segunda-feira, 6 de março de 2017

ENTREVISTA COM DANIEL MESSIAS, UM DOS GRANDES MESTRES DAS ANIMAÇÕES!


Desde outubro do ano passado, poucas 

foram as pessoas que procurei para entrevistar, 

por absoluta falta de tempo. Quando você ver 

diversos trailers e musicais em meus blogs, 

lembre-se: O Tony deve estar atolado de compro-

missos ou enrolado. Entretanto, também teve 

aqueles que se recusaram a dar um depoimento

 e outros que nem sequer se deram ao trabalho

 de responder positivamente ou negativamente, 

ao convite que fiz. Mas, isto é uma outra história,

 que fica para outra vez...

De qualquer forma serei eternamente grato a 

todos que aceitaram compartilhar suas experiên-

cias de vida e profissional com a gente. 

Grato, de coração.

O entrevistado deste mês é um pioneiro do

desenho animado no Brasil. Fez inúmeros

trabalhos maravilhosos e importantes para

diversos comerciais de TV, que marcaram 

época e que até hoje povoam nossas mentes. 

Ele também é super respeitado por animadores

 de fora do país e por empresas conceituadas

 como a poderosa Walt Disney e outras.

 Ajeite-se em sua poltrona meu caro,

 webleitor, e saiba como funcionava (e ainda

 funciona) os bastidores desse famoso

 estúdio de animação, que fez história ao

 longo dos anos, e conheça a brilhante

 trajetória profissional de...

DANIEL MESSIAS, UM DOS 
GRANDES MESTRES 
DAS ANIMAÇÕES!




O jovem Daniel Messias

TONY 1: Salve, grande professor! 
Poder entrevistar alguém do seu gabarito 
profissional é um sonho antigo que agora
 está se tornando realidade. Daniel, desde já,
 grato por sua colaboração e devo
 confessar que sou seu fã de carteirinha...
  
DANIEL MESSIAS:

Obrigado, Tony. É bom a gente saber 
que ainda há pessoas que se interessam
 pela produção da animação de profis-
sionais veteranos. Isso ajuda a manter
 a chama viva!

TONY 2: E que ela jamais se apague,
como a tocha olímpica.
Dando a largada: Diga seu nome 
completo e em que dia, mês, ano, cidade,
 estado ou país você nasceu?

DANIEL MESSIAS:

Meu nome é comprido : Daniel Messias 
de Araújo Mello, nasci em São Paulo,
 capital, filho de nordestinos, em
 13 de dezembro de 1938.



TONY 3: Filho de pais nordestinos,
 olha que bacana. O nordeste é um 
grande celeiro de gente talentosa, você 
sabe...Qual é o nome do seu estúdio e 
quando ele foi fundado? Cite algumas
 agências e clientes que atendeu
 ou que ainda atende?

DANIEL MESSIAS: 

 Meu estúdio leva o meu nome, 
uma tendência narcisista comum
 na década de 70 e que começou
 com Disney, mais precisamente
 em 1975, quando o fundei; 
Daniel Messias – Cinema de Anima-
ção.Trabalhei  com todas
 as grandes agências e algumas 
pequenas: Thompson, Mcann,
 Padrão, Almap,
 DPZ, Gang, Proeme, etc.

O estúdio




A  bela sala do diretor

TONY 4: Algumas nanicas, você
quis dizer... Rss. Você é piadista...
 Isto é que é know how... 
Um dos meus espiões quase 
secretos tinha me informado
que sua família era de origem 
portuguea, mas como você 
respondeu anteriormente,
são nordestinos... mais uma vez
 meuscontratados pisaram no
 tomate... Rssss.
 Pra variar, meu espia se enganou...
 fale um pouco sobre a origem de seus
 familiares... tinha algum artista entre
 eles, que o influenciou?
 Quem o incentivou 
 a enveredar pelo 
desenho e animação?

DANIEL MESSIAS:

 Provavelmente, como quase 
todo brasileiro, devo ter algum
 ascendente remoto português, 
não que eu conheça. Pai e mãe 
são brasileiros, nordestinos 
de Alagoas. Meu pai,
 Messias de Mello, trabalhou 
décadas no jornal A Gazeta, 
onde fez quadrinhos,
 ilustrações, charges e 
até propaganda.

 Ele foi um mestre para mim 
e com certeza o seu incentivo 
foi decisivo para a minha carreira. 
Ainda criança, com
 12 anos, fiz a charge esportiva 
para o jornal várias vezes,
 quando o “velho” entrava
 em férias. 

Nessa época, eu
frequentava a redação 
do jornal, onde conheci 
grandes profissionais como
 Jayme Cortez, Nico Rosso, 
Manovic, Renato Silva, Amleto 
Samarco, Miguel Penteado; 
alguns trabalhavam no j
ornal, outros 
faziam frilas e outros 
 simplesmente frequentavam 
a redação, como o Moya...
 por exemplo.




As artes do pai, que também era
jornalista








TONY 5: Você tem pra quem 
puxar a arte está no seu 
DNA. seu pai era
 polivalente, escrevia,
desenhava e ilustrava... 
Minha nossa, o tal jornal,
que era da Fundação
Casper Líbero,
 era bem frequentado. 
Só gente da pesada.
 Que maravilha... 

Os primeiros desenhos
 para a TV que tinham os perso-
nagens do Mauricio de Sousa, 
feitos para a CICA –
 antiga companhia alimentícia, 
que para divulgar a marca 
Extrato de Tomate Elefante
 usava o personagem Jotalhão -,
 foram feitos por você?
 A conta da CICA, pelo que m
e lembro, era da Proeme, 
do grande Ênio
 Mainardi, correto?

DANIEL MESSIAS:
 
Sim, fiz algumas animações com o
 Jotalhão (Lembro-me de uma em que 
a Mônica corre atrás dele com uma
 panela e ele se esconde atrás de uma
 lata de massa de tomate!).

O animador francês Guy Lebrun 
também fez vários. A Proeme do 
Ênio foi uma das
 agências com que mais trabalhei, 
e a Cica era uma de suas 
contas fortes. Mas tinha também 
o banco Auxiliar,
 Eternit, etc.




TONY 6: Eu bem que suspeitava... 
então, foi você mesmo.
 Lembro-me bem desse do
 Jotalhão. Rsss. Você, há anos,
 é um expert em animação...  
essa fascinação por desenhos 
animados, quando começou? 
E que animadores estrangeiros 
ou nacionais o influenciaram?


DANIEL MESSIAS:

Nasceu  ainda criança 
assistindo às sessões 
TOM & JERRY, no cine 
Metro e conhecendo 
animadores
 fantásticos como: 
Irvin Spencer,
 E Barge, Keneth Muse, 
Lewis Marshall, meus
 primeiros ídolos . 

Eu já tinha adoração pelo
 cartum, charge, 
caricatura.  Quando meu 
pai chegou 
em casa, um dia, com uma 
câmera Paillard Bolex 
16mm que filmava 
quadro a quadro, 
descobri que era possível 
fazer animação com ela.

 Cortei papel e fiz uns rabiscos 
toscos, filmei e , para surpresa 
minha, a coisa se movimentava!
 O micróbio foi inoculado,
 nesse momento decidi 
o que seria da minha 
vida profissional.

Nessa época, não havia nada
 de animação, escola
 ou estúdios profissionais, talvez 
meia dúzia de curiosos como 
eu que estivessem fazendo as 
primeiras incursões no setor.


A primeira experiência 1966


TONY 7: Fantástico! Aprendeu 
na raça,  na prática. Isto é que é 
força de vontade...
 Daniel, suponho que você lia 
histórias em quadrinhos na infância 
e adolescência. Quais eram seus
 personagens favoritos? 
 E qual foi o primeiro filme 
de animação que 
o impressionou?

DANIEL MESSIAS:

Eu lia muito quadrinhos. 
Minha casa vivia cheia dessas 
revistas, quase todo dia meu
 velho desembarcava com algum
 número da Gazetinha ou outra
 revista da época.
 Mas uma delas me interessou 
demais, seja pela qualidade 
da revista, seja
 pela diversidade incrível 
dos seus artistas:
 chamava-se Patoruzito ,e trazia 
uma página central dupla colorida
 com história de Dante Quinterno
 maravilhosamente desenhada.






Patoruzito, um cacique tehuelche da Patagônia, que é super forte,
 ingênuo e primitivo, foi criado por Dante em 1928. Ele
é o personagem mais popular da Argentina.






 Essa era a minha história 
predileta, passei a acompanhar 
as histórias em serie.Tinha também 
o Rip Kirby, do Alex Raymond,
 o Príncipe Valente do Hal Foster, 
os clássicos ilustrados pelo
 italiano Bruno Premiani e
 outros grandes.
 Ainda hoje guardo algumas 
dessas revistas.



TONY 8: Patoruzito fez muito
 sucesso, especialmente na
 Argentina, país de
origem da serie criada por 
Dante Quinterno. O autor também
 fundou em 1945 sua própria editora 
(Editorial Dante Quinterno) onde 
começou a publicar Patoruzito, 
um fenômeno de venda.
 Agora, uma revista que
 trazia Raymond, Foster e
 outras feras do traço, 
de fato, vale ouro.

Outro dia fiquei sabendo, 
através do livro escrito pelo
 amigo, desenhista e escritor
Edno Rodrigues (Eu, Meu Irmão, 
Uma Família e Uma Pequena 
História), desenhista, autor
 de HQs e irmão e parceiro 
do saudoso Edmundo 
Rodrigues, que o genial 
Benício, o mestre das 
pinturas, capas de pockets
 books e cartazes de 
cinema, fez uma HQ 
no passado.
 Fato raro, obviamente.
 Você também já tentou fazer
 uma história em quadrinhos?

DANIEL MESSIAS:

Fiz, mas era coisa bem 
amadorística, dos tempos
 que frequentava 
a redação da Gazeta e via os
 trabalhos do Cortez, do 
Sammarco e do meu pai. 
Cheguei a criar um indiozinho, 
bem cartum, na esperança
 de ganhar um emprego
 no jornal. 
Mas não sobrou nada.
 Minha experiência
 no ramo acabou quando 
descobri a animação.

TONY 9: Por sorte ganhamos
 um expert em animação no
 país e que é reconhecido 
internacionalmente... 
Você fez algum curso ou 
estágio, nos Estados Unidos, 
para se especializar 
em animação?


DANIEL MESSIAS:

Meu aprendizado se deu no
 país, mesmo. Aprendi animação
 fazendo animação, a possibi-
lidade de fazer cursos no exterior
 era remota. Aliás, não havia prati-
camente um mercado regular 
de animação  nacional.
Vendo filmes na TV acabou
 sendo uma grande escola.


TONY 10: Você foi um dos pioneiros
no país e também se tornou um
 grande exemplo de
 perseverança à ser seguido,
 grande guru... 

O povo quer saber... 
Como surgiu a primeira opor-
tunidade para fazer oficialmente
 um desenho animado e em que
 ano isto aconteceu? E, quantos
 anos você tinha na época?

DANIEL MESSIAS: 

 A televisão abriu mercado para 
a animação no país. Até o final da 
década de sessenta,
 todos os filmes de animação 
eram importados, inclusive os
 comerciais, pois
 os grandes anunciantes eram 
todos multinacionais. 

Com o crescimento 
do mercado em virtude da 
entrada de anunciantes nacio-
nais de pequeno e médio porte, 
uma grande oportunidade
 começou a se abrir para
 a animação brasileira. 




Meu primeiro filme foi um 
comercial de1 minuto em preto e 
branco para um desses anun-
ciantes, uma loja de
 departamentos chamada 
Três Leões, e a agência chama-
va-se Santos & Santos. 
Tinha 19 anos e levei um mês 
para fazer o trabalho e quando
 ele foi ao ar, houve comemora-
ção em casa com um
 bolo que a  minha mãe tinha 
preparado para o evento!
  




TONY 9: Bacana, dezenove anos... 
genial. De fato, veio a calhar o tal 
bolo da mama, querido bengala
 brother. Foi, na verdade,
 um grande evento, mesmo. Rsss...
Seu primeiro passo rumo a profis-
são que o consagraria...

 Walt Disney, Walter Lantz, 
Preston  Blair, William Hanna e 
Joseph Barbera, Chuck Jones e 
outras feras do passado 
foram os papas do mundo 
animação, que acabaram influen-
ciando muita gente na América
 e pelo mundo afora. 
Por culpa deles muitos 
acabaram abraçando essa nobre
 profissão. Na época deles, anima-
ções eram feitas na raça, não
 havia computadores,
 como hoje. 

Portanto produzir uma serie 
animada para uma rede americana
 de TV sempre foi caro e exigia 
uma grande equipe. 
Porém, mesmo assim, eles 
deram um jeito e consegui-
ram realizar verdadeiros
 clássicos.

No Brasil, fazer animações 
também sempre custou os
 olhos da cara, por 
isso vocês, animadores,
sempre se limitaram a produzir
 para comerciais de TV. 

Segundo consta, atualmente 
este custo foi minimizado 
graças aos softwears que 
foram criados...
produzir series animadas 
para a TV brasileira,
atualmente, é viável, 
comercialmente falando?

DANIEL MESSIAS:

Essa é uma questão importante 
que certamente mereceria uma
 análise mais detida.
 De início, há uma diferença
 básica entre as duas 
indústrias: todas as series
 americanas 
eram produzidas
 por grandes produtoras 
de animação e essas
series tinham
 uma distribuição 
internacional
 garantida, o que propiciava
 bons retornos aos seus
 realizadores... E por isso,
  era fácil para eles captarem
 investimentos para seus filmes.

 A realidade brasileira é diferente:
 só temos o mercado interno de exibição
 e o retorno com a publicidade gerada
 ainda é incipiente, insuficiente para
 encorajar o investidor privado.


Eculpindo personagem no estúdio

 Ainda hoje, tal como 

acontecia nos tempos do
 pioneiro Anélio Latini e seu longa
 Sinfonia Amazônica, os recursos ainda
 vêm do estado, através de empresas 
como a Petrobrás e agências
como Ancine.

 Emissoras de TV a cabo
 acabam como co-produtoras 
através da chamada política 
de renúncia fiscal.
 Essas parcerias  acabam sendo
 as responsáveis pela produção 
de animação em serie no país, 
a qual, embora crescente,
 é ainda muito incipiente 
considerando o enorme
 volume representado
 pela produção estrangeira.

 Embora a tecnologia digital 
tenha tornado a produção 
mais rápida e barata,
 ela é ainda muito cara em
 razão do pequeno retorno que 
traz aos seus realizadores. 
Como fato positivo, a produção
 tem aberto novos postos 
de emprego para animadores
 e designers de animação. 

TONY: Excelente sua explanação...
 Nos anos 60, após assistir Vigilante 
Rodoviário, serie criada no país pelo 
saudoso produtor e diretor Ary 
Fernandes, pensei: “Caramba! 
Conseguiram fazer o primeiro seriado
 policial para a TV brasileira, num ato
heróico. Como esse cara conseguiu 
fazer isto?”



E deduzi que em breve teríamos 
nossos desenhos animados sendo 
exibidos em nossas TVs, mas me
enganei redondamente. 
Mera utopia... Rsss...

O Mauricio ralou durante anos 
até conseguir enfiar seus 
personagens na 
Cartoon Network.
Por que até hoje a coisa é 
quase inviável neste país? 


DANIEL MESSIAS:

A reposta anterior explica uma das 
causas do fenômeno, mas há outras. 
E igualmente complexas. O  canal de
 exibição quer ver o seu produto pronto,
 ele não vai financiar a serie. Se você 
tiver 56 filmes já prontos, 
editados e sonorizados muito 
provavelmente você
 conseguirá vender a serie inteira 
para exibição. E ele ainda cobrará 
outras! E o que ele pretende é trazer
 anunciantes, muitos anunciantes
 para a sua programação. 




E a Cartoon Network sabe que 
Maurício de Sousa traz anunciantes
 para a sua programação. Ele é um 
ponto fora da curva. Seus perso0
nagens já caíram no gosto e no 
imaginário popular.
 Depois de muitas tentativas
(Maurício sempre exigiu uma 
participação rentável e nenhum 
investimento ) a Cartoon finalmente 
resolveu bancar a produção 
beneficiando-se dos mecanis-
mos da renúncia 
fiscal prevista em lei.

O esquema traz vantagem 
para ambos: a emissora não enfrenta 
riscos substanciais e vê subir o seu 
pico de audiência durante a 
exibição da serie, e a empresa
 de Maurício aumenta a exposição 
dos seus personagens na TV e
 a possibilidade de incrementar 
o seu merchandising
 no mercado interno.









De onde se conclui que atualmente
 é preciso mais do que a simples
 boa vontade e disposição para a
 produção dessas series: é preciso 
ocorrer a emergência de perso-
nagens realmente populares 
do cartum já consagrados
 nacionalmente, com ótima
 aceitação popular.

 Ninguém investirá em series 
estranhas, personagens des-
conhecidos. 
É bom lembrar que antes
 da primeira serie de curtas
 do Maurício, centenas de comer-
ciais e curtas animados com seus
 personagens foram produzido.
 Com certeza, isso ajudou a 
pavimentar
 a confiança dos investidores nas
 novas series que se seguiram.





TONY 10: Quem sabe, sabe... 
você está nos proporcionando
 uma verdadeira aula sobre
 o assunto... adorei e o
 nossos webleitores,
 na certa, também irão adorar
 seu depoimento, Messias.
  
Se minha memória jurássica 
não falha... nos anos 70 ou
 80, teve um brasileiro
 que sozinho conseguiu realizar
 um longametragem animado para
 o cinema – mas não me lembro o
 nome dele ou do filme...
 mas, pelo visto, apesar do 
heroísmo do cidadão,que
o filme não vingou.
 Você está lembrado disso?

 Na sua opinião,
porque aquele filme não foi bem de
 bilheteria, como em geral acontece
 com as animações 
oriundas dos States?


DANIEL MESSIAS:

Interessante é que não houve 
apenas um, mas todos os longas
 produzidos entre
 50 e 70 foram resultado do trabalho
 quase individual de seus 
realizadores:
 Anélio Latini, com seu 
‘Sinfonia Amazônica’
 na década de cinquenta, 
Ypê Nakashima,
 com o seu ‘ Piconzê’ e 
‘Presente de Natal’, de
 Alvaro Henrique Guimarães
nos anos setenta.

 A precariedade com que traba-
lharam, resultado dos recursos
 incipientes, em parte explica 
o fracasso de bilheteria
 desses filmes. Mas a falta de 
divulgação publicitária
 responde por parte
 significativa desse fracasso. 

 Quando Maurício de Sousa 
começou a produzir seus curtas/
 longas (edição de vários curtas 
que compõe o tempo de duração 
de um longa) já com recursos mais 
expressivos e com uma organiza-
ção mais próxima ao studio 
system americano e com
 boas verbas de publicidade, 
aliás, um quesito no qual Maurício 
sempre foi um craque, os longas
 de animação começam a dar lucro.
 Mas só conseguem mercado
 para exibição no país.





TONY 11: Sinfônia Amazônica e 
Piconzé, me lembro bem deles... 
faltou divulgação e melhores recurso. 
Concordo com você. 
 Trabalhos individuais... penando 
bem, coisa de maluco, de 
verdadeiros heróis...  

A menina do NHAC - da Claybon -,
o Frango da Sadia, o tigrão da Kellog’s 
e outros foram desenhos criados
 para comerciais da TV feitos por você, 
que marcaram época... pergunto: 
A criação dos bonecos
e as ideias da peça publicitária
 (o briefing) foram criados e
 desenvolvidos por duplas 
de criações (redator e ilustrador)
 das agências ou por você
 e sua equipe?

















DANIEL MESSIAS:

As peças publicitárias sempre foram
 criadas por duplas de criação das
 agências e por elas brifadas. Minha 
participação efetiva sempre começa 
no estágio do storyboard, que gosto
 de fazer mesmo quando a agência
 já tem um pronto. Em termos ideais,
 esse processo é discutido a partir do
 storyboard e sempre novas
 ideias são trazidas por
 ambas as partes.

 Quanto aos personagens, quando se
 trata de grandes anunciantes quase 
sempre eles já vêm definidos e muitas
 vezes até lá fora. Nesse caso, é

 preciso haver um cuidado extremo 
na obediência aos guide lines fornecidos.
 Mesmo assim, em algumas ocasiões 
tive que criar o personagem; num
 comercial para a C&A, por exemplo,
 o Pernalonga contracenava com o 
garoto propaganda da marca 
na ocasião,o bailarino Sebastien. 
Só que o cliente 
resolveu fazer o personagem
 por animação, para ficar 
coerente com o Pernalonga.
 Bolei uma caricatura do Sebastien
 no estilo do Al Hershfeld 
e ficou muito legal.   















TONY 12: Lembro dessa peça publicitária.
 Excelente. Eu só não sabia que tinha 
sido feita e criada por você... Para a gente
 ter uma ideia, por exemplo, um filme
 da menina do NHAC, quanto tempo
 você levou para concebê-lo e quantas 
pessoas estavam envolvidas no projeto?

DANIEL MESSIAS:

Os prazos de animação foram 
diminuindo na proporção inversa
 à sua complexidade.
 Criou-se a falácia que o computador 
 encurta prazos.  Ocorre que as imagens
 se tornaram mais sofisticadas e exigem 
mais tempo de planejamento, modelagem 
e render. Há muitos anos que não 
fazemos a menina do NHAC, mas os
 prazos variavam em média de 
15 a 25 dias para um filme de 
30 segundos com uma equipe 
de dez a doze pessoas.


TONY 13: Em suma, dava um
 trabalhão... foi através de 
meus espiões quase secretos 
que fiquei sabendo que 
um jovem talentoso
 chamado Gustavo Machado – 
um dos bambas das HQs
nacionais -,  passou pelo 
seu estúdio? Mas, na verdade, 
eu tive conhecimento
 disso quando  ele  me concedeu
 uma bela entrevista para 
um dos meus blogs.... 
Que lembranças
 você tem dele, mestre? 
       
 DANIEL MESSIAS:

Muita gente boa passou por 
meu estúdio, inclusive o 
Gustavo Machado. 
Ele não tinha experiência alguma 
em animação, mas tinha um ótimo
 desenho e coloquei-o para
 me ajudar nos storyboards. Ele se 
saiu muito bem, então ofereci 
algumas animações para fazer. 

No começo ele relutou, mas 
acabou se saindo bem no final.
 Mas ele queria mesmo era fazer 
quadrinhos e acabou deixando
 o estúdio. Tenho boas lembranças 
dele: muito gentil, aplicado e um 
talento fantástico do desenho.





TONY 14: Leu isto, Gustavão ? Depois 
de um elogio desse, minha nossa,
 haja ego inflado. Rxss. 
Prosseguindo...
  Alex Toth, sempre foi um grande 
desenhista, tinha um estilo marcante.
 Digamos que o estilo dele era sintético.
 Ou seja, ele não fazia desenhos rebus-
cados mesmo se eles fossem
 feitos para as histórias em quadrinhos.
 Ele se deu bem no mundo da animação,
justamente pela sua 
economia de traços.

Series produzidas para a
 Hanna-Barbera como Space Ghost, 
Homem Pássaro, Quarteto
 Fantástico (Fantastic Four), 
Herculóides, Anjo do Espaço, entre
 outros, se tornaram
clássicos. Mas, há quem diga que 
animar figuras contornadas com 
traços grossos (tipo as Meninas
 Superpoderosas)
 é mais fácil. O que, de fato, 
é mais prático? 







DANIEL MESSIAS:

Em geral , animar figuras 
anatomizadas
 é mais complicado, não 
só porque exige um conheci-
mento dos fundamentos do
  desenho acadêmico 
que nem todos os anima-
dores têm, mas também 
porque esses movimentos têm
 que ser realistas, não podem ter
 a mesma caricatura que as 
figuras cartunizadas. 

Por essa razão, se apela nes-
ses casos à rotoscopia
(Rotoscópio: Dispositivo que permite
aos animadores redesenhar quadros 
de filmagens. Pode ser usado para
animar seguindo uma refrência 
filmada. Tal recurso foi o pre-
cursor da moderna captura de
movimento digital. 
O aparelho foi inventado
por Max Fleischer e usado
a partir de 1914).

TONY 15: Por falar em Hanna-Barbera, 
Jonny Quest, criado e desenvolvido
 pelo desenhista Doug Wilde, na época,
 revolucionou o mundo da animação, 
que pela primeira vez via uma 
serie animada de TV com figuras
 humanas estilizadas.
Dá mais trabalho fazer uma
 animação cômica
ou com figuras humanas?

DANIEL MESSIAS:

As primeiras series animadas, incluindo
 essa de Johnny Quest ,foram realizadas
 no boom da década de 60 da TV
 americana, quando havia uma 
grande demanda de series e pouca 
oferta de produção. A dupla Hanna-
Barbera foi a responsável por suprir
 essa carência de filmes com a 
criação de um engenhoso processo 
de simplificação da animação, que 
consistia em repetir desenhos de 
bocas, braços e todas as partes 
do corpo que se articulavam e 
com isso, tornar a produção 
de curtas muito mais rápida.

 Isso funcionou bem para os 
personagens cômicos como 
Flintstones, Jetsons, Zé Colmeia, 
mas nem tanto para os humanoides
 como Johnny Quest, por exemplo; 
com os “holds” dos personagens,
 isto é, com os desenhos parados 
 das figuras as imperfeições 
se tornam muito 
mais perceptíveis. 

A serie é bem irregular; quando 
cai na mão de um diretor que 
sabe desenhar figuras humanas 
a qualidade é boa, mas também 
dá para se notar quando a equipe
 é melhor desenhando 
figuras cômicas.















TONY 16: William Hanna e Joseph 
Barbera, antes de fundar
 a Hanna-Barbera foram 
funcionários da Disney, fazendo
 animações. Para atender a demanda
das redes de TVs americanas criaram 
alguns macetes para acelerar 
a produção e baratear os custos
(fundos e movimentos repetitivos etc),
 como você acabou de afirmar.  
Com isso, é claro, as series deles 
não tinham uma animação tão
 perfeita como as elaboradas
 pela equipe do Disney. 

Muita gente critica até hoje os
 desenhos da Hanna-Barbera,
afirmando que eles tem
 qualidade inferior, apesar da 
empresa ter sido a maior
 produtora de series animadas
 para a TV, do século XX. 
Produziam animações
 aos quilos. Rsss... 
Series como Os Flintstones,
 Os Jetsons, Manda Chuva
 um e Scooby-Doo 
são verdadeiros clássicos,
ao meu ver....




Como especialista no assunto, 
Daniel, qual é sua opinião 
sobre o incrível número
 de personagens e animações que eles 
produziram até venderem a empresa
 para a Cartoon Network.
Pelo visto os CEOS das emissoras
 americanasnão se importavam muito 
com uma animação
perfeita, tipo padrão Disney...

DANIEL MESSIAS:

É preciso colocar os fatos no devido 
contexto. Hanna e Barbera deixaram 
a Metro no comecinho dos anos 60,
 justamente num período de
 grande agitação e 
mudanças estéticas 
na animação mundial. 



Disney estava em franca decadência,
 o departamento de animação da 
Warner, o famoso Termite 
Terrace cessara as suas
 atividades, assim como a Metro, 
a UPA, formada por animadores e
 designers egressos dos estúdios 
Disney revolucionava o estilo de
 animação criando novos padrões
 e a Escola de Zagreb na antiga
 Iugoslávia deslumbrava o mundo
 com um estilo que lembrava o
 grafismo renovador 
de  Steinberg.

As plateias queriam o novo, e 
Hanna-Barbera fizeram 
exatamente isso.
 Embora  possa soar estranho nos 
dias de hoje, os personagens da 
dupla traziam a modernidade dos
 novos tempos e por essa razão, 
foram amados pelo público e 
fazem sucesso ainda hoje, 
embora as suas 
animações sejam esnobadas 
pelos puristas. Quanto aos 
CEOS das emissoras
 de TV , esses vão atrás
 dos modismos, 
não estão preocupados com
 qualidade de animação, mas
  com o lucro fácil.

TONY 17: Mais explicado do 
que isso é impossível. Valeu. 
Quanto a atitude do CEOS, o 
mesmo se aplica aos
 nossos editores. 
As piores series 
“animadas” que já assisti
  na TV,  foram dos super-heróis
 Marvel, lançadas no
 Brasil na década de 70. 
Aquilo deve ter custado
 Uma ninharia.

 Você sabe me dizer quem
produziu aquela meleca, 
que apesar de tudo fez su-
cesso e ajudou a 
popularizar os personagens 
daquela famosa casa 
editorial americana?
Já viu algo pior do que aquilo?
  
DANIEL MESSIAS:

Há muita coisa ruim produzida 
nessa época, difícil escolher a pior,
 A serie Marvel, realizada
 pela FILMATION é uma delas: 
mau desenho, planeja-
mento capenga, animação
 primária, cenografia paupérrima, 
aliás como tudo que vinha dessa 
produtora . É o caso de  
oportunismo explícito, 
aproveitando a lacuna enorme
 existente no mercado de series.
 Nem vale a pena lembrar 
os nomes dos seus diretores.






Tony 18: Concordo. Os caras só faziam 
melecas... Neste exato momento,
 você e sua equipe
estão trabalhando em cima
 de algum desenho animado,
 para algum produto específico?
Conta pra nós, se puder...

DANIEL MESSIAS:

Estou iniciando um novo projeto 
pessoal que envolve personagens 
internacionais bem conhecidos. 
 Como ainda estamos
 em fase bem preliminar 
do processo infelizmente
 não posso adiantar
 muito sobre ele.

TONY19: Ok. Ultra secreto...
 Posso entender... 
Em sua atual equipe de produção 
há quantas pessoas? E, que funções
 elas exercem durante o processo 
de criar e desenvolver 
uma boa animação?

DANIEL MESSIAS:

Já trabalhei com equipe muito grande, 
cheguei a ter 25 profissionais de todas 
as áreas em meu estúdio, entre fixos
 e frilas, uma loucura!
 Os novos tempos
 e as exigências da nova tecnologia 
forçaram-me a reestruturar a minha 
equipe. Ainda cuido da parte de 
conceito, storyboard, planejamento,
 direção da animação e de arte, mas 
tercerizei  toda a parte de produção,
 delego esse setor a alguma  produtora
 que confio no mercado e sempre 
supervisiono o trabalho. 

Foi assim que produzi o comercial 
da Sem Parar, com personagens 
da Warner.Sobra-me mais tempo 
para fazer o que quero 
e o que mais gosto.







      
TONY 20:  Há tempos, terceirizar é o
 melhor negócio, do mundo.
 Não dá dor cabeça, quando se conta com
bons profissionais...
 Vamos nessa: Ao seu ver, como
 está o nível dos profissionais da área
 da animação no país?
   
DANIEL MESSIAS:

Nunca houve tanto material de
 informação à disposição dos
 profissionais como atualmente e
 isso certamente é um fator 
positivo na formação
 de novos talentos.

 Embora haja a tentação de 
encurtar o período necessário
 de treinamento profissional 
 com as enormes facilidades
 da nova tecnologia oferecidas,
 bons profissionais com 
diferentes níveis de 
especialização
 têm surgido no mercado. 
E alguns deles até  já atingiram
 o nível profissional do 
mercado internacional.

TONY 21: Uma ótima notícia.  
Animamundi… contribui para a
evolução dos nossos animadores? 
Quem foi que a idealizou?
Quando ela surgiu?

DANIEL MESSIAS: 

O Animamundi funciona como 
uma grande vitrine, atraente para
 jovens que queiram se iniciar na 
profissão. Se não me falha 
a memória surgiu nos finais
 dos anos 80 e foi criado por
 um grupo de animadores 
cariocas. 
Não somente mega festivais,
 mas igualmente simpósios, 
worshops, cafés, bate-papos, 
têm que proliferar pelo país, ainda
 que sejam eventos de dimensão
 menor, tudo isso colabora muito 
para criar um interesse e uma
 intimidade maior com a arte 
e com seus autores.






TONY 22: O cariocas agitaram o mercado. 
Estão de parabéns. Reunir e fomentar 
profissionais fa área e iniciantes é 
fundamental...  Na sua opinião, qual 
foi a animação que sua empresa
 fez que mudou radicalmente a sua vida?
 Em que ano isto ocorreu?
 Qual era o cliente e o produto?    

DANIEL MESSIAS:

Na verdade, eu ainda 
não tinha fundado
 o meu estúdio, trabalhava 
como frila apenas com
 um auxiliar de arte
 final que fazia o acabamento 
nos acetatos. Um dia de 1971,
 recém casado, fui chamado pelo
 Ênio Mainardi em sua agência, a 
Proeme, para fazer um comercial 
animado de 1 minuto para o seu
 cliente Eternit. 
O filme era colorido, uma raridade
 naqueles dias, pois 
era destinado ao cinema.

 Sucintamente, contava a história 
de um sujeito  estranho, 
chapéu gelot, montado sobre 
um enorme pássaro
 que sobrevoava cidades tristes, 
acinzentadas. Até que chega a 
uma cidade colorida e pousa 
sobre um casinha com telhado
 Eternit. Um comitê de recepção
 o aguarda e o premia 
com uma telha! 

O desenho de criação era
 primoroso, da Helga Mietke, 
diretora de arte da 
agência. Fiz toda a animação 
sozinho e as artes em acetato 
do Borghi ficaram
 realmente bonitas.

 Tive uma grande emoção 
quando vi a animação
 projetada em tela 
grande, no cinema. 
Graças  ao filme, a Helga
 me levaria depois para
 trabalhar com a DPZ , Petit e
 Zaragoza, para quem animei o 
frango da Sadia e muitas 
outras coisas.
  Foi esse filme que me fez 
entrar no circuito das grandes 
agências brasileiras.








PETIT, DUALIBI E ZARAGOZA
TONY 23: Obviamente, o filme
 revolucionou as animações 
pulicitárias da época... 
Prêmios, nacionais e 
internacionais? 
Quantos você faturou?

DANIEL MESSIAS:

Honestamente, nunca fui um
 caçador de prêmios e sempre
 muito preguiçoso
 em mandar filmes para festivais. 
Os poucos que me lembre, foram 
todos enviados pelas agências 
( que sempre ficavam 
com os diplomas!).
 Lembro-me de dois que ganharam 
prêmio internacional, ‘Olimpíadas
 Phillips’ e um comercial da Volks. 

Tive alguns HQMIX, prêmios 
colunistas, festival de Brasília e 
até um prêmio em Havana 
do meu curta DINDA’S, que 
soube pelo Jornal da Tarde!
 É que eu tinha cedido uma cópia
 para ser exibida no MIS e alguém
 resolveu enviar para o Festival de
 Havana. Sem mesmo me consultar!




Estudo de cores


TONY 24: Você merece. Faz a gente 
se orgulhar de ser brasileiro... 
Filmes ou desenhos animados
 favoritos?


DANIEL MESSIAS:

Filme live action tenho um
 que parece não envelhecer 
nunca e cada vez que 
o revejo, parece que descubro
 novas coisas nele: ‘Citizen Kane’.



Animação tenho uma especial
 admiração por dois curtas, animados
 por dois gênios da arte: ‘The Man 
Who Planted Trees’, do canadense 
Frecerick Back Voltar e 'Pai e filha',
 do holandês Michaël Dudok de Wit. 

Adoro Betty Boop, o espírito de uma 
época, os filmes de John Hubley 
na UPA,da escola de Zagreb, 
principalmente de Dusan 
Vukotic e do tcheco Ijri Trnka, 
detesto animés e as Meninas 
Superpoderosas, sou  fã de
 carteirinha da ‘Vaca e o Frango’,
 do David Feiss,  gosto das 
série Samurai Jack, Mansion 
Foster, Bundefora,
 Baboon e outros.











TONY 25: Livros ? Recomenda alguns?

DANIEL MESSIAS:

Dois essenciais de Animação:
 ‘Illusion of Life’ ,dos animadores 
da Disney Frank Thomas e 
Ollie Johnston e o  
" Kit de sobrevivência do animador, 
de Richard Williams.




Fora da animação: ‘ Os Maias’, Eça 
de Queiróz, ‘O Estrangeiro’, Albert 
Camus,‘Don Casmurro’, Machado de
  Assis, Montanha Mágica, 
de Thomas Mann.



TONY 26: Bom gosto literário. 
Quanto aos de animação,
 aposto que muita gente 
vai atrás. Inclusive eu… Rsss. 
Grato, pelas dicas. Tipos de
 músicas prediletas?

DANIEL MESSIAS:

Gosto de Jazz, ragtime, toco alguma 
coisa de Joplin no piano, gosto das 
canções francesas e americanas 
nostálgicas, décadas de 30,40 e 50.
E os clássicos, gosto 
muito de Fauré, Granados, Falla, 
Rachmaninoff, etc.
Billie Holliday, Jerry Lee Lewis, Elvis,
 Little Richard, e vai por aí a fora.




TONY 27: Hmmm ... um
 maioria
 dos músicos possuem um
 gosto refinado.
 Tô contigo e não abro. 
Também arranho
 alguns instrumentos... 
Astros e estrelas 
de Hollywood...

DANIEL MESSIAS:

Maggie Smith, Isabelle Huppert, 
Alan Rickman, Emmanuelle Béart,
 Anhony Hopkins, Daniel Day Lewis.
E os antigos, é claro: Rita Hayworth,
 Humphey Bogart, Vivien Leigh,
 Charles Laughton, Bette Davis,
 Ingrid Bergman.




TONY 28: Todos fantásticos... 
Deus, sexo e religiões... qual é 
o seu conceito sobre
 esses temas polêmicos?

DANIEL MESSIAS:

DEUS: Não sou a pessoa ideal para 
falar sobre Deus, pois não creio na
 sua existência. Se Deus existe ou não,
 é um problema Dele, não meu.

SEXO:  Sou do tempo em que havia 
apenas dois sexos, hoje segundo 
as últimas estatísticas existem 
mais de 16. Por aí já se vê como
 vivo noutro período geológico, 
talvez o pré-cambreano.
 Mas é completamente
 incompreensível o interesse 
em torno do assunto
 depois de tantos milhões 
de anos de uso.


T :TONY 29: Com certeza, Rsss...

DANIEL: RELIGIÃO...
Desconfio que as religiões
 têm prestado mais mal do que
 bem aos homens; a palavra 
religião vem do latim religare, 
significa religar, ou tornar a
 ligar o homem a Deus, mas o 
que se tem visto ao longo da 
história , e principalmente
 nos dias de hoje  é a intolerância
 fundamentalista, responsável 
pelo ódio e por lutas 
sangrentas.
 Não sei quem disse que na
 religião tudo é verdadeiro, 
exceto o sermão; tudo é bom,
 exceto o padre.  

TONY 25: Rssss... impossível
 discordar de suas convicções, 
devo admitir... políticos?

DANIEL MESSIAS:

Não há lugar para pessimis-
mo ou otimismo. Apesar da 
caótica situação de nossa 
economia,com certeza ela 
se recuperará aos poucos. 
O grande problema é
 a questão ética e moral depois
 da verdadeira devastação que a 
era Lulopetista gerou; todo o 
estado foi aparelhado, 
a educação de crianças
 aviltada com a 
asquerosa cartilha de gênero,
 a cordialidade e respeitabilidade 
do seu povo minadas e toda a 
autoestima da nação destruída.
 Ainda decorrerão décadas 
até que a sociedade brasileira 
se livre do veneno inoculado.

TONY 26: Bota décadas nisso. 
Espero que a lava jato ponha 
todo os culpados na cadeia. 
Mas, na certa, não haverá
 cadeia para todo mundo. 
Afinal, em Brasília, ninguém 
escapa... Família? Como homem
 experiente, qual é hoje o
 seu conceito?

DANIEL MESSIAS:

Eu já acreditei piamente 
que a família, como diria
 Camilo Castelo Branco, 
é a ‘base fundamental 
da sociedade, refúgio
 das virtudes, ‘ etc. 
Hoje , nem tanto. Tente
 juntar a família inteira
 Numa churrascada ou Numa
 confraternização de fim de ano
 e saberá o que eu digo. 
A expressão ‘laços de família
 ‘ tem um travo de verdade.

TONY 27: É, a velha instituição 
anda falida... Precisamos
resgatar os antigos
valores da família. Hoje em dia
não se respeita mais ninguém...
Um sonho?

DANIEL MESSIAS:

Um grande, aliás. Ver um país mais
 igualitário e de povo mais instruído, 
toda criança e jovem nas escolas,
 museus, galerias e escolas de 
arte acessíveis a todos, e
 todos interessados
 em frequentar
 esses pontos. 
Mas isso é um
 sonho, é claro.


TONY 28: Utópico, é claro... 
mas, sonhar é preciso...  
Alguma frustração 
profissional?

DANIEL MESSIAS:

Nenhuma. Considero-me um ser
 privilegiado, vivendo em um país 
padrasto como o nosso, ter feito 
o que quis fazer da minha carreira
 e ainda sobrevivido bem para 
cuidar do meu jardim sem 
grandes preocupações.

TONY 29: O melhor desenho animado 
de todos os tempos? Explique-me, 
por quê você acha que ele é o tal?

DANIEL MESSIAS:


Não gosto de falar do 
“melhor “ em nada, tudo
 é relativo e o que pode 
ser bom para mim,
 pode ser execrável para o
 meu vizinho. Por exemplo, 
adoro um filme de Louis Malle, 
da nouvelle vague, chamado 
‘Feu Follet’, que aqui recebeu o
 nome de ‘30 Anos Essa Noite’,
 mas não conheço ninguém que 
tenha gostado desse filme 
tanto quanto eu.

 Na animação também, há 
tanta coisa maravilhosa, 
que deixar de fora 
algumas obras primas
 é crueldade. Mas ouso falar de
 uma em particular que me
 emociona toda vez que 
a revejo: 'Pai e filha', escri-
to e dirigido pelo holandês
 Michael Dudok de Wit. 

Gosto desse trabalho e
 considero que o seu 
realizador foi extre-
mamente feliz
 em conseguir um clima 
de grande emotividade 
contrariando todos os
 padrões da lingua-
gem técnica: 
o roteiro é simples, sem 
arroubos, não há closes 
ou planos intermediários, 
não há truques visuais,
 belos cenários ou 
efeitos sonoros, você 
não identifica os rostos dos
 personagens, tratados 
todo o tempo com simples 
silhuetas negras. 

Mas com essa economia 
total de meios
 (e talvez por isso!) Dudok 
consegue criar uma
 tocante atmosfera
 emocional nessa  história do 
encontro e desencontro entre 
um pai e a sua filha. 

TONY 30: Boa dica, para 
assistirmos... Meu amigo, como
 você se autodefine?

DANIEL MESSIAS:

Um animador brasileiro, e
 embora isso seja muito pouco 
é muito mais do que nada.

TONY 31: Gostei disso, que 
humildade. Rsss...
 Quadrinhos digitais ou físicos 
(impressos)? Desenhos animados 
puramente digitais ou aos
 moldes dos velhos tempos?

DANIEL MESSIAS:

Como animação é um processo 
que agrega técnicas de produção
 cinematográfica e um trabalho 
de equipe complexo, a tecnologia
 pode auxiliar muito a tornar mais 
rápido e preciso esse trabalho.

 Minha perspectiva é a de que o
 ideal é um mix entre o talento 
humano e a ferramenta digital. 
Não há mais retorno aos “velhos 
tempos” do acetato, filme , mesas
 de edição de som e imagem.




Cheester Cheetos

Um simples computador 

substituiu a tudo com vantagem.
 Só não substituiu (ainda!) o talento 
criativo do homem. Quanto aos 
quadrinhos, não tenho dúvidas,
 prefiro os quadrinhos impressos. 

TONY 32: O problema é esse “Ainda”...
 Quanto as HQ impressas, estou 
contigo. Animes e mangás? 
Você aprecia?

DANIEL MESSIAS:

 Não sou um fanático 
apreciador, 
embora eu reconheça 
que haja  muita coisa 
de qualidade na área . 

TONY 33: Nada como saber 
a opinião abalizada de 
um super profissional... 
Você prefere filmes de animação
 e HQs americanas, européias ou
 japonesas? Qual desses países
 fazem o melhor trabalho
 nesta área?

DANIEL MESSIAS:

Em termos de volume de 
animação, Estados Unidos 
são ainda o maior produtor, 
mas o Canadá e o Japão
 também estão no páreo. 
Quando se fala em termos
 de qualidade artística 
a coisa fica mais difusa, pois
 todos esses países e alguns 
europeus,como a Holanda, 
França , Bélgica, Rússia 
 e Alemanha têm produzido
 filmes animados com conteúdo 
artístico notáveis. 

Tenho mais afinidades com
 o cartoon americano,
 em virtude da minha formação 
profissional. Conheço menos
 o universo dos quadrinhos, mas 
penso que a realidade não
 é tão diferente dessa.   

TONY 34: Os Simpsons vieram
 para revolucionar as antigas 
produções animadas apresen-
tando personagens
 esquisitos – de aparência 
e cores estranhas e textos 
contundentes e hilários em 
seus roteiros geniais,
 que agradaram em
 cheio as crianças, 
adolescentes e adultos. 

A serie desbundou aquelas velhas
 series (de filmes e de animações) 
que apresentavam famílias bem
 comportadas. Há quem diga que
 a história da animação mundial 
pode ser analisada antes e depois 
dos Simpsons. Esta também 
é sua opinião?

DANIEL MESSIAS:

Acho que há um certo 
exagero 
nessa avaliação. 
Em termos de estética,
 Simpsons não inovou em nada
 e seu desenho parece tímido 
quando comparado à 
revolução promovida pela 
UPA ou Zagreb, ou mesmo
 com a animação canadense, 
quarenta anos antes. 

A novidade em Simpsons 
reside nas ideias contidas 
em seu roteiro, a de mostrar 
o american way of life de
 uma família como 
uma autêntica sitcom, 
de forma irônica e debo-
chada, como 
verdadeiros anti-heróis. 

O sucesso da serie talvez 
não fosse o mesmo se a 
escolha fosse filmar com 
atores vivos. Mas aqui
 reside a originalidade: 
 a escolha foi a animação
 e isso conferiu um sabor 
especial ao roteiro, um 
toque quase surrealista aos 
personagens. Isso foi um
 achado inteligente  e original .



TONY 35: Sem dúvida... e as 
temáticas são bem adultas 
e as situações hilárias.
 Uma bela crítica social, 
na minha opinião... 

Custa caro montar uma infra-
estrutura no Brasil para produzir 
desenhos animados? 
O mercado está aquecido, neste
 momento de crise política e 
financeira, que atravessamos, 
graças a incompetência
 de nossos políticos?

DANIEL MESSIAS:

Já custou muito mais na época da 
tecnologia analógica. Todo estúdio de 
animação tinha que ter o seu stand de
 filmagem, mesas de edição e
 seus complementos, 
projetores, etc. 
Isso custava muito caro, 
ao contrário da mão de obra,
 relativamente barata, 
pois estúdios treinavam novos 
profissionais. Equipamentos hoje 
custam bem menos e com 50 
a 100 mil reais você monta 
uma workstation completa, 
um valor impensável
 décadas atrás. 

Portanto, houve um certa demo-
cratização na área, o que fez 
aumentar enormemente a oferta
 de estúdios. A mão de obra
 profissional, ao contrário, 
tornou-se mais cara devido
 ao alto grau de 
especialização. Com certeza se
 produz mais animação hoje, e
 isso cria uma falsa sensação de
 aquecimento do mercado, mas
 os valores estão  aviltados em 
razão do desequilíbrio entre o
 excesso da oferta e a 
baixa demanda
 do setor e também o enorme 
custo que os estúdios têm que
 bancar com encargos sociais 
e folhas de pagamento.


TONY 36: Carga tributária... este é um
 velho drama que temos que enfrentar.
Vivemos no país dos impostos mais
 abusivos do mundo...
 Um dia isto tem que mudar... O que 
você aconselha para aqueles que 
desejam entrar para o mundo
 fantástico das animações? 
Há bons livros e escolas no Brasil?

DANIEL MESSIAS:

Existe enorme oferta de livros 
técnicos, você encontra tudo 
na Amazon... 
Tudo em inglês, é claro, que o
 principiante  deverá 
dominar de cara.
  Mas também há tutorials 
de graçana internet, aqui 
é preciso selecionar 
 o bom da porcaria. 

Eu sempre aconselhei os iniciados
 a um estágio em alguma produtora. 
Isso poderá servir para orientá-lo 
na escolha da especialização e no
 primeiro contato com profissionais
 do setor. Quando isso ocorrer, ler
 muito, ver muita animação de
 qualidade e desenhar. 
Sim, desenhar! 

Jovens tendem a achar que o desenho 
é dispensável para quem vai trabalhar 
com softwares e tablets, mas ele 
está redondamente enganado . 

Desenhoé fundamento básico
 na animação, animadores 
“pensam” com o cérebro 
e as mãos, e o domínio da arte
 serve para você materializar 
rapidamente ideias embrionárias 
que ainda estão no cérebro. 
Além disso, o computador é burro,
 não pensa. Você é que tem que 
pensar por ele. Portanto, pratique
 muito, principalmente  anatomia
 humana e animal, composição, 
estudo das cores, etc!

TONY 37: Dicas de uma preciosidade
 ímpar...  A lei do audiovisual fez 
incrementar a produção nacional? 
Ou isto não passa de auê, 
para inglês ver?

DANIEL MESSIAS:

Em princípio, a lei é boa, 
mas como toda lei, tem 
as suas dificuldades 
na prática. Parece que ela não
 leva muito em conta a realidade 
do mercado exibidor . É importante 
que você receba subsídios para
 a produção do seu filme, animação 
é produto industrial e muito caro. 
Mas é imprescindível que você
 veja o seu trabalho exibido, pois 
ele foi feito para isso. 

É fácil constatar 
esse fato apenas verificando 
a enorme disparidade na TV 
em favor das series estrangeiras 
contra as nacionais.

TONY 38: Só produzir não adianta...
 A Galinha Pintadinha (criação de
 Juliano Prado e Marcos Luporini) e
 Mundo Pita (criado no Recife – PE) 
são dois grandes exemplos de 
animações brasileiras que caíram 
no gosto dos pequeninos através 
do You Tube, onde alcançaram
 números expressivos de audiência
e que acabaram sendo 
licenciados para o merchandising.

 O Show da Luna  também foi criado 
no país e acabou tornando-se líder
 de audiência do canal Discovery Kids.
 Tudo leva a crer que colocar 
desenhos animados desconhecidos
 não You Tube e há Discovery Kids 
pode ser uma boa e gerar bons
 rendimentos aos seus autores... 
esta também é sua opinião,
 grande guru?

DANIEL MESSIAS:

A Galinha Pintadinha (não conheço o 
Mundo Pita) é um ‘case’ de animação 
bem sucedida para o You Tube. 
Independente da qualidade da obra,
 a escolha de um público infantil, 
portanto menos exigente, foi  funda-
mental para o seu sucesso. 





É claro que não existe uma 
fórmula para o sucesso, embora
 haja alguns ingredientes (estórias
 e personagens simples, populares 
e simpáticos ao público, músicas,
danças, gags, muita cor,
 muita fantasia!
 Mas a propaganda é a 
alma do negócio. 
Sem ela (e aqui, muita grana tem
 que ser investida ) não rola 
sucesso algum, por mais bem 
feito que seja o trabalho. 

O que se segue a esse sucesso, 
é a enorme exploração do mer´-
chandising, é tendência crescente 
na animaçã de entretenimento,
 e isso ocorre há tempos com
 o mercado americano; 
é só verificar que os filmes 
da Disney faturam muito
 mais com licenciados 
para merchandising do que com 
bilheterias. Isso é uma coisa que,
 infelizmente, fazemos mal, estamos 
engatinhando. 







Mas a tendência é irreversível, toda a
 animação acabará servindo como 
alavanca do grande mercado de 
venda de produtos ligados à serie.
 O sucesso dessas series pode 
indicar, talvez, a possibilidade de 
um caminho exitoso na exibição 
do produto nacional, mas ainda 
não elimina as dificuldades com 
os seus custos de produção.

TONY 39: Duas análies são bem 
objetivas e certeiras...  Qual é 
a diferença de uma animação 
feita para a Internet de uma feita
 para a TV ou cinema
 (em termos técnicos)?

DANIEL MESSIAS:

Não há grandes diferenças técnicas 
entre as duas, os softwares são os 
mesmos com grande prevalência
 fazer ToonBoom. 

Uma possível diferença 
é de caráter mais conceitual, a 
animação para TV ou cinema 
faz mais apelo a full animation e
 planejamento prévio do design 
através do uso de lay-outs, técnica
 de animação mais trabalhada 
que exige movimento completo
 do personagem, em oposição 
à animação limitada empregada
 na internet, mais econômica 
 e que reutiliza elementos 
gráficos existente em um 
banco de dados elaborado 
.  
TONY 40: Atualmente, que tipo de
 ferramentas vocês usam em 
seu estúdio para produzir
 desenhos animados? 
Computadores, tablets, 
canetas digitais, 3-D Max, 
 Photoshop, storyboards,
 conceptboards etc?

    DANIEL MESSIAS:

As ferramentas são as mesmas 
em quase todos os estúdios, 
diferem um pouco os softwares, 
por exemplo, sempre preferi o 
Maya ao 3D Max, e há uma infini-
dade de aplicativos para pencil 
test, pintura digital, exposure 
folhas, etc. 

O ToonBoom agrega todas 
as ferramentas em um único 
programa, é bem popular 
na área 2D. Há também bons tablets 
e sempre empreguei todos eles. 

Meu estúdio foi o pioneiro 
na técnica de pintura digital 
em 2D, com a importação 
do AXA V.2., em 1993. 
 Jamais dispensei a prancheta,
 lápis, papel e os discos de animação. 
Todos  eles convivem bem
 com o computador.


TONY 41: Meu querido amigo, Daniel 
Messias, foi muito bom poder trocar
 esse saudável bate papo com você.
 Poderíamos ficar horas aqui neste
 blá-blá-blá mas, infelizmente,
 esta entrevista empolgante está 
chegando em seus minutos finais,
 com um gostinho de quero mais.
 Jamais imaginei que você fosse
 tão acessível e simpático assim. 

Suas declarações, antes de tudo, 
foram verdadeiros tutoriais sobre
 o assunto. Espero que com isto
 novos animadores brasileiros 
venham a seguir sua trilha  
gloriosa. 

Você é um exemplo para todos
 nós que trabalhamos com arte
 ou para aqueles que desejam 
seguir uma carreira artística. 

Sucesso e até a próxima.
Algumas considerações finais? 
AH, ia me esquecendo... parabéns 
para você e o César Cavelagna
 (outro dos nossos grandes 
animadores) pelo excelente livro
 que fizeram (ensinando animação)
 que foi lançado pela editora Europa,
 comprei, li, adorei e recomendo.



DANIEL MESSIAS:

Muito obrigado pela oportunidade, 
Tony Fernandes. Foi um prazer e 
uma honra colaborar com você.
 Espero que entrevistas  como essa 
se repitam com profissionais que
 também tenham algo a dizer sobre
 a sua experiência de vida. 
Meus votos de  grande sucesso 
em todas  as sua realizações !

TONY: Igualmente, grande guru 
da animação. Valeu!



Caricatura do Petiti

Desenho da UPA

Dinda's








Por Tony Fernandes

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Uma Divisão de Arte e Criação da
 Pégasus Publicações Ltda –
SP – São Paulo – Brasil

CONTATO: tonypegasus@hotmail.com

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NOTA DA REDAÇÃO: 
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do mestre SHIMAMOTO. CONFIRA!

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de caráter exclusivamente ilustrativas e seus direitos
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