro estúdio (ETF). Fiquei na Noblet 
durante 5 anos e aquilo pra mim já não 
tinha mais graça. Queria novas conquistas, 
novas perspectivas. 
Queria montar meu próprio negócio. 
E, com certeza, precisavam de alguém para
 por no meu lugar. Que bom que esse 
alguém foi você, Giba...
Quanto tempo você trabalhou com o famoso Mister 
No (apelido brejeirinho  dado por nós 
ao editor Joseph Abourbih)... Rsss...

FIRMINO: Eu fiquei lá aproximadamente dois anos 
e só saí para também tentar abrir a minha
 própria editora. Mas foram dois anos muito
 importantes, pois lá eu aprendi tudo 
sobre gráfica, editora e quadrinhos.

Década de 80. Happy Hour. O trio parada dura: Fausto, Gibão e Hamasaki,
"enxugavam" os copos em grandes sextas etílicas, no
tempo em que os três trabalhavam na editora Noblet
Tony 6 - Sem dúvida, a Noblet foi 
uma grande escola para
 todos nós... ela foi um verdadeiro celeiro
de jovens talentos... muita gente passou
é saiu de lá para abrir seu próprio
negócio, como nós. Sabe, acho incrível
essas coisas do destino. Nosso editor
nasceu no Egito, do outro lado do mundo,
viveu na França, em Nova Iorque e
acabou vindo para cá, pra ajudar a
todos nós. Se ele não vem pro Brasil
talvez nossas carreiras profissionais
jamais teriam decolado... essas
coisas são incríveis. Parece que viémos
para esse mundo com tudo já
programado. Mistério, bengala friend...
muito mistério. Dá até pra pirar se
a gente ficar matutando por que
essas coisas acontecem. Apesar de
ter arranca rabos homéricos com o Mister No
sempre gostei dele. Foi um grande cara,
um grande incentivador da arte.
 Seguindo... 
Antes da Noblet, você já havia tido alguma 
experiência no setor editorial? 
Isto é, já havia publicado por aí? 



FIRMINO: Sim. Comecei aos 15 num tablóide 
da minha cidade fazendo tiras de humor, 
ilustrações e vinhetas num jornaleco. 
Depois cheguei a ter duas HQ's eróticas 
publicadas na saudosa Grafipar na seção 
"clube de quadrinhos", onde eles davam 
oportunidade para iniciantes. 
Trabalhei em uma 
editora de revistas técnicas antes de ir para
 a Noblet onde eu fazia past-up das revistas 
e criava capas de livros. Sou especialista
 em capas até hoje. 
Acredito que só existam uns 
8 em todo o Brasil.

O jovem Gilberto Firmino, que já
sonhava em ser editor, um dia

Tony 7 – Past-up, hoje em dia a galera nem sabe 
o que é isso. Mas, isso é uma longa história 
que fica para outra vez... Agora sim, estamos,
 todos, conhecendo seu dossiê, meu querido
 bengala friend. Um capista nato? Bom saber... 
No meu tempo, a Noblet era o POINT... muita
 gente importante passava por lá, como: 
Jayme Cortez, Reinaldo de Oliveira, Militelo, 
Paulo Fukue, J.B. Pereira, Shimamoto, 
Hélio Porto, e outras feras. Na sua época,
 quem você conheceu – que você
 admirava -, naquela editora?

FIRMINO: Lá eu conheci todos estes que você
 citou, mas eu admirava mesmo eram os 
desenhistas da nova geração da época como 
o Seabra, o Rodval Matias e o Mozart Couto.
 Eu fiquei muito feliz por ter conhecido (pasmem!!!) 
o Seabra... kkk. Eu era fã dele. E fiquei 
decepcionado por não ter conhecido o 
Mozart. Ele nunca veio na editora, 
mandava tudo pelo correio.



Tony 8 - O Mozart sempre morou em Minas... 
Você ficou feliz, por ter conhecido o Seabra!?
 Aquele tranqueira? (Rsss...). Brincadeirinha,
 Seabrão... todos nós te admiramos. 
Esses feras que você citou,bengala Giba, 
fizeram HQs para a revista Sexyman, um 
título de quadrinhos eróticos que durou anos
 pela Noblet. Começou com material importado
 e depois passou a dar espaço pros brasileiros.
 Prosseguindo... Na década de 80, após ficar 5
 anos na Noblet – como já disse-, eu pedi a 
conta e abri meu primeiro estúdio.
 O Hamasaki se aventurou na Grafipar – 
que estava bombando -, mas acabou voltando pra 
Noblet, quando percebeu que a editora de 
Curitiba tava indo pro saco. 
O Hamasaki, ele deve ter ficado uns 10 anos
 por lá ( na Noblet), eu acho. 
Você, saiu antes ou depois do
 japa Paulo Hamasaki?

FIRMINO: Logo depois dele.

Tony 9 - Tínhamos, todos, espírito empreendedor,
 e acabamos deixando nosso velho e bom editor
 a ver navios, essa é que é a verdade... 
O que você fez, depois que saiu da Noblet?



FIRMINO: Eu me associei ao João Francisco e 
ao Fausto Kataoka para abrirmos uma editora.
 Eu produzia, o Kataoka imprimia e o João
 distribuia... não deu muito certo...rs. 
Eu acabei indo trabalhar de empregado novamente. 
O João me levou para a editora La Selva, do 
Victor La Selva, que quando a revista FIESTA 
acabou virou sócio do Galvão. 
E quando a sociedade deles terminou eu
 fiquei como diretor de arte da
 então nova Galvão Editora.

Década de 80: Galvão - editor da revista Private e Porrada-
e Gibão tomando uma "loira gelada" num boteco
do litoral paulista


Tony 10 – Caraca! Você se associou ao Johnny 
Francis (João Francisco),e ao Faustão?
 Eu ia morrer sem saber disso, juro... e o incrível,
 todos são meus amigos. 
Para quem não sabe o lendário João Francisco
 foi o intrépido editor da revista Abutre
 (de HQs) e de uma porrada de revistas 
de fotonovelas eróticas  e de atividades infantis. 
Ainda é o dono da editora Flama e outro selos.
Para que empresas editoriais
 você trabalhou, pós-Noblet?

Anúncio de quarta capa onde aparecem alguns dos títulos lançados
pela editora Vidente
FIRMINO: Fiz "free-la" para quase todas as editoras de 
São Paulo daquele tempo. Abril, Ondas, Três,
Aplause, Flama, Bentivegna, Nova 
Sampa, Maciota, Fitipaldi, etc.

Tony 11 - Bela bagagem profissional... 
Vamos falar sobre a famosa editora Galvão, 
que publica a revista PRIVATE  há anos– 
destinada ao público masculino.
Como foi que você convenceu nosso bengala
 friend, Galvão, a lançar histórias em quadrinhos?
 Foi ele que começou a lançar a
 lendária Porrada, não foi?



FIRMINO: Ok. Depois de dois anos editando
 revistas masculinas eu pedi demissão porque
 não aguentava mais ver tanta mulher pelada...kkk. 
Eu queria editar quadrinhos. 
E para me manter na empresa ele aceitou a 
minha proposta de lançarmos pelo 
menos uma revista de HQ's.

Tony 12 - Esta sua afirmação “Não agüentava mais 
ver tanta mulher pelada”, pode parecer estranho,
 mas isto também aconteceu comigo, quando 
trabalhava fazendo Hot Girls e Contos Excitantes
 para a Noblet. Inicialmente você fica 
empolgado, com o tempo baixa uma puta frustração,
 a gente quer fazer HQs e acaba mesmo enjoando
 de ver tantas xanas (Rsss...). 
Olha o perigo!  Parece coisa de boióla, mas não é.
 Fazer sempre a mesma coisa é maçante. 
Você ganha a sua grana mas rola uma puta 
frustração. Criar textos eróticos então é
 um pé no saco. É tudo igual: “Uiii...aiii...bota tudo... 
tira... mais, mais... hfsss...ahhh, gozeiiii”. 
Mas, o pessoal gosta e as melecas vendiam
 pra cacete na época. Nossa obrigação, 
como funcionários da casa, era fazer o 
que o editor queria. 
Mas fazer durante anos aquilo era foda...
 Não há nada como fazer aquilo que nos
 dá prazer: HQs. Continuando... 
 Qual era a proposta inicial da Porrada?
 Dar espaço pros autores nacionais?

Gil Firmino (Gibão) em visita a DeFarias Editora

FIRMINO: O desejo era de fazer uma revista 
todinha com autores nacionais mas, infelizmente, 
não se consegue manter uma publicação 
mensal de qualidade apenas com trabalhos
 de profissionais brasileiros. 
Você até consegue fechar uma edição, duas 
ou três daí a coisa começa a complicar
porque a qualidade cai muito e o leitor abandona
 o título e as vendas despencam. Este é um dos 
motivos do quadrinho nacional nunca ter dado certo.  
Falta constância na qualidade quando se
 tem a obrigação de cumprir um contrato mensal 
com uma editora. O pessoal falha. 
No final das contas a casa publicadora se vê 
forçada a contar com o material importado 
que é muito mais seguro, em termos de qualidade.
 Todo o resto que se diz a respeito do quadrinho
 nacional é "balela". Como se diz lá no interior: 
_ "É cunversa pra boi durmi!"...kkk. No caso 
da Porrada a solução que eu encontrei foi 
mesclar 50% gringo com 50% de 
material nacional. Funcionou!!!


Tony 13: Você tem razão... manter uma publicação 
só com os tupiniquins sempre foi problema. 
O pessoal dizia que ninguém dava espaço, 
quando criávamos espaço sentíamos o drama. 
Faltava produção, qualidade e constância. 
Pra fazermos a Udigrudi tínhamos que contar 
com um batalhão de autores, mesmo pagando
 um bom preço por página.  
A maioria só produzia 10 pagininhas mensais.
 Era uma merda. Você usou a cabeça
 mesclando o material e o resultado foi um sucesso.
 Parabéns, pela brilhante jogada. 
A ideia de lançar a revista Porrada, 
ela foi sua ou do Galvão?

FIRMINO: Minha, pois a ideia inicial dele era 
uma revista de humor na linha de Chiclete com 
Banana, Geraldão, Niquel Nausea e Casseta 
Popular, que eram publicações que faziam 
sucesso na época. Como não conseguimos 
ninguém que tivesse capacidade para produzir
 uma revista mensal de 32 paginas ele acabou 
desistindo desta linha e deixou para
 eu decidir o que seria lançado.

Tony 14 - Maravilha! Nosso amigo, Galvão, é um
 dos mais bem sucedidos editores da nossa época
 e até hoje tá aí “firme na paçoca”, apesar do 
mercado ter virado de pernas pro ar... quanto
 tempo você trabalhou com ele e quando 
foi que decidiu sair de lá? E, por quê?

A arte underground de R.Grumb era constante nas páginas de Porrada

FIRMINO: Três anos. Na verdade eu queria ficar lá 
apenas um ano, pois tinha o desejo de ter a
 minha própria editora, mas toda vez que eu
 pedia demissão ele dobrava o meu salário e
 eu fui ficando. O sucesso do Galvão é que 
antes dele se tornar uma editora já era 
uma distribuidora. 
E antes de se tornar distribuidora 
ele tinha trabalhado por mais de 20 anos na
 grande Fernando Chinaglia Distribuidora S\A. 
Quer dizer: o homem sabe tudo de distribuição.
 Um pouco desta experiência dele eu consegui 
adquirir neste convívio que foi de suma
 importância na minha trajetória. 
Eu decidi sair quando ele cancelou a circulação
 da revista Porrada! Na sétima edição quando 
as vendas tinham caído de 30 para 20 mil
 exemplares e não compensava 
para a empresa.

Tony 15 - Captei vossos “sinais de fumaça”, mestre... 
A famosa editora Vidente, vamos falar sobre o
 Gibão editor, agora... em que ano você a abriu 
e qual foi o primeiro título que você 
lançou nas bancas?



FIRMINO: Comecei em 1989 sob o sol de gêmeos, 
no mês de junho e o primeiro produto que coloquei 
nas bancas com o selo da Vidente foi a revista 
Porrada! Na sua nova fase "special". 
Um sucesso total de vendas, 95% da tiragem 
de 10.000 exemplares distribuídos APENAS  
na cidade de São Paulo. Eu nunca mais consegui 
uma porcentagem desta em qualquer outra venda 
de revista. Você não encontra mais um exemplar
 desta edição em lugar nenhum. 
É uma raridade e quem tem não vende.

Título de  revista dirigida, acadêmica,  feita pelo Gil

Tony 16: Atenção, bengalas friends colecionadores!
Alguém tem em seu acervo a referida revista?
 Tá valendo uma grana... 
O título Porrada, como já comentamos, foi lançado 
inicialmente pela Galvão Editora. 
Ao sair de lá, você ficou com o título e passou 
a lançá-lo pela sua editora. Conta pra gente
 como é que rolou essa negociata 
de você ficar com o título?

FIRMINO: Foi o seguinte: Pouco antes de sair da 
Galvão editora eu tinha feito um acordo com
 ele para continuar na empresa, eu
 imprimiria minhas próprias revistas e ele 
distribuiria com o selo dele pela Chinaglia 
e nós racharíamos o lucro. Logo na primeira 
revista que lançamos nesta parceria o índice 
de venda foi muito bom, 75% de 30.000 exemplares. 
Ele "cresceu o olho" e me propôs a compra deste 
meu título "Guia da Felicidade". Eu falei que 
aceitaria trocar pelo título "Porrada!". 
Como ele não tinha mais interesse na revista
 de HQs acabou me dando o título de brinde e
 ainda me pagou uma grana bem legal pelo 
meu guia. Foi assim que consegui capital 
extra para dar início à 
minha própria editora.


Tony 17 - Belo lance... genial! Ainda sobre a sua 
editora Vidente... foi fácil fechar contrato com 
um grande distribuidora? 
Ou a coisa foi demorada?



FIRMINO: Foi muito fácil porque eu já era conhecido 
lá dentro. Como funcionário da Galvão editora 
eu frequentava a Distribuidora com muita 
frequência e já tinha feito muitos amigos ali. 
Quando me tornei editor me receberam de braços
 abertos e foi tudo muito natural.

Tony 18 - Legal. Quando tentei entrar na “máfia” 
houve uma certa resistência. As portas só se
 abriram quando disse para eles que havia sido
 funcionário da Noblet durante 5 anos e que 
era eu quem fazia as revistas daquela casa. 
Pensando bem... fomos privilegiados pelos deuses, 
grande Giba... no nosso tempo tudo vendia bem. 
Éramos felizes e não sabíamos (Rsss...). 
O mundo mudou e o mercado editorial
 também, não se vende mais como antigamente,
 pelo menos, no Brasil, você sabe... sei que a
 sua revista Porrada vendia bem. 
Qual foi a tiragem inicial e 
quanto por cento vendia?

FIRMINO: Você está falando de quase 
30 anos atrás...rs.

Tony  19 – Sim, somos anti-diluvianos, bengala 
brother... somos jurássicos.
 Uma espécie em extinção (Rsss...).

FIRMINO: Realmente o mundo era muito diferente. 
Dá para acreditar que não existia Internet e
 nem celular?!? Pois é, crianças!!!...rsss. 
Tudo era diferente. É por isto que hoje
 devemos enterrar de vez estes conceitos
 arcaícos de produção e distribuição no ramo
 editorial e nos adequarmos o mais rápido
 possível a estes novos tempos. 
Na primeira fase distribuída pela GED 
(Galvão Editora - 6 edições) a tiragem 
era de 50.000 exemplares com vendas 
entre 60 e 50% nas edições iniciais caindo
 para 30% nas últimas edições. 
Na segunda fase, pelo selo Vidente (12 edições), 
Os primeiros 3 números, apenas com 
distribuição local, a tiragem era de 10.000
 exemplares com vendas variando de 95 a 80%
 (sucesso editorial). 

Al Capone?


A partir da edição 4, aumentou a tiragem para
 30.000 exemplares e a distribuição foi para
 todo o país. As vendas estacionaram na 
casa dos 50% até a edição 9 e depois despencaram
 para 30 e 20% na última edição. 
Vale ressaltar que consegui fazer a mágica
 de manter o preço de capa de 4 em 4 edições,
 mesmo aumentando o número de páginas, 
de 32 a 48 e depois para 64 e ainda adicionando 
encartes e posters apesar da inflação
 monstruosa do governo Sarney.

Tony 20 - Caraca! Você fez milagre! Naqueles idos 
a inflação era galopante.  Quantos autores 
colaboravam para a confecção de cada
 edição? Dá pra lembrar?

FIRMINO: De 8 a 10.

Paul Brasil foi outro grande título lançado
pela editora Vidente
Tony 21 - Cite alguns nomes das feras que colaboraram 
com a editora Vidente, gente que fazia quadrinhos...

FIRMINO: Nossa! Era muita gente...rs. 
Não vou lembrar de todo mundo então citarei 
apenas alguns nomes...  O Marcelo Campos, 
o Roger Cruz,  Luke Ross, Kleb's Jr, Bira 
Dantas, Osney Roko, Hector Gomes, Marcatti,
 Seabra, Gilvan Lira, Salatiel, Morgani, Schaal,
 Lourenço Muttarelli, Watson Portela, 
Sidney Gusman, Marcio Baraldi, Mosquil, 
Oswaldo Pavanelli, Vilela, Milanni, Burdiel,
 Málaga, Arthur Garcia, Lobo, Allan Alex,
 Patati, Marcelo Gaú, Solano
 Lopez e muitos outros.

O ilustrado Roko entregando a capa da
edição # 7 da revista Porrada
Tony 22 - Só feras do traço e do texto! 
Muitos deles ainda estão por aí na batalha.
Outro dia entrevistei o bengala friend Jerônimo
 Gonçalves e, pra minha surpresa, ele me 
disse que me procurou porque você me indicou. 
Ou melhor, indicou a minha editora 
Phenix... foi isso mesmo?
 Como você o conheceu?

FIRMINO: Não me recordo, mas deve ter sido 
por ele ter procurado a editora e depois de 
uma análise eu ter achado que o material 
dele se enquadrava na linha de alguma revista 
sua... deve ser isso, mas não tenho certeza,
 desculpe-me. Nesta idade a minha 
memória já começa a falhar...rsss.

Tony 23 - As nossas. Nossos “HDs” andam falhando 
(Rsss...). Parece que o Roberto Guedes também 
nos procurou após passar pela Vidente... que
 trabalhos o meteórico Guedes 
fez para a revista Porrada?

FIRMINO: Bom, isto você tem que perguntar para 
ele porque eu sinceramente não me recordo mais...rs.



Tony 24 - Esse é o problema de entrevistar 
tiozinhos e vozinhos bengalas, a arteriosclerose
 tá pegando (Rsss...). Mas, tudo bem... vamos
 em frente. Nobody is perfect... Muitos dos
 profissionais que trabalhavam pra Phenix
 também passaram a colaborar com a Vidente,
 como Bilau, Salatiel de Holanda e outras feras.
 Você conseguiu, também, arrumar um time 
da pesada. Haja grana para manter uma 
equipe dessas na ativa. Fale-me sobre o seu 
dia a dia na editora. Você, pessoalmente,
 lidava com os autores?

FIRMINO: No princípio, sim, mas depois a coisa
 tomou uma proporção muito grande que 
fui forçado a contratar um profissional só 
para atender os autores e os iniciantes. 
O primeiro foi o Álvaro Omine, depois 
o Mosquil e por fim o Dario Chaves. 
Eu chegava no escritório as 9 da manhã, 
colocava a burocracia em dia e atendia 
os fornecedores e colaboradores das 10 
ao meio-dia, com reuniões de 10 minutos
 com cada um. Não perdia tempo com papo-furado. 
Daí almoçava e ia visitar gráfica, distribuidora 
e banco. Voltava para a editora às 16 horas 
e ficava na redação supervisionando algumas 
coisas e produzindo outras revistas até 
as 19 horas. Depois ia para casa.

O íncrível Hector Gomes
Tony 25 - Vida de dono de editora pequena é foda. 
O pessoal pensa que é moleza administrar 
buchas e ainda ser artista... Entre os autores há
 muitos narcisistas, muito vedetismo e
 até desacordo entre eles. Sua equipe 
trabalhava em harmonia ou você alguma
 vez teve que lidar com desavenças entre eles?

FIRMINO: Não porque a minha postura com todos 
sempre foi profissional. Deixava claro desde o início 
que autor não era artista e sim um trabalhador 
como todos os outros sujeitos à lei trabalhista 
com direitos e deveres. E que, as HQ's não
 eram "obras" de arte e sim produtos comerciais 
e por consequência sujeitos à lei de mercado.
 Eles entendiam e todo mundo se respeitava.

Tony 26: Perfeito! Também sempre pensei 
como você, porém, você sabe... tem uns malucos
 que acham que elas são obras de arte, na acepção
 da palavra. Estão iludidos. Um dia, um dos nossos 
colaboradores me disse que estava trabalhando pra 
Vidente e que você estava pagando 
a turma em dólares... isto é verdade?

FIRMINO: Kkk...(gargalhadas). Sim, pode-se dizer 
que sim. Na verdade eu pagava em cruzeiros 
pela cotação do dólar do dia em que estava
 efetuando o pagamento. Eram tempos horríveis
 de hiperinflação e esta foi a forma que 
eu encontrei de salvaguardar o poder aquisitivo 
dos autores. Eu combinava um valor em dólares 
e no acerto pagava em cruzeiros o valor 
cálculado pelo dólar do dia. O pessoal gostava.
 Mas pra alguns autores cheguei 
a passar dólares mesmo.

O argentino Mosquil, apresentando
suas pranchas ao editor
Tony 27 - Também me informaram que você tinha 
um projeto faraônico: imprimir revistas em 
inglês, no Brasil, e distribuí-las nos Estados
 Unidos. Pensei comigo, na época: 
“O Giba tá pirado? Querendo encarar 
as majors americanas? Viajando na maionese?” 
Isso, de fato, eram seus planos 
ou a coisa foi apenas uma lenda?

FIRMINO: KKKKK...(muitas gargalhadas mais). 
Isso também é verdade. Eu cheguei a iniciar este
 projeto, mas não o concluí porque na sequência 
tive problemas com sócios e tive que fechar
 a empresa. Mas cheguei a publicar uma edição
 one shot "Cangaço" e uma mini série Age 
Of Darkness, em inglês,  que não foram exportadas.
 Realmente naquele tempo eu tinha 
muitas ideias mirabolantes...kkk.

Tony 28 - Ducacete (Rsss...). Bons tempos aqueles. 
Você fez história...  Você tinha contato, com 
algum distribuidor americano? 
Aliás, pelo que sei, só existe um
 até hoje a Diamond Comics...

FIRMINO: Tinha nada! Eu ia me meter no
 mercado americano com a cara e a coragem...rs. 
Eu era jovem e inconsequente. 
Hoje não sou mais jovem...rssss.

Curtindo o folclore da região Nordeste do país,
durante o lançamento da revista Cangaço,
em Recife

Tony 29 – É... Hoje somos sábios, de tanto fazermos 
cagadas... só assim um homem pode se 
tornar um sábio (Rsss...)... a realidade 
é cruel... Prossiga, sábia criatura...

 FIRMINO: O JP na época estava ligado ao Art
e Comics (do Hélcio) e se ofereceu para
 me indicar o caminho das pedras, mas
 ele achava que eu não deveria imprimir 
no Brasil e exportar para os Estados Unidos
 e, sim, imprimir numa gráfica de lá e
 distribuir pela Diamond. Ou seja, montar
 uma filial lá nos States. Não topei e o 
negócio acabou naufragando. 
Eu queria o controle total sobre a
 produção e não podia ficar viajando para lá.

Tony 30 -  Tudo isso faz parte da empolgação, é claro... 
as coisas estavam indo bem, por que não sonhar? 
Fale-me sobre a experiência que você, um 
autor de HQs, teve como dono de editora... 
valeu a pena? Deu para ganhar dinheiro?



FIRMINO: Valeu, valeu sim! 
Eu ganhei uma grana legal, 
pois a empresa era lucrativa.
 Depois eu perdi tudo...
 em outros negócios...rsss. Mas valeu muito. 
O problema é que depois que eu me tornei 
empresário não tinha mais tempo para
 ser autor e tive que abdicar da produção
 de minhas HQ's para me tornar editor do 
trabalho de terceiros. 
Mas foi prazeroso mesmo assim.

Tony 31 -O que vale é a experiência e  é óbvio que
 uma boa grana sempre acaba rolando sempre, 
basta ter coragem e ir pras cabeças. 
O que não pode é ser cagão (Rsss...). 
Que outros produtos, além de quadrinhos, a 
Vidente publicava?
 E qual era o título que mais vendia?

A revista Tralha, do cartunista Macartti - o rei
do underground nacional -, também foi editada
pela editora Vidente
FIRMINO: Nós tínhamos um linha popular centrada
 no misticismo aproveitando uma tendência 
do mercado na época. Astrologia, Crendices 
Populares, Tarô, Numerologia e outros. 
Daí o nome Vidente. Tudo vendia bem.
 Também tínhamos uma linha de revistas 
masculinas muito lucrativa o que nos dava 
respaldo para investir nos quadrinhos que
 era a linha que menos dava retorno, 
mas rendia prestígio.

Tony 32 - Quem era o seu sócio, na Vidente?

FIRMINO: Minhas ex-mulheres...KKKK

Tony 33 - Ex-mulheres!? O bengala brother, na 
época, manteve um harém (Rsss...)? Tô brincando... 
A Vidente fechou, infelizmente, na década de 
90, se não me engano, correto? 
Depois disso, você sobreviveu fazendo o quê?

FIRMINO:  Lancei minha última publicação 
popular nas bancas em 98. Foram dez anos,
 de 1988 a 1998, a existência da editora.

Tony 34 – Um ato de heroísmo puro. Continue...

O jovem editor na sede da editora Vidente
FIRMINO : Depois disso fiquei 3 anos prestando 
serviços para empresas privadas e organizações 
institucionais. Editei e produzi neste período 
a revista "Virus Research and Reviews" para 
o instituto de Virologia da USP que como
 toda revista reconhecida na comunidade 
científica internacional precisava ser 
obrigatoriamente toda em inglês.
 Fiz publicações para o Unibanco, Bamerindus,
 Parque Terra Encantada no Rio de Janeiro
 e muitos livros para diversas editoras.

Tony 35 – Aposto que ninguém sabia disso, 
nem eu... quem entra 
no ramo não sai mais, diz a lenda...  Você também
 foi pro interior há algum tempo atrás e lá
 começou a dirigir um jornal, cujo dono era
 um político da região. Qual era o nome desse
 jornal e em que cidade você foi morar?



FIRMINO: Eu fui pro interior trabalhar com 
marketing político e participei de duas
 eleições, 2000 e 2002. Mas a história é diferente,
 primeiro eu fundei um Jornal na cidade e 
depois quando ia voltar para a capital vendi 
para um político da região. A cidade era 
Birigui, vizinha à minha cidade natal, Araçatuba.
 Me convidaram para produzir uma revista 
da cidade mas naquela época eu já estava
 de "saco cheio" de revistas e queria 
experimentar outras coisas. Foi aí que tive a
ideia de montar um jornal para a cidade 
porque ali não tinha nenhum e todos tinham
 que ler o diário de uma cidade vizinha, 
que tinha apenas meia página sobre a
 cidade que eu estava. Nascia ali o "Birigui 
Acontece" com o apoio de toda a população
 local. Lá eu consegui reunir uma turma 
muito boa e aberta a experimentar novos
 conceitos de jornalismo que eu
 desenvolvi para aquele veículo informativo.

Birigui - Cidade do interior paulista
A proposta gráfica era ultra-moderna e o 
conteúdo apresentado de forma diferente e
 superinteressante. Isso tudo que a Globo
 apresenta como "novidade" hoje minha equipe 
de jornalismo já fazia há 10 anos atrás. 
 Implantamos o moto-repórter que chegava ao 
local onde o fato estava acontecendo em 
menos de 10 minutos. 
Distribuímos 10 máquinas fotográficas
 digitais para as maiores fofoqueiras da cidade
 que passavam o dia inteiro na janela em 
pontos estratégicos que viraram nossas 
informantes...rs. Quando chegávamos no local 
elas nos relatavam tudo e tinham ótimas 
imagens digitais...kkk. Contratei um 
radialista para redator e pedi para ele escrever 
como se estivesse falando no rádio. Deu certo, 
a linguagem ficou super dinâmica e gostosa de ler. 
 Para escrever sobre economia coloquei 
um feirante e assim abri a porta para 
qualquer profissional de qualquer área se 
tornar repórter por um dia e escrever o que 
ele achasse interessante (De'javu?). 
Isso despertou a atenção de todos os órgãos
 de comunicação da região que chegaram 
ao ponto de enviar uma espiã para descobrir 
como a gente trabalhava e tinha aquelas 
ideias brilhantes. Quando eu descobri isso 
abri espaço para estagiários de quem quisesse
 aprender a nossa forma de trabalho. 
Não precisava aquele esforço todo – por 
parte dos jornais da região para tentar 
descobrir nossa fórmula -,  porque não
 era segredo, o conhecimento deve ser repassado –
 sempre apregoei isso. Os jornais da região
 e uma afiliada da Globo em Bauru (que
 tinha enviado a espiã!) mandaram estagiários
 que foram muito bem recebidos...rs.

Tony 36 - Sensacional esse seu relato! 
Você chegou lá e botou para quebrar, agitou 
o ambiente e a concorrência das cidades 
vizinhas. Enfim, inovou a velha imprensa...
Duka! Você sempre foi genial, grande bengala 
Giba (Rsss...). Qual era a tiragem desse jornal?
 Vendia bem?

Jornal lançado por Gil Firmino em Birigui
FIRMINO: Eram 3.000 exemplares de distribuição 
gratuita, pois era bancado pelos anunciantes.

Tony 37 -Nada mal, hein? Tempos depois, nos
 reencontramos quando você voltou a morar em
 São Paulo e me lembro bem que você tinha em
 mente lançar um jornal nesta cidade. 
Desistiu da ideia, por quê?

FIRMINO: Sim, eu queria implantar aquela 
ideia que tinha dado muito certo no interior
 aqui na capital mas a estrutura aqui 
precisaria ser bem maior e não encontrei
 investidores para bancar o plano. 
Então resolvi, aproveitando um novo nicho
 de mercado que estava se ampliando, abrir
 uma agência de notícias para oferecer 
conteúdo noticioso exclusivo e diferenciado
 para portais de internet. Naquele momento 
todos os grandes portais tinham a mesma 
cara e davam as mesmas notícias e se
 dirigiam aos webnautas como se fossem 
todos idiotas apresentando conteúdos ridículos. 
Sempre achei que dá para ser popular sem
 apelar para o ridículo em jornalismo. 
Minha sócia, uma ex-jornalista da Folha de
 São Paulo, me passou a perna e ficou
 com a ideia me tirando do negócio que 
naufragou sem a minha orientação. 
Fiquei desgostoso, desisti da
 ideia e fui fazer outra coisa.

Tony 38 - Um dia você me revelou, entre uma
 cerveja e outra, que não conseguia conciliar 
negócios com o lado sentimental. 
Na sua opinião, envolvimentos sentimentais, 
amorosos, fazem você se desconcentrar 
dos negócios, de verdade? Dá pra explicar 
melhor, bengala friend?

FIRMINO: Bom, daí saímos do campo profissional 
e entramos na vida íntima...rs. 
Isso que você falou eu te revelei "in off" 
e altamente alcoolizado...kkkk! 
Vamos para o boteco porque sem cerveja
 não dá para falar sobre esse assunto...



Tony 39 – Ô loco... acho que mexi na ferida (Rsss...). 
Mil perdões, mestre (Rsss...)... se quiser, nem
 precisa responder... pula essa... pula...

FIRMINO: Na verdade é que eu fui casado por
 4 vezes e coloquei as mulheres como sócias nas 
empresas que eu abri, então quando a relação 
acabava a empresa também tinha que 
encerrar suas atividades por motivos 
litigiosos...rs. Todos os meus negócios eram lucrativos. 
Não parava por falência ou algo assim.
 Eu parava com a editora porque a situação 
afetiva ficava insustentável. Se eu tivesse
 conseguido separar as coisas seria diferente.
 Faltou inteligência emocional.

Tony 40 - Agora ficou claro (Rsss...)... valeu! 
Você distribuía sua mercadoria pela Fernando
 Chinaglia, na época, assim como eu. 
Fale-me sobre a distribuição deles. 
Era bem feita, era mal feita? 
Qual é a sua opinião pessoal? 

 FIRMINO: Legal! Vou falar da minha opinião
 pessoal então. Primeiro, eu não acredito
 em distribuição nacional seja ela de que 
produto for, não apenas revista, qualquer coisa! 
 É ruim para a própria distribuidora (déficit) 
e pior para o produtor (prejuízo). 
Se o produtor for pequeno é suicídio na certa! 
Esse negócio de globalização é tudo "balela".
 Importação e exportação é arriscado
 porque se fica à mercê de váriáveis incontroláveis 
do mercado externo como acontece neste momento.
 Produza e distribua no local onde você vive. 
A palavra é"regionalização". Distribuição local. 
Se o seu produto for muito bom o mundo virá até você.
 Quando você aumenta a tiragem o seu custo 
aumenta e o seu faturamento diminui.
Eu senti isso na pele. Enquanto eu segui 
estes meus princípios eu ganhei dinheiro, 
quando cedi aos princípios da distribuidora... 
dancei. Respondendo à sua pergunta: 
nenhuma empresa faz uma boa distribuição 
nacional. Para distribuição regional, qualquer
 distribuidora serve. No meu caso, sob os aspectos 
que mencionei, a distribuição
 deles foi satisfatória.

Um time da pesada de desenhistas de HQs. Ao fundo, da
esquerda para a direita: Fausto Kataoka, Gil, Toninho Duarte, Wanderley

Felipe). Em primeiro plano: Sátiro, Hamasaki e Wilson Fernandes
 (autor do herói chamado o Escorpião)
Tony 41 - Gostei dessa sua análise fria e objetiva. 
De fato, quando a coisa parece que vai dar um 
lucro maior a gente acaba sentando na mandioca,
 literalmente (Rsss...). É fria. Faz sentido... 
O que você tem feito ultimamente?

FIRMINO: Continuo prestando acessoria editorial 
para terceiros e procurando investidores 
para novas ideias mirabolantes...rs.

Tony 42 – O mundo é dos doidos, vivo dizendo isso. 
Sem nós, os doidos, a humanidade ainda 
estaria nas cavernas... Algum investidor de plantão?
 Falem com o Gibão, peloamordedeus! 
Precisamos ter esse bengala friend hiper 
criativo de volta ao mercado editorial 
urgentemente!Alguma frustração?

FIRMINO: Não, eu realizei quase tudo a que me propuz.

Tony 43 - Um sonho?



FIRMINO: Tocar na sua banda um dia, teclado e
 fazer backing vocal... "tiu-be-doo-bah!!!"...kkk

Tony 44 -Minha banda faliu faz tempo! 
Bebíamos mais do que tocávamos (Rssss...). 
Como dávamos mais prejuízos secando as
 garrafas dos clubes que nos contratavam 
acabamos sendo rejeitados no mercado do 
show business, depois de 15 anos etílicos 
(Rsss...). Projetos para o futuro?

FIRMINO: Sim, estou com uma editora nova e
 já tenho no forno 3 publicações de quadrinhos
para o ano de 2012. Uma edição anual da 
Porrada, um almanaque com 64 páginas
 coloridas no formato pocket e uma revista
 de humor chamada BANAL, no formato
 magazine com 16 páginas coloridas, 
bimestral. E, uma publicação que estou
 ensaiando para lançar já hà alguns anos...
 HIPER, também no formato magazine com 
32 págnas coloridas, semestral, reunindo
 toda a experiência que acumulei nestes
meus 33 anos de profissão.
 Onde aplico todos os meus conceitos sobre 
HQ's só com trabalhos meus. Tenho ainda 
a intenção de lançar uma coleção com o selo
 "Gilberto Firmino apresenta"  com edições 
especiais de Terror, Aventura, Fantasia, 
Scie-fi, Erotismo, Crime e outros com
 roteiros exclusivamente 
meus e arte de terceiros.
 Acho que muita gente vai gostar!

Almanaque de HQs de ficção-cientifica lançado pela Vidente

Tony 45 - Maravilha! Que ótima notícia! 
Autores de plantão, se liguem nesse papo! 
Vem aí, muita novidade! Você deve estar a
 par de que as vendas andam baixas e que, 
segundo os entendidos, a culpa é da 
WEB e da tecnologia de ponta que fizeram 
os antigos leitores abandonarem as bancas 
e a compra dos gibis e revistas em geral.
 Qual é a sua opinião sobre isso?

Firmino e  o desenhista Hans
FIRMINO: Na verdade a tecnologia não afastou 
os antigos e sim dificultou o surgimento de
 "novos" leitores. A formação de um 
indivíduo como leitor se dá na infância, 
como todos sabem. No nosso tempo 
as crianças eram alfabetizadas com gibis
 e livrinhos de contos infantis mas hoje
 não é mais assim. A criança já vai direto 
para tela do computador disputar games on 
line e só vai tomar contato com o material 
impresso na escola. Desta forma o público 
leitor não tem se renovado e isso é preocupante sim.
 Mas esse não é o único motivo e a culpa também
 é nossa.  As revistas em quadrinhos como
 veículos de comunicação em massa 
morreram nos anos 80's e sucumbiram 
como produtos de entretenimento popular 
no início dos 90's. Os heróis ficaram chatos, 
elitizaram as HQ's sob a falsa ideia de que 
"quadrinhos agora era coisa para adultos" 
deixando assim de ser atrativo para o público
infanto-juvenil que aí sim migraram para 
as novas formas de entretenimento que
 estavam surgindo com o avanço tecnológico
 em questão. Intelectualizaram o que era
 popular e mataram a
"galinha dos ovos de ouro". 
Mas esse é um assunto muito extenso 
que não vai dar para esclarecer aqui neste 
espaço... precisaria um simpósio!...rsss. 
Soluções existem. Podemos discutir 
isto em outra oportunidade.

Tony 46 - Cara, sua lucidez é fantástica. 
Precisamos marcar um simpósio particular
 entre nós regado a muitas brejas geladas,
 como nos velhos tempos. Nossos pensamentos 
conjuminam, não há “controfodências” 
entre nossas visões de mercado. Muito legal...
 Já ouviu falar em Webcomics? Ou melhor, 
Comic Reader Mobi. Dizem que este 
é o futuro das HQs? Você concorda? Acha
 que o material impresso, aos poucos, vai acabar?

FIRMINO: Acabar, não, mas... acredito que vai cair
 bastante até estacionar num determinado 
índice suportável ainda por pequenos editores. 
Não seremos extintos!...kkk.  Comics é 
Quadrinhos e quadrinhos só é quadrinhos 
no suporte impresso, migrando para
 outro suporte de mídia não é mais "Quadrinhos"...
é uma outra coisa, sei lá o quê?! 
Portanto, webcomics não é o futuro dos
 quadrinhos... é outra coisa que, na minha
 opinião, não sei se terá muito futuro!...rss. 
Resumindo: discordo, discordo e discordo.

Tony 47 - Que os deuses dos rabiscadores do universo 
te ouçam, bengala brother...
Tem idéia de quantas revistas de HQs e de
 atividades infantis você já fez na vida?

FIRMINO:  Acredito que se fossem colocadas lado a 
lado daria para chegar até minha cidade 
natal Araçatuba - SP...kkk

Tony 48: Acho que dá pra ir até o Japão (Rsss...). 
Dá pra definir, quem é Gilberto Firmino?

FIRMINO: Um homem da mídia impressa. 
Com formação acadêmica em Direito, 
Comunicação Social e Artes Plásticas. 
Sou Jornalista, escritor, redator, roteirista,
 poeta, artista plástico, designer gráfico,
 empresário, editor, quadrinista, cartunista, 
advogado, mestre-cuca e poliglota (inglês,
 francês e espanhol). Resumindo: 
Uma pessoa inquieta e otimista.
 Simples assim...kkk.

Tony 49: Você é aquilo que o grande Raul 
Seixas chamava de “Maluco Beleza” (Rsss...)...
 Deixe aí sua mensagem pra esta nova
 geração que sonha em produzir e viver de 
quadrinhos nesse país, e-mail para 
contato, blog, site, etc...afinal, 
 a festa é sua (Rsss...).

FIRMINO: Vocês me encontram nas redes
 sociais Facebook, Orkut, Linkdin e outros 
procurando por José Gilberto Firmino, ok?
 Para os que estão começando a dica é se
 profissionalizar o mais rápido possível. 
Procure profissionais que já atuam na 
área e vá colhendo informações sobre o mercado
 e a carreira, vá se enturmando, tente ser
 assistente de alguém, consiga um estágio
 em algum estúdio atuante, procure emprego
 em alguma editora, esqueça os fanzines,
 pois profissionais não podem perder tempo
 com isso. Lembre-se que quadrinhos para
 você é um trabalho e não curtição. 
Quem tem que se divertir é o leitor, você só 
tem que suar muito. Entenda que "prazo" 
não é prestação de crediário e sim uma
 meta que obrigatóriamente e precisa 
ser cumprida à risca, certo? 
Corra muito atrás, se você tiver algum
 talento com o tempo as oportunidades vão
 correr atrás de você. Invista mais em
 você mesmo, acredite que você é capaz
 e aperfeiçoe-se sempre. 
Almeje um ideal de excelência, pois os 
profissionais mais qualificados são muito 
valorizados pelo mercado. 
Não desanime nunca, pois sempre haverá 
um editor em busca de algo para ser publicado...
 quem sabe não seja o seu trabalho?!?
 Legal, por enquanto é isso, pessoal!



Tony 50: Foi muito bom poder “papear” com você, 
nesse nosso talkie show virtual... 
acho que a partir de agora todo mundo 
ficou conhecendo um pouco mais sobre você, 
sua carreira e seus feitos. Grato, por sua atenção! 
Um imenso mano amplexo, bengala 
brother, e até breve.

FIRMINO: Também gostei, Tony, e agradeço a 
oportunidade. Acredito que esta tenha sido a 
primeira vez que eu me expressei sobre o
 que fiz e o que penso A respeito de 
Quadrinhos e estou aberto para
 esclarecimentos. Abraço à todos!

Tony 51: Até a nossa próxima entrevista, cowboys! 
Vem aí outras grandes feras das HQs! 
 FUIIIIII!  Byeeeeeeeeeee...

SENSACIONAL ENTREVISTA COM LAUDO FERREIRA,
AUTOR DE HISTÓRIAS DO CLUBE DA 
ESQUINA E UM DOS DONOS DO ESTÚDIO 
BANDA DESENHADA,
VOCÊ ENCONTRA EM...

http://tonyfernandespegasus.blogspot.com

Copyright 2012\Tony Fernandes\ Estúdios Pégasus –
Uma Divisão de Arte e Criação da Pégasus Publicações Ltda –
São Paulo – Brasil
Todos os Direitos Reservados

20 comentários:

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  7. Caro, bengala brother Calazans...
    Pelo visto, segundo seus comentários, há alguns autores revoltados com as atitudes tomadas no passado pelo bengala friend e editor Gil Firmino.
    Como esta é uma tribuna livre, também estamos dando espaço para que o citado editor tenha o direito de resposta. Pois, ao meu ver, um bom diálogo muitas vezes pode esclarecer muitas coisas.
    Grato, por sua visita e vamos aguardar uma possível resposta, um esclarecimento, a contento!
    Tenha um bom 2012!

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  9. Só nos resta aguardar o desenrolar do caso...
    Mas, tenho certeza de que para tudo existe uma explicação plausível. E, por experiência própria, pois sempre fui editor, nem sempre o pessoal dos antigos fotolitos nos devolviam os originais, que muitas vezes iam parar no lixo, apesar dos nossos protestos. Talvez, na época, tenha faltado diálogo entre vc e o amigo editor. Quanto ao tal pagamento q vc disse não ter recebido, isto só ele pode lhe dar uma resposta.
    Que tal esperarmos a manifestação dele?
    Tenha um bom dia, cowboy!

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  12. Caro, Calazans...
    Confesso q não entendi porra nenhuma. Primeiro vc atacou o editor, depois mandou uma porrada de vídeos q não tinham nada a ver com entrevista q postamos aqui - e por isso eu os exclui -, e agora diz que dei espaço pro seu direito de resposta? A meu ver o atacado foi o editor e não, você.
    Bem, mas, como nãos ei do rolo antigo de vcs, fico na minha, após esta fúria louca q não levou a nada. "Paz na Terra aos homens de boa vontade", como diria o profeta (Rsss...).

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  14. Salve, grande e polêmico Dr. Calazan...
    Pensei q o caso estivesse encerrado, criativo bengala brother, autor de A Guerra dos Golfinhos. Pelo visto, ainda não.
    Acho que estou começando a entender a coisa todo... Gil Firmino, o homem mau, das HQs nacionais, por acaso, fez campanha contra os fanzineiros, estou certo?
    E isto o ofendeu? Foi isto? Ou estou enganado,
    mestre? Fora isso, faltou um pagamento e a devolução dos originais, pelo q eu pude entender desse rolo todo.Correto?
    Mas, o nosso terrível editor até o momento não se manifestou. Que tal aguardarmos?
    Meu querido, Calazan... qualquer hora vou lhe entrevistar - isto é, caso vc aceite -, e aí sim vc pode descer a lenha em seus desafetos e explicar melhor as coisas. Acho que muita gente não entendeu direito o que rolou entre vcs.
    Mas, através de um bom diálogo pode-se chegar a um acordo, eu acho.
    Afinal, nobody's perfect, cowboy!
    Grande mano amplexo, bom 2012 e
    muito sucesso!
    E que o homem mau se manifeste!
    Gibão? Cadê você?

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  15. Opa! Me esqueci de dois detalhes:
    1- Também era fã dos seriados de William Bat Masterson na TV!
    2- Jonah Rex tb é um dos meus westerns preferidos. Saiu pela EBAL, sumiu e agora foi ressuscitado pela Panini Comics, meu caro Calazan!
    Complete a sua coleção!

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  16. Putz... Um último detalhe importante:
    William Bat Masterson era um legítimo bengala boy friend, membro da nossa milenar confraria!
    (Rsss...). See you later, bengala brother!
    Firmino?
    Cadê você, vil criatura?
    Apareça!

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  18. Captei vossos "sinais de fumaça", grande guru.
    Favor aguardar, cowboy!
    Grande mano amplexo!

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  20. Eu era e ainda sou muito fã de todo esse segmento de quadrinhos underground, me fascina o alto nível de talento e criatividade. Sempre desenhei e sonhava ser como esses caras,mas infelizmente no Brasil o mercado ainda é muito restrito.

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