domingo, 20 de fevereiro de 2011

REGISTRO IMPORTANTE: QUANDO DOIS MONSTROS SAGRADOS DOS COMICS SE ENCONTRAM: JACK KIRBY E WILL EISNER ! IMPERDÍVEL!




Will Eisner e Jack Kirby foram duas figuras 
representativas e de imenso valor e potencial para 
os quadrinhos americanos e mundiais. 
Sem sombra de dúvida, sem esses dois
 valorosos guerreiros, sem estas duas feras, 
os comics não seriam o que são hoje.

Que tal conhecer melhor esses dois monstros 
sagrados do comics internacional?


Esta é a nossa finalidade.
Apesar destes terem seus trabalhos altamente 
reconhecidos pelos quatro cantos do mundo, 
pouco se sabe sobre o passado deles e o que,
 de fato, pensavam.


Nesse delicioso bate papo entre esses dois 
megastars da indústria dos comics você vai 
saber uma pouco mais sobre eles. Confira!


Poucos sabem, mas o jovem Jack Kirby, que mais 
tarde iria se tornar o “Rei dos Comics” numa 
parceria sensacional com Stan Lee, 
começou sua carreira 
no estúdio dos consagrados Will Eisner & Iger. 


Eisner foi o criador de clássicos como The Spirit e
 o Edifício, uma Graphic Novel (lançada no Brasil
 pela Abril, na década de 90), que revolucionou 
as HQs americanas, trazendo uma nova proposta:
 HQs para o público adulto.


O criativo Kirby, que durante anos também fez dupla 
com o genial Joe Simon, durante a chamada 
“Era Dourada dos Comics”, anos depois, se
 tornou o grande parceiro do também genial 
Stan Lee. Ambos foram peças fundamentais 
para alavancar as baixas vendas do setor editorial 
americano, na época, e para tornar popular uma 
editora até então pouco conhecida e pouco 
expressiva, para que ela se tornasse a 
poderosa Marvel Comics. Sem Stan & Kirby,
 talvez, a Marvel jamais existiria nos nossos dias.


Durante a famosa e tradicional Convenção 
Anual de Quadrinhos em San Diego,na Califórnia, 
em 1982, Will Eisner encontrou Jack Kirb
 e decidiu entrevistá-lo. 


Este bate papo histórico e maravilhoso entre
 essas duas grandes personalidades do 
quadrinho mundial transcrevo a seguir.
Conheça o...

BATE PAPO ENTRE AS FERAS
DOS COMICS: Kirby e Eisner!

 Eisner: Jack, nós trabalhamos juntos no estúdio 
Eisner & Iger... entre 1937 e 1938, certo?




Kirby: Levei os quadrinhos a sério por trabalhar 
com vocês, Eisner & Iger, porque voces 
eram sérios. Acreditavam que era um trabalho válido. 
Eu não passava de um garoto de rua, naquele tempo.

Eisner: Eram tempos difíceis para encontrar 
artistas do gênero, com experiência. 
Eu contratava quem pudesse desenhar. 
Você já tinha feito algum trabalhado
 para alguém, antes de trabalhar com agente?



O lendário autor do Spirit realizou inúmeras 

obras em sua prolífica carreira



Kirby: Sim. Para Max Fleischer. Fiz animação para ele. 
Eu tinha 17 anos e meio.... Trabalhava numa mesa
 de 60 a 90 metros de comprimento. 
Era uma fábrica. Associei isso ao trabalho 
do meu pai. Não queria ser como ele. 
Queria minha individualidade. Acho que as gerações 
vêem as coisas diferentes das gerações anteriores.


Jack Kirby teve vários artefinalistas nos diversos estilos que fez
Eisner:  Pelo visto, você queria quebrar um elo.
 Sair da rotina, sair daquela vidinha em que 
você via seus pais levando, não é?



Kirby: Eu queria cair fora daquele gueto onde
vivíamos. Nasci no baixo East Side de Manhattan, 
em Essex Street. Cresci na Suffolk Street, um
 lugar barra pesada...



Eisner:  Eu também nasci na vizinhança da Williams 
bridge ... não era longe do seu bairro, meu amigo...



Kirby: O bairro era East Side, território do John 
Garfield... John Garfield saiu  dali, daquele 
esgoto e virou um grande ator norte-americano, 
da época. Você sabe, Will...


Jack também fez muitas HQs de bang-bang até a década de 60

para a Marvel. Um original do grande artista.
Eisner: Sim, claro... Hoje você é o John Garfield 
dos comics (Rsss...).



Kirby: Aquilo era um inferno... eu adorava  Edward 
G. Robinson (famoso ator de cinema, da época).
 Os filmes eram o meu refúgio. O lugar não tinha 
nem espaço para jogar futebol  ou basquete. 
Tinha muita gente por lá. 
Lembro que passava minhas férias 
em escadas de incêndio.


Eisner: Nossos passados são similares. Também 
fui criado num bairro pobre. Mas, esse passado
 difícil parece que deixou Impressões 
diferentes em nós.
Você, pelo visto, cresceu revoltado com a miséria. 
Eu era tolerante...

Kirby: Eu não gostava do gueto e tinha medo daquilo.
 Will, você sabe, o gueto deixa marcas profundas
 por toda a vida. Quem viveu num lugar desse 
sabe do que estou falando... 
Não sei se chamo isso de 
cicatriz ou experiência.


No passado a Marvel lançou muitas HQs de western
Eisner: Eu  Acho que isso se chama experiência 
de vida, meu velho amigo.




Kirby: Hoje, olhando para trás, até posso concordar 
com você. Experiência de vida... mas, eu
 tinha tanto medo daquilo tudo... vivia
 fantasiando em sonhos um mundo
 melhor do que aquela cruel realidade em que 
vivíamos, eu e a minha família.

Eisner: Você já parou para pensar sobre essa raiva, 
que sentia daquele lugar? 
Acho que é ela que dá esse vigor, esta tremenda 
força no seu desenho... seu traço pesado, vigoroso,
 forte, é um reflexo direto disso, sabia?



Kirby: É, as vezes penso que
 a raiva pode até salvar
 uma vida. Penso que a raiva pode fazer 
você dar uma guinada na vida. 
Acho que os gangsters devem 
ter o mesmo tipo de conceito, exceto os que foram 
para um lado diferente, é óbvio. Quando Fleischer
 mudou os estúdios para a Flórida, minha mãe não 
me deixou ir para lá, sabia?


Eisner: Não, mas minha mãe também 
não me deixou trabalhar no teatro
 ambulante como cenógrafo porque era 
"uma vida terrível",segundo ela. (Rsss...).

Tira de jornal (original). Série: Skywalker. Lápis: Kirby -
 artefinal: Wallace Wood
Kirby: Eu queria ir para Hollywood. Sonhava em ser ator. 
E minha mãe não me deixou ir. A depressão estava
 no auge, e o pouco dinheiro que eu trazia para 
casa ajudava nas despesas. Minha mãe também 
tinha medo que perdêssemos o contato. 
Ela precisava comprar comida e 
contava com a minha ajuda. 
Tempos difíceis...

Eisner: Naquela época acho que
 a maioria das famílias esperavam 
que seus filhos contribuíssem. 
Eu vendia jornais e aqueles poucos dólares 
que eu ganhava nos proporcionava uma mesa 
respeitável nas noites de sexta (Rsss...).

Original. Detalhe da tira Skywalker
feita por Wallace Wood e Jack
Kirby: Eu era um garoto preocupado com a situação, 


com a família, como muitos que conhecemos.  
Eu também cheguei a vender jornais, Will.


Eisner: Eu vendia os meus em Wall Street, Jack.



Kirby: Um bom lugar, aquele... Eu era um bom 
vendedor de jornais, eu acho.



Eisner: Eu também. Mas eu me complicava dando 
troco na hora do rush. Eu conseguia US$ 3,50 por
 semana e isso era um dinheirão em 1934.




Kirby: Bota dinheirão nisso... mas, você era mais 
paciente do que eu, pelo visto.

Eisner: Bem ... voltemos a falar de Eisner & Iger...



Kirby: Tínhamos uma relação muito boa profissional. 
Claro, nós éramos amigos. Me lembro que eu 
admirava você e Jerry, vocês eram bons 
profissionais. Qualquer coisa que voces tivessem 
me pedido para fazer, na época, eu teria feito. 
Pois, com vocês, caras mais velhos e experientes,
 eu sempre estava aprendendo alguma coisa. 
Queria aprender a ser bom, como vocês, para nunca 
mais ter que voltar para aquele gueto. Se você 
tivesse me pedido para marchar até a Rússia, 
eu teria ido, Will. Juro.



Eisner: (Rsss...). Lembro, de fato, que tínhamos
um bom relacionamento. Você, eu e Lou Fine.

Kirby foi o primeiro a fazer HQs para mulheres, histórias românticas
Kirby: Lou e Jerry, eles eram grandes caras,
 grandes amigos... mas, sempre 
achei que com você eu tinha 
muito a aprender, Will...

Eisner: Para com isso, Jack... vão pensar que paguei 
à você para me elogiar, para dizer isso... (Rsss...).

Kirby: Digo isso porque é a pura verdade. 
Certa vez, me comparei com alemães da SS. 
Eles eram profissionais. 
Foi aí que eu percebi que para sobreviver na "guerra"
 eu tinha que ser como eles: profissionais em combate, 
também. Mas eu não era. Eles eram
  e eu sabia que só poderia
  vencer na vida 
se fosse como eles.




Eisner: Você tocou num ponto fascinante...

Kirby: Em suma, eu queria ser como Will 
Eisner e Jerry Inger.
 Eu lembro da nossa sala. 
Sua mesa era perto da minha. 
Você desenhava num papel já 
com o requadro feito.

Eisner: Você fazia uma boa parceria com Lou Fine?



O parceiro Joe Simon
Kirby: Não, eu nunca me dei bem com ninguém,
 exceto Simon. Digo,  como parceiro de trabalho. 
Depois, da minha longa carreira com Joe Simon. 
Sempre trabalhei sozinho.

Eisner: Você e Simon eram como Jerry Siegel e
 Joe Shuster (Os criadores do Super Homem).



Kirby: Exato. Éramos como eles. Nós não éramos 
apenas parceiros, mas profissionais que procuravam 
realizar um produto vendável. E eles, por sorte,
 vendiam bem, Will.



Eisner: E como vendiam... me lembro bem!

Kirby: Tínhamos uma relação super profissional. 
Claro, nós éramos grandes amigos, também. 
Mas tínhamos passados diferentes. 
Joe era da classe média e eu nunca tinha 
conhecido alguém da classe média.  
Admirava o pai de Joe porque ele 
parecia um político e os políticos no 
meu bairro tinham poder. 
Ele era um tipo que mandava homens 
por aí com US$5 para conseguir votos.
 Lembro de um sujeito que veio dar US$5 
para o meu pai votar no 
Partido Democrático. 
Na mesma semana, eu estava em uma aula de 
Civismo na escola e me disseram que isso era 
errado e que eu deveria ter jogado o sujeito 
escada abaixo (Rsss). Eu não achei que o tal sujeito 
estava corrompendo o meu pai.

Eisner: Lembro de ter visto muito disso no 
condomínio em que eu vivia.

Kirby: Nós estávamos tentando nos descobrir 
naquela época, né?

Eisner: Naquela época você já era um artista realista,
 bom demais. Lembro de seus desenhos quando fez 
O Conde de Monte Cristo...



Kirby: Eu trabalhava duro, Will. Não só para 
mim mesmo, mas achava que tinha que produzir 
uma boa revista para os leitores e também para você, 
que eu sempre respeitei e admiro. Sua opinião, 
para mim, até hoje, vale ouro. É muito importante...

Etapa inicial de uma prancha fantástica
Página finalizada, após a aplicação de
 "pesos", ou seja, claros e escuros
Eisner:  Você era sério e eu gostava disso. 
Vamos falar de estilo e técnica. Você estudou arte?

Kirby: Eu fui para um lugar chamado
 Education Alliance, apenas por um dia.
 Me mandaram embora porque eu
 desenhava depressa demais (Rsss...).

Eisner: Você sempre desenhou bem e tem
 estilo marcante, diferente.



Kirby: Acredite, aquilo era um processo 
agonizante para mim.

Eisner: Era? Parecia tão fácil, você era tão rápido. 
Você se baseava em algum livro de anatomia? 
Estudou muito anatomia?

Kirby: Não, eu fazia a coisa por instinto era muito 
observador. Observava os gangsters e os tiras (Rsss...).

Eisner: Você se baseava em alguma 
coisa, para criar aquelas figuras 
impressionantes?

Kirby: Sim, eu tirava idéia dos filmes. 
Acho que sempre 
fui fã dos filmes da Warner Bros. 
Eu chegava a assistir o mesmo filme 
sete vezes e minha mãe ia me tirar do 
cinema, pela orelha (Rsss...).
 Eu era fanático por aqueles filmes de
 gangsters... Eu acho que a naturalidade e o drama 
nos filmes me influenciaram muito.

Eisner: Você trabalhava com pena e tinta e depois 
passou a fazer tudo a pincel.
 Mas, lembro-me bem... seu
 desenho a lápis era detalhado.

Kirby: Eu não queria ser um Leonardo da Vinci, 
mas adorava quadrinhos e queria ser
 melhor que os concorrentes.

Eisner: Você estudava o trabalho 
dos outros colegas de profissão? 
Como Milton Caniff (autor da famosa tira 
Terry e os Piratas), por exemplo?



Kirby: Eu via Hal Foster (autor de Príncipe Valente).
 Amava a fluidez de Alex Raymond. Ele tinha uma
 naturalidade nas suas figuras que eu adorava. 
Caniff tinha um jeito de usar sombras que eu 
gostava muito, também. Esses grandes mestres, 
ele foram a minha escola. Eu ainda acredito que 
um homem é uma escola para outro.



Eisner: Bem, você sempre teve uma espécie de 
dinamismo que sempre foi inerente em tudo 
aquilo que você faz.

Kirby: Só posso chegar à conclusão de
 que isso veio do medo de voltar pra 
aquele maldito gueto, pra aquela
 vida miserável...


Original com layers aplicados. Kirby fez

 muitas HQs românticas de sucesso
Eisner: Esse “medo” em sua vida passou a ser 
uma alavanca que o conduzia sempre em frente, Jack.
 Ele, em sua vida, teve um significado importante. 
Não sou psicólogo, mas é uma 
motivação compreensível. 
Trabalhar firme, para evoluir e jamais pensar em
 voltar para trás, regredir...

Kirby: É, acho que é por aí... eu tinha medo de falhar.
Tinha medo de ser medíocre. Enfim, muitos medos...

Eisner: Ok, vamos em frente... você deixou o nosso
 estúdio amigavelmente? Foi para a Fox. Não foi isto?

Kirby: Fui. Mas, nunca respeitei Victor Fox, 
como profissional. 
Para mim ele era apenas um patrão,
 como outro qualquer.

Eisner: Fox não parecia Edward G. Robinson?



Kirby: Ele era Edward G. Robinson, 
uma espécie de poderoso chefão, 
um gangster empresarial. 
 Ele se achava o "Rei dos Quadrinhos". 



Eisner: Ele era um homem de negócios. Tinha vindo 
de Wall Street, Jack.



Kirby: Negócios, eu não entendia e nem queria 
entender nada daquilo...



Eisner: Você alguma vez pensou nos quadrinhos 
como uma forma de arte, do jeito que um escritor 
pensa em relação a sua literatura? Ou seja, 
como uma obra de arte, de verdade?




Original. Arte para uma capa com os

 espaços reservados pros textos



Guia de cor

Resultado final. Capa publicada
Kirby: Não. Eu fazia quadrinhos apenas porque
 aquele era o meu jeito de ganhar a vida. 
Você faz suas próprias inovações e, 
de repente, pode cair nas graças do
 público-leitor. Essa é uma das razões pelas 
quais eu sempre acreditei 
no povo. Ele sabe distinguir
 o que é diferente, o que é bom...



Eisner: Você diria que aprendeu 
muito imitando os outros?
     


Kirby: Odeio dizer isso, mas creio
 que sim. Todos nós humanos 
somos macacos, adoramos 
imitar alguém (Rsss...).



Eisner: Hummm ... Interessante esta sua análise!



Kirby: Se nós desenhamos, queremos sempre
 fazer melhor do que os outros. Não concorda?



Eisner: Bem... acho que é isso que realmente 
nos motiva a continuar nessa difícil
 e maravilhosa profissão. 
Sempre queremos ser melhores do que os outros, 
isso nos move.



Kirby: Não tenho dúvidas. Todo mundo quer fazer, 
tentar superar a si mesmo e aos demais. 
Para tal feito precisamos tomar decisões, imaginar
 metas.  Eu acho que todo quadrinhista, antes de 
tudo, é um grande tomador de decisões.



Eisner: É... acho que você tem razão... afinal, estamos 
tomando decisões enquanto fazemos um layout, 
por exemplo.

Kirby: Estamos sim... é nessa hora que devemos 
decidir se o trabalho está bom ou ruim... se não 
parece bom, tem que ser mudado. 
E assim que todos nós acabamos 
nos transformando num profissional.



As diversas obras do mestre que criou as Graphic Novels




Eisner: Saber discernir o que é bom e 
o que é ruim... No íntimo isto parece,
 a nós, artistas, uma espécie de 
conquista pessoal. 
Jack Kirby, você tem algo que 
gostaria de dizer ao mundo?



Kirby: Não tenho nada para dizer ao mundo (Rsss...).



Eisner: Então, na sua opinião, o motivo porque 
fazemos HQs é porque estamos
 sempre em busca de algo novo, tentando
 nos superar? É um mero desafio? 
Somos como os atletas?



Kirby: Sim. O atletas fazem a mesma coisa. 
Tentam sempre bater um recorde, superar as marcas. 
O artista gosta e também almeja isto, sempre. 
Trata-se de uma busca constante. Eu reconheço 
um desenho seu de longe. 
Você tem estilo, Will. Você conquistou um
 estilo próprio, inigualável... isto só 
aconteceu depois de anos de busca...
 mas, você chegou lá... é um campeão.



Eisner: Você não acha que ao longo da 
nossa carreira profissional, talvez
 tenhamos influenciado alguém, 
profissionalmente falando?



Kirby: Eu não acho que influenciei ninguém, não.


Eisner: Mas, segundo sua própria teoria,
 todos nós acabamos servindo de
 modelo para alguém... (Rsss...).  
Sendo assim, é fácil concluir que você 
sempre foi 
um modelo para alguém.

Kirby: Pode até ser, Will... mas já fui um anônimo, 


um zero à esquerda. Mas eu não queria 
ter sido o que fui.



Eisner: Então você está me dizendo a diferença entre 
o Jack Kirby do East Side e o Jack de hoje?



Kirby: Estou dizendo que hoje tenho um conhecimento
 para responder para qualquer um. Conhecimento 
se adquiri com o tempo, é óbvio...



Eisner: Você se refere à sua arte, seu desenho 
ou sua composição?

Kirby: Joe Simon e eu fomos os primeiros 
a criar os quadrinhos românticos, você sabe...

Eisner: Foi uma série muito importante. 
Lembro-me bem dela... nela, o que
 você fazia exatamente? 
E o que o Joe fazia?



Kirby: Nós discutíamos muito para criar a trama, 
o enrêdo, e na maioria das vezes eu acabava 
escrevendo a história.            


Eisner: O diálogo também?

Kirby: Sim. História e diálogo.

Eisner: Joe me disse que não tinha muita certeza 
disso, mas então era você que escrevia a maioria
 daquelas belas histórias?

Kirby: Sim. A função de Joe era negociar 
com os editores. Ele era mais alto que eu.
 Eles não levariam a sério o baixinho aqui.
 Além disso, ele era repórter do Syracuse Journal. 
Eu admirava tremendamente Joe por 
causa disso. Admirava ele por ter 
estudado, por ser da classe média, 
por ter presença e ser um bom vendedor, 
um grande contato.


Eisner criou verdadeiros clássicos






Eisner:  Minha relação com Lerry Iger era parecida 
com a de voces. Ele era um  bom vendedor e eu 
era péssimo, muito tímido.
 A única diferença entre nós e vocês é 
que ele era baixinho e treze anos mais velho
 que eu (Rsss...).




Kirby: É... tem gente que leva jeito para negócios. 
Em geral, desenhistas e autores, são péssimos 
negociantes... (Rsss...).

Eisner: É. Jerry era como Joe Simon arrumava 
clientes facilmente. 
Mas voltemos aos romances...
Você escrevia e Joe vendia, certo? 
Mas ele também desenhava,
 pelo que sei...

Kirby: É. Ele desenhava. Joe sempre foi  um 
grande artista. Além disso, é um dos
 melhores letristas que já conheci. 
Fazia belos anúncios.

Eisner: Ele desenhava muito para publicidade, não é?

Kirby: Sim. Ele sempre foi  um profissional completo.

Eisner: Então na série de romances, você criava 
ou escolhia uma história...



Kirby: Às vezes juntos. 
Mas isso nunca  preocupou Joe... 
Ele queria era ter um bom produto
 para vender aos editores.



Eisner: Então vocês escolhiam a história e vocês 
começavam a escrever o roteiro. Inclusive os 
balõezinhos e o lay-out?

Kirby: Você bem sabe que eu sempre tive facilidade
 para escrever.

Eisner: Alguam vez, você fez o lápis para o Joe 
passar a tinta, Jack?

Kirby: Muitas vezes trabalhávamos assim. 
Joe passava a tinta, artefinalizava, 
e fazia o letreiramento.

Eisner: Qual era o método de trabalho? Você fazia
 os balões primeiro e depois o lápis?



Kirby: Exatamente. Aos costumes... (Rsss...).



Eisner: Do modo como eu lhe ensinei a fazer 
na Eisner & Iger? (Rsss...).




Kirby: Sempre segui a risca suas instruções,
 mestre... (Rsss...).

Eisner: Lembro que o seu lápis
 era muito detalhado e qualquer um 
podia passar a tinta nele.



Kirby: Meu lápis era, de fato, meticuloso. 
Além disso, nós (Joe e eu) ficamos 
conhecidos como "o gatilho mais rápido do
 Oeste". Produzíamos aos quilos,
 com uma certa qualidade...



Eisner: A dupla Simon & Kirby era uma 
combinação clássica como foi Siegel & Shuster. 
Todos sabem disso. Formaram uma 
grande e imbatível dupla.

Kirby: Pode-se dizer que sim. Ao menos, 
produzimos e publicamos muito na época.

Eisner: Obviamente isso mudou mais tarde quando 
você foi para a Marvel e você arrumou um novo parceiro:
 Stan Lee. Mas isso fica para depois.

Kirby: Stan Lee e eu também fizemos uma bela 
dupla de criação.

Eisner: Voltando a falar do passado... Você acha que 
Joe mudou seu estilo para se adaptar ao seu?

Kirby: Negativo. Não dava tempo.

Eisner: Entendo, Jack... naquela época nós éramos 
como fábricas... produzíamos em massa, aos quilos... 
tamanha era a demanda...

Kirby: Exato, você disse bem... 
Nós fabricávamos 
depressa a matéria prima  (HQs) porque 
os editores precisavam vender
revistas rápido e constantemente. 
E elas vendiam muito bem. Se eles não 
faturassem nós também ficávamos 
sem ver a cor do dinheiro. 
Enfim, precisávamos uns dos outros.

Eisner: Joe disse que vocês eram o número dois ou 
três no mercado, em matéria de produção. Isto é fato?

Kirby: Sim, Will. Nós éramos mesmo. Principalmente,
 quando os super-heróis apareceram no mercado 
na década de 30.

Eisner: Qual foi o seu primeiro super-herói?

Kirby: Capitão América. Eu e Simon o criamos.

Eisner: Para quem você o fez?

Pranchas originais



Kirby: Para a Atlas. A Atlas ainda não era a Marvel. 
Stan Lee não tinha aparecido ainda. 
Ele veio depois; 
ele era jovem, lembro dele
 sentado na minha prancheta, 
 tocando flauta, interferindo
 no meu trabalho.

Eisner: É mesmo? Joe Simon disse que tinha 
empregado ele como office-boy.




Kirby: Exatamente. Eu era sério no meu trabalho
 e Stan nunca foi sério a respeito de nada. 
Era muito jovem. Acho que ele tinha 16 ou 17 anos.

Eisner: Vamos voltar ao Capitão América.
 Você e Joe trabalhavam juntos 
nesse herói, usando a mesma 
fórmula de sempre?  Isto é, você escrevia e
 desenhava, Joe artefinalizava e fazia as letras? 
Diga-me... Joe chegou a fazer algum lápis do Capitão?

Kirby: A fórmula de trabalho era exatamente a 
mesma, Will. Não, ele nunca fez um lápis do 
Capitão América.

Eisner: Ok. Eu queria apenas
 ter certeza disso (Rsss...).

Kirby: Às vezes, quando a coisa apertava 
eu também acabava passando a tinta.

Eisner: O relacionamento entre vocês dois
 era mais uma parceria de negócios 
do que intelectual, artistica, certo?

Kirby: Sim. Era simplesmente uma parceria 
de negócios. Nosso negócio era criar
 produtos que fossem vendáveis.
 Sem as vendas, não somos ninguém, 
você sabe... o que consagra um artista são
 as vendas, é óbvio. 
Tínhamos perfeita ciência disso...
 sempre.

Eisner: Não tinham qualquer 
afinidade intelectual, de fato?

Kirby: Isto era impossível, mestre... 
Ele era classe média 
e eu apenas um pobre garoto
 de rua, sem qualquer 
bagagem cultural.

Eisner: Pra você, Joe Simon caiu do céu. Ele era como 
uma espécie de irmão mais velho seu, Jack.

Kirby: Sem dúvida. Nós precisávamos um do outro.

Eisner: Joe, uma vez,  mencionou que vocês 
moravam perto de Long Island.



Kirby: Isso foi depois, muito tempo depois. 
Fomos morar num lugar decente, finalmente. 
Mas, estou lhe falando do comecinho. 
Melhorei muito, nos últimos anos.
 Até me intelectualizei (Rsss...).



Eisner: Iger e eu não tínhamos uma relação
intelectual, também, assim como você e Joe.
 Ele só pensava em negócios! 
No estúdio eu tinha diálogo apenas com
 artistas como Lou Fine. O papo entre eu e Iger era 
puramente comercial.

Kirby: Na verdade, tive poucas afinidades na vida. 
Quando menino, eu tinha afinidade com um amigo 
que foi baleado e sua mãe se suicidou.

Eisner: Oh, isso é terrível, isto deve ter te marcado. 
Bem... voltemos a falar do Capitão América...

Nota do articulista: Pode parecer sacanagem, 
mas este maravilhoso e esclarecedor 
bate papo estava planejado para continuar 
numa das próximas edições de 
 “Will Eisner’s Spirit Magazine”, que era 
editada pela Metal Pesado.
 Mas, esta revista, pelo visto, ficou
 apenas na primeira edição (1997) e a 
entrevista nunca mais foi publicada na 
íntegra por ninguém, em português.
Fazer o que, né?
Ao menos pudemos conhecer um pouco
 mais dessas duas feras das HQs americanas.

Jack Kirby, “O Rei dos Comics” morreu no 
dia 7 de fevereiro de 1994.  
O genial Will Eisner, criador do “Spirit”
morreu em 3 de janeiro de 2005, aos 87 anos. 
Partiram desta orbe, mas deixaram
 um legado inesquecível.


Não percam em...


http://tonyfernandespegasus.blogspot.com


A sensacional entrevista com a desenhista...


NEIDE HARUE...


autora de Drácula, um clássico que foi adaptado para
 as HQs pelo mestre\escriba  Ataide Bras e
editado pela Nova Sampa Diretriz!



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