sexta-feira, 23 de março de 2012

ENTREVISTA COM O GRANDE MESTRE DOS QUADRINHOS, PRIMAGGIO, AUTOR DE SACAROLHA!


É praticamente impossível falar de histórias em quadrinhos no Brasil sem
citar o nome desse grande profissional. Quem hoje tem entre 40 e 50 anos,
com certeza, já viu a assinatura dele nas mais conceituadas revistas das
maiores editoras brasileiras. Ele sempre foi criativo, eclético, e sempre
 teve uma grande capacidade de se adaptar aos mais diversos gêneros.
Durante anos foi o capista oficial da Rio Gráfica e Editora (atual Globo),
onde criou um personagem que fez muito sucesso e que anos depois
também foi publicado pela editora Abril.
Ao longo de sua brilhante carreira adquiriu imensa bagagem profissional poucos
autores nacionais conseguiram ter uma carreira tão incrível quanto ele,
que lançou seus personagens por editoras de porte como:
 Rio Gráfica e a poderosa Abril, onde comandou a divisão Disney durante anos. 
Caro amigo, web leitor, relaxe, curta e conheça um pouco mais sobre
este grande profissional do mundo das Histórias em Quadrinhos.
O entrevistado de hoje é...

PRIMAGGIO MANTOVI, AUTOR
DE SACARROLHA E OUTRAS
COSITAS MÁS!


Tony 1 – Mestre, quando você concordou em me dar esta entrevista 
quase tive um orgasmo. Sempre fui seu fã e na medida em que eu me 
profissionalizava tive o prazer e a honra de conhecê-lo pessoalmente 
quando você trabalhava na Editora Abril, graças ao grande amigo 
professor Gedeone Malagola, o autor de Raio Negro. 
Aliás, você e os saudosos Igayara e Jorge Kato, sempre nos 
receberam bem nos tempos da Abril. Podemos começar?

Primaggio: Manda bala, Tony!

Tony 2 – Lá vai chumbo. Afinal, todos nós queremos 
saber mais sobre sua incrível carreira... 
Você, pelo que me consta, nasceu na Itália, em 1945. Confere? 
Em que região da Itália você nasceu e quando
 e porque seus pais vieram para o Brasil?



Primaggio: Nasci em Gênova, no dia 18 de janeiro de 1945. 
Quando a 2ª Guerra Mundial terminou, a Itália estava ‘falida’, e 
o meu pai, depois de várias tentativas mal sucedidas, de arranjar algum 
trabalho pra sustentar a família, resolveu aceitar o convite de um 
cunhado que estava morando no Brasil. 
Assim, em 4 agosto de 1954, a minha família desembarcou 
no porto do Rio de Janeiro.

Tony 3 – A Segunda Grande Guerra fez um terrível estrago na velha Europa, 
muitas vítimas e muitos imigrantes como seus pais, por sorte, vieram para essa 
terra abençoada, que sempre acolheu povos de todo o mundo ... 
Você foi criado em que cidade e estado brasileiro?



Primaggio: No Rio de Janeiro. Em março de 1973, eu recebi um 
convite pra trabalhar na editora Abril e me mudei pra São Paulo 
junto com a minha “nova” família: minha esposa e minha primeira filha, 
Claudia. Meus pais e meu irmão continuaram morando no Rio.

Tony 4 – Rio de Janeiro, a “Cidade Maravilhosa”, adoro ela onde tenho muitos
 amigos e vira e mexe passo por lá. Então você se tornou um carcamano 
carioca (Rsss...). Maravilha... prosseguindo... 
O dom pelo desenho deve ter surgido na infância, inspirado pelas 
HQs que você lia e via na época, com certeza... 
Mas, caro bengala friend, por que você optou em fazer HQs?



Primaggio: O meu primeiro contato com histórias em quadrinhos
 foi com, aproximadamente, cinco anos, por meio do gibi 
Topolino (Mickey, na Itália), leitura preferida do meu irmão 
mais velho, Andrea (André, em português). Naquela época, ele
 gostava de “inventar” histórias em quadrinhos (quase sempre 
interpretadas por panelas e chaleiras humanizadas!). 
E como eu tinha a mania de imitá-lo, passei a fazer o mesmo... 
Incluindo os objetos de cozinha! Com o passar do tempo, 
André foi aos poucos perdendo o interesse por aquilo, mas eu 
já estava irremediavelmente “contaminado” e segui em frente.




Tony 5 – Então, foi graças ao Topolino e ao André, seu irmão, que você 
enveredou de corpo e alma pelo mundo das HQs, interessante... 
é incrível como somos influenciados, muitas vezes, pelas 
pessoas que nos cercam, que nos inspiram... vamos nessa... 
Você começou retocando HQs para a Rio Gráfica e Editora, 
em 1964? Que idade você tinha na época e como
 surgiu a oportunidade?

Primaggio: Por volta de 1960, eu terminei o 4ª ginasial 
(hoje, segundo grau) e disse ao meu pai que abandonaria
 os estudos, pois queria me dedicar ao desenho.
 Meu pai assinou em baixo e eu me matriculei no Instituto
 Técnico Oberg, onde fiz um curso de desenho de propaganda. 
Um ano depois estava formado e, com o diploma 
debaixo do braço, fui à luta.


Tony 6 – Formou-se em propaganda? Isto é curioso e aposto 
que poucos sabiam disso sobre você, um publicitário que virou autor
 de HQs... Na certa, seu pai percebeu o grande potencial 
que você tinha para o desenho e por isso concordou com 
sua decisão, que foi acertadíssima. Antes de entrar para a RGE,
 você já havia tido alguma experiência na área editorial?

Primaggio: Depois de bater à porta de um punhado de 
empresas de propaganda (sem sucesso), resolvi tentar a área 
editorial e quando me dei conta, estava trabalhando na Rio Gráfica 
e Editora, ainda como auxiliar de arte, free lancer.



Tony 7 – Outro dia, ao entrevistar o genial Watson Portela ele afirmou
 que só conseguiu publicar devido a sua insistência e que para se 
dar bem é preciso ser pentelho. Pelo visto, eu e você também, 
apesar de termos recebidos muitos “nãos” continuamos
 pentelhando até chegarmos lá. Não há outra alternativa, eu acho (Rsss...)... 
 Quando eu era garoto adorava ler Fantasma, Mandrake, 
Flash Gordon, Rocky Lane, etc. Jamais me esqueci quando ao 
comprar um gibi do Fantasma, de Lee Falk, vi, na capa, 
a assinatura de um brasileiro: Walmir.
 Você conviveu com ele. Fale-me sobre esta época...

Rock Lane, por Primaggio. um cowboy que fez muito sucesso
Primaggio: Na minha opinião Walmir Amaral de Oliveira 
é um dos melhores (senão o melhor) desenhistas de HQ do
 Brasil! Trabalhei ao lado dele de 1964 a 1970 e posso 
afirmar que o danado desenha como se estivesse 
escrevendo uma carta! Tive a grata satisfação de
 vê-lo trabalhar dezenas de vezes: ele pega o PINCEL,
 molha no nanquim e desenha, SEM fazer o esboço a
 lápis! É impressionante! O Walmir é um grande
 amigo e tudo o que eu sei, devo a ele!


O genial Mestre Walmir Amaral de Oliveira
Tony 8 – O Walmir inspirou muita gente e
 jamais deve ser esquecido.
 Fez um trabalho incrível e desenhou diversos heróis criados na 
América para a RGE (Rio Gráfica e Editora).
Se não estou equivocado, a
 primeira vez que vi sua assinatura num gibi da Rio
Gráfica foi em Rocky Lane (uma revista de cowboy 
que fazia muito sucesso na época), 
depois vi sua assinatura em outra revistas, como: Fantasma, 
Mandrake, Buck Jones, Flash Gordon, Recruta Zero, 
Águia Negra, etc, se não me engano. Você, pelo visto, chegou e 
acabou virando o capista oficial da RGE, correto?



Primaggio: Sim, nos primeiros anos de RGE, 
o chefe me “elegeu” 
capista do setor! No decorrer de aproximadamente
 dois anos, produzi + ou - 200 capas.

Capa feita pelo artista, para a RGE (Atual editora Globo)
Tony 9 – Uma bela produção. Rocky Lane...
Este título era um dos campeões 
de venda, na época... É verdade que você
fez as capas desta série, 
de 1965 a 1968? Você sabe qual era a tiragem média 
dos gibis naquela época?

Primaggio: Não só as capas, como também o conteúdo. 
Ao todo produzi oito histórias deste maravilhoso cowboy 
(um dos meus grandes ídolos de infância!). 
O meu cargo não dava acesso aos
 números, tiragem/venda.

Tony 10 – Colecionava Rocky Lane e adorava
o seu trabalho... Você e o Walmir também 
chegaram a desenhar HQs de personagens
 americanos para a RGE, OK? Faltava material americano? 
Quais títulos vocês chegaram a fazer no Brasil?

Primaggio: Quando a produção do material 
norte-americano começou a escassear, cada
 desenhista da RGE, “adotou” 
um herói ! Eu, como acabei de falar, fazia o Rocky Lane; o 
Walmir Amaral desenhava o
 Cavaleiro Negro, o Cavaleiro 
Fantasma (com arte final do Milton Sardella)
 e, posteriormente,
 o Fantasma (além de suceder
 o Flávio Colin em
 As Aventuras do Anjo, oriundo das novelas de rádio); 
 José Evaldo de Oliveira adotou o Flecha Ligeira; 
José Menezes o Jim das Selvas e por aí em diante.




Tony 11- Comprei muito estas
edições citadas por você, especialmente, Cavaleiro
 Negro, Fantasma, Rocky Lane e Flecha Ligeira. 
Este último era um dos meus favoritos.
Me lembro que na TV havia um seriado
 chamado Águia Brava, que narrava as aventuras 
de um grande chefe de tribo da América, quando descobri 
Flecha Ligeira não perdia um número se quer...
 Há pouco tempo atrás, graças ao amigo Dom Alvarez, 
membro da milenar Confraria dos Bengalas Boys Club -
 que é um verdadeiro “rato de sebo”, além de grande
 colecionador e pesquisador de HQs-, vi no Facebook
 uma capa pintada por você para a série James Bond... 
Acho que era da RGE, no formato pocket book. Confesso 
que desconhecia este belo trabalho seu – capas muito bem 
pintadas. Pergunto: Quantas capas, neste estilo clássico – 
à La Benício-, você fez na época, para esta série? 
E, quanto tempo durou os pockets desse famoso agente 
secreto criado por Ian Fleming,
de muito sucesso no cinema?

Primaggio: O gibi do 007 da RGE era no
 formato magazine, Tony! 
O Bond em pocket book, era da Saber. Ao todo fiz cinco capas,
 foi a minha estréia em pinturas a guache. A semelhança com 
o trabalho do Benício (meu grande ídolo e amigo) foi 
“acidental”, já que eu usei o estilo que havia aprendido 
no Oberg. Salvo engano, o gibi não passou do nº 10.

007 - Um show de pintura a guache, a La Benício
Tony 12 – Você tá coberto de razão. Agora me lembrei que os 
quadrinhos do Bond da RGE eram grandes, cheguei até a comprar 
alguns. Mas, confesso que não sabia que a Saber, editora paulista 
dos irmãos Fittipaldi, tinha publicado a série em formato pocket.
 Aliás, eles ressuscitaram clássicos como Mandrake, Fantasma, 
Flash Gordon, etc, em formato pocket. A primeira revista 
que publiquei na vida foi Sargento Bronca, uma sátira militar,
 a la Recruta Zero, pela Saber. Na época o Praça Atrapalhado, 
do Edu, fazia sucesso e eu entrei na cola.
 Mas, a minha revista não passou da primeira edição. 
Vamos nessa... Sacarrolha... Este foi o nome de um dos
 personagens seu de maior sucesso. Como surgiu a ideia 
de lançar este simpático e atrapalhado palhaço, que fazia 
a alegria da garotada, e em que ano foi
 lançada a primeira edição, pela RGE?



Primaggio: Em 1970, a RGE promoveu
 um concurso (limitado aos artistas da casa), 
envolvendo a criação de um personagem.
 Como premio, a editora oferecia ao autor do personagem 
ganhador um contrato de três anos de publicação, em gibi 
próprio e com periodicidade mensal. Devido ao meu cargo 
de chefia, eu decidi não participar, mas diante de uma
 “intimação” da diretoria, inscrevi um palhaço que
 eu vinha desenvolvendo. O personagem (o nome
 Sacarrolha veio depois) acabou ganhando o 
concurso e, em 1972, o nº 1 chegou às bancas.

O palhaço Sacarrolha caiu nas graças da garotada, na época
Tony 13 – Um concurso limitado aos artistas da casa? Que bacana. 
Aposto que ninguém jamais imaginou que seu personagem surgiu 
devido a esse tal concurso, que rolou nos bastidores. 
Esse tipo de revelação é fantástica e é por isso 
que eu adoro essas entrevistas. Vocês, ilustres entrevistados,
 sempre acabam nos revelando coisas incríveis como esta
 que você nos relatou e que jamais poderíamos imaginar
 ter acontecido... 
Quantas edições durou a revista Sacarrolha e por que parou?

Primaggio: Ao todo foram 40 edições:
 36, pela RGE e quatro pela Abril.
 Mas, no início dos anos 1980, lancei a revista 
de atividades Diversões do Sacarrolha (pela D-Arte, 
do Rodolfo Zalla), totalizando 13 edições. 
 “Aposentei” o Sacarrolha porque o mercado de
 quadrinhos começou a ficar cada vez mais crítico
 e produzir uma revista, apenas como satisfação pessoal, 
deixou de compensar (o Sacarrolha foi sempre
 produzido nas horas de folga da RGE
 e, posteriormente, da Abril)



Tony 14 – Quarenta edições!? Feito nas horas vagas? Parabéns. 
Bengala brother você trabalhava muito, na época. 
Anos depois, você veio para São Paulo, OK? De repente, 
Sacarrolha, sumiu das bancas, para o desespero de seus fãs
 e veio reaparecer algum tempo depois pela poderosa editora 
Abril, para a alegria dos baixinhos. Como foi que rolou essa
 transição da RGE para Abril? Você é um herói, bengala
friend, é um dos poucos autores que realizou a façanha 
de publicar seus personagens em duas grandes 
editoriais do país.

Primaggio: Simples: o contrato da RGE expirou e
 a Abril “comprou o passe”!

Tony 15 – Obviamente a Abril “comprou o passe” baseando-se 
no sucesso anteriormente alcançado. Foi uma grande jogada. 
Em que ano foi lançada a primeira edição de
 Sacarrolha pela editora Abril?


Primaggio: 1976

Tony 16 – Quantas edições foram lançadas pela Abril, e 
por que a revista parou de circular?

Primaggio: Respondido na pergunta 13.

Tony 17 – Opa! Pisei no tomate (Rsss...). Desculpe-me, pela 
questão redundante. Coisas da idade (Rsss)... Bengala Primaggio, 
você tem ideia de qual era a tiragem média do Sacarrolha, pela Abril?

Primaggio: Por volta de 100 mil exemplares

Tony 18 – Bela tiragem... Você tinha acesso aos boletins de venda. 
Isto é, tinha ideia de quanto o produto vendia?

Primaggio: Claro! A Abril sempre foi muito
 séria com os autores
 nacionais e com os funcionários, também:
 nos meus 24 anos de editora, o pagamento
 NUNCA atrasou, um dia sequer!


Capa de Primaggio para o gibi Capitão Marvel
Tony 19 – Para mim o Victor Civita foi o único editor profissional 
do país. Era corretíssimo e tinha um
grande respeito pelos profissionais 
da casa. Merchandising... Vamos falar disso... 
Me parece que você também fez um trabalho nesse 
sentido com seu simpático personagem (Sacarolha), 
além de revistas de atividades por outras editoras, confere?

Primaggio: Lancei o Sacarrolha no 
campo do merchandising pra 
fortalecer a revista. O restante da
 pergunta foi respondida no item 13.

Tony 20 – Se não estou enganado uma revista de atividades
 infantis também foi lançada pela editora Noblet, quando eu já 
havia saído dela para montar meu primeiro estúdio na década de 80.
 Mas, isto é uma outra história... De repente, você foi promovido a 
chefe de departamento Disney, da Abril. 
Como foi que isto aconteceu e em que ano isto ocorreu?


Primaggio: Fui convidado pra trabalhar 
para a Editora Abril, na minha casa, no Rio 
de Janeiro, pessoalmente por
 Claudio de Souza e Waldir Igayara, na época, diretores
 da Abril Jovem. Pode parecer esnobação, mas foi exatamente 
o que aconteceu. Mudei pra São Paulo, em abril de 1973,
 e comecei a trabalhar na Abril, como coordenador
 do Centro de Criação.

Tony 21 – Esnobação? Absolutamente.
 Isto prova que eles perceberam 
seu potencial e por isso lhe fizeram esta boa proposta...
O Cláudião – um radialista que virou um grande 
argumentista -e o Iga eram caras
 de visão e sabiam das coisas. Nosso saudoso e querido bengala
 friend Waldir Igayara de Souza, assim como você, também 
era um desenhista, um autor, um grande criador. Por vezes, ele
 confessou a mim e ao Gedeone, que apesar de ter um ótim
o salário no comando da poderosa Abril, se sentia frustrado,
 por não conseguir mais publicar seus personagens – apesar 
de ter publicado uma série de breve duração na revista Crás,
 uma publicação idealizada e lançada pela Abril só com
 autores nacionais, no formato magazine.
 Isto também aconteceu 
com você? Teve alguma frustração?



Primaggio: Não mesmo! Fui contratado 
pela Abril pra trabalhar
 com as HQs Disney, meu grande
 ídolo e inspirador, desde 
os tempos de criança, ainda na Itália.
 E como se não 
bastasse, a editora publicou o meu personagem! 
(Esqueceu? Ah, ah!) 
Não havia razão pra frustrações.

Walt Disney - Retrato  espetacular 
feito por Primaggio

Tony 22 – Não me esqueci, não... Sem dúvida,
 você foi um privilegiado, 
poucos artistas\autores tiveram suas séries
 publicadas pela Abril. 
Em outras palavras, você se deu bem.
Bem melhor do que o
 chefe – Igayara -, que vira e mexe tirava
seus originais da gaveta
 e nos dizia: “Não é incrível?
Sou o chefão por aqui e não 
consigo publicar meu material.
” E o material dele era sensacional. 
Ele tinha um belo salário, viagem anual para o exterior, um 
carro zero, uma boa posição dentro da empresa e jamais
 poderia deixar toda aquela mordomia para se aventura no 
minguado mercado externo, que jamais ofereceu qualquer
 garantia aos autores. Acho que ele fez a coisa certa.
 Segurou o bom emprego, em prol da família. Grande, Iga, 
deixou saudade. Sempre foi um grande
 amigo e um artista talentoso.
 Mas, voltando a falar de você...
Como era comandar um
 dos departamentos de arte e criação mais importantes do país?
 Muito pepino pra resolver ou a coisa era maneira?

Primaggio: Eu sempre tive muita facilidade
 em fazer amizades, 
daí não levou mais de um mês pra me integrar com os 
artistas da editora! Pepinos sempre existem, Tony! 
Trabalhar na Abril foi maravilhoso!


HQ Disney feita por Primaggio 
 que foi editada no exterior


CRÁS - Revista lançada pela editora 
Abril só com autores brasileiros,
na década de 70, mas não vingou. 
Tony 23 – Falei sobre “pepinos”, porque
 quando comandei o 
departamento de arte da Noblet a minha
função era segurar “pepinos” 
na redação, como: fazer correções e
 retoques de última hora, 
organizar os colaboradores, cobrar
prazos, manter as edições 
adiantadas para assegurar a
periodicidade e até contemporizar 
desavenças entre o editor e colaboradores, etc...
 quando me perguntavam: “Você é o diretor de arte?”. 
Eu dizia: “Sou o cara que resolve os problemas da casa!”.
 Trabalhei na Abril na década de 70, na avenida Faria Lima... 
Uma das coisas que todos temiam, na época, era o famoso 
“listão de final de ano”, quando as cabeças poderiam “rolar”. 
Havia uma política de “puxa-tapete”... 
Ou seja, um cidadão que desejava seu cargo armava uma 
trama e você acabava entrando pra temida “listona” e poderia 
perder o emprego. Durante sua gestão por lá, ainda existia, 
esta política sinistra?

Primaggio: Listão existe em qualquer empresa...
 E o ano todo!
 É uma questão de sobrevivência! Nas
 horas que o bicho pega...
 Salve-se quem puder! “Puxação de tapete” só atinge os
 incompetentes! Nenhum diretor de empresa, em sã 
consciência, despede um funcionário competente por
 causa de intriga, ou algo semelhante!



Tony 24 – Sim, eu sei. Mas, eu era jovem e achei o ambiente 
muito tenso. Havia o chefe do chefe, do chefe!
Uma hierarquia imensa. 
Coisa normal numa grande empresa, é óbvio. 
Quando tudo corria bem (as vendas) o
 chefe levava a fama, 
quando as coisas iam mal a culpa era da equipe e vi 
muita gente “dançando”, perdendo o emprego. 
Agüentei isso durante um ano, daí decidi pedir a conta 
e me aventurar nos pequenos editores. 
O que eu queria mesmo era publicar
meus personagens e se
 eu ficasse por lá ia morrer frustrado,
fazendo Disney eternamente. 
Não foi fácil sair para a aventura. 
Na Abril trabalhávamos em linha
de montagem onde cada 
um fazia uma etapa de uma HQ. Ou seja:
Um escrevia, outro fazia o lápis, 
outro a tinta, tinha os letristas, os que faziam os balões, 
os coloristas, os capistas, e até
especialista em desenhar títulos 
de HQs. Fazer um gibi do Disney na Abril
exigia uma porrada de gente. 
Enfim, nesse esquema, você se especializava
 em determinado tipo 
de trabalho, mas quando saia não sabia fazer
o trabalho completo. 
E para trabalhar com os pequenos editores
que não mantinham 
infraetrutura de produção ou dinheiro para bancar uma equipe
 a gente, que fazia freelance, era obrigado a entregar o
 trabalho pronto. Ralei um bocado até
aprender a escrever,
 desenhar, artefinalizar e até letreirar. 
E o pior: Agora eu tinha que vender meu trabalho, meu próprio
 “peixe”. E timidez é uma palavra que não existe no dicionário
 de um bom vendedor. Tive que vencer muitas barreiras, ouvir
 muitos “nãos” e acabei aprendendo a usar de psicologia 
para convencer os diversos tipos de editores a aceitar 
minhas idéias, meus próprios projetos editoriais. 
Sempre tinha bons argumentos contra algum tipo de rejeição
 e, por fim, acabei me dando bem. Jamais fui um campeão 
de venda, porém, ao longo dos anos consegui publicar muitos
 dos meus personagens em diversas casas editoriais, mas
 também tive que encarar – para sobreviver -, uma porrada
 de trabalhos eróticos e pornôs, principalmente quando
 abri meu próprio negócio, minha primeira empresa
 de verdade (estúdio). Vamos em frente, primo, afinal, 
o entrevistado é você... 
Quantos anos você trabalhou na RGE e na Abril?




Primaggio: Oito na RGE e 24 na Abril.

Tony 25 – Trinta e dois anos, se contarmos as duas... incrível. 
Isto é uma vida, praticamente. Coisa de herói, não há dúvida.
 Isto é o que eu chamo de uma carreira bem sucedida... 
Com a saída do Mauricio de Sousa da Abril, dizem que o
 faturamento desta tradicional casa editorial caiu cerca de 40%... 
Isto é verdade?

Primaggio: Não sei, mas não há dúvida
 que o Maurício fez falta!

Tony 26 – O homem até hoje é um fenômeno de venda. 
Bateu Disney nos pontos de venad e hoje é publicado em
 diversos países. Ralou muito inic ialmente, mereceu ter
 chegado onde chegou. Venceu na base da insistência, 
da garra, da perseverança é um grande guerreiro e acima
 de tudo um excelente vendedor. Ao meu ver o grande trunfo 
do Mauricio – além de ser um grande criador de personagens 
de HQs carismáticos -, é seu poder de negociação. 
Ele foi o primeiro a conseguir negociar com um grande 
editor um contrato aos moldes dos
contratos dos syndicates americanos. 
Cobrando advance, royalties, etc.

 O segredo, para se 
dar bem, não é só vender a sua história em quadrinhos 
para uma editora. O segredo é saber vender bem sua HQ, 
para ganhar dinheiro de verdade, caso ela aconteça, caso
 caia no gosto popular.
 É evidente que uma série de fatores 
contribuíram para que a Turma da Mônica emplacasse, 
como: um ótimo trabalho, bons roteiros, tiras publicadas 
em diversos jornais do país, comerciais de TV, merchandising, 
boa tiragem - feita por uma grande editora, que dominava 
esse segmento na época.
Outros fatores e pessoas também 
contribuíram para a exposição da
Turma da Mônica na grande 
mídia: a TV. Foi graças a Proeme –
 agência de publicidade
 do Ênio Mainardi , que tinha a conta da CICA, importante 
marca de produtos alimentícios que ao adotar o elefante 
Jotalhão – criação do Mauricio -, como mascote 
(garoto propaganda) do extrato de tomate chamado
 Elefante ajudou a divulgar os personagens do Mauricio nos
 comercais de TV. O desenhista, publicitário e ex-editor, 
o bengala brother Dag Lemos, também foi outro que 
contribuiu muito para que o negócio com a CICA fosse 
concretizado.O fator sorte também foi fundamental. 
A qualidade dos quadrinhos do Mauricio é indiscutível.
 Mas, nem sempre apenas a qualidade do material 
pode fazer de um produto um campeão de venda. 
Conheci grandes autores que morreram sem jamais 
obter recordes de vendas. Acredito piamente que há 
pessoas que nascem predestinadas ao sucesso. 
Não existe escola de marketing do mundo que consiga
 explicar um fenômeno de venda ou possa discernir 
porque um produto, muitas vezes, ruim, vende bem 
e um trabalho maravilhoso vende mal. Não há uma
 explicação lógica para esse tipo de coisa. 
O que sabemos é que há gente
 e produtos carismáticos, 
que apoiado por uma boa campana
promocional podem obter sucesso.

 E, em geral, esse sucesso nem 
sempre é determinado apenas pela qualidade do produto.
Caso contrário, clássicos como: Príncipe Valente, Flash 
Gordon e outros trabalhos que podem ser classificados 
como arte, na acepção da palavra, teriam sido fenômenos
 de venda devido a alta qualidade. Mas a realidade é outra, 
é cruel: apesar desses verdadeiras obras de arte serem 
cultuadas pelo mundo jamais foram campeões de vendas.
Na minha opinião, o Surfista Prateado, da Marvel, é o melhor
 de todos os personagens criados pela dupla Kirby e Lee, 
entretanto nunca vendeu bem.
A GEP (Gráfica e Editora Penteado) 
foi o primeiro a lançar esse personagem
no país e se deu mal.
 Há outros exemplos clássicos,
meu querido bengala brother. 
Mas, vamos em frente...
Após a saída do Mauricio – que foi para
a Globo, durante um bom 
tempo a Abril fez várias experiências com outros
 autores nacionais, no mercado. 
Mas, nenhum poucos deles vingou. Sacarolha foi
 uma exceção. Ou seja, pelo menos durou um bom tempo 
nas bancas. Na verdade, aquilo era uma esperança de achar 
outro autor brasileiro comercialmente viável, 
tanto quanto o Mauricio?



Primaggio: Talvez, mas não necessariamente!
 Durante os anos 1970/80, a Abril fez
 várias tentativas com personagens 
nacionais (Crás, Sacarrolha, Satanésio, Pererê, Turma 
do Lambe-Lambe, Patrícia, Andréia – a Repórter, Gugu,
 Faustão, Os Trapalhões e As Aventuras dos Trapalhões, 
Sérgio Malandro, Turma do Barulho... Algumas se saíram 
melhor, outras não, mas posso afirmar que não foi por
 falta de qualidade... Foi por falta de interesse do público
 leitor (e alguns autores “anti-Abril”).
 É por isso que eu digo:
 nenhuma lei “de defesa” à HQ nacional vai 
vingar se os leitores 
“ignorarem” o trabalho do autor
 brasileiro. Por outro lado, 
é um direito deles, fazer o que?

Tony 27 – Você disse o “X” da questão: “Os leitores ignoram 
o trabalho nacional”... ao meu ver sempre ignoraram, sempre
 torceram o nariz. Apesar de tentarmos,
por vezes, empurrar os produtos nacionais goela abaixo, deles.
 Raros produtos Made in Brazil se deram bem. Mas, será que
 o leitor, de fato, tem preconceito quanto a produtos nacionais?
 Defendo a tese de que o leitor – o grande público -, deseja 
apenas se divertir.
Não está preocupado se o produto é nacional
 ou estrangeiro. Quando eu era garoto eu não tinha o senso
 crítico que tenho hoje. Eu não sabia
discernir um bom trabalho
de um trabalho ruim.
 Eu só queria pagar para me divertir. 
Eu nem sabia que HQs eram feitas no país. Eu comprava e lia. 
Se eu gostasse continuava a comprar, caso contrário, parava.
 Eu adorava as HQs do Fantasma desenhadas pelo Ray Moore. 
Hoje acho aqueles desenhos horríveis, mas aquelas histórias 
do Lee Falk eram incríveis. Com o tempo os desenhos 
desse personagem melhoraram,
mas as histórias ficaram ruins. 
Daí deixei de comprar.
 Sempre achei a maioria dos roteiros 
das HQs e do cinema nacional uma merda.
 E, ao meu ver, esse é o grande
diferencial entre uma 
HQ nacional e uma importada.
Temos excelentes rabiscadores,
 no que tange aos roteiristas, poucos se salvam. 
Veja, os desenhos iniciais da
Turma da Mônica eram sofríveis,
 porém os roteiros eram de mijar de rir.
 Na época, não havia HQs americanas que fizessem a
 gente dar tanta gargalhada como as HQs do Mauricio. 
O cara inovou as HQs que apresentavam um “humor ”
 americano em séries como Luluzinha e Bolinha. 
Portanto, quando você diz que as
 publicações nacionais da
 Abril não aconteceram “não por falta de qualidade”, 
tenho minhas dúvidas, no que se refere aos argumentos.
 Continuando, bengala brother... Durante anos a Abril 
dominou o segmento de gibis no país. Aqueles formatinhos 
vendiam muito e Conan foi
 um fenômeno de venda, OK?
 Subitamente, mudaram o formato
e as revistas ficaram 
caríssimas e com isso as vendas despencaram.
 Você sabe dizer quem foi a anta que inventou de fazer 
aqueles quadrinhos populares ficarem
 luxuosos, caros, elitistas?

Primaggio: Com o passar do tempo as
 vendas daquele tipo
de HQ que você citou, foi caindo, 
caindo até alcançar o 
“vermelho”. Anta ou não, o mais 
provável é que tenha 
sido uma tentativa de atingir o
 público mais exigente 
(e com mais $ no bolso, claro!).
 E, paralelamente, fazer a 
HQ “chegar mais perto” (e ter a chance de competir), 
dos outros produtos de entretenimento, cada vez mais 
sofisticados, atraentes, multicoloridos... 
E, principalmente, BEM-SUCEDIDOS!

Tony 28 – Então aquilo foi uma alternativa de
oferecer ao público leitor um produto de melhor
 qualidade, pois a coisa já estava degringolando...
deu para entender. Na época a TV a cabo
 estava sendo implantada no país (década de 90),
 os games estavam cativando a garotada,
os celulares estavam sendo implantados.
Em outras palavras, novas opções sofisticadas
 de lazer estavam derrubando as vendas.
Assim, sofisticar os produtos foi uma tentativa
 desesperada de alavancar as vendas.
 No entanto, o tiro saiu pela culatra.
Mais uma vez os heróis Marvel e DC acabaram
 falindo no Brasil a exemplo do que já havia
 ocorrido no passado na EBAL, na Bloch e na Globo.
Eu colecionei Conan por uns
10 anos. De repente, o material ficou péssimo,
 as histórias repetitivas. Decidi parar.
Uma grande época das HQs no país, capitaneada
 pela Abril, estava chegando ao fim,
lamentavelmente. Enquanto a Abril capengava
 a Conrad editora surgiu com tudo no mercado
com os mangás atingindo vendas mirabolantes
 com inovações, como: Pokémon, Digmon, etc.
Pelo visto, o mercado estava carente de
novidades e o pessoal do marketing da
 Abril não percebeu isto. Falharam.
Vamos em frente... Outro dia papeando contigo –
 via e-mail -, bengala friend, você me disse
que a grande fase das HQs já passou.
Dá pra você explicar melhor esta sua colocação.
As Hqs estão morrendo, na sua opinião?

Primaggio: Morrendo é muito trágico,
 mas que o quadrinho deixou de ser 
um produto de massa isso é um fato indiscutível.
 Como todo produto artesanal, acredito que 
a HQ seja ETERNA, mas voltar aos dias de
 glória do passado (nos anos 1970, o gibi 
Tio Patinhas vendia 500.000 exemplares por mês)
 acho pouco provável. Nada a ver, repito,
 com a qualidade dos produtos. 
O problema é que a garotada de hoje
 tem outros interesses e milhares de
 ofertas, muito mais estimulantes!
 Essa garotada nasce ligada em 220
 (ou 380!), e jamais vai querer ficar 
sentada lendo HQs! Estamos na era 
da velocidade... Até o tempo
 parece passar mais rápido.

Tony 29 – Não há dúvida sobre esta sua real
 visão de público. Essa nova geração veio ao
mundo plugada em computadores, quer ação,
 movimento, e está antenada em um
 zilhão de coisas estimulantes simultaneamente.
 Há um novo mundo, que jamais sonhamos
quando éramos crianças ou adolescentes.
Somos jurássicos (rsss...), essa é que é a
verdade... Algum sonho?

Primaggio: Viver bastante, mas inteiro... 
Pra poder seguir fazendo o que sempre 
fiz, com o mesmo amor e a mesma paixão,
 do contrário, não vale à pena!

Tony 30 – Viver mais já é uma realidade.
Hoje podemos chegar aos 80 anos, “numa boa”...
Inteiro? Vai ser difícil... eu, por exemplo,
 já ando capengando (rsss...).
To precisando me aposentar... Alguma frustração?

Primaggio: Pofissionalmente, nenhuma! Cá entre nós,
 gostaria de ter tido a chance de trabalhar
 no meio cinematográfico, mas, de forma
 alguma, encaro isso como frustração.

Tony 31 – Também acho o mundo do cinema
 fantástico. Mas, no Brasil o pessoal rala muito,
apesar do apoio governamental. Viver de
cinema e de música – minha outra grande
paixão e frustração – é pior do que viver
rabiscando HQs... Pelo que sei, você se tornou
 um especialista em Disney. E, nos últimos
anos, escreveu e lançou diversos livros no
mercado. Todos foram sobre Disney?

Primaggio: “Diversos livros” é generosidade 
sua... Ou má informação! Ah, ah! Entre 
2003 e 2007, lancei três livros e nenhum
 deles foi sobre Disney! Em 2003 – 
“100 Anos de Western” e “Curiosidades 
do Western”. Em 2007 - “O Centenário do
 John Wayne”. Sobre Disney? Entre 2004 
e 2010, escrevi “Walt Disney, a Arte 
de Realizar um Sonho”, com 
lançamento previsto em breve.


Um time da pesada compareceu ao lançamento do
livro sobre John Wayne, na Comix



Os livros escritos por Primaggio sobre o Velho Oeste





Tony 32 – Três sobre western? E só um sobre o Disney?
 De fato, eu só conhecia o livro “disneyano” seu,
os demais eu ignorava. Ando mal informado,
com certeza. Westerm, taí um tema que sou
apaixonado também. Como eu e o pessoal
 podemos adquirir esses seus livros?

Primaggio: O dois primeiros estão praticamente
 esgotados (graças ao bom Deus!), mas
 acho que a Comix ainda tem alguns 
volumes disponíveis. “O Centenário do John 
Wayne” é mais fácil de ser encontrado.

Tony 33 – “O Centenário do Marion?” Cara, adoro
o trabalho do John Wayne. Vou ligar para Comix, agora.
Durante anos a Panini – empresa multinacional italiana,
detentora de os direitos Marvel - foi sócia da
Abril em álbuns de figurinhas. De repente, essa
parceria foi rompida e a Panini passou a lançar
 os heróis Marvel no Brasil. Você sabe dizer,
o que levou este rompimento?

Primaggio: Como eu trabalhava com as 
revistas Disney, nunca soube claramente 
o que aconteceu.

Tony 34 – Qual é a sua opinião sobre os editores nacionais?

Primaggio: Alguns são excelentes, outros
 médios, e outros, deveriam procurar outro
 tipo de atividade. Mas o grande problema
 ainda é o nosso público leitor: quando o 
assunto é HQ nacional, a resposta é
 quase sempre, “Não li, não gostei!”

Tony 35 – O pior é que você está correto.
Os caras julgam sem ao menos se dar ao luxo
 de conhecer o trabalho. É f... e tem autor que
 ainda insiste em colocar como pano de fundo
temas nacionais. Aí a coisa fica pior. Espero que
um dia essa mentalidade mude.
Aliás, ultimamente parece que está surgindo
 um novo leitor nas livrarias disposto a
 descobrir autores nacionais e que não tem
 preconceito ou vergonha de ser brasileiro.
 Alguns editores independentes começaram
a se dar bem nesse novo segmento.
Editores independentes?

Primaggio: Grandes incentivadores... 
Ou melhor: Heróis da HQ nacional!

Tony 36 – Disse tudo. Concordo e assino embaixo.
 Webcomics... Você acha que esse é o futuro das
HQs? As revistas impressas não têm futuro?

Primaggio: Acho que as duas modalidades 
vão conviver pacificamente.
 O ideal seria se houvesse ajuda mútua.

Tony 37 – Na sua opinião, quais foram os 5 maiores 
desenhistas ou autores de todos os tempos?


Primaggio  e o professor Fábio Santoro, um expert em HQs
Primaggio: Essa é difícil... Existem dezenas! 
Sem pensar muito: Hal Foster, Alex Raymond, 
Burne Hogarth, Alex Toth e o brasileiro 
Walmir Amaral de Oliveira.

Tony 38 – O que falta para as HQs nacionais
 emplacarem? Bons desenhos? Boa divulgação?
Bons argumentos, ou editores que façam uma
 boa tiragem e uma edição de qualidade?

Primaggio: A soma de tudo isso e,
 principalmente – “água mole em pedra dura” –
 insistir até o público leitor comprar.

Tony 39 – Como sempre suas análises são perfeitas
, mestre. Se não insistir nada emplaca.
Vide os super-heróis americanos e o Tex, eles
só estão aí por pura insistência de alguns
corajosos editores. Já passaram e faliram por
 diversos editores. Mas prosseguem firmes
devido a insistência continua. Com as Hqs
nacionais não existe isso. Não vendeu? Parou.
O sucesso só se obtém com o tempo e persistência.
 Principalmente quando não há investimentos
 para divulgar esses produtos em comerciais de TV.
 Há exemplos clássicos como a revista.
 Veja e as novelas da TV Globo, que inicialmente
operaram no vermelho e que acabaram
 conquistando publico com o tempo... O que
você está achando sobre a volta dos bang-bangs?

Primaggio: Como assim, Tony? O fato de o 
cinema fazer alguma (raríssima) retomada ao
 gênero (geralmente e infelizmente, mal-sucedida),
 não significa que o Western voltou...
 Pelo menos, a meu ver.

Tony 40 – Eu me referia a alguns poucos
 gibis do gênero que estão em circulação...
mas, de fato, são meras tentativas frustradas
de alguns editores. Afinal sabemos que o pequeno
nicho que ainda compra esse tipo de produto é
insignificante e mesmo o ranger da Bonelli hoje
 sofre com tiragens ridículas e má distribuição.
 Até a minha Apache – lançada pela editora
As Américas – saiu das bancas este ano.
 Motivo: baixas vendas. Tex, na sua opinião, é
 um dos melhores gibis de westerns do mercado?
Quanto aos grandes bang-bangs do cinema
americano, na verdade, morreu há séculos.
Foi ressuscitado pelo cinema italiano e depois
sucumbiu num mundo povoado de super-heróis
de sunguinha por cima da malha... esporadicamente
vemos algumas tentativas também frustradas.
Sobre Tex, é o melhor gibi de Western?

Primaggio: Sem dúvida... Até porque é o único!
 Ah, ah, ah!

Tony 41 – É o único que tem periodicidade,
há anos, nas bancas, bengala friend...
 Mas, há tentativas frustradas como: Jonah Hex
 (da Panini), Blueberry, Apache, Billy The Kid, e
outras publicações teimosas (Rsss)... Primaggio
 Mantovi, por Primaggio Mantovi?

Primaggio: Dinossauro, mas feliz! (bem mais
 simpático que bengala friend! Ah, ah!)



Ilustração feita originalmente em aquarela feita para a revista
Contos de Amor (editora RGE)

Tony 42 – Acho que estamos fazendo hora extra
no mundo ou o “CHEFE” não encontra nossas
fichas no arquivo pra dar o toque de “recolher” (Rsss...).
Um amigo diz que nem o capeta quer a gente lá
embaixo, é mole? Seja como for, só nos resta
aproveitar esse tempinho extra, bengala brother...
 Mestre e querido bengala primo... Nosso bate
 papo se alongou, mas este seu depoimento
 foi maravilhoso e esclarecedor. Sua bagagem
profissional é imensa e colher este seu
depoimento, ao meu ver, foi de suma importância,
 pois dá uma visão real de mercado e sobre
sua fantástica trajetória profissional à todos
e principalmente para as novas gerações
 que desconhecem o que rolou no metiê num
 passado não muito distante. Sem dúvida,
foi um importante registro e uma grande
 honra eu fazer aqui o papel de entrevistador
de tão expressivo e criativo convidado,
pode acreditar. Nosso bate papo
descontraído está muito bom, mas, infelizmente,
 está chegando ao fim... Alguma consideração 
final aos seus fãs e aspirantes ao mercado editorial?

Primaggio: Acho que o nosso papo disse tudo! 
Aspirantes & fãs de HQs: leiam e releiam a
 entrevista, com atenção, e tirem suas 
próprias conclusões.

Tony 43 – Grato por sua atenção e até a próxima, mestre!

Primaggio: Não agradeça, Tony. Foi um prazer! 
Abração, Primaggio!

Tony 44 – Valeu, Primo! E aguardem! Vem aí mais
 entrevistas com as feras das Histórias em
 Quadrinhos! Gente que tem muita história
 incrível para contar sobre trajetória profissional
 e sobre os bastidores desse conturbado
e fascinante mundo.
Fique plugado em nossos blogs!

LEIA TAMBÉM UMA SENSACIONAL ENTREVISTA
COM O VIDEOMAKER E FÃ DE HQs
WAGNER MOLOCH EM...

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