quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto - Anunciação

Roberta Campos e Nando Reis - De Janeiro a Janeiro

Brincar de viver - Maria Bethânia

Guilherme Arantes - Meu Mundo e Nada Mais

Leila Pinheiro - Pout-pourri de bossa nova

Toquinho & Mpb4 - Potpourri Vinicius de Moraes - MPB

Trijntje Oosterhuis Best Of Burt Bacharach Live Full Concert

Astrud Gilberto - ZDF Jazz Club - 1988

Natalie Cole LIVE - Unforgettable

O JUDOKA - O MAIOR HERÓI DAS HQs DO BRASIL! Matéria especial!




RIO DE JANEIRO – 1969...

Nas dependências da poderosa Editora Brasil-América 
(que dominava o mercado de HQs no Brasil), sediada
 na cidade do Rio de Janeiro, o diretor de arte, 
repentinamente, entra em pânico na sala do editor e disse:

- Sr. Aizen, com licença! Temo ter uma má notícia...


- Má notícia? Uma de nossas impressoras deu problema? –
 quis saber o editor. – Algum funcionário do parque 
gráfico se acidentou?

- Nada disso, senhor... – respondeu o homem e completou: 
- vão cancelar o título nos Estados Unidos!

- Mas, de que título você está se referindo, homem? 
Temos diversos títulos americanos mensais em banca? 
Esse título é de algum personagem importante da casa? – 
indagou Aizen.

- Judo Master, senhor... o pessoal da  Charlton Comics
  acabou de comunicar que vai cancelar o título...

- Essa não!! – bravejou o editor, esmurrando a mesa. - 
Justo este que caiu no gosto popular!? Só faltava essa... 
é tão difícil acertar num produto que seja viável 
comercialmente e quando conseguimos atingir o 
objetivo, acontece uma coisa dessa? 
E agora, o que vamos fazer?

- Só há uma solução, senhor Aizen...

- ... Produzir a serie no Brasil? E pagar royalties pelo título –
 redarguiu o editor, visivelmente preocupado, e indagou:
 Mas, quem poderíamos contratar para fazer
 os roteiros e os desenhos?

- Pedro Anísio e Eduardo Baron, eles 
são profissionais
 experientes na área e adoram fazer HQs, conheço-os 
há um bom tempo... talvez  eles
aceitem encarar essa louca empreitada... não temos
 tempo a perder. Tudo vai depender da negociação. 
O senhor sabe, preço, condições de pagamento, prazo etc...



- Ligue imediatamente para esses homens, 
meu rapaz! Afinal, a revista está dando certo... e se
 os nossos leitores querem ler Judo Master, daremos
 Judo Master para eles! Quanto será que 
teremos que pagar, a mais, pelo licenciamento e para
 podermos desenhar essa serie de no Brasil? – 
resmungou o editor, rodopiando a mesa. 
Em seguida, acionou o interfone e disse a sua
 secretária: - Minha querida, ligue de imediato para
 a Charlton Comics, nos Estados Unidos, agora, 
e me avise assim que completar a ligação.... OK?
Preciso falar urgentemente com eles.

- Senhor Aizen, pretende, mesmo, pagar royalties 
pelo licenciamento para a produção local e pelo 
uso do título?- perguntou o diretor de arte da empresa.
- Há outra solução, meu bom homem? A revista
 precisa continuar... por sorte, eles nos avisaram 
com um mês de antecedência... caso contrário 
estaríamos fritos... perdidos...

- Podemos mudar o título... o que acha?

- Você está louco!? Não se mexe num
 time que está vencendo!

- O judô... ele está em moda no país. As academias
 proliferam nas grandes capitais... um herói nacional
 que praticasse o judô seria bem aceito, eu 
acho... não concorda, senhor?

- Tenho minhas dúvidas... Mas, talvez você esteja 
com a razão e, de qualquer forma, economizaríamos
 os royalties... a ideia não é má. 
Ligue imediatamente para o escritor e para
 o desenhista, vamos
 ver o que eles acham sobre essa mudança radical.
 São profissionais do ramo, mesmo?

- Com certeza, senhor Aizen! Eu garanto.

No dia seguinte, logo nas primeiras horas da manhã,
 o escritor Pedro Anísio, o desenhista Eduardo Baron e
 o diretor de arte estavam reunidos na sala de Adolfo Aizen.

- Senhores, o tempo é escasso... – 
observou o editor -
 precisamos reformular ou dar continuidade de uma
 revista em quadrinhos que está vendendo bem. 
O título foi cancelado, lá fora, mas isso é uma outra
 história... Vocês foram indicados por esse meu 
funcionário, que é de extrema confiança. Espero 
que possam encarar o desafio... eis a revista... 
– falou expondo uma edição da publicação
 estrangeira sobre a mesa.

- Judo Master? Um título americano? – disse o 
desenhista, após folhear rapidamente a publicação.




- Vamos dar continuidade a esta serie gringa, senhor? –
 indagou o escritor, também observando a edição.

- Sugeri mudarmos o nome – apartou o diretor de arte. – 
Que tal Mestre do Judo? Vocês tem alguma 
sugestão? Se tiverem, estamos dispostos a ouvir...

- Mudar o nome? Acha mesmo que essa mudança
 radical poderia dar certo? – interveio Aizen. – 
Acho que você está errado, meu caro... errado... 
sempre considerei suas opiniões, mas dessa vez 
sou obrigado a discordar. Mudar o nome... 
se mudarmos o nome, nas certa, perderemos 
nossos leitores. Você enlouqueceu?
- Nós economizaríamos os royalties, senhor ...
 – murmurou o diretor de arte, timidamente.



- Mestre do Judo e Judo Master é a mesma coisa. 
Uma mera tradução... O mesmo título, em português?
 Isto não é nada original... – disse o escriba, Pedro Anísio.
- Que tal... que tal... O Rei do Judô? Ou, O Mestre 
do Judô? – sugeriu o Baron, o desenhista.

- Por que não, O Judoka, senhores? Com “K”! – falou
 o escritor, após voltar a examinar a revista, numa
 rápida reflexão. – O nome pode ser o mesmo, 
com uma grafia diferente...

- O Judoka? Com “K”? Com “K”... Hmmm... nada mal... –
 disse o editor, pensativo. – Bem... vocês decidem, afinal,
 vocês são os artistas... O Judoka, com “K”... é... por que não? 
Achei interessante e não muda muito a coisa. Mas, 
tem um detalhe, senhores: as histórias devem 
ser ambientadas no Brasil contemporâneo... eu quero 
que essa HQ tenha como pano de fundo a nossa
 cidade, o Rio de Janeiro...
- Mas, senhor Aizen – interrompeu o diretor de arte -, 
na serie americana Judo Master combate os... os...

- Isto pouco importa, meu caro – sentenciou o editor. – 
Esqueça essa serie gringa. Já que vamos criar algo
 novo, que seja tipicamente nacional! Compreenderam?
 Quero um herói brasileiro contemporâneo. 
Precisamos de um personagem que fale a linguagem
 da nossa gente, que enfrente os problemas do
 dia a dia como a gente. Enfim, precisamos desenvolver
 um personagem  com o qual o povo se identifique. 
Como podem ver a Marvel acertou em cheio 
com o Homem Aranha, porque o personagem tem
 problemas tanto quanto nós, pessoas comuns.
Entenderam?

Todos assentiram com a cabeça.

- Ótimo! Agora podemos falar, afinal, sobre a parte
 que importa aos senhores – falou se dirigindo 
ao escrito e ao desenhista -, a financeira, meus amigos.
- O senhor é quem manda, senhor Aizen – concordaram
 todos, sorrindo. Essa é a parte que adoramos...

- Mas, o senhor sabe... essas mudanças bruscas, 
de repente, senhor Aizen, podem dar certo, mas também 
podem dar errado. E se, de repente, as vendas
 desabarem? – inquiriu o diretor artístico, pensando 
em tirar o dele da reta, caso a ideia falhasse.

- A vida é feita de desafios, meu caro. Senhores, não 
cheguei onde estou recuando dos problemas. Hoje
 somos a maior editora de HQs do país e talvez da América
 Latina. A vida é como um pôquer, meus amigos.
E dessa vez decidi pagar para ver. Pagarei para ver...
 entendido? Se não der certo, cancelo o título.
 Fazer, o quê? Não se pode ganhar sempre,
infelizmente... além do mais, estou apostando na 
criatividade desses dois... – disse o editor apontando
 para o escriba e o desenhista, que engoliram a 
seco e deram um sorriso amarelo.
 A história narrativa acima é fictícia. Foi criada 
por mim, é óbvio. Mas pode ser que algo parecido,
 de fato, tenha acontecido, na época.
Possivelmente, foi assim que surgiu...



O JUDOKA! UM DOS MAIORES

ÍCONES DAS HQs NACIONAIS!



 Década de 70 – Na TV, o seriado O Besouro Verde
 e seu fiel escudeiro oriental chamado Kato
 (Bruce Lee) era um campeão de audiência.
  Os filmes de artes marciais estrelados por Bruce 
Lee e Chuck Norris também faziam muito sucesso nos 
cinemas do país e do mundo. Uma verdadeira 
avalanche de filmes de live-actions produzidos no 
Oriente, de súbito, invadiram os cinemas do país
 e tiveram ótima receptividade. Consequentemente,
 de repente, uma serie de academias de artes
 marciais surgiram por todas as capitais do Brasil, 
como uma verdadeira febre. Nos Estados Unidos 
a Charlton Comics, há um ano atrás, tinha lançado
 a serie em quadrinhos de um personagem 
chamado Judo Master.



UM EDITOR DE VISÃO

Na Terra Brasilis, Adolfo Aizen, o experiente editor
 tupiniquim,  vivia atualizado nos modismos da época
 no país e sempre estava de olho no que acontecia 
no exterior. Ao perceber a onda que se alastrava mundo 
afora, este homem que foi o pioneiro que trouxe as 
HQs para o país, decidiu lançar a versão nacional 
dessa revista em quadrinhos, cujo herói era um 
expert de artes marciais. Resultado: O sucesso 
superou as expectativas. A revista O Judoca,
 em sua versão nacional caiu nas graças dos leitores
 e passou a vender ainda mais.

Quando a editora americana decidiu cancelar a serie,
 devido as baixas vendas, um mês antes da EBAL
 lançar por aqui a sexta edição, a empresa comandada
 por Adolfo Aizen não teve outra alternativa a não ser 
dar continuidade à serie com artistas brasileiros.
 Foram convocados para essa missão, às pressas, 
o escritor Pedro Anísio e o desenhista Eduardo
 Baron, que aceitaram o desafio e passaram
 a criar e a desenvolver  uma nova versão, um novo
 personagem, com novas aventuras ambientadas no país, 
conforme havia solicitado o editor. Assim, eles 
conseguiram produzir a primeira HQ desse herói  
genuinamente nacional e nem sequer sonhavam que 
ele um dia iria se  tornar um dos maiores ícones das
 HQs do país, um clássico. Curiosamente, o nome da
 revista, de repente mudou para O Judoka , com “K”. 
 E por incrível que pareça as vendas aumentaram. 
O sucesso foi tanto que a revista em quadrinhos do 
Judoka foi publicada por diversos anos até ser cancelada.
A concepção visual do personagem criada por Eduardo
 Baron era simples e as cores do seu uniforme
 (uma malha colante, um quimono e uma máscara) 
correspondiam as cores da bandeira nacional.
O escriba, Pedro Anísio, escreveu a maioria das
 histórias desse incrível personagem, que foram
 desenhadas por diversos artistas. 


Porém, um engenheiro, que sempre adorou quadrinhos, 
ousou escrever e desenhar algumas histórias do Judoka 
e acabou se destacando entre os demais por seu
 estilo diferenciado de quadrinização, tipicamente europeia, 
a La Guido Crepax, autor de Valentina, um clássico das
 HQs eróticas criado na Itália. Ele assinava FAHF e seu 
nome é Floriano Hermeto de Almeida Filho.

DOS QUADRINHOS

 PARA A TELONA





Antes que a serie O Judoka desaparecesse das bancas,
 o galã Pedrinho Aguinaga, um rapaz que fazia na TV 
propaganda de uma marca de cigarros famosa, representou
  Carlos, O Judoka, numa produção cinematográfica.
 Ele contracenou com uma bela e jovem atriz chamada 
Elisangela (que anos mais tarde se tornaria parte 
integrante do cast de diversas novelas da Rede 
Globo de Televisão). No filme, Elisangela, que viveu 
o papel de Lúcia, a namorada do herói, que também 
o ajudava a combater o crime mascarada e com a
 fantasia de judoka. O filme, que foi considerado trash, 
pela crítica especializada local, e que tinha cenas de 
combates ridículas e hilariantes, foi lançado em 1973,
 em poucas salas de exibições. Isso, com certeza,
 frustrou a grande maioria dos fãs das revistas 
em quadrinhos que sonhavam em assistir o filme.
A película foi distribuída pela Ipanema Filmes, da
 lendária Atlântida (que no passado foi uma espécie 
de Hollywood tupiniquim), uma subsidiária da 
Roberto Farias Produções Cinematográficas, a 
distribuidora recordista em números de filmes 
campeões de bilheterias do Brasil, como: Roberto
 Carlos em Ritmo de Aventura, Roberto Carlos e
 o Diamante Cor-de-Rosa, Os Paqueras, Roberto 
Carlos a 300 Km Por Hora, Os Machões e As 
Aventuras com Tio Maneco, do impagável ator
 global Flávio Migliaccio.





GRANDE EXPECTATIVA





Quando a famosa Ipanema Filmes decidiu comprar os 
direitos para a distribuição do filme, os especialistas 
e os críticos acharam que essa empresa acredita
 piamente no êxito comercial do Judoka e que,
 portanto só poderia se tratar de uma produção 
muito bem feita.  Isso fez aumentar ainda mais a
 expectativa dos fãs da serie em quadrinhos da EBAL. 
Porém, o filme foi um fracasso de bilheteria 
devido a má distribuição.


UMA UNIVERSIDADE 

ENVOLVIDA

Segundo boatos que circulavam na época, a Universidade
 Gama Filho acompanhava com atenção os preparativos
 para o lançamento do Judoka, o filme, visto que o
 professor Gama Filho era um aficcionado e praticante
 do judô. Ele e seus alunos tinham conquistado diversos
 prêmios internacionais em campeonatos dessa
 modalidade de arte marcial.  Segundo consta, essa 
famosa Universidade ajudou na filmagem 
de O Judoka, desde o seu início.
Há quem afirme que algumas cenas foram filmadas no 
próprio gabinete do professor Gama Filho e que as 
cenas de luta de rua foram filmadas atrás da Universidade.

Segundo relatos, o professor Gama Filho acabou
 intercedendo com as autoridades do subúrbio
 carioca de Piedade, para que a equipe de do 
filme tivesse total apoio ao gravar naquela região.



CHARLTON COMICS




Devido a boa receptividade que as histórias em 
quadrinhos tiveram nos Estados Unidos na década de 
30, gerando riquezas, muita gente decidiu entrar
 para o ramo editorial visando atender a crescente
 demanda e faturar alto. Nova Iorque abrigava boa 
parte desses editores, porém em outras cidades
 americanas também surgiram pequenas casas
 editoriais e o interessante é que algumas delas também
 fizeram história. Nesse caso se enquadra a Charlton 
Comics, fundada no período pós-guerra, em 1946. 
Ela surgiu na cidade de Derby, Connecticut, e 
gradativamente começou a ampliar suas publicações.

VÁRIOS GÊNEROS DE HQs

Foram lançados pela Charlton HQs de...
Western, terror, guerra, policiais, romance, ficção
 científica, humor e até super-heróis, visto que a DC
 e a Timoly (futura Marvel) estavam obtendo sucesso 
com esse tipo de heróis e suas inverossímeis 
aventuras destinadas aos adolescentes.
John Santangelo e Ed Levy, os fundadores da Charlton
 Comics entraram no mercado com pouco capital e 
por isso procuravam economizar o máximo para
 lançar os seus produtos. É bom frisar que nessa época 
as revistas em quadrinhos da América eram impressas 
num papel jornal de péssima qualidade e as impressões
 eram feitas com clichês – chapas de chumbo ou estanho.
Os dois fundadores e editores daquela casa editorial
 de Connecticut , por terem pouco capital para investir, 
estrategicamente optaram por adquirir material 
inédito de empresas editoriais que tinham falido ou
 que estavam à beira da falência que, em desespero
 para saldar suas dívidas, vendiam seus acervos de
 originais a preços módicos em suaves prestações. 
Segundo declaração de alguns autores que
 foram procurar essa editora: “Eles pagavam mal. 
Pagavam seus funcionários e colaboradores com 
preços abaixo daqueles que eram praticados pelas
 demais casas editoriais.” Mesmo assim, aos poucos,
 a pequena empresa começou a se firmar e a se
 destacar no mercado. Com isso, acabou atraindo
 bons profissionais. Uma gama de
produtos editoriais,












 com o selo Charlton, começaram a preocupar as
 concorrentes, porque  chamavam a atenção nos
 pontos de vendas, devido ao crescente 
número de títulos.

PERÍODO TURBULENTO

Voltando ao passado...
Após o término da Segunda Grande Guerra Mundial o
mercado editorial americano
 de quadrinhos 
entrou em crise. Alguns títulos de personagens
 tradicionais, que vendiam muito, foram cancelados,
 em consequência das baixas vendas. Muitas casas 
editorias e gráficas passaram a fechar suas portas. 
Foi justamente nesse período turbulento do setor 
editorial local é que a Charlton decidiu entrar para 
o mercado. Ao passo que personagens como Capitão
 América (criado por Joe Sinnot  e Kirby) eram
 engavetados, saiam do mercado, editores encerravam 
suas atividades e muitas autores de HQs ficavam 
desempregados, assim como gráficos, papeleiros etc.
 Os editores dessa pequena casa editorial, temendo 
pelo pior, decidiram ser criativos e usaram a cabeça: 
se aproveitaram da crise para adquirir boa parte dos
 direitos da Fawcett Comics, que enfrentava sérias
 dificuldades econômicas.  Essa também lendária 
empresa, naquela época, por ter lançado o Capitão
 Marvel, foi acusada de plagiar o Superman . 
Portanto, além da crise, estava enfrentando um 
processo judicial movido pela DC Comics nos tribunais. 
Este fato ocorreu em 1952. No pacote de títulos
 adquiridos pela Charlton, da Fawcett)  só não 
entrou o polêmico Capitão Marvel, devido ao
 referido embate judicial. Assim, eles passaram
 a lançar cada vez mais novos títulos, novas séries.



UM DIRETOR DE 

ARTE DE VISÃO

Segundo estudiosos, o período mais significativo
 em que a Charlton se destacou no mercado foi
 na década de 60, em plena Era de Prata dos 
Comics, quando Dick Giordano, que dirigia o
 departamento de arte e criação, contratou um ótimo
desenhista que tinha acabado de deixar a Marvel
 Comics, Steve Ditko, cocriador do Homem 
Aranha, com Stan Lee.




Nesse período,  após a contratação de Ditko a Charlton 
lançou diversos novos títulos de terror e de super-
heróis. Dentre esses últimos se destacaram: 
Capitão Átomo e o Besouro Azul, personagens 
que saiam numa serie denominada Heróis em 
Ação. De repente, a qualidade dos produtos
 melhoraram sensivelmente e assim eles acabaram
 conquistando fiéis leitores e uma boa fatia
 do mercado editorial local.
 Cheyenne Kid, Abbot  e Costello, Billy The Kid, Blue 
Beetle e Capitain Atomo,  foram alguns títulos deles
 que caíram no gosto popular. Porém, suas 
vendas eram oscilantes e os concorrentes 
aumentavam lançando cada mais super-heróis.
Isso só tinha um significado: os concorrentes estavam
 preocupados com  \o número de títulos
que a Charlton colocava mensalmente
no mercado.
 Porém, suas vendas dessa editora eram oscilantes.
No final dessa mesma década todos os títulos de super
-heróis da Charlton foram cancelados, porque 
estavam no vermelho.










ALERTA VERMELHO

Os editores entraram em pânico. Era preciso reformular
 tudo, urgentemente, renovar a linha de produtos
 editoriais ou sucumbir. A solução encontrada por
 Dick  Giordano e Frank McLaughlin foi publicar
 material licenciado. Assim, os direitos de series da TV, 
de quadrinhos e de sucessos cinematográficos 
foram adquiridos de empresas como Hanna-Barbera,
 King Features, Columbia Pictures etc. Outra grande
 jogada dos editores, foi criar versões em quadrinhos 
de famosos seriados da TV.

Giordano



LIVE ACTIONS



Em 1966, de súbito, uma verdadeira febre de filmes 
sobre artes marciais invadiram a América e atraíram
 muita gente aos cinemas. Na TV, Bruce Lee, vivendo 
papel de Kato, ajudante do herói Besouro Verde, fazia
 um grande sucesso. A filosofia dos gurus orientais 
indianos e a prática de artes marciais tomaram conta 
do país que estava envolvido até a alma
 com a Guerra do Vietnã.



Tudo começou quando os pretensiosos
 “xerifes do mundo”, 
em nome da democracia e da liberdade, foram
 se envolver num conflito interno daquele país, onde
 o Vietnã do Norte combatia o Vietnã do Sul. Um era 
comunista (aliado dos soviéticos) e o outro capitalista, 
aliado dos americanos. As tropas americanas eram 
compostas por militares superequipados com alta
 tecnologia e mesmo usando a terrível e devastadora 
bomba de Napal, proibida pela O.N.U, se deram mal 
e acabaram voltando para a casa humilhados. 
A imprensa internacional não perdoou a gafe ianque
 e publicaram algumas irônias em suas manchetes, 
como: “Americanos perdem a guerra lutando 
contra um exército munido de estilingues”. 





Como o mais poderoso exército do Ocidente poderia
 levar a pior ao confrontar um exército de um país 
subdesenvolvido? , questionavam inconformados 
alguns jornalistas e especialista em conflitos
 internacionais. Quando a própria imprensa 
americana começou a revelar as atrocidades
 cometidas por seus soldados, aqueles que
 voltaram para a Pátria Mãe (muitos mutilados) 
foram vaiados e execrados por seu próprio povo.
 O trauma foi imenso. Tanto que anos depois o cinema 
criou Rambo, interpretado por Sylvestre Stallone, um
 homem poderoso que usando uma metralhadora, 
sozinho, arrasava quarteirões repletos 
de vietnamitas. Pura ironia.



Mas, voltando a falar da Charlton Comics...
Rapidamente, antes que a onda de artes marciais 
acabasse e dezenas de academias abertas pelo país
 fechassem o pessoal da Charlton decidiu lançar 
o título Judo Master, na esperança de aproveitar 
o bom momento. Os primeiros números dessa 
nova serie foram bem, tanto, que (como já foi dito) o
 editor brasileiro, percebendo que aquela febre por
 artes marciais também tinha chegado ao Brasil,
 decidiu adquirir os direitos para lançar Judo Master, 
que passou a se chamar O JUDOCA, pela EBAL.






 
LOVE PEACE



Nas ruas, os hippies, embalados pelas canções de
 Bob Dylan, Joan Baez e Jimmy Hendrix pregavam a
paz e amor, Betty Freeman (líder da Woman’s Lib –
 Frente de Libertação Feminina) queimava soutiens
 em praça pública pleiteando igualdade de condições
 para as mulheres, os Black Panters, de Los Angeles,
 lutavam contra o preconceito racial aderindo a 
campanha promovida pelo pastor negro Martim Luther
 King, John Lennon e Yoko Ono ficaram numa cama,
 nus, na vitrine de uma loja, em protesto contra
 a guerra do Vietnã. Os jovens desejavam paz e
 amor, consumindo grandes lotes de maconha, 
LSD e outras substâncias cabulosas.  Por outro lado, a
 União Soviética e os Estados Unidos (as superpotências,
 que eram os donos do mundo) ameaçavam deflagar
 a Terceira Grande Guerra Mundial, atômica. O mundo 
vivia apreensivo vislumbrando um
 possível holocausto.
Nesse clima turbulento a serie Judo Master teve breve
 duração e acabou sendo cancelada quando suas vendas
 definharam. Porém, no Brasil o título deu certo. Quando 
a editora de  Adolfo Aizen estava preste a lançar a edição # 6 
dessa serie, ele foi informado que o título iria ser na
 América. Sem alternativa, por não querer perder um 
gibi que estava vendendo bem, decidiu lançar
 O Judoka, produzido por brasileiros.






MUDAR PARA NÃO SUCUMBIR

Lutando para sobreviver, enquanto assistia a Marvel
 e a DC se dando bem com uma gama de super-heróis, 
os executivos da Charlton decidiram enveredar
 por outro caminho: HQs de automobilismo, visto 
que as corridas de automóveis arrastavam multidões
 aos autódromos e a outras raias de competições. 
Pouco tempo depois surgiram títulos como
 Hot Wells, Drag Wheels, Grand Prix e outros.  





 ANOS 70

A serie produzida para a TV chamada Kung-Fu, que
 Bruce Lee sonhava em participar, acabou sendo 
estrelada, para a frustração de Lee,  pelo ator David 
Carradine. O seriado televisivo apresentava um 
chinês andarilho, que era  expert  em Kung-Fu 
enfrentando os problemas e malfeitores do velho Oeste.
  Seu sucesso foi imediato, por todo o mundo.
Sem perder tempo, a Charlton lançou algumas 
series baseadas no Kung-Fu da TV. Assim surgiram
 as HQs do mestre Chung Hui, que adotou o nome de
 Yang, filho de um mandarim que fora assassinado
 em 1890, que em busca de vingança, vai atrás dos
 assassinos de seu progenitor no longínquo velho
 Oeste. No Brasil, esta serie da Charlton foi publicado
 pela EBAL na revista Kung-Fu, em 1975. 

Na América, aquele novo lançamento da Charlton, 
talvez por abordar o mesmo tema do seriado da TV, 
deu certo. Isso motivou os editores a lançar outros títulos.






DECADA DE 80

Nessa época, mais uma vez a indústria dos comics 
americanos entrava em crise.  Muitos editores, preocupados,
 diminuíram seus títulos, cancelaram outros e na esperança 
de reconquistar seus antigos e fiéis leitores procuravam
 renovar antigos personagens de títulos tradicionais. 
Durante esse período, a Charlton Comics passou a ter
 sérios problemas financeiros, também, quando viu suas
 vendas atingiram baixíssimo patamar que mal cobria 
os custos operacionais. A solução foi renegociar
 as dividas e encerrar definitivamente suas atividades, 
em 1986, para o desespero de seus leitores.
WATCHMAN  E 
OUTRAS SERIES

Porém, essa casa editorial,que surgiu timidamente
 e que fez acontecer e até chegou a preocupar os 
editores de maior porte nos deixou um legado
 duradouro: seus super-heróis. Como Beetle Blue e
 os espetaculares personagens da serie Watchman 
que acabou sendo ressuscitada pela DC, após
 adquirir os direitos autorais, anos depois.
Inicialmente, os executivos da DC pretendiam relançar
 as antigas HQs de Watchman publicados pela Charlton 
mas, de repente, mudaram o plano e decidiram
 encomendar para que Alan Moore criasse
 personagens similares para uma nova serie,
 que acabou se tornando um dos grandes
 clássicos daquela casa editorial.
Alguns super-heróis da extinta Charlton acabaram 
para a cronologia da DC Comics e até surgiram na
 saga chamada Crise Nas Infinitas Terras.
Depois dessa memorável serie, que revolucionou
 o universo dos heróis DC, o Besouro Azul – um dos 
títulos mais bem sucedidos da Charlton -, entrou para 
a Liga da Justiça e o Capitão Átomo acabou ganhando
 revista própria, assim como o Questão 
(personagem de uma antiga serie que 
abordava temáticas mais adultas), O Pacificador
e o Sombra da Noite, que passou a fazer parte
do Esquadrão Suícida.
Numa das HQs de Crise Infinita, o Besouro Azul 
acabou morrendo e o Sombra da Noite entrou
 para um grupo de heroís chamado Pacto das Sombras.





O JUDOKA BRASILEIRO



Graças a Charlton, que acabou cancelando a serie 
Judo Master é que surgiu o Judoka, um clássico das 
HQs nacionais, em 1969. Com o passar do tempo, 
na década de 80, outras editoras adquiriram os direitos
 dos heróis Marvel e DC e os lançaram no país
 até conseguir implantá-los definitivamente, depois 
de uma serie de tentativas mal sucedidas.  
Editoras como: Bloch, Globo, Abril, Mythos, Ópera 
Gráfica, GEP (Gráfica e Edirora Penteado), Editores
 Associados, Abril, contribuíram para a implantação
 desses superseres no Brasil. Atualmente a editora
 Panini, cuja matriz é italiana e que representa
 a Marvel pelo mundo, domina o mercado local 
com diversos títulos mensais de revistas de super-heróis.  
Porém, nenhuma delas contribuiu de forma tão
 contundente para a emplementação desse 
gênero no país, quanto a EBAL.   










BRASIL-AMÉRICA
A Editora Brasil-América, sem dúvida, foi a maior
 editora de quadrinhos do país e da América Latina. 
Tornou-se a maior divulgadora de história em 
quadrinhos durante muitos anos, publicando revistas
 das duas maiores majors e ferrenhas concorrentes
 que sempre disputaram palmo a palmo o mercado 
de Hqs dos Estados Unidos, a DC e Marvel.
 Em 1969, a editora carioca ousou lançar seu
 primeiro herói brasileiro, o Judoka, criado por Pedro 
Anísio e Eduardo Baron, que se tornou o mais bem
 sucedido personagem já criado para os quadrinhos no 
Brasil. Nem mesmo a poderosa Abril, no período
 em que dominava o mercado, por detinha e a
 maioria dos títulos de super-heróis americanos
 no país, conseguiu tal feito: criar um personagem 
genuinamente nacional e obter sucesso contínuo.









CINCO ANOS DE SUCESSO
O Judoka começou a ser publicado em 1969 e
 sua última edição saiu em 1973. Durou por cinco 
anos. Um recorde, em se tratando de um personagem
 nacional, sem superpoderes e que competia nos
 pontos de venda com grandes ícones dos quadrinhos
 internacionais como Batman, Superman, 
Capitão América e outros.
Nunca, na história das HQs nacionais, um personagem 
criado no país durou tanto tempo. Na década de 
70 os ditadores militares comandavam a nação 
à mão de ferro, enquanto os adolescentes sonhavam
 em ser Carlos, um rapaz comum, que se transformava
 no Judoka para combater as injustiças, trajando
 um uniforme com as cores da bandeira desse país,
 cujo lema na época era: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. 
Milhares de jovens brasileiros se
 identificaram com o personagem.
CHAMADA GERAL

Maio de 1970 -  o Judoka e sua namorada Lúcia
 apareceram pela última vez numa edição especial da
 serie Epopeia, cujo nome era Chamada Geral, uma 
edição que comemorava 50 anos da fundação 
daquela casa editorial. Nela apareceu diversos
 personagens publicados pela EBAL, 
ao longo dos anos
(em sua maioria Made in America).


Essa edição fora de serie foi ilustrada pelo grande

 mestre Eugênio Colonnese.



SAIBA QUEM CONTRIBUIU 

PARA O 

SUCESSO DESSE





 GRANDE HERÓI 

NACIONAL





Colaboraram na serie O Judoka, os seguintes 
mestres: Pedro Anísio (roteirista oficial) e os 
seguintes profissionais do traço:  Eduardo Baron, 
Juarez Odilon, Cláudio de Almeida, Floriano Hermeto 
de Almeida Filho (FHAF), Francisco Sampaio, 
Fernando Ikoma,  Alberto Silva e Eugênio Colonnese.






FHAF
A todos os que se envolveram na elaboração e na
 realização dessa serie que deixou saudade em muita 
gente, em nome de todos que ainda lamentam a
 perda desse bom título Made in Brazil, tenho um recado: 
Parabéns, em nome de todos os fãs da serie,
 como eu vocês foram geniais.
 
José Alvarez é colecionador e fã do Judoka.
Ele esta terminando um livro sensacional
sobre o personagem. Não perca!
Você encontra o autor no Facebook.

e-mail: alvarez.listas@gmail.com

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