quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

DANIEL SAKS, COLECIONADOR E ESTUDIOSO DAS HQS CONCEDE UMA ENTREVISTA!




Tem início mais um curioso bate papo virtual. Nossos holofotes,
desta feita, estão direcionados para um velho conhecido de
todos nós. Ele já colaborou com matérias excelentes para
meus blogs, fez a mais perfeita cobertura jornalística do 
ano passado na GIBICON Curitiba, até então pouco divulgada
pela mídia em geral. Ele é fanático por quadrinhos e é um dos 
grandes colecionadores desse país. Além disso, ele vive 
desenvolvendo belas teses acadêmicas sobre a Nona
Arte tentando demonstrar a realidade do mercado 
editorial brasileiro e os problemas existentes no 
mundo das HQs. Eu estou falando de...

DANIEL SAKS, COLECIONADOR,
 PESQUISADOR E ESTUDIOSO DAS
HISTÓRIAS EM QUADRINHOS!

Tony 1: Caro, Dan, poder trocar ideias e poder saber um
 pouco mais sobre você e sobre seu belo acervo de HQs vai 
ser ótimo, um prazer. Espero que esteja preparado para responder 
as questões numa boa. Outro dia recebi um e-mail elogiando 
minhas entrevistas e o cidadão me classificou como um bom
 inquisidor e ironicamente me chamou de “O homem do DROPS!”,
 Rsss...  Clara alusão ao antigo DOPS, órgão repressivo do 
governo ditatorial militar que interrogava aqueles que eram
 contra o sistema, torturando suas vítimas... Rsss. Estou fora!
 Não chego a tanto. Mas, take easy, bengala brother...
 não chego a tanto, pode acreditar... Rsss.

DANIEL: Vamos lá, Tony. Da minha parte também é um 
prazer e será uma honra, afinal eu até agora não entendi 
porque entrevistar um anônimo colecionador, deve ser 
uma entrevista pioneira desse tipo. As torturas não 
serão necessárias, sou tagarela, radical 
e sincero por natureza, tentarei ser racional e imparcial. 
Dois avisos aos leitores: 
1. Concordei com esta entrevista porque acho os colecionadores
 a parte mais sacrificada e menos ouvida da indústria das HQs;
2. Estejam atentos, pois eu abuso de ironias e não
utilizo os artifícios “rss” e “kkkk”.

Tony 2: Nos conhecemos há alguns anos atrás quando você
 me enviou um e-mail para comentar sobre a revista Apache – 
Um Western Diferente, publicação que eu fazia para a editora
As Américas, do meu querido 
amigo e editor Marco Faceto. Infelizmente, Apache, a serie,
parou de ser publicada, porém nossa amizade virtual perdura.
Entretanto, eu e você, jamais nos vimos pessoalmente. 
O que o motivou a me enviar aquela “missiva cibernética”?

DANIEL:Tony, vamos fazer uma pequena correção.
Realmente nunca nos vimos pessoalmente, mas você é um
artista famoso. Conheço você desde 1989 quando 
eu morava em Brasília e comprei uma edição do 
Fantastic Man. Em relação a mim, a diferença entre 
você e o Edgard Scandurra é que num
trabalho seu tinha um e-mail para entrar em contato, você
que me conheceu a partir de então e ficamos amigos, 
o Scandurra não teve essa “sorte”. 
Voltando à resposta, eu nunca fui de me corresponder 
com as revistas, artistas e editores, sou um cara que 
gosta de experimentar novidades nos quadrinhos e
principalmente de series. 
Ultimamente (mais ou menos uns 15 anos) ando muito 
decepcionado com o mercado de HQs em livros (creio que 
vamos falar sobre isto a frente e como eu acredito ideal, 
se é que meu ponto de vista tem alguma importância). 
Numa viagem a trabalho fui a Porto Alegre e comprei
o primeiro número da Apache, na Tutatis, acreditando 
ser produção da terra. Depois li que era um gibi seu,
a revista me agradou muito, enredo, pesquisa e desenhos
do jeito que eu gostava, gibi simples, entretenimento 
bom, fazia tempo que não lia faroeste brazuca, 
preço acessível, publicado por uma editora séria 
e ainda havia expectativa de uma serie contínua. 
Aquela edição merecia receber meu elogio e meu
incentivo para que não parasse no número 1.



Tony 3: Até hoje recebo uma centena de e-mails por mês, 
mas naquela época conheci, através desses contatos virtuais, 
pessoas interessantes que curtiam ou que de alguma forma
participavam do mundo dos quadrinhos. Um desses e-mails 
era de um cidadão que elogiava a revista e principalmente 
a matéria sobre o polêmico 
general Custer (que saiu na primeira edição). 

Teceu também elogios a Apache e sugeria que editássemos a 

sexy justiceira em cores. Na real, as primeiras duas edições 
foram feitas coloridas, mas por questão de custo optamos por 
publicar em meio tom. Acho que não ficou ruim. 
O mais interessante é que ele, além de 
curtir HQs de westerns participou ativamente da negociata entre
a editora Asas, de Portugal, para o lançamento de 
Blueberry, além mar. Segundo ele, conheceu pessoalmente J
ean-Giraud (Moebius) e me disse que o cara era uma simpatia. 
Eu era doido para entrevistá-lo,
mas infelizmente perdemos contato. Já escrevi para o e-mail dele
e não obtive retorno. O bom da Internet e que podemos 
nos relacionar à distância com pessoas incríveis. 
Pergunto: Você, que é fanático por HQs, 
também mantém contato com seus ídolos do ramo,
que residem em outros países? 
Tem algum caso pitoresco para relatar?

DANIEL: Eu gosto muito de quadrinhos P&B, mas concordo 
com seu amigo que o colorido valorizaria a Apache.
Ela parece pedir isso. Sou um relaxado para manter contato
pessoal ou virtual com quem quer que seja, embora gostaria 
de manter correspondências constantes com ídolos e amigos. 
De fora do país eu não tenho contato com ninguém, gostaria
muito de um dia trocar uns mails com um ídolo que é o 
Denny O’Neil, outros estrangeiros que apenas 
gostaria que soubessem que têm mais um fã ardoroso
em um lugar ermo do planeta são o Alan Moore, o 
Gilbert Hernandez e o Jack
Davis, que anunciou sua aposentadoria recentemente. 
Dos mortos perdi a chance com o Hugo Pratt, Will Eisner, 
Archie Goodwin, e Dik Browne (para falar os primeiros
que me chegam à mente). 
  


Prefiro o pessoal da nossa terra. Receber uma visita em casa 
do Alan Moore não me valeria mais do que apertar a mão do
Marcatti e do Bira Dantas!
Do nosso pessoal tenho contato mais frequente com você, 
visito o nosso amigo Fábio Chibilski regularmente em 
Ponta Grossa-PR, converso com alguns cartunistas
curitibanos bem esporadicamente, e mais um ou outro
mail com profissionais que normalmente não lembram 
que já conversei com eles alguma vez. Recentemente
me passaram o contato do Eloir Nickel,
estou ensaiando mandar um mail para combinar 
de pedir que ele autografe uma pilha da minha coleção.

Tony 4: Antes que eu me esqueça, Dan... Você nasceu em que dia,
 mês, ano, estado? Outra coisa: Saks, esse seu sobrenome é 
de origem estrangeira... seus pais vieram da Europa?

DANIEL: Eu sou paulistano da 9 de Julho, nasci no 21º dia 
de Maio de 1975, prestes a virar quarentão.
Meu nome completo é Daniel do Canto Oliveira Saks, podem
ver que sou descendente de portugueses, instalados 
no Brasil ainda na época da Colônia. 

Saks é um sobrenome que volta e meia aparece uma

informação nova, até onde posso lhes precisar é uma família
judia que migrou da Alemanha no período entre 
as duas Guerras, parte foi para os EUA (com quem não
temos qualquer contato) 
e meus bisavós vieram seguindo a cunhada para o Brasil, eu
sei que na minha linhagem tem russos também. Quando meu 
avô (Samuel Saks) morreu em 1998 uma amiga da minha bisavó
veio falar que ele e a irmã haviam nascido ainda na 
Alemanha e vieram para o Brasil por volta dos quatro anos. 
Meu avô, cuja família já era convertida ao catolicismo 
devido a um amigo cônego, era bem recluso e jamais 
quis falar sobre a imigração, ele e
a irmã estão registrados como gêmeos
 nascidos em Itararé-SP.

Tony 5: Paulistano? De que bairro? Pensei que fosse 
“Barriga Verde” (termo usado para classificar os indivíduos 
que nascem no Paraná, sul do país).

DANIEL: Realmente sou paulistano, nasci na Maternidade 
São Luis e morei até 1988 na esquina da 9 de Julho com 
a Alameda Franca. Estudei no extinto Colégio Luis de 
Camões na Euzébio Matoso. Naquela época já tinha
iniciado minha coleção.
Barriga Verde é termo correto para os “catarinas”.
 Se você quiser dar uma cor aos paranaenses, normalmente 
os do interior (como minhas filhas, e como me considero hoje) 
somos chamados extra-oficialmente de “pé-vermelho”.

 Tony 6: Pé-vermelho? Essa eu não sabia.... Rssss. Vivendo 
e aprendendo.... Conta para mim, como é que você foi 
parar no Paraná? E, em que cidade você reside?

DANIEL: Se você quer saber de mudanças, senta que vem
 história. Em 1988 quando eu estava prestes a completar 
13 anos, meu pai (engenheiro civil especializado 
em grandes barragens) arranjou um emprego em 
Brasília e nos mudamos para lá; um ano e meio 
depois ele foi transferido para Curitiba e foi onde 
fiz meu segundo grau e faculdade.
Em 95 eu já estava na faculdade e meus pais se mudaram
para um canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Segredo
no interior do PR. Foi um ano com muitos feriados e fiz bons 
amigos na Vila, passei a maior parte do segundo semestre lá.
Em 97 fui fazer estágio na Capital do Mundo, a cidade de 
Ponta Grossa a 110km de Curitiba, foi quando comecei 
a namorar minha esposa. Me identifiquei muito com a
cidade, por isso digo que sou filho de duas cidades, 
Sampa e PG.

Tony 7: Capital do mundo? Essa eu também não sabia... prossiga...

DANIEL: Em 1999 e 2000 depois da formatura fui trabalhar 
nas cidade de Itapetininga e Botucatu, ambas em São Paulo.
No final de 2000 troquei de emprego e fui trabalhar numa 
empresa concorrente que estava se instalando na Capital 
do Mundo e voltei para lá. Nesse período casei e nasceram
minhas duas filhas (Gabriela e Carolina).
Em 2007 troquei de emprego novamente e voltei à
Curitiba, onde residimos até a presente data aguardando 
a próxima mudança, no entanto mantemos a casa em 
Ponta Grossa, não consigo me desligar de lá. 
Em Curitiba nasceu o caçula da família, o Samuel.

Tony 8: Certa vez, você me disse por e-mail que seu avô foi 
um grande e bom desenhista. Conta direito essa história e 
explique-me que tipo de desenhos ele fazia? Quadrinhos 
ou ilustrações? Ele chegou a publicar alguns trabalhos? 
Qual era o nome do fera?

DANIEL: Uma história complicada. Quando minha mãe 
era pequena minha avó se separou do meu avô que 
nunca conheci, isso na São Paulo dos anos 1960. 
Minha avó se juntou com um cartunista (daquela 
geração de ouro da época de Zalla, Colonese,
Shimamoto, Maurício,...) que bandeou para a publicidade, 
ele ajudou-a a criar minha mãe e meus tios, que 
sempre gostaram muito dele.
Eles se separaram em 1975, logo depois que nasci. 

Ele logo se casou novamente e tem uma filha pouco 

mais nova que eu, nunca quis ter contato com a nossa 
família novamente, poucas vezes meus tios se 
encontraram isoladamente com ele.
Ele escreve num site em homenagem à cidade de
 São Paulo e numa das crônicas ele relata de um 
amigo (ele mesmo) que morou com uma família 
complicada cheia de problemas e a melhor coisa 
que fez na vida foi largar aquela família. Devido a
 essa rejeição vou respeitar a privacidade dele e
 não citar o nome publicamente. Posso dizer que
 faz uns anos ele voltou à ativa nos quadrinhos, 
e tanto ele quanto um parente bem próximo
 são aclamados no meio.

Tony 9: Cacilda, que história incrível. Um cara que é famoso
no ramo? Quem será essa figura misteriosa? Tcham-tcham-tcham! 
Você acha que este seu fascínio e interesse pelas HQs, 
que você tem, surgiu por influência do seu avô?

DANIEL: Com certeza não, afinal não o conheci.
 Todo legado quadrinhistico que tenho dessa pessoa são 
duas edições portuguesas do Flash Gordon que ele deu para o meu pai 
quando ainda namorava minha mãe. Há dois responsáveis
por eu colecionar quadrinhos:
1 - Meus pais liam os gibis da Lulu, Bolinha e 
Asterix quando eu era pequeno, eu gostava muito e
adotei o acervo, mas devido a uma traquinagem 
(eu fazia muitas) meu pai me forçou
a doar a coleção em 1986 para a vítima das traquinagens.




2 – Um amigo que morava primeiro em Ilha Solteira e depois
em São Carlos com quem eu sempre passava uns dias
nas férias. Ele só tinha uma revista da Luluzinha (a número 
100 da Abril), que eu reli muitas vezes, e ele lia muitos 
super-heróis. Isso era o tempo da Superamigos da Abril,
 com Esquadrão Atari, Novos Titãs, Lanterna e Arqueiro, 
Camelot 3000... Quer fazer um fã de
quadrinhos de super-heróis, aquele era o momento,
li algumas revistas quando enjoei de ler a mesma 
edição da Luluzinha. 
gostei da cronologia e continuidade das HQs de super-heróis.
Quando voltei para São Paulo comecei a ler e colecionar. 
A edição número 1 da minha coleção é a Superamigos # 7 
de Dezembro de 1985.

Tony 10: Segundo meus espiões camuflados, que estão espalhados  
por todo o país, você tem um acervo imenso de HQs...  tem ideia
de quantas revistas de quadrinhos compõem sua coleção?


Um acervo fantástico e super organizado



DANIEL: Com certeza, no exato momento dessa resposta 
em 25/01/2015 conto com uma coleção de 13.175 edições,
entre nacionais e estrangeiros.
Eu mantenho duas planilhas excell que controlam minha 
coleção, com elas controlo as quantidades, quanto gastei, 
datas de aquisição, local da compra, se comprei usadas 
ou novas, se eram recentes ou antigas... 
Também me valho do ótimo site
www.guiadosquadrinhos.com 
do Edson Diogo.

Tony 11: Caramba... isso é o que eu chamo de um 
colecionador super organizado. Quanto ao Guia dos 
Quadrinhos também acho 
um ótimo site. O Edson está de parabéns. Prossiga...

DAINEL: Não acredito que minha coleção seja das maiores,  
é grande com certeza, mas só em Curitiba sei de pessoas 
que deixam a minha coleção no chinelo.
No Guia dos Quadrinhos há várias outras coleções maiores. 
Quando houve o assalto a uma coleção de São Paulo em 
2013, na reportagem identificaram o cara como o maior 
Brasil com 200.000 exemplares, antes dessa notícia tinha
lido que o maior colecionador era o guru da Consciênciologia
em Foz do Iguaçu, também há um super colecionador no
Rio Grande do Sul que mantém um grupo de negociação 
no Yahoo; a coleção de um professor de Arquitetura 
da UFPR e pai da Gibiteca de Curitiba também é lendária.




Tony 12: Quero elogiar publicamente suas boas matérias, 
que você tem enviado para os meus blogs, são trabalhos de
 cunho acadêmico bem elaborados. De quantos debates 
acadêmicos você já participou?

DANIEL: Agradeço o elogio e o seu interesse em publicar os 
artigos, você foi o primeiro a fazer isso e eu como
fã fiquei eufórico, mostro para os amigos e teve um 
editor independente em Porto 
Alegre que os publicou. Os Artigos foram apresentados e
debatidos nas duas edições das Jornadas Internacionais 
que ocorrem bienalmente na ECA-USP.
O primeiro sobre a História Econômica do século XX e a 
indústria de Quadrinhos foi apresentado sem qualquer 
polêmica em 2011. Já a análise de fatores redutores 
mercado acirrou os ânimos em 2013.
Participei de outros debates e palestras, 
mas como platéia.

Tony 13: Pelo que eu pude notar, nesses debates acalorados,
há quem afirme que o mercado está ruim, no país e no mundo, OK? 
Mas, por outro lado, há aqueles que afirmam que o mercado editorial 
nacional nunca esteve tão bom... Rssss. Que conclusão você 
chegou sobre essas declarações contraditórias?

 

MERCADO BOM E RUIM, 
UM ABSURDO

DANIEL: É uma realidade esquisita. Eu vejo que 
o mercado está em crise, porém semelhante à nossa 
atual economia doente, a maioria dos jogadores 
envolvidos nesse mercado se declara contente e satisfeito. 
No meu último Artigo eu quis explorar as duas visões,
o que não agradou nenhum dos lados. No entanto eu 
atuo profissionalmente no ramo industrial e não vejo um 
virtuoso nos quadrinhos como vejo em outros mercados.
Vou expor situações que vão explorar esta contrariedade:
1.   Indubitavelmente há mais títulos e variedade a venda;
2.   Não se ouve muito sobre calotes a profissionais atualmente, 
como era comum antigamente;
3.   Os meios de divulgação eletrônicos são abrangentes e 
os artistas conseguem facilmente promover seus 
trabalhos e conquistar fãs;
4.   Livrarias estão vendendo obras em formato 
livros que ficam expostas por mais tempo;
5.   Há programas governamentais de incentivo e 
promoção de obras em quadrinhos;
6.   A distribuição está precária e irregular, mesmo títulos 
das maiores editoras chegam atrasados, quando chegam.

7.   Embora possa haver argumento contrário, distribuição 

regional é uma anomalia para corrigir uma incompetência 
(podemos compará-la às políticas de cotas);
8.   Tiragens são ínfimas e inviáveis se comparadas a
décadas atrás, embora houve uma recuperação
recente nas linhas Disney e alguns títulos orientais;
9.   Não há uma profissionalização do meio com uma forma 
de produção industrial, os artistas são praticamente autônomos;
10 - Praticamente os artistas que vivem somente dos quadrinhos 
estão produzindo para o mercado externo (num sistema industrial);
11 Devido às tiragens baixas, os preços são altos;
12 A distribuição é cara, e há menos 
pontos de vendas populares;

13 Remuneração de profissionais geralmente é baixa;
14 Duas afirmações que causam euforia: baixas
 qualidade dos trabalhos e regularidade dos artistas
(gente, há exceções).
Isso para citar alguns, posso escrever um livro 
com vícios e virtudes do mercado. Assim como
fico contente de ter várias opções para comprar,
também me irrito de pagar tão caro.
Ao mesmo tempo que muitos fãs se aventuram a criar,
editar e publicar quadrinhos aumentando a variedade; 
sinto uma falta de ambição nos editores em ter uma
tiragem maior de 500 exemplares e ganhar leitores.
 Um exemplo, uma das mais importantes 
revistas do mercado brasileiro de todos 
os tempos, a Calafrio, voltou a ser 
editada faz alguns anos, hoje a tiragem é de 300
exemplares (está no expediente da revista), a revista 
custa R$45,00 e só é vendida em uma loja no Brasil! 
Alguém acha isso um mercado saudável? Será que
o nosso querido Rodolfo Zalla não acredita que
ao menos 10.000 pessoas no país gostariam de ler
esse ícone das HQs nacionais? A R$ 45,00 mais 
despesas de postagem com certeza ele não conseguirá.

Outro exemplo? Entre o rol de edições que a HQM publica há

um título que virou um seriado blockbuster na televisão,
eu li na internet que a tiragem desse gibi é de 3.000 
exemplares (me perdoem se estiver errado, foi o que li)! 
E eu ainda encontro encalhes dos primeiros números nas
bancas de Curitiba. Será que o número de leitores que 
se interessa em ver um gibi de um sucesso 
de audiência são menos de 3.000 no Brasil inteiro?

Tony 14: Walking Dead, suponho...

DANIEL: No Brasil os dados para pesquisa de mercado
são ocultados. Extra-oficialmente me informaram a tiragem 
dos gibis Disney da Abril (muito maiores que 
os números dos exemplos citados) e ainda 
escoam todo encalhe 
para revendedores. Creio que a Panini faça o
 mesmo com a linha Maurício de Sousa.

Tony 15: Perfeita, sua explanação. Você fez uma
 bela dissertação da situação caótica do mercado atual. 
Mas, se tem gente dizendo que 
tudo está maravilhoso, fazer o quê? Mas, isto depende muito do 
prisma que essas pessoas vêm a coisa. Obviamente, com 
as facilidades proporcionadas, para a divulgação on line, 
por todo mundo surgiram milhares de editores indies 
(independentes), que fazem tiragens ínfimas 
e que comercializam seus produtos artesanais pela WEB. 

Mas, ao meu ver, por um lado isso é ótimo porque não deixam

morrer as HQs, entretanto, por outro lado, isso não cria
alicerces sólidos para os autores... ou seja: não gera receita e,
portanto, não cria condições propiciais para que esses
profissionais possam viver de sua arte. Em geral, o pessoal 
faz a coisa por amor a arte. Isso é maravilhoso, mas como
diz um amigo meu “Isso não paga supermercado
ou as contas do mês”... Rsss, o sujeito estava coberto 
de razão. Apesar que nem tudo é dinheiro... mas,
sem ele não se vive. Você concorda com a colocação dele?

DANIEL: Eu concordo em parte, pois não podemos esquecer
de bons exemplos editoriais que tiveram seu início na internet, 
como o excelente André Dahmer. Eu não acompanho HQs
na internet, mas acho que os irmãos Caffagi têm o mesmo
histórico e sei que há mais.
Agora vamos às vendas, os ótimos livros do Dahmer
venderam quanto? Eu sendo colecionador comprei
 dois livros usados em 
sebo (quando então conheci o trabalho dele) e outro em 
promoção na Internet. Achei-os muito caros.
Apostando que bastante gente gosta e passa tempo lendo 
na internet, esses artistas optam por um bom caminho. 
Comigo não iria adiantar.
A minha questão é, se uma das reclamações recorrentes
dos artistas é a pirataria, eu imagino que os consumidores 
se rendem a esse vício não irão comprar livros já que 
o material está de graça na internet.
Uma outra realidade é o sistema digital que o David 
promoveu quando esteve aqui em Curitiba na Gibicon, 
vende um cartão que dá acesso a um site por um mês 
trabalhos dele. Para mim que sou mais colecionador 
que leitor hoje em dia, não adianta.
Há mais exemplos a serem explorados, como 
André Diniz e o pessoal do Petisco, mas são excessões 
e não conheço o nível de retorno conseguido devido 
às exposições via digital.

Tony 16: O Lloyd está fazendo isso? É um caminho... 
Mas, eu não sabia. Ando mal informado. É certo que muitos
desses editores, indies, têm outras profissões, fazem HQs
por hobby, ou porque não precisam de dinheiro por serem de
famílias abastadas. Mas, a realidade é mais embaixo... 
á milhares de bons artistas de origem humilde que sonham
em viver, um dia, da Nona Arte e acabam não encontrando
espaço para trabalhar ou levar uma vida digna fazendo
aquilo que adoram:quadrinhos. No passado, a coisa era difícil, mas viável.
Hoje em dia está cada vez mais difícil viver de HQs,
principalmente no Brasil. Por isso tem muita gente talentosa
fazendo quadrinhos para as pequenas e grandes casas 
editoriais da Europa ou da América. Qual é sua opinião 
sobre os atuais editores nacionais?

DANIEL: Já comentei que sinto uma falta de ambição por 
parte deles, mas reconheço as dificuldades 
dos editores, principalmente na distribuição, 
que identifico com a maior
dificuldade do mercado, pois é uma atividade 
também trabalhosa.
Sabe por que conheço as dificuldades deles? Porque em 
todos os eventos, entrevistas, editoriais, seções de 
correspondência, debates, e tantos mais, estão apenas 
dando voz aos profissionais do mercado. Raramente se
 preocupam em ouvir o público consumidor, que é quem 
alimenta qualquer mercado. Estão achando que a coisa 
está indo bem por venderem mil exemplares, mas não 
deveriam estar descontentes por não venderem trinta mil?

Volta e meia víamos uma pesquisa nas revistas para serem 

postadas pelo correio, eu lembro de ter respondido uma 
ou outra de editoras eletronicamente, mas não lembro 
de atitudes editoriais resultantes dessas pesquisas.
Até hoje vi apenas dois resultados de pesquisas sobre 
de HQs, uma do site Guia dos Quadrinhos e outra muito 
boa feita pelo proprietário do sebo Rika. 
Me surpreendeu os pesquisadores concluírem 
que preço não é um aspecto 
importante na decisão de compra, mais uma prova de 
que não é um mercado de funcionamento normal. 

Mas pelo preço que vejo editores e sebos praticando,

 não duvido da veracidade de tais conclusões.
Eu gostaria que nos grandes eventos houvesse 
debates de consumidores para os editores definirem novas ações 
que aumentem a eficiência desse mercado. Há um estudante 
e pesquisador mineiro bastante apaixonado pelo assunto, 
o Lucas Medeiros, ele passa a maior parte do tempo se
dedicando a pesquisa de quadrinhos, 
mesmo que eu discorde algumas vezes das 
colocações dele, já o vi fazer alguns 
questionários interessantes, mas também não vi resultado
dessas pesquisas. Adianto positivamente que ele é bem 
crítico quanto a questão preço das publicações.

Há profissionais vivendo somente de quadrinhos no Brasil, 

mas em geral conseguem isso mais confortavelmente se 
envolvendo com o mercado externo. Exemplo de profissional
que tenta é o cartunista curitibano José Aguiar, mas entre
suas atividades está promover palestras, oficinas e 
encenações de obras em quadrinhos, não somente 
roteirizar e desenhar. O Toninho Lima é um profissional
que me contou que construiu sua vida com as HQs,
o pontagrossense radicado em Curitiba Benett é outro
exemplo, sem citarmos Angeli, Laerte e outros.

Como em qualquer atividade profissional, acredito que

aquele que senta de manhã desempenha seu trabalho, 
cumpre sua rotina, obedece sua vocação e busca 
aprimoramento, certamente vai conseguir viver do seu
trabalho. Há o fator mercado que é mais importante,
 mas deve haver compromisso dos profissionais. 
Já que provoquei anteriormente citando baixa regularidade, 
justifico em seguida. 

Em uma palestra de lançamento uma vez o Sidney Gusman

reclamou sobre o artista nacional se enrolar em 
projetos autorais independentes por anos e não apresentarem resultados. 
Dou razão ao Sidney, o que cativa o editor e um leitor
é uma regularidade, de personagens, qualidade, padrão editorial, 
formatos... Imaginam o que seria da Marvel se na década 
de 1960, saíssem apenas 3 edições de Quarteto Fantástico e 2 de
Homem-Aranha por ano, uma com cor, a edição seguinte P&B...?
E se não houvesse compromisso dos desenhistas e escritores? 
Com certeza não haveria o número de filmes, animações
e seriados desses personagens que vemos no cinema 
atualmente. Não haveria nem a Marvel.
Aí o cara pode argumentar que é alternativo, independente, 
underground. Tudo bem, o Crumb, Shelton, Kurtzman,
Spiegelman também são e produziam muito.
Não significa que não profissionais não possam produzir 
HQs, há pessoas com essa capacidade e isso é muito 
bom, pois aparecem visões não viciadas do negócio, 
bons exemplos são o advogado Gardner Fox e
 o contador Júlio Emílio Brás.

Tony 17: Fox, advogado? Emílio Braz, um contador?
Não tinha conhecimento disso. Conheci o Emílio Braz aqui em
S. Paulo, e acho ele um dos bambas da escrita. Porém, confesso
que não sabia disso. Nesse exato momento ele está dando um 
role pela Europa.  Por falar em editores indies, notei através da 
cobertura que você fez na Gibicon do Paraná, que você compra 
quase tudo o que vê pela frente, de quadrinhos... Rsss. 
E que também prestigia os editores independentes do país. 
Isso é bacana... você tem ideia de quanto gasta por
mês comprando publicações?




DANIEL: Eu faço a contabilidade da minha coleção
de gibis desde 2009 e sei exatamente o quanto gasto com ela. 
É bastante, não vou revelar, pois chega a ser uma ofensa 
o que gastei em 2014, posso dizer que só de descontos
nas compras tive uma soma de R$590,00. Sem contar
o descontos normais de material que compro mais 
barato nas grandes lojas na internet. Em 2014 minha coleção 
de gibis aumentou 944 exemplares. 
Na Gibicon comprei muita coisa aproveitando
as promoções e a possibilidade de comprar direto dos artistas.
Fiz a alegria de muitos criadores e expositores.
Sobre os independentes, é isso mesmo, estou longe de comprar 
o que vejo pela frente, mas experimento bastante
esse pessoal. Quando vejo algum trabalho não muito 
caro de um artista
que gosto também compro, por isso os artistas 
com quem converso volta 
e meia acham que eu tenho uma coleção enorme. 


 

DICA PARA OS EDITORES E 
AUTORES INDEPENDENTES

Se os artistas independentes querem uma dica para me 
vender fácil seus trabalhos, é só me oferecerem até R$ 4,00 
compro tudo o que é nacional independente. 
Sei que é pouco, dados os preços atualmente praticados, 
mas é a minha forma de incentivar o mercado, e sei que é
 mais que muita gente irá fazer. Preços mais altos? Pode ser,
 mas depende do número de páginas e da aparência. 
Foi dessa forma que conheci e adorei Sociedade Radioativa, 
Tarja Preta, Golden Shower, Samba, A Turma do Petisco, 
André Diniz, Fernando Santos, Fábio Turbay, Aldo Maes, 
Pedro Leite, Gian Danton, Gustavo Borges, Bodé, até o Mozart 
Couto, e tantos outros que hoje eu compro mesmo 
vendendo mais caro. 
Não adianta me aparecer um desconhecido pedindo 
R$ 20,00 por um trabalho que nunca ouvi falar.
Não pensem que gosto de tudo que compro. 

Na maioria das vezes me arrependo, a quantidade de lixo

é enorme. Isso vai de encontro a um editorial que li uma 
vez numa publicação do Coletivo Quarto Mundo: no exterior
a maior parte do que é publicado é ruim, quem faz a diferença
são os editores nacionais que só trazem o material bom
para cá. Hoje para mim, faz todo sentido.

Tony 18: Como digo sempre, há diversos tipos de comerciantes 
e trabalhadores... há aqueles que abrem um negócio ou trabalham, 
por mero passatempo, não visam lucro ou  retorno imediato,
por estarem estabilizados financeiramente ou aposentados. 
Mas, quando você abre um negócio ou descola um emprego 
porque precisa do dinheiro para sobreviver o bicho pega. 
Nada contra. 

Admiro muito os independentes, mas acho um trabalho de “malucos”

(no bom sentido). Sempre vivi profissionalmente da minha arte, do 
dom que Deus me deu. Com ele criei minhas filhas, paguei minhas
contas, fazendo HQs e publicidade. Acho um absurdo, depois de 
séculos no ramo, viver de tiragens inócuas. Isso não quer dizer 
que eu nunca vou lançar um produto por conta própria. Aliás, 
já fiz isso por diversas vezes, como editor, mas de uma forma 
profissional. Vejo a coisa pelo seguinte prisma: HQs são produtos 
como outros. Exigem investimento e, portanto, devem ter retorno
 financeiro, nem que este só dê para cobrir os custos. 
O resto é pura doideira... Rsss.

DANIEL: Uma das palavras da moda resume

muito a forma como devemos pensar os negócios
no nosso tempo, “Sustentabilidade”. Mesmo que o
 empreendimento não tenha obrigatoriedade
de lucro, ele deve obedecer um ciclo em que 
o negócio possa se perpetuar. Se der prejuízo, 
não dura nada.

Eu não vejo nenhum dos independentes brasileiros inseridos

dentro de um modelo sustentável, onde alguém produz, vende, 
se sustenta e reinveste na perpetuidade do seu trabalho.
Pense agora num artista que compra um álbum de
um colega de profissão, agora imagine que esse 
colega retribua comprando o álbum do primeiro
artista. Se verificarem na lista de financiadores dos
projetos do site de financiamento coletivo vão ver
isso aos montes. Ou os custos de edição 
são irrisórios, ou o preço das edições está sobrevalorizado, 
e os trabalhos rendem
um dinheirão. 

Se não for assim os criadores dependem de outras fontes

de remuneração, como dar aulas, publicidade
e outras atividades.
Se alguém puder me ilustrar com exemplos que 
provem a sustentabilidade do mercado independente,
já digo que só acredito se o preço da obra for muito caro;
pois desde os anos 1980 só vejo as 
tiragens caírem no geral.

Tony 19: - Perfeito. Você tem razão...

DANIEL: Ainda assim torço para que iniciativas como 
a do José Salles com a editora Júpiter II sejam saudáveis 
financeiramente, pois eu adoro o trabalho dele.

Tony 20: Taí um cara batalhador e parece que ele não é assim tão 
necessitado para faturar, se dedica a auxiliar os autores 
por ser um idealista. Ao menos é isso que dá a entender. 
De qualquer forma é um herói e tem feito um belo trabalho. 


Publicações lançadas pelo Salles



DANIEL: Ninguém pode viver somente de gibis, 
o dinheiro deve vir de outra fonte. Vamos fazer uma conta,
se um trabalho independente tem tiragem de 500 exemplares 
(número de razoável para otimista hoje em dia) e custa
R$ 15,00 (que já considero caro), 
a receita total do empreendimento será de R$7.500. 
Agora desconte os custos de produção e distribuição, 
o artista bem sucedido lucra com cerca de 30% do preço
de capa, estamos falando de um lucro de R$ 2.250. 
Pois bem, quem acredita que com pouco mais de R$2.000 o 
artista irá se manter e investir num novo projeto? 
Quantos artistas lançam no Brasil vários projetos 
mensais bem sucedidos por ano? Independentes
eu tenho certeza que nenhum.

Tony 21: Também acredito nisso.

DANIEL: Alguém ainda pode querer contestar e argumentar 
que há os projetos de inclusão e incentivos governamentais, 
como já me fizeram numa das mesas redondas
em que participei. Bem, isso até pode contratar 
artistas independentes, mas não 
se trata de um projeto independente.
Além disso nesse momento 
o governo está ajudando, e quando não estiver?

Tony 22: Fodeu tudo. Melou tudo... Rsss...  Jamais concordei 
com um governo paternalista. Falta espírito empreendedor
para esses editores indies. Precisam aprender a andar
com as próprias pernas.

DANIEL: A sustentabilidade do mercado de HQs não
existe fora das grandes franquias e editoras, ainda 
entre elas há uma receita bem maior no merchadising 
e produção cinematográfica. É um assunto polêmico
e deve gerar discussões não apaixonadas, não
 caberia nesta entrevista.

Tony 23: Pois é, esse debate vai longe e sempre causa polêmica. 
Mas, adorei suas explanações. Você tem uma lucidez incrível sobre
a realidade do mundo das HQs nacionais e a situação atual.
 Há anos acompanho de perto as intempéries do mercado e tenho observado
que nos últimos anos, principalmente após o monopólio da Abril  
(Treelog) a coisa vem piorando a cada dia. As tiragens diminuíram, 
a qualidade das revistas aumentou, mas os preços subiram muito.
Não quero aqui apontar culpados ou inocentes. 

A distribuidora nunca foi o carrasco dessa história. Afinal, eles fazem 

um trabalho e por isso precisam auferir lucros. O governo não quer
 saber se sua empresa está gerando lucro ou não, quer receber os 
encargos sociais. Caso contrário ele fecha as nossas portas. 
Enfim, o jogo do mundo dos negócios é cruel. 
Ou a coisa anda ou fecha. 
Não há meio termo. Outro fator determinante é que o mundo 
e o mercado mudaram. Os leitores se segmentaram formando 
pequenos nichos. Com isso, as tiragens tiveram que diminuir 
sensivelmente e com isso os preços foram às nuvens
(disso a distribuidora não é culpada. 
Ao contrário arrumou um abacaxi enorme para descascar).   

O curioso é que hoje temos mais gente no país, no mundo, 

e mais dinheiro circulando. Mas o povo gasta cada vez menos 
com cultura ou lazer. 
Você é um cara analítico e bom observador... na sua opinião, 
esse fenômeno mercadológico, de baixas vendas,
 se originou por quê?

DANIEL: Tony, você é um empresário do ramo 
e eu jamais vou conhecer o negócio tanto
quanto você e outros profissionais. 
Eu não vejo a distribuidora como carrasco também, o trabalho
deles é difícil e em muitos momentos é a parcela
mais profissional da cadeia. Para lidar com revistas em 
quadrinhos eles fazem as mesmas exigências que para
publicações de maior tiragem, afinal a distribuidora 
deve destinar os mesmos recursos. 
No entanto eu reconheço que a distribuição é a maior
fraqueza do mercado de HQs. Se eu entendesse disso, e 
distribuir somente HQs fosse viável, eu gostaria de investir 
num negócio assim. 
Nesses últimos tempos eu vi algumas iniciativas de
distribuição interessantes, mas que não duraram, como a Q
uarto Mundo e a Bodega do Leo.
Hoje as distribuidoras ficam com a maior parte do preço 
de capa, e exigem um volume e número de edições 
mínimos dos editores,
estes por sua vez não pode garantir nada. Aqui neste blog, 
você entrevistou o Fábio Chibilski que 
revelou as diferenças do serviço de distribuição 
no Brasil e nos EUA.

Tony 24: Você, edita, banca o custo e paga 46%
do preço de capa para a distribuidora, que repassa 30% 
para as bancas de Rio e São Paulo, 
nas demais praças os revendedores (jornaleiros) ganham apenas 
15% do preço de capa. Daí surge um problema: Quem vai querer
expor e vender um produto barato, para ganhar apenas 30% ou 18%?
Muitos jornaleiros recebem o pacote de reparte da distribuidora e, 
em geral, guardam ele escondidos nas bancas e ficam esperando
o toque de recolher. 

Não expõem as revistas que acabam virando encalhes que

são devolvidos para os editores. Antigamente, 4 meses depois,
podíamos relançar esse encalhe na esperança de cobrirmos os custos.
 Atualmente, só aceitam relançamentos se você trocar a capa e criar
pacotes promocionais, nem pensar. E o pior, se um produto não 
atingir uma venda “X” o editor tem que pagar pelo custo operacional
 da distribuidora. Em síntese, ficou difícil trabalhar assim. 
É preciso ter “bala na agulha”, muito dinheiro para
aguentar o tranco. Retorno imediato, está fora de cogitação. 


UM NOVO MUNDO...
    
DANIEL: Voltando à pergunta, o mundo realmente
mudou, os quadrinhos estão caros e há muita 
concorrência às revistas, 
internet, redes sociais, videogames e TV a cabo são mais
atraentes que os quadrinhos. Não quero parecer demagogo, 
mas arrisco dizer que a infância hoje pratica hábitos não
saudáveis em maior intensidade que a juventude do passado, 
como as drogas, isto também é concorrência.
Do lado do mercado editorial já houve muito esforço
na manutenção dos leitores que amadureceram e
fraquíssimo empenho na formação de novos leitores.

Tony 25: Os leitores estão envelhecendo, desaparecendo e
os jovens não tem o hábito de ler, infelizmente.

DANIEL: Aproveitando que você falou dos nichos, até acho 
que hoje o número de leitores de HQs rivalize com o passado, 
mas hoje o consumidor escolhe mais, e entre dois títulos,
 ou dois gêneros, o leitor vai ter que optar por um, 
se não puder comprar as duas opções. Isso acarreta 
em tiragens menores e preços altos.

Tony 26: Há uma infinidade de títulos atualmente nas bancas, 
em sua grande maioria, internacional. Quem tem dinheiro para
comprar tantas melecas?

DANIEL: Mais um ponto que gosto de identificar como um
fator que formatou tanto o mercado americano como o nosso
é o Mercado Direto. Na década de 1970 foi essencial para 
salvar títulos e editoras, manteve a mídia cada vez
mais especializada.
No entanto, a partir da década seguinte já observamos uma 
queda no consumo de quadrinhos, salvo brevemente 
pela popularização das 
Graphic Novels e os lançamentos arrasa quarteirão 
das grandes editoras (leia-se principalmente a miniserie 
“O Cavaleiro das Trevas”).



Tony 27: Com certeza...

DANIEL: Nos anos 1990 houve o fenômeno chauvinismo gráfico 
de X-Men e Image, nesse ponto o mercado estava difícil até
 para as grandes editoras. Felizmente uma jogada de marketing da DC
em 2011 deu um salto nas tiragens, tomara que os números
 se mantenham. Tudo que o Brasil fez foi reeditar as HQs americanas, 
e almejar sermos iguais a eles, é o nosso papel como Colônia.
Uma das consequências do Mercado Direto foi o 
desaparecimento dos quadrinhos dos pontos populares.
A melhor solução para aumento das tiragens deve passar por campanhas publicitárias intensas e redução dos preços. 
Como fazer isso é que aceitamos sugestões, mas se não for feito 
algo revolucionário, a tendência do mercado atual é a
dependência das grandes franquias pela receita externa às 
HQs, e a existência artificial das franquias menores e 
independentes através 
do sacrifício do bolso dos consumidores.

Tony 28: Pois é. quem se fode  sempre é o leitor...
Outro dia, um amigo me indagou: “Tony, se o mercado está 
assim tão ruim, por que existem tantas publicações nas bancas?
O pessoal é maluco?”. Quando digo O MERCADO RUIM, 
me refiro a alguns segmentos, nesses estão incluídos os quadrinhos. 
É claro que ninguém é doido de colocar dinheiro bom num
produto sem futuro. Há vários segmentos que ainda vendem bem, 
apesar de terem uma tiragem menor, após os ajustes
mercadológicos que surgiram após a constatação desses nichos. 
Se a segmentação de mercado gerou produtos de melhor
qualidade e tiragens menores isso significa que aquele que 
deseja sobreviver deve ter um bom departamento comercial 
de venda de anúncios ou assinaturas, caso queira sobreviver. 

Os jornais, por exemplo, também sentiram na pele as oscilações

 mercadológicas. Mas, eles sempre viveram graças aos anunciantes. 
Boas publicações possuem grandes anunciantes.
Na América, qualquer revistinha de quadrinhos, sem vergonha,
(eram impressas num papel de péssima qualidade, no passado)  
e mesmo assim tinha 4 páginas de anúncios, religiosamente
(tipo classificados etc). A Marvel já fez parceria com a Shell e
com a Pizza Hut, na América.  No Brasil, apenas os grandes
editores como Abril e Globo conseguem anunciantes de peso para
os seus gibis e as outras publicações, tipo Nestlé. Isso ajuda 
nos custos operacionais e muitas vezes até paga o custo.
Editores brasileiros de menor porte (que editaram HQs) sempre 
pecaram pela falta de organizar um bom departamento 
comercial para angariar anunciantes e assinantes. Dependem exclusivamente
 da venda do produto e quando ela cai a revista fecha, 
Isso não tem lógica. Não adianta fabricar ouro 
se você não tiver um bom departamento de venda.

O anúncio é fundamental. Não há outra saída. Na verdade,

as HQs ainda são tratadas como um subproduto editorial no país, 
Dan. Porém, elas têm ganhado respeito no meio acadêmico,
nos últimos anos. Você, que vira e mexe, está lá debatendo 
com os acadêmicos interessantes apontamentos sobre quadrinhos,
pode nos dizer como, quando e por que o conceito 
sobre HQs começou a mudar nessas instituições de ensino do país?

DANIEL: Tony, a presença dos quadrinhos na academia, 
nos museus e jornais não é novidade, na França isso já
acontecia nos anos 1960. No Brasil esse movimento
é tímido, e eu se  tiver que explicar por que o atraso, 
diria que é resultado dos preconceitos sobre as HQs, que 
diminuem com o passar do tempo.
Se eu tiver que explicar por que eles estão chegando 
em maior intensidade às universidades agora, arrisco 
que é resultado do envelhecimento dos antigos leitores que não 
abandonaram o hábito. Não tenho resposta.
Nosso amigo Jal comentou que as HQs devem marcar 
presença nas Universidades urgente. Elas chegam, 
mas não adianta estudar algo cujo mercado desperta
menos interesse que qualquer outra atividade cultural,
 industrial, natural, ou o que quer que seja.
Sobre a publicidade vamos pensar racionalmente.
Quem em perfeito juízo irá anunciar seu produto, ou 
serviço, para 500 consumidores (leitores de HQs) que
também possuem acesso à internet, jornais, televisão, 
cinema e rádio juntos à milhões de outros consumidores?
Nem eu! Acho que nem uma escola de quadrinhos faria isso!

Tony 29: Com certeza, grandes empresas clientes de
agências só anunciam em tiragens acima de 100 mil 
exemplares e com uma exigência: o material
 deve ter alta qualidade gráfica.

DANIEL: Agora pensando além da publicidade, creio
que há uma forma de vinculação dos quadrinhos a 
outros meios que os orientais fazem com sucesso. 
Boa parte dos fãs de animes compram quadrinhos e 
games dos seus personagens preferidos. Quem sabe é 
uma solução para os quadrinhos ocidentais? Eu vejo
algumas iniciativas das grandes editoras nesse sentido.

Tony 30: A coisa ainda é tímida, mas está começando... 
Você sabe, na Europa, no século passado, os acadêmicos
deram o devido valor para  as histórias em quadrinhos, 
porque elas servem como material didático para o ensino em geral. 
Na França, Asterix foi adotado nas escolas. 
Graças a Deus, e a alguns “malucos” (no bom sentido), 
começou a surgir algumas teses acadêmicas sobre HQs,
nos últimos anos.
Parece que essas teses têm crescido nos últimos anos.
Creio que isso fez despertar 
a atenção dos doutores do saber, você não acha? 

DANIEL: Eu respeito o valor educacional dos 
quadrinhos como ferramenta de auxílio,
não podemos negar que até na Segunda 
Guerra o Will Eisner produziu manuais dos 
armamentos para os soldados.
No entanto não sei discutir sobre o assunto, mas há estudiosos
bem comprometidos com ele, como o professor Paulo Ramos, 
um dos coordenadores das Jornadas Internacionais.
A questão de testes e artigos acadêmicos passa justamente
pelo já comentado amadurecimento dos leitores, os artigos 
que eu escrevi foram por hobby mesmo. 
Acho que outros fizeram o mesmo.
Uma vez no segundo grau eu apresentei um seminário 
sobre quadrinhos. Quando estava na minha segunda graduação 
(que fazia de uma forma descompromissada) prometi que
todo trabalho que pudesse fazer vinculado às HQs eu faria.

Tony 31: Parabéns, pela iniciativa, bengala brother. 
Por falar em meio acadêmico, você tem formação superior?

DANIEL: Sim, sou Engenheiro Químico de formação, fiz 
mestrado em tecnologia da madeira e tenho formação
incompleta em Ciências Econômicas. 
Todos eles pela Universidade Federal do Paraná.
Pretendo cursar História um dia, quem sabe?

 

SUSTENTABILIDADE

Tony 32: Você trabalha em que área?

DANIEL: Exerço a Engenharia Química, adoro o
que faço e amo o meu emprego. Hoje trabalho na área de 
desenvolvimento e assistência técnica de uma empresa de 
resinas aplicadas na fabricação 
de painéis de madeira.



Vou aproveitar sua pergunta para acrescentar algo sobre a 
sustentabilidade do mercado. Em conversas com o professor 
Nobu Chinen, mais recentemente com o Franco de Rosa
e os excelentes artistas Antônio Éder e André Caliman, todos 
se surpreenderam por eu ser engenheiro, eles estavam 
esperando que eu trabalhasse no ramo da comunicação.
Os profissionais de um ramo devem estar cientes de que 
devem produzir para todos os públicos, uma fábrica de 
ferramentas não produz somente para metalúrgicos, 
um fabricante de material esportivo não produz somente 
para atletas. Todo empreendedor 
deve universalizar seus produtos, se não fizerem o
empreendimento míngua.


ESTILO, GÊNERO E PREFERIDO

Tony 33: Exatamente. Qual é o estilo de HQs que você mais curte? 
Super-heróis, mangás, HQs para adultos, sci-fi, terror ou cômicas?

DANIEL: Sou bem eclético na minha leitura, os super-heróis 
fazem a maior parte da minha coleção, pois ela começou 
com eles e estão em maior oferta no mercado, mas já não 
os leio há algum tempo, não consigo, estão muito ruins. 
No caso dos super-heróis acredito que não só eu acho
ruim, pois a quantidade de reedições encadernadas de 
material antigo é gigante. Para não deixar a coleção
incompleta compro em sebos.

Tony 34: Nada contra o gênero, afinal também criei Fantasticman 
e Fantasma Negro. Mas, também acho que a linha super-heróis 
Marvel e DC avacalhou com o tempo... os antigos leitores
atualmente não conseguem mais entender nada do universo deles...
a coisa ficou confusa demais...

DANIEL: Detalhe, eu odeio quando as pessoas manifestam 
preconceito aos quadrinhos de super-heróis. Se eu tivesse
ficado apenas nos gibis cômico-infantis, não teria migrado
para os quadrinhos mais sofisticados. Não teria lido Animal, 
Porrada Special e Chiclete com Banana se não lesse super-heróis.
O que mais leio regularmente hoje é terror, Disney e graças
 à Pixel voltei a ler Luluzinha e Bolinha. Tenho uma adoração
 pelas tiras de jornal, principalmente as cômicas, 
mas confesso que a retenção
delas é muito pequena na minha memória. 
Gosto muito de humor, mas ele está em baixa na sociedade 
devido ao politicamente correto. Um autor que descobri 
faz poucos anos e me faz dar gargalhadas é 
o Arnaldo Branco, ele trouxe de 
volta o prazer que eu sentia em ler as revistas 
da Circo nos anos 1980.





Uma revista mensal que acho a melhor do mercado hoje 
é a Juiz Dredd Megazine. 
Também gosto do underground americano e alguns
clássicos europeus. Não gosto de quadrinhos orientais
e pasmem, não gosto da linha Maurício de Sousa!
Faroeste é um gênero legal e difícil dos autores errarem,
para mim o Jonah Hex clássico é o ponto alto do faroeste
de todas as mídias.
Se o que você chama de HQs para adultos são as pornográficas,
também leio, mas elas estão desaparecidas das bancas. 
Eu gostava da época da Sampa/Big Bun.


ELE RECOMENDA...

Tony 35: Personagens ou publicações que você recomenda
ou que considera clássicas?

DANIEL: O pódio internacional para mim é composto de 
Corto Maltese, Mafalda e Príncipe Valente. 
Não vejo como não colocá-las num patamar elevado.
Outras também merecem 
estar ao lado delas.
Do nacional coloco Marcatti e Flávio Colin num primeiro escalão, 
onde até o terceiro é compra obrigatória. O álbum Coprólitos 
é um dos melhores lançamentos deste século. Fazer uma lista
 é uma tarefa injusta, com quem faz e com quem não lê seu 
nome nela mesmo merecendo.



Se você consegue se situar nos anos 1980, o material 

da Chiclete com Banana é indispensável.
Quando se fala de personagens super-heróis é mais 
fácil citar as fases. Desta forma Titãs da Dupla Wolfman e 
Perez, Fantasma do Mark Verheiden e Luke McDonnel, Sandman, 
Monstro do Pântano do Alan Moore e Rick Veitch 
(que continuou no mesmo nível de argumentos), 
Batman em várias fases do final dos 1960 até a Queda do
Morcego (quando imbecilizaram o personagem), Demolidor 
teve poucas fases ruins, X-Men do Claremont, 
Drácula do Wolfman e Colan...






Alan Moore
 
Vamos estabelecer uma regra: Autores de quem tenho 
mais de 100 publicações/HQs (ou quase) e nunca me
decepcionaram: Alan Moore, Colin, Denny O’Neil,
Eisner, Al Capp, Goodwin, Byrne, Evanier, Chaykin, 
Mozart Couto, Sidemar de Castro, Moebius, os
irmãos Portella, Timothy Truman, Neal Adams, 
Ostrander, Aragonés,... a lista é enorme mesmo
assim. Por favor, não entendam esta resposta 
como completa jamais.

LIVROS...

Tony 36: Ok. Entendi...  Livros?

DANIEL: Mais fácil citar autores, George Orwell por 
seus dois clássicos devia ser obrigatório nas maternidades do 
planeta, evitaria muita surpresa nos governos.

Tony 37: Nas maternidades!? Rssss. Essa foi boa, Dan!

DANIEL: Aldous Huxley é um pessimista Admirável, se me 
entende. Gostei de Lobo das Estepes do Herman Hesse. 
Machado de Assis é incapaz de decepcionar, sua obra
 máxima para mim é Quincas Borba.
A proposta dos beatniks é legal, mas não gosto de ler
 poesias, então me restringe boa parte do trabalho desse pessoal.
Gostei muito dos livros de Chico Buarque que li, Gota d’Água 
e Ópera do Malandro.
O Universo, personagens e ecossistema de  Duna, colocam 
Frank Herbert nesta lista. Falando em Herbert, gosto
da ideologia do Herbert Spencer.

Recomendo também Cidade dos Milagres do blogueiro 

e excelente podcaster mineiro Christian Gurtner.
Ultimamente tenho lido muito pouca ficção e romances. 
Tenho lido com muita frequência livros de História.
Eu gostei muito do policial Bufo & Spalanzani do Rubem 
Fonseca, por sorte um dia conheci uma família que inspirou 
uma das tramas do livro. Uma das pessoas
mais admiráveis que conheci, faleceu poucos anos atrás.

Tony 38: Parabéns, pelo bom gosto literário. Afinal, nem só de 
HQs vive a humanidade... Filmes, atrizes, atores, diretores...?

DANIEL: O filme que mais assisti na vida é também um 
dos meus favoritos: “Peter’s Friends”, ou na versão
brasileira “Para o Resto de Nossas Vidas”, me faz lembrar 
de amigos que não vejo há muito tempo. 
Gosto muito dos filmes nacionais das décadas de 1970 
e 80, justo os que a turma malha bastante.
Também gosto muito do filme “The Power of One” pela 
narrativa, pela musicalidade e pela bela atriz
Fay Masterson, que me fascina.
Gosto da franquia Planeta dos Macacos, pena que os últimos 
filmes não fazem jus aos três primeiros dos cinco filmes originais.
Um ator que até hoje não acredito que morreu é o Raul 
Júlia, gostava muito dele. Pena que estragaram a biografia 
dele nos últimos filmes que fez.
Musicais como Rocky Horror Circus Show, Tommy e
That’s All Jazz me fizeram a cabeça.






ESCRITORES DE COMICS


TONY 39: Cite alguns escribas de HQs que você
considera geniais, nacionais ou estrangeiros?

DANIEL: Para poder excluir bastante gente que gosto. 
Vou manter a regra de nunca terem me decepcionado:
Alan Moore, Júlio Emílio Braz, Dennis O’Neil, Sidemar de Castro, 
Will Eisner, Mark Evanier, John Ostrander, Brian K Vaughan, 
Gilbert Hernandez, Steve Engelhart, Hal Foster, Quino, Mike 
Grell, Jim Starlin, Fontanarossa, Hugo Pratt, Len Wein, Alejandro
 Jodorowski, Stan Lee, Al Capp, Alan Grant, Timothy Truman, 
André Toral...


Stan Lee (Anos 60)


Hal Foster

 DESENHISTAS NACIONAIS
PREDILETOS

Tony 40: Desenhistas?

DANIEL: Cara, que tarefa inglória, agora vou ter que restringir 
a quem tenho 500 exeplares?
Vamos lá, nova regra, uma lista dos primeiros que penso em
30 segundos, vou fazer com ajuda de um gravador e um cronômetro: 
Watson Portela, Marcatti, Jayme Cortez, Hal Foster, Vicar,
Moebius, Neal Adams, Jose Luiz Garcia Lopes, Geroge Pérez, 
Aragones, Jack Davis, Flávio Colin, Seabra, Alfredo Alcala,
Mário Cau, Antônio Éder, Nilson Müller, Alex Ross, Alex
Raymond, Liberatore, Manara, Gary Trudeau, Kevin O’Neil, Steve
Bissete, Berni Wrightson, Nico Rosso, Gimenez, Tony
Harris, chega! Não faça mais isso comigo!

Tony 41: Rssss... Isso deve ter sido pior do que tortura chinesa, 
bengala brother. Mas, adorei a lista. Na minha opinião, temos 
grandes talentos no país, o que falta é gente disposta a investir 
pesado nas HQs nacionais. O pessoal trabalha no sufoco, sem 
grana, e por isso acaba fazendo a coisa sozinho, na pauleira, 
feito louco. E isso resulta em baixa qualidade. Na Europa e na 
América as HQs são produzidas, na maioria das vezes, em linha
de montagem ou com diversos roteiristas e desenhistas trabalhando
simultaneamente numa mesma serie, você sabe...  O resultado
é um trabalho de alto nível, salvo excessões. Mas, isso tem um custo 
operacional alto. Será que nossos futuros autores vão poder 
montar uma boa infraestrutura, um dia, e atingir o patamar
de qualidade dos gringos?

DANIEL: É o esquema de produção industrial que citei. 
Fora os ilustradores de jornal e revista jornalísticas, 
os criadores que trabalham para o mercado externo, 
e o estúdio Maurício de Sousa não lembro de muita
gente que trabalhe desta forma exclusivamente 
para quadrinhos.
Da forma que está hoje, não acredito que nossos autores 
chegarão 
a este patamar. Voltando ao início da pergunta, porque 
alguém irá investir pesado nos talentos para quadrinhos?
O retorno se vier será lento. O que há são os artistas
apresentarem suas propostas para os programas de 
incentivo educacional. 
Que aproveitem enquanto houver.

Aposto que se juntarem vários criadores, com 

uma proposta de produzir por um ano uma 
revista regular, comprometida 
com prazos, com alguns personagens fixos e identificada 
com um projeto cultural ou regional, duvido que os próprios
órgãos governamentais não auxiliem e incentivem o projeto
com a imprensa oficial. É só o projeto ser sério. 
Ou há alguma dúvida de que governo 
gosta de gastar dinheiro?

Tony 42: O Governo adora torrar o dinheiro público. Vide o
que o PT tem feito, um absurdo...  No Brasil, apenas a 
editora Abril e o Mauricio de Sousa conseguiram se organizar para 
manter uma boa equipe e um bom nível de HQs... você acredita
que as HQs no país ainda poderão vingar, um dia? Ou isso é utopia?

DANIEL: Não é utopia, as HQs já vingaram no Brasil, 
o Império Abril foi alicerçado sobre os quadrinhos. 
Em algum momento o mercado diminuiu, por 
concorrência talvez, ou por desinteresse do público.
Não acredito que a frase seja dele, mas no álbum “É Tudo 
Mais ou Menos Verdade” o Alan Sieber na cobertura da 
FLIP diz que constatou que no Brasil há mais escritores 
que leitores! É engraçado e exagerada, mas faz sentido. 
Somos uma sociedade que lê pouco, sem a
 tradição da leitura.
Numa palestra em 1992 em Curitiba, o professor Pier Luigi
Piasi, dono da editora Aleph, diz a mesma coisa e também 
disse que o brasileiro é menos inteligente. Embora 
o professor afirmasse isto de uma forma muito 
apaixonada (afinal ele queria vender livros), é inegável
 que somos menos desenvolvidos intelectualmente 
que outros países que consomem mais
produtos culturais, inclua nisso os quadrinhos.

 

DISTRIBUIÇÃO: UM VELHO PROBLEMA

Tony 43:  Voltando a falar de distribuição de revistas... No país, 
sempre tivemos uma distribuição ineficiente. Os repartes sempre
foram mal feitos e distribuídos a esmo. Outro grave problema é o 
tamanho do país. O custo operacional para fazer uma distribuição
num país com dimensões continentais é enorme e oneroso.
Há cidades pequenas que realmente não vale a pena enviar
publicações. Você sabia que apenas alguns editores privilegiados
podem lançar revistas com distribuição setorizadas? Isto é,
lançam tiragens pequenas e estas são concentradas primeiramente
nas grandes praças. Só depois elas são lançadas 
nos demais estados.

DANIEL: Volto a comentar que a distribuição hoje é o maior
problema a ser solucionado para os editores, e entendo
a posição dos distribuidores por razões que você
mesmo cita na pergunta. Quem está pagando o pato
é o consumidor, pois tanto o editor 
quanto o distribuidor só conseguem contornar o problema
com preço alto de capa.

Tony 44: Hoje, não. A distribuição nesse país sempre foi 
problemática. Hoje, está pior...

DANIEL: Já em relação à distribuição setorizada, ela
é uma anomalia. Uma das evidências das desigualdades 
da nossa estrutura político-social. Eu comparo ela à
política de cotas (social, racial, ou qualquer outra que 
inventem) em Universidades e postos de trabalho.
Se alguém a acha sensacional, eu penso 
que o sensacional é não precisar desta modalidade.

Tony 45: Na nossa pseudademocracia as coisas ainda 
precisam ser impostas, por ironia... O pessoal que curte HQs
 feitas fora do país, geralmente critica, com razão, a qualidade
 da maioria do material feito no país. Porém, não sabem o
sufoco que passamos para manter um título mensalmente 
nas bancas. Quando um produto editorial é lançado há 
prazos rigorosos a serem seguidos e essas datas 
devem ser respeitadas.

E aí que o autor tupiniquim se enrola todo e começa a

fazer a coisa nas coxas, na base do desespero, por falta
de planejamento e de organização. Muitas vezes o autor nacional
“fura” esses prazos causando prejuízos
aos editores e distribuidores que esperam, todo mês, pela 
mercadoria naquela data específica. Por isso, grandes editores
 só publicam revistas que 
tenham, pelo menos, três  meses de material adiantado. 
Nos pequenos editores isso não existe. O sujeito, sozinho,
 escreve, desenha, faz as letras e vende a edição # 1 e nem
 sequer pensou na edição # 2 (e ainda por cima é mal remunerado). 
Daí vem o desespero... Rssss. 

Falta planejamento, para a grande maioria dos autores.

É uma merda. Com isso a classe ganha fama de “canista”,
gente que não cumpre prazos, que não têm responsabilidade. 
Isso é muito ruim para a classe. Só permanece no mercado 
aquele que cumpre prazos. 
Os demais estão danados, se “queimam”  rapidinho, porque 
sua má fama se alastra feito fogo. Só sobrevivi... e até ganhei 
um bom dinheiro porque me organizei e jamais deixei 
de cumprir os prazos. Estou falando demais... perdão. 
O entrevistado é você. Mas, as verdades devem ser ditas. 
Às vezes me empolgo. Você que está antenado em tudo: 
Quais são os melhores quadrinhos independentes,
 atualmente, lançados no país? Cite títulos 
e autores, se possível...

DANIEL: Tony, esses seus comentários 

são bem pertinentes e denunciam o caráter 
amador do nosso mercado. Eu lembro da sua entrevista 
com o Gilberto Firmino, ele dizia que era impossível
não contar com material estrangeiro
se quisesse fechar edições no prazo.
Um editor amigo meu atrasou uma edição a ser lançada em
Dezembro porque o roteiro da principal atração prometida 
por ele na edição anterior não foi entregue pelo roteirista. 
Isso no mês de festas.
Sobre os independentes, eu gostava muito da Tarja Preta do RJ,
era muito engraçada, mas ao que parece acabou. Compro todos 
os lançamentos da editora Cultura e Quadrinhos do Fábio 
Chibilski de Ponta Grossa. O Fábio está fazendo um bom
trabalho editando gibis de terror e faroeste com gente consagrada
 e novos talentos, as matérias publicadas por ele também são de alto nível. 
Ele trouxe de volta a revista “Spektro” com a benção do Ota. 
Na mesma editora ele publicou super-heróis que ele vende nos EUA, 
e o querido “Chet”. Há uma revista “Contos Sinistros”, que é
para amadores e iniciantes. As propostas do Fábio são muito legais
e quem gosta de boas edições deve ficar de olho.

Outro trabalho que respeito muito é o do José Salles com

 seus vários títulos da Júpiter II, só gostaria que fosse 
mais presente em pontos de venda, não há nada que 
negue o profissionalismo do Salles. E ele é o verdadeiro
 abnegado dos quadrinhos.



Quem está fazendo um trabalho de alto nível e trabalhando 
com pistolões do mercado é o Marcos Freitas de Porto Alegre.
Ele tirou o Mozart Couto e o Shimamoto da gaveta! Os caras 
estão produzindo bastante.
 Procurem as revistas Quadritos e Monstros dos Fanzines, 
além dos especiais, são perfeitas.
Ele mesmo faz a impressão.
Outro editor digno de muita nota é o Sérgio Chaves da 
Café Espacial, tem regularidade e qualidade, a revista 
poderia ter mais quadrinhos.
O Roberto Guedes é um apaixonado e usa essa paixão
 para produzir ótimo material. Eu considero o Almanaque Meteoro 
uma das melhores revistas editadas atualmente, pena que é tão 
esporádica e não se encontra em pontos de venda.
Os capixabas da Prego também têm um material que 
valoriza a identidade alternativa e a independência editorial, 
embora seja um material caro.






Não posso deixar de comentar o trabalho de altíssima 
qualidade do Pietro Luigi, creio que ele é londrinense 
e mora em Sampa (me corrijam se eu estiver errado), 
a revista “Banheiro Selvagem” ocupa parte do buraco que 
revistas dos anos 1980. O único problema é que ela
 parece ser anual, mas sobra qualidade no material e na edição.
Agora irei puxar a orelha do mestre dos independentes.
Marcatti, vamos publicar mais! Você é indispensável para 
o mercado de alternativos e brasileiro. Comprem tudo
do Marcatti, vale a pena, vamos incentivá-lo a produzir mais.





ESCRIBA DE QUADRINHOS

Tony 46: Macartti, o Daniel tem razão. Também aprecio muito 
seu material. Go ahead, bengala brother! Outro dia, Dan, 
você me enviou um bom roteiro de  HQ... achei ele genial,   
porém muito intelectualizado. Ele já está sendo desenhado
por alguém? Vai mandar o material para alguma editora 
específica?  Você não acha que nosso leitores, viciados
em Marvel e DC (HQs cheias de porradas e muita  ação), 
podem torcer o nariz para um roteiro como o seu,
altamente crítico e intelectualizado? Infelizmente, o que a
galera quer ver é porradas, raios e explosões monumentais. 
Fazer, o quê? Mas, aquele seu roteiro, bem desenhado,
 pode até se dar bem no
formato álbum para livrarias... 

DANIEL: Tony, grato pelo feedback da HQ. No ano 
passado o Fábio Chibilski havia me contado que
ia lançar uma revista de terror
e ficção para amadores e iniciantes, eu pensei que poderia 
colaborar com algum enredo. Nós estávamos às vésperas da 
corrida eleitoral. Esse roteiro me veio de inspiração imediata 
baseado numa conversa que tive com um amigo devido 
à superpopulação (quis dar uma ideia à ONU), e à
minha indignação como classe média. Sou anarquista 
por natureza e odeio qualquer representação partidária, 
mas escrevi um roteiro mostrando um destino para 
a humanidade governada por regimes como o
bolivarianismo e o petismo (me desculpe, Bira).

Tony 47: Putz... o Bira e o Baraldi são petistas roxos...
 nobody is prefect... Rssss... continue...

DANIEL: É inviável viver em paz, ou sonhar com um país assim. 
Temos governantes irresponsáveis e egoístas, e não há
nenhuma opção de melhora. O pior é que financiam a farra 
deles através da classe média e utilizam a ignorância 
popular como massa de manobra. No roteiro eu quis 
mostrar a importância da classe média
na estrutura social. Vamos perceber que a classe média importa, 
se alguém visse isso no roteiro eu já ficaria contente.

O problema é que não faço ideia de como escrever um roteiro. 

Eu a escrevi para ter menos de 20 páginas. O Fábio disse 
que pode selecionar alguém para desenhar uma HQ em partes, 
porque daria o triplo disso. Mas bem da verdade ele não 
pareceu muito empolgado em produzí-lo. 
Enquanto eu escrevia tive ideias de outros enredos 
dentro do mesmo Universo, mas como disse, a ideia é uma
HQ curta, sem personagens principais e que faça alguém
pensar se há futuro no nosso sistema político atual.

Tony 48: Sim, percebi e achei a ideia genial e engajada... 
mas, comercialmente falando, não muito atraente para um público bitolado 
em super-heróis babacas...

 DANIEL: Quem sabe um desenhista se interessa e um 
dia ela seja publicada? Eu não sei desenhar nem uma
 circunferência com auxílio de um copo. Acho que vou 
mandar para o Bolsonaro!
Também mandei a você e ao André Caliman para avaliarem 
para mim, afinal o André escreveu o divertido álbum 
“Revolta!”, onde também há muita indignação com a 
classe política, mas ele não me respondeu. Leiam 
“Revolta!” que vale a pena, principalmente quando
 algumas figurinhas bem presentes nos 
noticiários são assassinadas.

Tony 49: Acho que essa sua história em formato livro
 pode dar certo... sabe como é, livraria atrai outro tipo de público.
 “Gente mais cabeça”... Você escreve muito bem, tem alto nível... 
já teve algumas experiências como redator ou escritor, 
fazendo freelas para empresas jornalísticas, casas 
editoriais ou agências de publicidade?

DANIEL: Nenhuma, Tony. Uma das minhas frustações é
não escrever, eu sou muito pouco objetivo. 
O primeiro texto que gostei de escrever foi uma 
esculhambação de um trabalho de feira de 
ciências de um ex-namorado da minha irmã. O cara quis copiar 
um trabalho meu da faculdade e eu “acrescentei” 
um ítem sobre responsabilidade social das
 empresas de ácido sulfúrico, além de umas mensagens 
ofensivas ao longo do trabalho. 
Ele entregou sem saber, tirou nota máxima, daí mostrei 
para meus amigos e parentes que riram bastante (meu pai 
odiava o menino). Parece que alguém leu uma das fotos 
do trabalho no mural, ele levou uma bronca e veio
reclamar disso uns dois meses depois. 
Mas o texto estava bom!
Eu enviei um roteiro de terror para o Chibilski 
recentemente que parece ter caído mais no agrado.
 Creio que este ele irá publicar, 
e já fiz uma espécie de sequência.

Tony 50: Beleza, espero que em breve possamos ler uma HQ 
com o texto criado por Daniel Saks. Me avise quando for publicado... 
Há algum tempo atrás, você me mandou um e-mail... você 
estava no Oregon, “fuçando” nas comics books onde encontrou
edições encadernadas da Marvel e da DC, se não me engano.
Pelo jeito os gringos também encadernam seus encalhes... 
Rssss. Você estava viajando a passeio ou a negócios? É comum,
na sua profissão, essas incursões ao exterior, 
onde você acaba  aproveitando para incrementar 
seu rico acervo de gibis?

DANIEL:  Quando é necessário utilizar mais recursos
e laboratório para algum projeto, nossa matriz lá nos 
EUA é mais bem equipada. Fui lá duas vezes, uma em 
2008 e outra em 2012. Já estive em treinamento e a 
trabalho em outros países. Os dois mais interessantes
 para os quadrinhos que gosto (e consigo ler) foram a
 Argentina e os EUA.
Devido ao Mercado Direto nos EUA não há encalhes
para as editoras e sim para “comics shops”, os
encadernados seguem a mesma formatação 
que a Panini exerce hoje em dia no Brasil, são originais.
O que me deliciei comprando nos EUA foram gibis da 
DC da década de 1980 a US$ 0,20 cada! Comprei várias
edições de Novos Titãs, Monstro do Pântano e 
Liga da Justiça daquela época. Comprei completa 
a coleção Atari Force
(20 números e um especial) por US$ 10,80! Também 
trouxe material da extinta First Comics (materialzinho
joia que a Cedibra e a Abril nos deixaram com água 
na boca, pois publicaram bem pouco). Nesses preços
não dava pra não aproveitar. Os encadernados 
seguiam preço de capa.

Tony 51: Preços, de fato, convidativos e imperdíveis...

DANIEL: Uma curiosidade, mais ou menos em 2011 foi revelado 
num desenho dos Simpsons que a Springfield do desenho é a do Oregon, a cidade não se parece nem um pouco, mas a comic
shop é inspiradíssima. O vendedor mais velho da loja,  Steve, 
parece o próprio personagem vendedor do desenho só que já tem cabelos brancos. Todo resto está lá, cavanhaque, óculos, cofrinho e tamanho, a diferença é que o Steve é uma mãe. De todos os vendedores, você nem precisa pedir desconto, ele já cobra metade 
do que a loja pretendia cobrar. Uma outra moça, que até arranha 
umas palavras em português, é quem enfia a faca.

Tony 52: Uma tupiniquim cruel... Rsss...

DANIEL: Em 2001 estive na Alemanha e na Bélgica, não
 vi nada além de vitrines e alguns Disney em supermercados.
Já na Argentina em 2000, 2001 e 2008, aproveitei uns saldos 
que as sucessivas crises político-econômicas 
forçavam as livrarias e lojas a fazerem, trouxe
 Mafalda, Inodoro Pereyra, livro teórico, 
Patoruzú e os derivados. Os argentinos fazem a festa vendendo 
para um brasileiro, eles gostam muito da gente.

Tony 53: Estive por duas vezes na bela Buenos Aires e o povo é muito receptivo, adoram a gente. Nossas diferenças são apenas no campo de futebol... Pelé ou Maradonna? Uma bobagem. Ambos são craques
imortais...  Patoruzú e Patoruzito são clássicos que nunca foram 
editados no Brasil, eu acho...  


Gibiteria paranaense
DANIEL: Em 2001 um dos livreiros argentinos adorava o 
Brasil, falador e irônico, veio me dizer que tinha muita 
certeza de que o Brasil daria certo, pois tinha esperança 
que o Lula seria presidente. Na época falei para ele que
 não havia chance. Ele ganhou de mim no resultado da 
eleição, eu ganhei dele na questão de dar certo.


Tony 54: Pelo visto el Hermano não conhecia nada sobre o
 Lula, o PT ou sobre os irresponsáveis políticos tupiniquins. 
Rsss... Você é casado... sua esposa nunca tentou colocar fogo
no seu rico acervo? Rsss... a minha, vira e mexe
ralhava por causa da minha mania de juntar “tranqueiras”, 
segundo ela... Rsss...

DANIEL: Ela odeia, a coleção é o meu filho mais velho. 
Toda mudança de casa que fizemos e quando construímos
a casa de Ponta Grossa sempre tem que avaliar o 
espaço da casa para ver se cabe a coleção, depois
estudamos a alocação dos três filhos.
Já estava preparado quando casei, meus pais me
treinaram a vida inteira reclamando da minha coleção.
Pelo menos de boa parte dos repetidos já 
me livrei trocando e vendendo.

Tony 55: Certa vez, minha cara metade, jogou fora um 
cavalete de pintura que eu adorava, alegando que aquilo 
estava ocupando espaço... é mole? Rsss... a baixinha era cruel... 
gente boa, mas cruel...

DANIEL: Minha esposa não se atreve a jogar meus gibis
fora, mas volta e meia umas roupas somem. 
Eu me dou conta bem depois.

Tony 56: Não deve ser fácil, para elas, aguentarem malucos 
como a gente... Rsss. As baixinhas sofrem, my brother. 
Você também coleciona Tex, o ranger da Bonelli? 
Possui todas as edições lançadas no país, pelas diversas editoras?
Tem edições italianas, também?

DANIEL: Da Bonelli tenho bem pouco material, somente 44 
edições. Não aprendi a ler Bonelli ainda. Os admiro pelo
padrão editorial que possuem. São uma indústria de
fazer series regulares de qualidade.




HQs CLÁSSICAS MUNDIAIS...

Tony 57: Na sua opinião, quais são os grandes clássicos das HQs
 mundiais, de antigamente e da atualidade?

DANIEL: Eu gosto de dizer que se houve algum ponto de 
partida para os quadrinhos serem chamados de arte,
foram Little Nemo, Príncipe Valente e as duas
primeiras fases do Tarzan (Foster e Hogarth). Na Europa, Tintin.
Avançando umas décadas alguns quadrinhos começaram 
a fazer o povo pensar, ponho nesta lista HQs como 
Mafalda, Ferdinando, Pf eifer, Peanuts e gostaria de ter lido Pogo,  
acredito que estaria aí. Nessa época o 
Eisner brilhou com o Spirit.

Tony 58: Pogo de Walt Kelly, segundo os entendidos, foi a
primeira HQ a apresentar animais humanizados. Há quem afirme 
que o Disney se inspirou nessa antiga serie para criar o universo
de seus personagens. Vi algumas edições 
no acervo do Paulo Hamasaki...

DANIEL: As HQs não são exatamente um clássico, 
mas devemos ressaltar a importância da Entertaining Comics
na História dos Quadrinhos.
Depois vieram muitos clássicos, do Underground de Crumb 
e Shelton; Barbarela, Asterix e Incal. Do Brasil gostaria de incluir 
o Ziraldo e Henfil, eles iniciaram uma escola de excelência 
para os quadrinhos nacionais. Se os anos 1980 foram perdidos 
na economia, não foram na área cultural. Cavaleiro das 
Trevas e Watchmen merecem suas menções honrosas,
pois definiram o novo padrão da indústria, além de que 
fizeram os quadrinhos ressucitarem na América. 
Dark Knight foi até comentado na Rolling Stone,
mas a HQ da década foi Love e Rockets.

Tony 59: Love e Rockets é um clássico, na minha opinião.

DANIEL: A partir da criação da Image em 1992 e a Vertigo
como reação em 1993 não dá para dizer que vieram divisores 
de água no Mercado, pois tudo se diversificou de uma
maneira intensa, muita coisa boa de impacto sendo produzida. 
Talvez Sandman, por ser o material mais reeditado.
Os eventos Image e Vertigo são importantes no poder de 
negociação que conferiram aos artistas em relação à editoras. 
Exemplo são as fortunas e remunerações logradas por 
alguns autores como Neil Gaiman, Todd McFarlane, 
Jim Lee e agora o Robert Kirkman.



Tony 60: Os caras faturaram e faturam alto... 
Quem é Daniel Saks? 
Dá para se autodefinir?

DANIEL: Apenas mais um cidadão anônimo

no meio da multidão. Um Zé Ninguém lutando
dia a dia arduamente para morar, educar os 
filhos e se divertir. Minha maior preocupação 
hoje é com as questões ambientais. 
Não como mais carne e só utilizo 
automóvel para transportar a família e ir ao trabalho.
Meu veículo preferencial é a bicicleta. Meu principal hobby são 
os quadrinhos, algo que já não me dedico como antes devido 
aos compromissos profissionais e familiares. Gosto de conhecer
pessoas e aqueles mais esquisitos são os
que mais me chamam atenção.
 
Tony 61: Um sonho?

DANIEL: Atualmente, poder dormir de janela aberta, sem 
medo da minha casa ser invadida. Ver meus filhos chegarem 
à vida adulta bem educados.


FRUSTRAÇÕES...

Tony 62: Legal... Uma frustração?

DANIEL:  Várias, a principal é acordar todo dia num país 
dominado pela Lei de Gerson (lei de levar vantagem
em tudo), levar a vida honestamente é muito caro e 
difícil no Brasil. E não tenho esperança alguma que
o país vá melhorar. Minha esposa é professora
 de nível fundamental 
e médio em escola pública de periferia. 
Eu não consigo entender uma avaliação que os alunos 
dela fazem, parece um outro idioma. 
O governo incentiva essa massa de gente desinteressada 
com o futuro a continuar regredindo socialmente.
Toda vez que procurei a justiça (via Procon, ou Juizado 
Especial) foi uma decepção, parecia que eu era o réu. 
Construindo e comprando casa fui enganado por gente
espertalhona. Uma vez tive que organizar meus vizinhos 
para lidar com um foco de incêndio perto da minha casa em 
Ponta Grossa, pois o bombeiro me ameaçou de enviar 
a polícia para me prender por duvidar dele, mas
ele tinha direito de duvidar de mim. 

Duas vezes já fui multado por falar ao celular dirigindo, 

na primeira eu nem usava celular (é contra meu estilo de vida),
a segunda foi numa cidade de Santa Catarina que eu nunca estive! 
Você acha que algum dos meus recursos foi atendido?
Esse nosso país, que é mais fácil de amar pela História 
do que pela realidade, vimos em 2013 toda aquela movimentação
popular nas ruas. Entre as várias coisas que estavam 
pedindo eram médicos.

Pediam com razão, porém por que também não pensam em 

virarem profissionais capazes como bons médicos, engenheiros, pedreiros, mecânicos, eletricistas, cozinheiros, motoristas, atendentes, jornalistas...? 
Uma frase do presidente Kennedy resume bem o que faz
uma nação séria e forte: “- Não pergunte o que o seu país 
pode fazer por você, e sim o que você pode fazer pelo seu 
país!”, aqui no Brasil nós esperamos o que a boa terra 
pode nos dar. Um dia um pedinte duns
40 anos me abordou numa loja, diante da minha negativa 
em lhe dar uns trocados, ele veio me perguntar que tipo de
país era o Brasil que não o ajudava! Eu me pergunto, 
o cara se ajuda?

 Meu INSS e meus impostos são pagos todo mês.
Até uns vinte anos atrás toda criança brasileira queria
ser jogador de futebol, até aí eu entendia. 
Depois entraram os pagodeiros e funkeiros no
rol de ídolos, ainda vai. 
Agora, os traficantes servem de modelos a 
serem seguidos por boa
parte das crianças. Duvidam? Vão ver os noticiários, 
estão cheio de professores agredidos e assassinados.
Alguém tem como ídolo o Willian Bonner, o João Dória Jr, 
o Dr Drauzio Varella, O Cel Delmiro Gouveia, ou o José Bonifácio? Aposto que não. Se me perguntarem se tenho um ídolo, 
vou falar que é o Anselmo da Banca Avenida de Ponta Grossa, 
que trabalha de Domingo 
a Domingo das 7h00 às 20h00, nunca tive coragem
de reclamar da minha rotina para ele.


TO BE OR NOT TO BE...

Tony 63: A realidade é cruel, mas taí no nosso dia a dia... 
só não enxerga quem não quer... Você se considera um expert
em HQs, ou curte a coisa apenas como hobby?

DANIEL: Não, não me considero. Admiro o trabalho de muita 
gente que realmente entende do mercado de HQs porque 
viveu nele. E há uma galera de jovens e velhos que realmente se empenham em conhecer os bastidores. Jamais poderei
me considerar expert quando penso nesse pessoal.
Eu não entendo de arte e sou fraco de redação, pode ver
que os artigos que escrevi e as respostas que dou são 
interpretações de histórico e números de mercado. 
Nem ouso analisar narrativas e estilos artísticos. 
Sou apenas um colecionador com 
bastante amor à esse tipo de mídia.


HQs DIGITAIS E ANALÓGICAS

Tony 64: Mas, tem uma lucidez surpreendente sobre o mercado 
editorial e um bom conhecimento sobre HQs e seus autores... 
Quadrinhos: Digitais ou analógicos?

DANIEL: Os dois são quadrinhos, eu não gosto de 
ler no formato digital e li pouquíssimos scans. 
Acho os scans uma sacanagem e pirataria na maior parte 
das vezes, porém agradeço o pessoal que reproduziu
material que as editoras aqui abandonaram, como 
é o caso da Patrulha do Destino do Grant Morrison. 
Também uso os scans para restaurar gibis antigos com páginas faltando. Detalhe, todo o scan que li de material publicado 
no Brasil eu comprei a edição impressa.

Tony 64: Você é um grande incentivador dos autores brasileiros. 
Parabéns... se todos fossem assim, como você, o mercado 
seria diferente. Pode acreditar... As HQs digitais, num futuro não 
muito distante, podem acabar com as edições físicas, ou vão conviver harmoniosamente?

DANIEL: Não acredito na substituição a médio prazo, mas elas 
tendem a crescer na participação de mercado. As digitais são
mais baratas, práticas e têm menor custo para o editor, 
e isso as fará ganhar consumidores. Só não entendo ,
que valor têm para colecionadores, minha coleção é só de impressos.
Brinco com todo mundo, que quando os quadrinhos migrarem totalmente para o formato digital eu ficarei rico, 
pois não irei mais comprar gibis.

Tony 65: Sem dúvida, vai economizar uma puta grana... Rssss...

DANIEL: Eu gosto de comparar essa discussão com os discos 
de vinil, eles deram uma sumida do mercado, somente
colecionadores os valorizaram, de uns anos para cá tenho visto gravadoras de vinil surgindo e esse mercado crescer. Para mim, 
que não consumo discos, foi uma grata surpresa. Conheci no ano passado um casal que abriu uma loja só de discos de 
vinil novos em Curitiba!


GRANDES AUTORES DE 


HQs NACIONAIS

Tony 66: As coisas não morrem assim fácil, sempre existirão
aqueles que curtem. Só que passam a custar caro, por serem
dirigidos a pequenos nichos...  Dos quadrinhos feitos por brasileiros,
que foram editados no país, quais você considera clássicos?

DANIEL: Com certeza vou me esquecer de muitos, então 
citando as ligeiras passadas pela cabeça e excluindo quem
publicou mais a partir de 1980 (me desculpem Marcatti,
Luiz Gê, Angeli e Laerte) vai uma listinha: A Guerra do 
Reino Divino de Jô Oliveira; Fradim do Henfil; qualquer
 rascunho do Flávio Colin; 
Mirza e Morto do Pântano do Colonese; Drácula do Zalla; 
Lobisomem do Nico Rosso...
Não me agradam as quadrinizações de obras, mas na época
 da Ebal foram produzidas verdadeiras obras de arte, 
como Lusíadas e Casa Grande e Senzala.

Tony 67: Tive o prazer de conhecer pessoalmente, quando do 
lançamento de Casa Grande e Senzala, em quadrinhos, o desenhista 
e o escritor da obra. Tinha um exemplar autografado por eles, 
que acabou desaparecendo...

DANIEL: É difícil listar trabalhos clássicos brasileiros, 
eu gostava mais do mercado como era antes, tínhamos 
mais coleções periódicas do que obras autorais, 
edições únicas e coisas do tipo. Havia um refinamento 
na arte também que hoje já não é tão 
cartesiano devido às quebras de paradigmas
trazidas pelos alternativos.
e fosse apenas listar os artistas seria uma lista
infindável de autores que trabalharam na
D’Arte, Vecchi, Bloch, RGE, Abril...


UM FANÁTICO SEGUIDOR 
DO FANTASMA



Tony 68: Ok... prosseguindo... Futebol... paixão nacional, 
quase uma religião.Vamos falar sobre esse esporte que, em
 geral, o brasileiro adora. Você me disse, por e-mail, que torce
 para um time que há séculos 
não ganha nada e, na época, até zombou do meu glorioso 
Corinthians Paulista (time de masoquista e maloqueiro), afirmando que o meu 
time não tinha estádio próprio, mas que o seu time tinha. O meu Timão 
já tem estádio (apesar da dívida monstruosa que ganhamos por conta 
da abertura da Copa do Mundo de 2014 ter sido realizada nele – tudo
 armação do Lula – um corinthiano roxo e do então presidente do clube),
o seu time já ganhou algum Campeonato, nesse entretempo? Rssss...

DANIEL: Não, nada. O Operário Ferroviário Esporte Clube, 
popular “Fantasma”, principal time da Capital do Mundo 
tem uns dois títulos paranaenses nebulosos na década 
de 1960 apenas, tapetão, não devolução de taça e 
campeonato dividido em dois estão nesses títulos.
 Fora, isso há uma série de taças municipais conquistadas.



Tony 69: Taças conquistadas... menos mal.

DANIEL: O Operário avançou em outros quesitos que o 
aproxima dos grandes times, já temos programas filmados
na internet, associação de torcedores, plano de sócios,
página na internet e agora a torcida organizada também 
hostiliza torcedores de outros times. 
Aquilo que era o mais apaixonante no time, uma torcida
cosmopolita e que se
divertia de si mesmo, agora é um bando de extremistas 
quando estão em bando.

Tony 70: Torcida organizada, que arruma confusão... parece 
que isso faz parte da “evolução” das torcidas de futebol do país,
que não vão mais para os estádios para assistir um bom 
espetáculo. Comparecem para brigarem. Tirar as neuras, 
infelizmente...esses torcedores jovens e arruaceiros 
devem ter merda na cabeça...

DANIEL: Por enquanto não há brigas no estádio, acho que 
é uma questão de tempo, mas já não há a diversão 
interiorana das figurinhas carimbadas da arquibancadas 
como havia antes.


O monumental estádio do Fantasma

Tony 61: Os quebra-quebras serão fatais, pode acreditar... é só 
questão de tempo. O exemplo vem dos grandes times das
 capitais... Porém, o interessante é que você me disse que
 o seu time está “zicado”, ou seja, não vai para a frente porque
 fizeram macumba para prejudicá-lo... Rssss. Dá pra contar
 direito essa história ou é lenda?

DANIEL: É uma lenda que no começo eu não prestei 
atenção quando me contaram, e já escutei de várias 
fontes com diferenças (característica típica das lendas), 
não conheço em detalhes, então vou contar o que sintetizei:
Algumas década atrás um jogador que não recebeu salário 
do clube rogou uma praga de que o time jamais seria 
campeão se ele não recebesse, isso aconteceu no final 
dos anos 1960, e deu certo! Uma vez em 2007 ou 2008, 
assistindo um jogo do juvenil, tinha um senhor mal 
encarado do meu lado na arquibancada, comecei a 
puxar conversa com ele e falei do time ter essa sina
de nunca ganhar nada. 

Ele disse que viu o feiticeiro 

fazer uma macumba atrás de um dos gols do estádio 
(o da rede ferroviária); ele até comentou que pediu para
o gestor do time da época, o deputado Jocelito Canto
 (aquele que num top five do CQC pediu aos colegas 
parlamentares assumirem na boa que todo mundo 
usava caixa 2), chamar um outro feiticeiro para desfazer
o trabalho. Eu ria sozinho de imaginar um deputado
escutando uma sugestão dessa.

Tony 62: Rssss... quer dizer a macumba, a maldição, pegou
 mesmo? Rssss... essa lenda é ducacete... Rssss... até 
o deputado... isso foi insuportável...Rsss...

DANIEL: O fato é que o time não ganhou títulos nunca 
mais, mudou de nome, ficou desativado um bom tempo, 
voltou em 2004. Em 2005 depois de uma campanha e
um time fabuloso o time perdeu a classificação para a 
primeira divisão do paranaense nos últimos minutos
(com uma bela ajuda de um árbitro da FIFA que estava 
suspenso na época), foi logo depois de um diretor 
do Operário ter denunciado à ESPN Brasil que
se sacrificava agradando a arbitragem antes 
dos jogos e deflagrou 
o escândalo do Bruxo no Brasil todo.

Tony 63: O tal juiz ladrão, ele deve ter sido subornado pelo tal bruxo
ou pelo jogador que rogou a praga, por ter recebido calote do clube... 
Rsss. Só pode ser...

DANIEL: Em 2008 disputando contra o Foz do Iguaçu o acesso 
à série A, tínhamos um time meia boca e um técnico que tirou leite
de pedra na temporada. Saímos do primeiro jogo em PG 
com a vantagem de um gol, chegamos em Foz com a vantagem 
do empate e fizemos um gol no início do jogo.
O técnico arma uma retranca danada, no começo do segundo
tempo o Foz empata.
Faltando cinco minutos para terminar o jogo o Fantasma 
comete penalty, 2 x 1 classificava o Foz.
Antes do Foz cobrar tiraram 
o time de campo para o jogo não acabar!

Tony 64: Que merda...

DANIEL: Teve na ascensão à primeira divisão em 2009, o
Operário, já classificado, entrou na última partida precisando
empatar para ser campeão, só perderia o título se perdesse 
a partida e um outro time com dois anos de idade da cidade 
de Prudentópolis ganhasse a outra partida. Pois bem, o 
Operário tomou um gol na hora do apito, pois o 
outro time também ganhou!

Tony 65: Prudentópolis... cacilda, nunca ouvi falar desse time.
É muita falta de sorte, né? Vocês precisam levar um padre
pra exorcizar o time e toda a agremiação... a coisa tá feia,
mesmo... perder pro Prudentópolis é sacanagem, Dan...

DANIEL: Na primeira divisão a partir de 2010 fizemos duas
boas campanhas com bons times montados, fomos para a 
serie D do brasileiro em 2010 e 11, mas era pretensão ganhar
o Paranaense.
No ano do centenário (2012) participamos da Copa do Brasil. 
Porém a cada ano as campanhas e o time ficam pior, é difícil 
segurar plantel sem ter um calendário.
Em 2013 fomos nulos no primeiro turno. 
No segundo estávamos bem embalados e com chance 
de ganhar o turno para fazer a final com o Coxa, perdemos
o turno na penúltima rodada perdendo em casa para o 
Nacional de Rolândia, já rebaixado que havia conquistado 
apenas dois empates no campeonato inteiro!



Tony: Rolândia? Que nome mais esquisito, erótico, sugestivo... Rsss...

DANIEL: Em 2014 disputou o torneio da Morte para decidir quem 
rebaixava. Pelo menos nesse grupo fomos primeiro invictos e nos salvamos.

Tony 66: Até que enfim... o time deu uma dentro...

DANIEL: Trata-se de um clube de gestão muito fraca e uma
estrutura amadora para almejar alguma coisa. Já que o 
trabalho é incompetente, fica mais bonito falar da praga do ex-jogador. 
Vou lhe contar um segredo, o pai do Franco de Rosa, 
o "seu" Alceu, ele já jogou no Fantasma... quando o franco
morou na "capital do mundo". Rsss...

Tony 67: Putz... então o velho era um "perna-de-pau".
Não ajudou o time a conquistar nada. Lamentável, bengala Franco... Rsss. 
Também pudera, depois da macumba... Rsss. Pelo visto, a praga rogada
pelo jogador prejudicado financeiramente “fubecou” o clube mesmo, né? 
Vão ter que chamar um exorcista para tirar a “zica”... Rsss... 
essa foi duka... era melhor terem pago o coitado do jogador 
que tinha uma boca maldita... Rssss... você não existe, cara... Rsss...





DANIEL: Quem quiser saber mais sobre a história da maldição
há uma entrevista no youtube (tio Lore torcedor Operário),
mal dá para entender o dialeto pontagrossense do velho
Lorival, mas é engraçado.
Para saber mais a História do time no youtube há uma 
reportagem especial de 100 anos em duas partes da 
retransmissora da Globo aqui de Curitiba (RPC), com 
a querida jornalista Dulcinéia Novaes.

Tony 68: Vou lá conferir. Deve ser divertido... Mesmo assim, 
você segue o time onde quer que ele vá jogar. Isso é incrível... 
e eu que achava que corinthianos são masoquistas, pelo visto 
estava enganado... Rssss. E você, ainda sonha em um dia se tornar
presidente dessa “gloriosa equipe”? Isto é sério ou piada,
bengala brother?

DANIEL: Não, com certeza quero apenas ser um torcedor
identificado com o time, isto é, honesto, sobrevive 
com baixo orçamento e é operário como eu (somos um país
 de operários, teve até um presidente operário).
Enquanto estava na segundona do parananense, eu cheguei 
até a dar cestas básicas para o time e viajar para fora de PG, 
fui até citado em reportagem na Gazeta do Povo.



Tony 69: Cestas básicas... isto é que é amor ao time. 
Pelo visto, o pessoal tava mesmo na “pindaíba”...

DANIEL: Quando o time subiu para a primeira, eu estava já 
em Curitiba e ficou difícil e caro de acompanhar, mas escuto 
todos os jogos pelo menos.
Quando há jogo em Curitiba eu sempre sou filmado, 
meus amigos sempre me vêem nas transmissões dos jogos. 
No último jogo contra o Coxa (2014), vieram me entrevistar por ser 
o único torcedor do Fantasma no campo, depois no 
segundo tempo 
chegaram outros torcedores.

Tony 70: Fantasma? Acho esse apelido genial...

DANIEL: A primeira foto do meu filho fora da sala de parto foi com
a camisa do time. Ele com um ano e poucos meses já fazia uma
das coreografias da torcida.



Tony 71: Pobre garoto... quando souber a história da

“zica”, na certa, vai ficar traumatizado... Rsss.  Dan, conversar com
você é sempre muito bom e divertido. 
Esta entrevista foi uma das mais elucidativas que já fiz 
sobre o mercado das HQs. Grato, por seu depoimento
e por suas diversas colaborações para os blogs. 
Muita paz, saúde e felicidades nesse ano que se inicia, parceiro. 
E espero que o seu time de coração esse ano chegue lá! E que essa
“zica”, que jogaram nele, perca o efeito... Rssss. Essa história da “zica” 
é duka, é sensacional... Rssss... quase chorei de tanto rir... sério... acho
que a diretoria do meu Timão e de outros clubes esportivos também 
deveriam recorrer a um bom “Pai de Santo”, quando as coisas não vão bem... 
e jamais darem calotes sem seus atletas... Rssss....

DANIEL: Eu volto a agradecer pela honra, Tony, você é
um bom amigo. Lhe desejo a continuidade do sucesso. 
Quem sabe 2015 é o ano do Operário? E do mercado de
HQs também? Eu lembro que uns anos atrás um cartunista 
disse que iria fazer uma charge sobre esta história
da praga que você gostou tanto, vamos ver se ela aparece!

Tony 72: Demorei, mas não esqueci e, por fim, cumpri. 
Eis a sua charge abaixo, Dan. E, desculpe-me pela demora... 
Quem quiser entrar em contato com você (outros colecionadores, 
para fazer um intercâmbio “gibizal”, etc), como deve fazer?
 Tem um e-mail ou fone que gostaria de deixar aqui? 
Fique a vontade... a casa é sua, grande Daniel Saks...



DANIEL: Podem entrar em contato comigo no meu e-mail 
pessoal, dcosaks@yahoo.com, terei prazer em me 
corresponder, porém como disse, quem sou eu?
Tony 73: Alguma consideração final? Cara, foi um “prazerzaço”
trocar ideias contigo. Você tem alto astral. Valeu e até a próxima. 
Grande mano amplexo!

DANIEL: Poxa vida, depois de todo o bate-papo legal 
fica difícil terminar, tem muita coisa ainda a se falar.
Poderia pedir pra todos os profissionais das HQs não
 desanimarem diante das dificuldades, se estivermos 
com a lama até o pescoço e 
olharmos para baixo, só vamos ver lama. É a hora que mais 
temos de nos motivarmos. Saibam que comigo terão sempre 
um entusiasta. Abraços a todos e prosperem!
Tony 74: Depois dessa fantástica e hilariante entrevista, 
só me resta me despedir. Até a próxima, cowboy! 
See you later! Be well! 


Daniel Saks e família após curtirem um show de rock do Ira

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