REAÇÕES DAS
EDITORAS
BRASILEIRAS DE
QUADRINHOS FRENTE
AOS CENÁRIOS DE
INSTABILIDADE
ECONÔMICA
Por Daniel Saks,
pesquisador e colecionador.
OBS: Os direitos autorais das
imagens contidas nessa matéria
pertencem aos seus autores ou representantes
legais. Aqui foram usadas apenas
como mera ilustração.
RESUMO
O presente Artigo analisa algumas das reações das
editoras nacionais de revistas em quadrinhos frente aos diversos e crônicos
cenários de instabilidade histórica da economia brasileira. São estudadas as
alterações dos preços, formatos, número de páginas, acabamento e periodicidade
das publicações em quadrinhos seriadas e regulares nas últimas décadas. Quando
claro, conveniente e necessário, também são elaborados comentários sobre as
mudanças expostas em cada estudo. A análise é realizada por dados obtidos em
pesquisas a sites na internet, edições, coleções e informações de profissionais
do ramo. Para os eventuais estudos que demandem correções de valores monetários
foi utilizada como base de referência a calculadora do site do Banco Central do
Brasil citando em cada caso o índice escolhido. Devido à proposta do trabalho
só puderam ser estudadas séries contínuas, regulares e preferencialmente
longevas, excluindo desta forma séries especiais, publicações independentes e
autorais, assim como edições especiais e mini-séries. Também foi evidência
analítica necessária o fato de que tais séries sofreram mudanças significativas
ao longo de sua trajetória. O atual trabalho tem por objetivo esclarecer o
leitor sobre os sacrifícios, as oportunidades, os erros e os acertos das
editoras de quadrinhos em suas decisões mercadológicas, através de
interpretações dos fatos passados e recentes.
PALAVRAS-CHAVE:
quadrinhos;
mudanças editoriais; preços
1.
Introdução
O mercado de
revistas em quadrinhos no Brasil é instável financeiramente e sofre severa
limitação de consumidores, assim são observados comportamentos peculiares.
Tanto no Brasil como no exterior o mercado de títulos seriados sofreu redução
através das décadas desde a Segunda Guerra Mundial.
Nos Estados
Unidos, com a criação do Mercado Direto e em um dos momentos de baixa de vendas
e alta criatividade, nas décadas de 1970 e 80, alguns editores optaram por
testar lançamentos em formatos e acabamentos gráficos diferenciados tentando
atrair novos nichos de consumidores. Desta forma tentaram também manter os
então já amadurecidos antigos leitores.
Nas sucessivas
crises econômicas, coube aos editores brasileiros buscarem suas saídas para o
enxugamento do seu volume anterior de vendas, independente do porte das
editoras. Muitas das medidas foram as mesmas estratégias do mercado americano
e/ou adaptações.
Entre as medidas
editoriais em publicações seriadas, editores e consumidores experimentam ao
longo do tempo alteração no preço e estrutura das publicações, além do
cancelamento de títulos. Algumas dessas mudanças ocorrem por questões
estratégicas buscando aumento do número de consumidores, e também por questões
externas inflacionárias como reação aos custos de produção. Mudanças de
readequação também ocorrem para evitar a fuga de consumidores, mas estas surgem
em reação a questões emergenciais, geralmente exógenas.
De fato é que
dado o comodismo característico do mercado editorial, alterações estruturais e
de valores das publicações seriadas quase sempre são uma resposta à uma quebra
de conforto, quando se faz necessário contornar uma situação de apuros.
A intenção do
presente trabalho será apontar e comentar, sob o ponto de vista do consumidor,
alguns exemplos de manobras editoriais das principais editoras nacionais com as
séries e franquias mais longevas, focando principalmente a partir dos anos
1980.
2. Conceitos de Mercado
2.1 Elasticidade de Demanda
Os mercados
obedecem a lei de oferta e demanda. Cada produto tem um ponto de equilíbrio em
quantidades correspondente ao preço do produto. A alteração na demanda de um
certo produto de acordo com a variação de preço dele é chamada de elasticidade.
Produtos
elásticos tendem a sofrer forte impacto na sua demanda devido ao preço, ao
passo que produtos inelásticos mantêm a demanda mais próxima da constância
independentemente de alterações do preço, como combustíveis e alimentos.
Revistas em
quadrinhos podem ter comportamento elástico peculiar, para colecionadores a
elasticidade é menor do que para leitores ocasionais.
2.2 Concorrência Monopolística
Em um mercado
perfeito os vendedores competem entre si ofertando seus produtos, similares
entre si, aos compradores. Os compradores buscam sempre consumir a maior
quantidade, para atender este princípio de saciedade devem buscar o vendedor
com o menor preço.
No mercado
editorial a competição caracteriza-se por produtos não iguais, porém similares
e destinados ao mesmo fim. Dois vendedores terão produtos diferentes entre si,
cabendo a escolha excludente ao consumidor não só em função do preço, mas
também da preferência, caso não possa comprar os dois produtos. Esta forma de
concorrência é chamada de Concorrência Monopolística, característica do mercado
de editorial.
2.3 Plano Cruzado
O Brasil vivia
uma inflação diagnosticada como inercial. Com o Plano Cruzado em Fevereiro/1986
houve um congelamento forçado de preços, câmbio e salários para combater a
inflação que estava na casa dos 15%a.m. Os preços foram tabelados com base no
dia de instalação do Plano, que para alguns setores e consumidores representou
um barateamento de custos e preços.
Com a
popularidade inicial das medidas, o congelamento se tornou uma bandeira do governo,
essa situação foi mantida forçada e implicou no médio prazo em graves problemas
de abastecimento. Para atenuar a pressão dos preços por demanda o governo
também relaxou as medidas de reserva de mercado e barateou a importação de
ítens básicos.
2.4 Plano Collor
Em 1989, na
eleição presidencial mais democrática da História da República, os brasileiros
puderam votar para presidente pela primeira vez após o Regime Militar. Vivia-se
no Brasil a inflação descontrolada do final do governo Sarney, que corroia o
poder de compra da população.
Logo após tomar
posse, o presidente eleito Fernando Collor confiscou a caderneta poupança dos
brasileiros numa tentativa de dominar a inflação. Utilizou por princípio a
diminuição de dinheiro em circulação. Houve redução da inflação do nível de 85%
a.m. para cerca de 20%a.m.
Houve um
empobrecimento grave da população e aumento do desemprego, foram derrubadas
algumas reservas de mercado e abriu-se espaço para importações. O cenário
recessivo e os escândalos de corrupção culminaram no movimento popular que
promoveu o impeachment do presidente.
3.
Reações das
Editoras Nacionais
de Quadrinhos às Situações de Mercado
Da
redemocratização do Brasil até a estabilização da moeda com o Plano Real houve
vários planos econômicos, cinco moedas e uma Unidade Real de Valor. Ao longo
das décadas foram várias medidas editoriais tomadas pelos publicadores, serão
listadas e comentadas algumas delas diante de cenários econômicos bem
significantes, e quando conveniente outras mudanças independentes de alguma
crise macroeconômica.
3.1 Editora Abril e Alterações nas Revistas
Disney
império
editorial da Abril.
Após os
primeiros 21 números mensais ao preço de Cr$3,00, a partir do número 22 em
Abril de 1952 a editora converteu o título em semanal e reduziu o formato de 20
x 26cm e 40 páginas para 13,5 x 20,5cm e 36 páginas com preço de Cr$2,00.
Dentre muitas, essa foi apenas a primeira alteração editorial promovida na
revista em sua trajetória.
A receita se
multiplicou com a medida, e foi uma empreitada de sucesso, já que a publicação
Disney (novos títulos foram lançados) pela editora foi o alicerce para se
erigir a maior empresa editorial do continente. A produção de histórias Disney
nos EUA era insuficiente para a demanda brasileira, e a editora montou um
estúdio para a produção de quadrinhos Disney no Brasil
por onde passaram muitos
artistas e profissionais.
O número 479 da
revista saiu como “Zé Carioca”, foi como nasceu este título. A partir deste
número, a cada semana e seguindo a numeração, a revista alterna entre os
títulos “Pato Donald” (pares) e “Zé Carioca” (ímpares), sequência que
permaneceu até o número 1751, quando os dois títulos seguiram cada um uma
numeração regular como revistas quinzenais independentes.
Nesta época a revista
já possuía o formato reduzido
de 13,5 x 19cm.
Alterações na
revista durante o Plano Cruzado (1986)
serão expostas no próximo item.
Em Janeiro de
1990, época de hiperinflação (1000%a.a.),
a série tinha periodicidade quinzenal
e 44 páginas a preço
de capa NCz$7,00, no mês seguinte o título foi convertido
para semanal, com 36 páginas e preço de NCz$8,00. O título permaneceu semanal
até Agosto de 1992, época de inflação ainda alta (+/-20%a.m.), quando voltou a
ser quinzenal.
No segundo
semestre de 1999 a Abril (assim como o resto do Mundo a exceção da Itália e
países escandinavos) vinha sentindo o efeito contínuo de quedas nas vendas dos
quadrinhos Disney. Em uma tentativa de recuperar mercado a editora reduziu o
preço das revistas mais antigas (Pato Donald, Zé Carioca e Mickey) de R$2,10
para R$1,00, o número de páginas foi de 68 para 36. Junto com essa medida foi
encerrada a redação nacional dos quadrinhos Disney, passando a apenas
republicar material nacional e importar material inédito de países europeus.
As revistas
permaneceram com essa estrutura e preço até Junho de 2002 quando houve um reajuste de 50% no preço. Em
Agosto de 2005 o título passa a ser mensal e comportar 52 páginas por edição,
estrutura mantida até a presente data. Nessa mudança o preço foi de R$1,95 para
R$2,95.
3.2 Plano Cruzado e o Congelamento de
Preços
No mercado de
revistas em quadrinhos brasileiro durante o Plano Cruzado os leitores
observaram as revistas em formatinho da editora Abril de 84 e 68 páginas serem
fixadas aos preços de Cz$8,50 e Cz$6,50 respectivamente. Logo após a instalação
do Plano houve um exemplo significativo com a revista Superamigos, que contava
originalmente com 132 páginas ao preço de Cz$10,00, sofreu uma redução de
tamanho para 84 páginas no número 13 de Maio/1986 ao preço de Cz$8,50; quatro
meses depois a revista sofreu redução do preço para Cz$7,50 juntamente com
todas as revistas com o mesmo número de páginas da editora até
o Plano Cruzado
completar um ano em Fevereiro/1987.
Dentro do mesmo
contexto econômico a revista Pato Donald em Julho/1986 passou de 84 para 44
páginas, a periodicidade que era mensal há um ano voltou a ser quinzenal e o
novo
foi de Cz$4,50.
As reduções do
número de páginas representaram uma readequação do preço específico por página
e no faturamento da editora Abril, facilmente demonstrado na Tabela 1.
Preço (Cz$)
|
Páginas
|
Preço Específico (Cz$/pg)
|
10,00
|
132
|
0,0758
|
8,50
|
84
|
0,1012
|
7,50
|
84
|
0,0893
|
6,50
|
68
|
0,0956
|
4,50
|
44
|
0,1023
|
Tabela 1 – Preços e Estruturas das
Revistas
Abril no Plano Cruzado (1986).
No caso da
revista Superamigos inicialmente a redução de páginas e readequação do preço
representou aumento de margem por página na venda da revista, embora a receita
final para o mesmo número de consumidores diminuiria. Nessa manobra há um
reajuste implícito maior que 30%. Em Setembro do mesmo ano, a editora Abril
reduziu o preço das edições de 84 páginas e mesmo assim a margem continuou
maior do que com a edição de 132 páginas.
Já na redução
praticada na revista Pato Donald além do ganho de preço específico, se tratava
de uma série de maior vendagem, e a editora teve maior receita aumentando a
periodicidade do título.
3.3 O Pior Terror da Editora D’Arte
A editora retornou em 1981 com o título de terror
“Calafrio” e o faroeste “Johnny Peccos”. A revista de faroeste em bom
acabamento durou apenas quatro números, a editora sentiu que o formato e
temática da revista não caíra ao gosto do público e cancelou-a. No lugar de
“Johnny Peccos” a D’Arte lançou uma nova revista de terror, a “Mestres do
Terror”. Nesta fase a editora funcionou até meados de 1993, quando encerrou
suas atividades e cancelou seus dois títulos.
Título
|
1981
|
1982
|
1983
|
1984
|
1985
|
1986
|
1987
|
1988
|
1989
|
1990
|
1991
|
1992
|
1993
|
Calafrio
|
1
|
13
|
6
|
4
|
4
|
4
|
2
|
5
|
3
|
3
|
4
|
1
|
2
|
Mestres do Terror
|
1
|
4
|
8
|
7
|
10
|
3
|
4
|
3
|
3
|
3
|
1
|
3
|
2
|
Total
|
2
|
17
|
14
|
11
|
14
|
7
|
6
|
8
|
6
|
6
|
5
|
4
|
4
|
Tabela 2 – Periodicidade dos Títulos D’Arte.
Ambas as
revistas de terror foram lançadas com 52 páginas em 1981, “Calafrio” ao preço
de Cr$120,00 (por três números) e “Mestres do Terror” a Cr$140,00. Dois anos
após os lançamentos as duas revistas (então a Cr$160,00) tiveram seus números
de páginas alterados, “Mestres do Terror” foi reduzida para 44 páginas ao preço
de Cr$220,00 e “Calafrio” aumentada para 68 páginas ao preço de Cr$400,00.
Foi a primeira
diferenciação estrutural entre as duas revistas. A primeira edição de “Mestres
do Terror” ao preço de Cr$220,00 (número 11) ainda possuia 52 páginas, o número
seguinte com o mesmo preço e menos páginas representou um ajuste de 18,2% no
preço por página.
Os tempos de
inflação alta provocaram reajustes contínuos de preço a cada edição das
publicações da D’Arte até o Plano Cruzado (Fev/1986). No período “Mestres do Terror”
chegou a ser reduzida a 36 páginas.
De 1989 a 1993,
com os títulos sem qualquer cumprimento de periodicidade, a editora chegava a
ter um número com reajuste de preço de capa e específico acima até de 300%,
maior que a inflação. Em 1993 o primeiro número de “Calafrio” do ano, e
penúltimo da revista, teve correção de 1650% com um ano de diferença entre as
duas edições (50 e 51).
Gonçalo Jr ainda
cita que as dificuldades financeiras fizeram Zalla perder vários artistas de
destaque, reduzir os pagamentos de colaboradores, além de contar com a
colaboração de amadores e iniciantes. Tais medidas geraram algumas gratas
surpresas, como a revelação de artistas, aumento de páginas de
correspondências, as excelentes colunas de Luiz Antônio Sampaio, além do
próprio editor criar ele próprio mais histórias para fechar as edições.
Se analisar o
total de edições lançadas pela D’Arte na segunda fase da editora na Tabela 2,
vê-se uma queda consistente no número de lançamentos por ano, e que culminou no
encerramento das atividades da editora. Mais uma evidência que os quadrinhos
não são uma indústria sustentável no Brasil.
Como epílogo, o
editor Rodolfo Zalla relançou o título “Calafrio” em 2011 em parceria com a
editora CLUQ do jornalista Wagner Augusto. Neste relançamento o título ficou
com periodicidade trimestral seguindo a numeração original, acabamento luxuoso
na capa, 52 páginas, o maior preço do mercado para séries regulares e tiragem
ínfima de 300 edições (para um título que nos momentos mais difíceis no passado
vendeu cerca de 6.000 edições). A parceria durou 8 edições e a partir do número
60 a editora D’Arte mantém o título sozinha com um suplemento interno chamado
de “Mestres do Terror”, totalizando 84 páginas.
3.4 Nova Experiência Marvel da Editora
Globo
A editora Globo
que seguia com a publicação dos quadrinhos de maior sucesso nas bancas
brasileiras, os do estúdio Maurício de Souza, desde 1987, experimentou no
começo da década de 1990 um retorno aos quadrinhos seriados Marvel, que havia
perdido para a Abril cerca de dez anos antes (quando ainda se chamava Rio
Gráfica Editora).
A maior parte
foi de mini-séries e especiais da linha Epic Marvel, mas também foi lançada a
série “Marvel Force” em Junho de 1991 com razoável divulgação, personagens
interessantes de segundo escalão e as edições um pouco mais caras que as da
editora Abril. Por seis meses a revista foi publicada com 68 páginas, na sétima
edição a editora aumentou o número de páginas para 132.
A revista foi
lançada pela Globo num cenário de alta instabilidade política e econômica no
Brasil, anos de governo Collor. A inflação da época forçou a editora a
reajustar o preço das edições 5 e 6 em 33% e 50% respectivamente, a já citada
alteração de estrutura do número 7 aumentou o preço de capa em mais de 100% (de
Cr$1.200,00 para Cr$2.600,00), no entanto o reajuste no preço de página foi de
somente 11,6%. Nas duas edições seguintes os reajustes foram acima de 25% e a
revista foi cancelada no número 9.
3.5 Abril Troca Formatos de Séries em
Andamento
Dois exemplos de
troca do formato de séries para adequação ao público consumidor ocorreram nas
linhas de super-heróis da Abril com os títulos “Teia do Aranha” e “Monstro do
Pântano”.
Em 1989 a Abril
anunciou nas revistas de linha que um dos personagens mais populares, o
Homem-Aranha, teria mais uma série mensal. Nas revistas regulares foi anunciado
que seria lançada a nova revista em formato magazine (21 x 27,5cm) e preto e
branco, no mesmo molde que a editora publicava o título “A Espada Selvagem de
Conan”. Logo após a Abril entrava em contato com os leitores novamente para
comunicar que devido a grande quantidade de pedidos a revista seria lançada em
cores como aconteceu em Outubro de 1989.
A empreitada
durou pouco, após quatro números mensais sem atender o volume de vendas
esperado pela editora, o quinto número foi lançado em formatinho padrão, como a
maior parte das séries regulares de quadrinhos da Abril.
Em Janeiro de
1990 foi lançada em formatinho a revista “Monstro do Pântano”. Nesse período
houve um esforço da Abril em apresentar novas propostas de quadrinhos mais
maduros para os leitores, e “Monstro do Pântano” continuava a aclamada fase do
personagem título escrita por Alan Moore. Essa manobra editorial era encabeçada
pelo editor Marcel Plasse.
3.6 Mudanças na Circo
A editora Circo
do editor Toninho Mendes se especializou em publicar os refinados quadrinhos de
humor paulistano de autores como Angeli, Glauco, Luiz Gê, Laerte, entre outros.
“Geraldão” de Glauco teve duas séries, “Chiclete com Banana” encabeçada por
Angeli foi a série de maior sucesso (chegou à tiragem de 100.000 exemplares),
Laerte e Luiz Gê publicavam na revista que dava nome à editora.
Os personagens
de Laerte ainda capitanearam duas séries, “Piratas do Tietê” com 14 números, e
posteriormente “Striptiras” que durou 15 números.
“Piratas do
Tietê” inovou no formato apresentando na edição de lançamento em Maio de 1990
capa cartonada, formato horizontal e menor (26 x 17cm) que as demais revistas
da editora (21 x 27cm). No sétimo número da revista o formato passou a ser o
padrão magazine da editora e com menos páginas, em Dezembro de 1990.
Com bastante
transparência há um texto explicativo no editorial da edição 7 falando sobre a
situação econômica do país, e explicando a mudança de formato em função da
inflação e ajustes de mercado.
3.7 Tabela de Preços da Abril
Em tempos de
inflação alta e correção diária de preços, muitas vezes as edições tinham seu
preço desatualizado, ou as editoras recorriam a etiquetas adesivas com o novo
preço colado sobreposto ao preço originalmente impresso na capa da revista.
A editora Abril
inovou no segundo semestre de 1992 criando um sistema de códigos de acordo com
o tamanho da revista. Assim a revista que ficava exposta em bancas por cerca de
um mês era precificada por um código que era atualizado quinzenalmente pela
editora, que enviava a tabela com os preços correspondentes a cada código para
os pontos de venda.
Essa situação
também forçava os consumidores a comprar as revistas o mais próximo do
lançamento para evitar as correções durante todo o tempo que o exemplar ficasse
exposto no ponto de venda.
Mesmo com a
correção periódica sendo praticada, vários títulos não vendiam o suficiente,
pois durante essa prática de correção quinzenal a editora necessitou reduzir
drasticamente o número de páginas de várias das suas revistas da linha
super-heróis de 84 páginas para 52, para reduzir o preço final para os
consumidores.
Na revista do
Pato Donald, durante a vigência do código de preços, a revista também sofreu
mudanças. O título era semanal e tinha 36 páginas, no sexto mês do sistema
(Abril de 1993) de tabela a revista foi aumentada passou para quinzenal com 68,
devido à diferença de páginas o código foi alterado. Mais alguns números, e com
o mesmo tamanho, as revistas experimentaram mais dois códigos diferentes.
Após a
estabilização da economia com o Plano Real, as revistas que não foram
canceladas no período em que se praticou a tabela de preços voltaram a ter o
número de páginas aumentado para o original.
3.8 Distribuição Setorizada
As revistas em
quadrinhos em geral traziam a informação de um ágio no preço de capa devido ao
frete aéreo para cidades no norte do país. Era a forma da distribuidora cobrar
o preço diferenciado que compensava o maior custo de transporte do consumidor
final.
Em 2000 a
editora Abril inovou o formato das suas linhas de super-heróis lançando a linha
Premium. Eram almanaques luxuosos de 164 páginas, com acabamento especial,
formato americano e sete edições americanas originais compiladas por volume.
No campo da
distribuição das revistas Premium a editora Abril setorizou o serviço.
Inicialmente lançaria as revistas na região Sudeste e posteriormente (dois
meses depois) levaria os encalhes para outras regiões do país. Foi a forma que
a editora encontrou de diminuir os encalhes de suas publicações, diminuindo
assim o seu custo operacional.
A Abril cancelou
a distribuição setorizada quando começou a concorrer com a editora Panini que
em 2002 começou a publicar os quadrinhos Marvel. A estratégia não deu certo e a
Abril desistiu de publicar super-heróis DC, como será exposto no próximo item.
A distribuição
setorizada veio para ficar. Basicamente todas as editoras de quadrinhos maduros
praticam a setorização dos seus lançamentos e com as tiragens cada vez menores.
O fato do mercado de quadrinhos ser mais forte em uma determinada região é
apenas uma confirmação da desigualdade econômica e cultural regional no Brasil,
não é exclusiva para o mercado editorial.
Se a
distribuição setorizada é encarada pelas editoras como uma solução, vale
ressaltar que é apenas uma forma de se trabalhar em um cenário econômico frágil
e distorcido. É uma modalidade que deve ser eliminada com a equalização
estrutural das regiões.
3.9 Linha Premium e Planeta DC
Em 2000 a
Editora Abril reformulou sua linha de super heróis da Marvel e DC lançando a já
comentada linha Premium, com revistas vendidas ao preço de R$9,90. A Abril
sentia queda nas vendas das revistas de linha e buscou com o formato Premium
atrair leitores maduros, e os que no passado deixaram o hábito de consumir
quadrinhos de super-heróis. Dentro do formato Premium (duas revistas da DC e
três da Marvel) a Abril publicou as principais franquias de cada uma das
licenciadoras americanas.
Em 2001
houve um desacordo comercial entre a
Abril com a licenciadora da Marvel (Panini) causou um rompimento na relação
entre as duas empresas, e consequente interrupção da publicação Marvel pela
Abril.
Em Janeiro de
2002 a Panini como nova editora começou a publicar os quadrinhos Marvel no
Brasil, e a Abril intensificou a publicação de quadrinhos da DC (menos
populares que os da Marvel). Por um breve período, como não acontecia há cerca
de 20 anos, o público brasileiro assistiu uma concorrência entre os
publicadores das principais marcas de super-heróis no Brasil.
As vendas da
Panini foram melhores pelo gosto do consumidor em geral. A redação DC da Abril
sofria duas pressões, uma pelas vendas mais baixas e a segunda pelo próprio
desinteresse da editora em manter publicações de tiragens baixas para seu
padrão.
Revertendo a
decisão de sofisticar suas publicações, em Maio de 2002, a Abril cancelou a
linha Premium e lançou cinco títulos DC quinzenais de 52 páginas em formatinho
ao preço de R$2,50. Foi a chamada linha Planeta DC. Na relação custo x
benefício os leitores foram prejudicados na qualidade das publicações e
quantidade de histórias. A iniciativa não durou, após cinco edições a Abril
anunciou o fim da publicação de super-heróis.
A editora ainda
voltou aos quadrinhos DC que reproduziam os personagens e enredos
característicos dos desenhos animados da televisão. Sob a forma de publicações
inconstantes a Abril publica até hoje essa modalidade.
3.10 Troca de Papel e Formato da Panini
Em 2001 a
editora Abril e a licenciadora italiana da Panini entraram em desacordo
comercial devido ao mercado de figurinhas. A Panini licenciava a marca Marvel
para países fora da América do Norte, e utilizando a estrutura editorial da
editora Mythos formou uma divisão brasileira, passando a publicar os quadrinhos
Marvel em Janeiro de 2002.
Foram lançados
seis títulos, os cinco princípais ao preço de R$6,90 com cem páginas em papel
couche, formato maior (19 x 27,5cm) e capa plastificada (a partir dos segundos
números as capas eram cartonadas). Os títulos tiveram aceitação razoável e a
Panini passou a traçar sua estratégia para expandir seus títulos.
Em Agosto de
2002 a Panini lança novos títulos e mini-séries com formato menor denominado
“econômico” (15 x 24,5cm comumente praticado pela Mythos), menos páginas, papel
Pisa Brite (inferior) e preço de R$2,90 na tentativa de popularizar a
diversidade editorial da Marvel apresentada no exterior.
A Panini passou
a publicar quadrinhos DC que a editora Abril desistiu de editar. Com o mesmo
formato maior das edições Marvel em Novembro de 2002 a Panini lançou três
títulos DC.
A diversidade de
qualidade e formatos da Panini era um incômodo para os leitores e
colecionadores. Em Agosto de 2003 a editora pressionada pelos leitores e pela
alta de preços do início da gestão do PT na presidência da República decidiu
uniformizar seus títulos de super-heróis com o papel Pisa Brite e no formato
padrão americano (17 x 26cm), deixando o preço de capa das edições mais baixo.
A editora desta
forma eliminou os demais formatos para séries regulares, estrutura que mantém
até hoje. No entanto para lançamentos especiais foram mantidos inicialmente (à
data da mudança) os formatos econômicos e magazine, atualmente porém a editora
prioriza para tais lançamentos encadernados em capas cartonadas ou em capa
dura.
4.
CONCLUSÃO
Observando as numerosas
alterações editoriais das publicadoras de quadrinhos no Brasil é possível
concluir que nunca houve uma situação de conforto no mercado editorial, afinal
tais mudanças se mostraram constantes. Aos leitores e colecionadores coube se
adequarem e exercer escolhas de compra nos momentos de crise e encarecimento
das edições nos pontos de vendas.
Em vista de que os
publicadores cada vez mais buscam atender nichos de preferências e as tiragens
estão muito aquém do que se praticou décadas atrás, pode-se concluir que
nenhuma das medidas tomadas foi eficaz na manutenção do público consumidor.
Mesmo que o número de lançamentos esteja maior atualmente.
5.
REFERÊNCIAS
FURTADO,
M. B.,
da Economia Brasileira.
Rio de Janeiro: LTC, 1988;
SILVA
JR, G., Calafrio, Coleção Ópera
Brasil #11.
São Paulo: Ópera Gráfica Editora, 2002;