sexta-feira, 21 de julho de 2017

ENTREVISTA COM MARCOS MALDONADO, O MAIS FAMOSO LETRISTA DO BRASIL!



Quem leu fotonovelas e histórias em quadrinhos nos últimos 

cinquenta anos com certeza cansou de ver o nome do nosso 

entrevistado de hoje estampado nos créditos de diversos 

gêneros desse tipo popular de publicações, tanto nas

nacionais quanto nas estrangeiras. O trabalho dele e da esposa é,

sem dúvida, de suma importância para o setor

editorial nacional, caso contrário nossos personagens 

favoritos ficariam mudos. A seguir, curta o interessante 

depoimento que tive o prazer de colher de...

MARCOS MALDONADO,

O MAIOR LETRISTA DO BRASIL!


Dolores e Marcos Maldonado - O Casal 20 das HQs

TONY 1: Meu velho e querido amigo saiba que é
uma grande satisfação poder bater um papo com 
você que, na certa, tem boas histórias para contar...

MALDONADO: É pra mim um grande prazer ser
entrevistado por você, Tony, que praticamente 
vi surgir na arte das histórias em quadrinhos e
 que com muita capacidade atingiu um degrau tão
alto se tornando um dos grandes desenhistas do Brasil.

TONY 2: Quem? Eu? Que é isso... Bondade sua... 
Quando eu era adolescente lia muitos gibis e cansei de
ver o seu nome e o da Dolores em diversas publicações.
Na época, eu nem sonhava em me tornar um profissional 
da área - apesar de gostar de escrever e rabiscar – 
e muito menos poderia supor que um dia eu iria conhecê-lo pessoalmente... conta pra mim, como e quando você 
decidiu a começar a fazer letras para 
histórias em quadrinhos?

MALDONADO: Foi no final de 1969, como eu tinha
me desligado da empresa onde trabalhei por 9 anos 
como torneiro mecânico, quis tentar trabalhar por conta 
própria, comprei uma perua Kombi e fui trabalhar como
 motorista transportando equipes de vendedores de 
carnê viajando para cidades fora de São Paulo, 
um trabalho que não estava dando muito certo, foi 
aí que  meu irmão Antonio Maldonado que já era letrista
da Editora Abril incentivou-me a fazer letrinhas, pois
quando estudava mecânica eu sempre tinha ótimas
notas em caligrafia técnica, foi a partir daí que iniciei
a minha trajetória no mundo das Histórias em
Quadrinhos, começando por editoras menores 
até chegar nas principais editoras do Brasil,
fazendo letras de super-heróis, Disney, aventuras, 
suspense, terror e tudo que se relacionava com
Histórias em quadrinhos.

TONY 3: O mundo perdeu um torneiro mecênico, mas 
ganhamos um dos mais importantes letristas de HQs do país... interessante... Rsss. Este seu irmão merece uma medalha. 
Ele foi o cara...  Segundo meus espiões, você e a Dolores 
também foram astros de fotonovelas – antigas revistas que, 
em geral, contavam histórias românticas através de fotos 
com balões letrerados. Como surgiu a oportunidade de participar daquelas produções que vendiam muito na década de 60 e70?

MALDONADO: Bem, na década de 1960 durante um 
tempo fui ator de teatro participando de algumas 
apresentações e festivais, no Teatro Arthur Azevedo 
em São Paulo, citando algumas peças, O Auto da 
Compadecida, Mortos sem Sepultura, do autor Jean
Paul Sartre, e outras. Como na época estavam em moda 
as revistas de fotonovelas, minha irmã Ana era montadora 
de fotonovelas da Editora Abril montando as revistas que 
meu irmão Antonio letrerava, e meu cunhado Antonio 
Girão era fotógrafo da Polícia Militar surgiu a ideia de
formar um grupo,  arrumamos algumas histórias e 
adaptadores e iniciamos o trabalho, como a revista 
Melodias na época trazia notícias sobre artistas de 
televisão e como complemento publicava uma fotonovela 
resolvemos produzir uma completa e apresenta-la ao 
editor que de pronto aprovou e a partir daí passamos 
a fazer uma fotonovela por mês, a Dolores, minha irmã 
Ana, eu e meus irmãos Antonio e Miguel e meu cunhado 
Girão também participávamos  como atores 
de algumas fotonovelas.




    

TONY 4: Vocês participaram de quantas fotonovelas? 
Quem escrevia os roteiros e tirava as fotos? Havia toda 
uma equipe envolvida nos bastidores, como: maquiadores, 
iluminação etc, ou a coisa era feita “nas coxas”?

MALDONADO: Como disse na pergunta anterior o nosso 
grupo era formado por amigos, parentes e atores que 
estavam iniciando a carreira. Devido à dificuldade de 
contratar atores resolvemos fazer o trabalho nós mesmos, 
inclusive participando como atores, fotografávamos em 
praias, fazendas, monumentos e chácaras quando as
cenas eram externas, e nas cenas internas usávamos 
casarões, e palacetes que pedíamos emprestado,
fizemos mais ou menos umas dez fotonovelas para a 
Melodias, o roteiro na maioria das vezes era do meu irmão 
Antonio. As fotos eram tiradas por Adilson Soares e meu 
cunhado Antonio Girão, depois de tiradas as fotos os 
filmes tinham que ser revelados e a partir daí escolher
as fotos melhores, minha irmã Ana Maldonado fazia a 
montagem contando com a ajuda da outra minha irmã 
Encarnação para depois ser letrerada. 
Tudo era feito na raça...
  








Balões que foram letrerados na raça, à mão



TONY 6: Um verdadeiro trabalho em família... bacana.
Quem selecionava aqueles textos? E, quais os critérios 
adotados para aprová-los?

MALDONADO: Com a experiência que tinha em letrerar 
fotonovelas geralmente meu irmão selecionava os textos, 
e depois contávamos com a colaboração do nosso grande 
amigo Ivan Saindenberg para fazer as adaptações. 
Passavam sempre pela aprovação do próprio editor da 
Melodias, que era o Plácido Manaia Nunes, que foi o 
criador do Troféu Imprensa do programa Silvio Santos.

Ivan Saidenberg

TONY 7: Grande Ivan Saidenberg, o homem era genial e
estava em todas. Foi um dos grandes roteiristas das HQs
da Disney, no Brasil... e também fez inúmeros outros tra-
balhos relevantes... Minha nossa você lembrou de um cara
que foi super importante, o Plácido, da Melodias. 
Foi na revista melodias que surgiram as primeiras letras 
de músicas de sucesso cifradas, no Brasil, feitas pelo 
meu amigo Vitor Biancardi, editor das revistas
VIGU (Violão e Guitarra), anos depois, pela Imprima...
Mas voltando ao assunto... 
Em geral, as histórias eram românticas, feitas para as
mulheres. A única fotonovela que conheci e que não era 
romântica foi a serie chamada Killing, lançada pela 
saudosa editora Vecchi, casa editorial que tinha diversos 
títulos de peso na linha de fotonovelas – cheguei até a 
colecioná-la. Se não me engano, Killing era produção
italiana, confere? As letras de Killing também 
foram feitas por você? 






MALDONADO: Existiam muitos títulos de fotonovelas, 
principalmente editadas pela Editora Abril, entre elas
tinham Capricho, Noturno, Ilusão, Supernovelas; e a
Editora Vecchi, publicava a revista Grande Hotel que
era muito lida na época a maioria delas eram italianas
tudo indica que Killing também era, para a Editora Vecchi 
nunca letreramos fotonovelas, somente 
Histórias em Quadrinhos.


TONY 8: Como e quando surgiu a primeira oportunidade
de letrerar uma HQ? Você ainda se lembra do nome da 
editora, da história ou do personagem?



MALDONADO: Como já disse anteriormente comecei a letrerar
no início de 1970, faz tanto tempo que não lembro qual foi a 
editora, me parece que era Editora Outubro, sei que ficava 
próximo do Bairro Cambuci, a história e o personagem 
também não consigo lembrar.





TONY 9: As primeiras HQs que fiz em parceria com o 
mestre Ignácio Justo, para a Minami-Cunha Editores,
na década de 70,  foram letreradas por você. Quando 
entreguei os originais aos editores os balões estavam 
marcados, mas os textos estavam a lápis, em letras de forma. 
Aí eles me disseram: “Pode deixar assim, garoto, que vamos 
mandar letrerar”. Quando vi elas impressas e seu nome nos 
créditos mal pude acreditar. Pensei: “Caramba!
Estou começando a virar profissional!” Você, na época, 
fazia as letras e balões de todos os títulos publicados por 
eles, sozinho? (A Múmia - desenhada pelo Justo -, 
O Lobisomem – desenhada por Nico Rosso -,
Chico de Ogum - escrita por Carlos da Cunha e
desenhada pelo prof. Nico - , 
Oi,Eu Aqui!, Conan etc).

MALDONADO: Para a Minami-Cunha as histórias eram
letreradas por mim e pela minha esposa Dolores, aliás
por a gente ter a letra muito parecida muitas vezes 
letrerávamos os dois na mesma história quando o prazo
era muito apertado e até eu tinha dificuldade em saber
qual era a minha letra ou a dela.





TONY 10: Isto é o que eu chamo de perfeita sinergia...
Rsss... Geralmente, em quanto tempo você 
conseguia letrerar uma edição de 32 páginas, Marcos?

MALDONADO: Na época do letreramento à mão eu era 
muito rápido e conseguia dar conta de todo aquele trabalho,
dependia muito da quantidade de texto de cada história, 
eu letrerava uma média de 15 a 20 páginas por dia, mais 
ou menos 400 páginas por mês.

TONY 11: Como era o seu processo de trabalho e 
que ferramentas você utilizava?

MALDONADO: O letreramento manual começou junto com 
os desenhos de histórias em quadrinhos, naquela época 
não existiam outros métodos, cada letrista tinha sua
fonte de letras próprias, as vezes até parecidas, no início 
usava-se nanquim com uma caneta de pena, depois 
vieram aquelas canetas tinteiro recarregáveis com 
nanquim muito usadas por arquitetos e desenhistas 
de plantas, e que veio facilitar muito o nosso trabalho, 
as pontas dessas canetas tinham várias bitolas de 
diâmetro e eram usadas de acordo com cada tamanho
de letra, eu e a Dolores usávamos as canetas Rotring,  
desde 0.2 até 1.2 e o nanquim Talens que era de ótima 
qualidade, o nanquim tinha que ser de boa qualidade, 
caso contrário quando o desenhista ia apagar os
traços do lápis corria o risco de apagar as letras.

TONY 12: Dava para viver exclusivamente daquele 
tipo de trabalho ou você exercia uma profissão
paralelamente?

MALDONADO: É, Tony, tínhamos tanto trabalho que não
nos restava tempo para outras atividades, o trabalho de
letrista sempre foi suficiente para o nosso sustento, e 
foi através das letrinhas que conseguimos ter uma 
certa estabilidade.

TONY 13: Maravilha... Quando, como e por quê sua 
esposa, Dolores, decidiu ajudá-lo a letrerar os gibis?

MALDONADO: Olha, Tony, tem coisas que pouca gente 
sabe e através desta entrevista vou revelar, a minha 
esposa Dolores iniciou na carreira de letrista antes de 
mim, quando eu ainda trabalhava na fábrica de Elevadores 
Atlas ela já havia praticado o trabalho de letreramento e
através do meu irmão Antonio já tinha letrerado algumas 
histórias, foi também um dos motivos para que eu 
entrasse na profissão.

TONY 14: Isto é incrível, grande guru. Então ela fez
primeiro e você foi no embalo dela e da família... 
bela e grande revelação... Rsss. Cacilda, a comadre era 
arrojada pra época. No final dos anos 70 comecei a fazer
frilas para a editora Noblet, fazendo as aventuras cômicas 
do Capitão Savana e jogos e passatempos para as revistas
da casa. Daí descobri que o letrista oficial daquela editora
era você. Pensei: “Caceta, o cara está em todas!” Rssss... 
Como e quando você conheceu o senhor Joseph Abourbih, 
proprietário da Noblet e quando começou a trabalhar com
as revistas dele?(Akim, Carabina Slim, Mister No, 
Vampirella, Textone e Guidapp Joe).







MALDONADO: No início de 1970 fomos procurados por
um colaborador  do senhor Joseph Abourbih, era o 
Francisco de Assis, que pediu que fôssemos até a
Editora Noblet, que ainda era na rua Marquês de Itu número 
88, próximo da Praça da República  foi aí que tivemos a 
primeira conversa com o senhor Joseph e dali já levamos 
o material do primeiro Akim e a partir daí passamos a 
letrerar por muitos anos todas as revistas da Noblet.
O saudoso Joseph, foi quem me deu a grande 
oportunidade de iniciar na profissão de letrista, 
ele desde o início demostrou 
confiança no nosso trabalho e a partir daí passamos a 
letrerar todo tipo de revistas da editora, também deu 
oportunidade para muitos artistas de Histórias em 
Quadrinhos que ficaram famosos mas que na época
estavam começando e procurando uma oportunidade, 
comigo sempre foi uma pessoa muito leal e amigo, 
ele tinha o costume de quando a gente entregava 
o material, fazer um cheque e pagar na hora, 
o que era muito bom.  




TONY 15: Com que outras editoras
você também colaborou?

MALDONADO: Colaborei com várias editoras, entre
elas estão a Editora Abril, Vecchi, Ely Barbosa, Ideia 
Editorial, Spell, Taika, Minami-Cunha, Saber, Ebal, 
pra editora do Salvador Bentivegna, para o Rui Perotti, 
Noblet, e atualmente sou colaborador da Mythos 
Editora, são as que no momento consigo lembrar.










TONY 16: Com o tempo descobri como o seu trabalho
era fundamental, afinal, nós os desenhistas, em geral,  
somos péssimos letristas. Sou o exemplo vivo disso. 
Rsss... Há raras exceções como o saudoso mestre 
Edmundo Rodrigues que fazia o trabalho completo.
Assim, você, a Dolores e Lílian Mitsunanga 
(letrista oficial da ed. Abril), apesar de não 
escreverem ou desenharem ganharam notoriedade
no mundo dos quadrinhos.
Você tem ideia de quantas páginas letrerou 
nas últimas décadas?

MALDONADO: Seria muito difícil calcular, são 
47 anos letrerando mas com base na minha 
produção por mês eu calculo que tenha 
letrerado umas 200 mil páginas.

TONY 17: Quais são os personagens famosos 
nacionais que você ou vocês letreraram?







           
TONY 18: Internacionais?

MALDONADO: São muitos, Tony, vou citar alguns 
que me recordo entre nacionais e internacionais:
Akim, Tex, Zagor, Mister No, Conan,  Vampirella, 
Drácula, Tex-Tone, Giddap Joe, Fantasma, Mandrake, 
Tico e Teca, Boris Karlof, Capitão Bigbom, Mister Magoo,
O Gordo, Trapalhões, A Múmia, Lobisomem, Chico 
de Ogum, Júlia, Espoleta, Chet, letrerei para a 
Editora Abril revistas Disney e Super Heróis, e em 
1975 tive o grande privilégio de letrerar Chico 
Anisio em Quadrinhos com a história
“ Era Xixo um Astronauta? “ Revista essa 
que somente foi publicada a nº 1; o argumento 
foi do saudoso humorista Arnaud Rodrigues
e desenhada pelo também saudoso grande 
desenhista Nico Rosso.   











-











TONY 19: Ao longo dos anos trabalhando no 
setor editorial conheci poucas pessoas como você 
que se dedicam a este tipo de trabalho relevante que 
você faz: “Dar voz” aos personagens inanimados das 
HQs. Porém, com certeza, outras pessoas também
 devem ter executado este tipo de trabalho além de 
você – com menos intensidade. Você conheceu 
outros letristas? Dá para citar alguns nomes?

MALDONADO: Dentro do nosso trabalho a gente 
tem poucos contatos com outros colaboradores, 
conheço alguns, a Gisele, a Valéria, Maria Cristina, 
Sílvia, Daniel, Marcos Valério, no momento
são esses que me recordo.






TONY 20: Apesar de ter começado fazendo frilas para
a Noblet acabei sendo contratado como assistente 
de arte do Hamasaki.
E foi lá no estúdio da Noblet, no final dos anos 70, 
que tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente. 
Na época, eu também fazia algumas HQs como 
complemento das edições daquela casa editorial,
para as revistas Akim e Carabina Slim. Eu mesmo
letrerava minhas histórias, porém minhas letras eram 
irregulares- pra não dizer péssimas. Rsss...
Um dia perguntei para você como eu poderia
melhorar aquilo e você, atenciosamente, me
deu uma boa dica. Apesar de eu jamais ter virado 
especialista em letras sou grato por sua 
generosidade, parceiro. Você está lembrado disso?     



MALDONADO: É Tony, sempre procurei colaborar 
com quem me procurava, fico feliz por ter de alguma
forma colaborado com  você que na época já
demostrava muito talento no mundo dos quadrinhos,
me parece que dei uma dica de usar umas réguas 
vazadas com o tamanho das letras que seriam 
feitas, acho que foi isso.

TONY 21: Sou muito grato à você. Suas dica
me ajudou bastante, apesar de não
ter aprendido a fazer letras até hoje. Deus salve as
fontes de computador.... Rssss...
Nos anos 90 pedi demissão da Noblet e 
abri minha primeira empresa, o estúdio ETF, que 
acabou virando uma editora. Ficamos anos sem 
nos vermos. Apesar de colecionar Texeu não fazia
ideia de quem era o letrista do ranger da Bonelli 
Comics. Certo dia, alguém me disse que aquelas
letras eram feitas por você. Fiquei feliz por saber 
que você continuava firme nesse ramo instável, 
mas maravilhoso. Como surgiu a oportunidade 
de trabalhar com a Mythos?
E, em que ano começou esta parceria?

MALDONADO: Essa parceria começou ainda na
década de 1980, eu tinha ido da minha cidade, 
Sorocaba até São Paulo entregar material para 
algumas editoras e passei em um shopping no
bairro da Lapa para comprar nanquim, e 
conversando com a balconista eu disse que
 era letrista de histórias em quadrinhos e por 
coincidência estava comprando tinta para 
colorir a esposa do Dorival, editor da Mythos 
e que eu não conhecia. A partir daí ela entrou 
na conversa e falou-me da dificuldade do Dorival
que também eu não conhecia pessoalmente em
conseguir letristas e pediu-me que entrasse em 
contato com ele, mantivemos um contato
 inicial e estou trabalhando para a Mythos até hoje.



TONY 22: Além de Tex,você também letrera outros títulos de HQs lançadas pela Mythos?

MALDONADO: Atualmente estou letrerando somente
o Tex normal, mas já letrerei outros títulos da Mythos: 
Zagor, Dylan Dog, Dampyr, J Kendall ( Julia ),Mister No,
Kem Parker e outros.










TONY 23: Cacramba! Só isso? Haja letras, grande guru.
É trabalho a beça... Só da serie Tex a Mythos edita diversos
títulos, além de outras series da Bonelli e de
outros editores estrangeiros. Hámais letristas 
trabalhando para dar conta da demanda 
de todos aqueles títulos? 

MALDONADO: Sim, tem vários letristas que colaboram
com a Mythos, pois a demanda de títulos é grande, 
conheço alguns: a Gisele a Sílvia o Daniel o 
Marcos Valério e outros.









TONY 24: Sua esposa também continua
letrerando quadrinhos?  Por falar na Dolores - 
que é uma simpatia -, só tive o prazer de
 conhecê-la numa Fest Comix realizada aqui em 
S. Paulo onde vocês estavam presentes. 
Além dela, também tive a satisfação de conhecer 
O Civitelle - desenhista do Tex -, GG Carsan, 
José Carlos Francisco (Vulgo Zeca Willer do 
site português do Tex), o escritor Dom Alvarez 
e o desenhista e fanático por filmes e gibis de
westerns Antonio  Carlos  Moreira. E, também
pude rever o velho amigo e colaborador 
Décio Ramirez. O editor MarcoAntonio Faceto –
da editora As Américas, que lançou Apache em
2010, também estava no evento, discretamente,
Aquela foi uma tarde memorável. Você e a 
Dolores participaram de outras Fest Comix?



David Lloyd, Zeca Willer e Civitelli, desenhista do Tex


G.G Carsan


MALDONADO: Também nessa Fest Comix, além
de participar com grandes nomes das Histórias em 
Quadrinhos tive o grande prazer de depois de muito
tempo te encontrar e poder bater um bom papo com 
você. A Dolores deixou de letrerar desde que o 
letreramento passou a ser feito no computador e eu
consigo dar conta do trabalho sozinho. Quanto a 
Fest Comix é sempre  muito agradável participar, 
eu e a Dolores participamos de três, nesse evento 
a gente tem a oportunidade de rever grandes amigos 
que fazem parte das Histórias em Quadrinhos da 
nova e da velha guarda, esperamos participar 
novamente numa próxima oportunidade e 
encontrar você por lá.       

TONY 25: Graças ao excelente trabalho realizado com 
o Tex, vocês acabaram indo para um evento em Portugal.
Conta pra gente, como, quando e por quê, surgiu aquela 
ótima oportunidade?   

MALDONADO: É Tony, você está sempre bem informado, 
foi em junho de 2010, como as revistas Tex editadas 
pela Mythos são distribuídas também em Portugal e 
existem muitos leitores e colecionadores de Tex e
como meu nome e o da Dolores sempre estavam 
nos créditos da revista, o maior colecionador da 
revista e criador do Blog do Tex em Portugal, José 
Carlos Francisco, mais conhecido como Zeca, achou
por bem incluir nosso nome para participar de um 
festival de quadrinhos na cidade de Beja em Portugal 
e assim resolveram patrocinar nossa viagem onde 
fomos muito bem recebidos, nesse festival também 
participou  o desenhista italiano de Tex Fabio Civitelli
e também o diretor da Mythos Dorival Vitor Lopes.


No "barraco" do Zeca em Portugal


Dorival Lopes, o poderoso chefão da Mythos

TONY 26: Segundo meus espiões que foram expulsos 
do F.B.I e da Lavajato, vocês também foram visitar
a sede da Bonelli Comcs, na Itália... isto é verdade?

MALDONADO: É Tony, nessa os seus espiões 
falharam, infelizmente não tivemos essa 
oportunidade, mas ainda está nos nossos planos.

TONY 27: Eu sabia que os cretinos iam pisar na bola,
pra variar. Rssss. Nosso querido Hélcio de Carvalho – 
sócio do Dorival - foi o primeiro a agenciar artistas
brasileiros no exterior através do estúdio Artecomix, 
nos anos 90, após sair da ed.Abril. Graças ao Hélcio,
hoje, diversos artistas nacionais trabalham com 
editoras americanas e alguns até ganharam 
notoriedade desenhando super-heróis.
Apesar de ter a Mythos, o Artecomix continua 
produzindo material para a multinacional Panini, 
detentora dos direitos da Marvel etc. Pergunto:
Você também colabora, letrerando os gibis 
lançados pela Panini?




MALDONADO: Não, Tony, a Mythos mantém uma equipe
somente para dar conta da produção das revistas da Panini,
sempre trabalhei letrerando revistas da Bonelli.

TONY 28: OK...  Originalmente, pelo que fui informado 
pelos meus espias, a Panini era uma empresa italiana 
especializada em lançar álbuns de figurinhas, além de 
licenciar os personagens da Marvel ... veio para o
Brasil e se associou com a ed. Abril. Nos anos 90 a 
parceria com a Abril foi rompida – não se sabe porque -
e a marca Panini passou a lançar os supers que, até
então eram editados pela Abril. Ainda segundo meus
espias xeretas, na realidade, a Marvel comprou a Panini...
Você sabe me dizer se isto tem fundamento ou será 
que meus espiões  se equivocaram outra vez? Vou ter
que acabar despedindo esses meus xeretas trapalhçoes!
Rssss...  

MALDONADO: Meu relacionamento com a editora é 
voltada mais na parte da Bonelli, e meus contatos
são mais com o Dorival, portanto pouco conhecimento 
tenho sobre a Panini e não teria como responder.

TONY 29: Há quantos anos você colabora com a Mythos?

MALDONADO: Sou colaborador da Mythos a 29 anos, 
como o tempo passa, nesta profissão que requer 
de nós muita atenção faz parecer que o tempo 
passa muito rápido.
   
TONY30: UAU! Uma eternidade! Atualmente, você mora 
em que cidade do interior de S. Paulo?

MALDONADO: Desde 1978 voltei para minha terra 
natal Sorocaba onde estou morando e que não 
pretendo mais mudar.



No sítio em Sorocaba City
TONY 31: Cacilda, ia me esquecendo...em que dia,
 mês, ano, cidade e estado,você nasceu?

MALDONADO: Meu nome completo é Marcos 
Maldonado Rodrigues, nasci em um sítio em Sorocaba, 
estado de São Paulo no dia 25 de Abril de 1940, filho 
de lavradores espanhóis, éramos seis irmãos, 
quatro homens e duas mulheres, sou casado há 
52 anos com Dolores Maldonado, temos três 
filhos e nove netos.

TONY 32: Sí, sí, hombre...
Seu nome de batismo completo é...

MALDONADO: como citei acima meu nome 
de batismo é Marcos Maldonado Rodrigues.

TONY 33: Pelo visto, o tipo de trabalho que você faz
é bem mais estável do que o nosso – desenhistas e 
escritores de HQs nacionais. Por exemplo, nos últimos
anos é raridade vermos novos títulos brasileiros nas
bancas, mas alguns estrangeiros continuam aí firmes 
no mercado. Ou seja, parece que jamais faltará trabalhos
para bons letristas, como você e sua esposa . 
Isto é fato, ou já teve que passar por 
situações difíceis?

MALDONADO: Desde que iniciamos na carreira de
letristas nunca passamos por dificuldades, talvez 
porque existam poucas pessoas nessa profissão 
nunca nos faltou trabalho, em alguns momentos 
tínhamos até que com muita tristeza recusar 
o letreramento de algumas histórias para que 
não caísse a qualidade do nosso trabalho.

TONY 34: Alguma frustração profissional?

MALDONADO: Não, Tony,  nenhuma frustração, 
tenho muita satisfação por ver meu trabalho que
sempre procurei executar com muito capricho ser 
reconhecido  por tantas pessoas no mundo dos
quadrinhos onde fiz tantas amizades, tendo inclusive 
sido premiado com o troféu Angelo Agostini, como 
Mestre dos Quadrinhos que me foi entregue no 
Memorial da América Latina em 2013 pelo grande 
editor e desenhista Franco de Rosa onde encontrei 
grandes amigos como o grande cartunista Bira Dantas, 
que sempre anima o ambiente com sua inseparável gaita,
o  Eduardo Vetillo, que teve a gentileza de na minha 
presença fazer um belo desenho e me entregar, 
inclusive fazendo também um belo desenho para 
minha filha Márcia, como tive também muito prazer
de te encontrar lá, Tony, e encontrar muitos artistas 
da nova geração, encontrei também o Joas que
me pediu que assinasse uma revista “ Pancho “ 
desenhada pelo grande amigo Pedro Mauro e 
letrerada por mim, portanto minha profissão 
somente me trouxe momentos de muita satisfação.



TONY 35: Um sonho a ser realizado...

MALDONADO: Vou com a sua licença citar dois: 
um seria fazer uma visita a Editora da Bonelli na Itália, 
o outro seria que alguém organizasse um encontro 
com a nossa turma da velha guarda das 
Histórias em Quadrinhos talvez com um churrasco.

TONY 36: Grande ideia... Deus, religiões, família... 
qual é o seu conceito sobre...

MALDONADO: Deus é de fato algo muito difícil de se 
definir, pois é tão grandioso e nós tão pequeninos que
não conseguimos compreender  a sua grandiosidade 
contudo é um Deus vivo na Trindade Santa que nos ama
infinitamente.  Religiões existem muitas, devemos 
respeitar todas, sou, assim como minha família 
católico praticante. A família além de Deus é o que 
existe de mais sagrado, em nossas vidas, é ela que 
nos dá incentivo para vencermos as nossas 
adversidades, sem a família nossa 
vida não teria sentido, como minha profissão 
não requer a minha presença dentro das 
Editoras e tenho meu estúdio dentro da 
minha casa, tive o privilégio de acompanhar o
crescimento dos meus filhos, Márcia, Rosana
e César  e ter sido um pai presente em todos os
momentos da vida deles junto com a minha 
esposa Dolores que  também é letrista de 
Histórias em Quadrinhos, e depois vieram 
os nove netos que adoramos sete já adultos
e dois meninos, portanto tenho muito orgulho
da minha família, como não poderia ser diferente.

TONY 37: Ah, o povo quer saber... Quantos anos você
tinha quando começou a trabalhar no ramo, fazendo letras?
Que personagem de quadrinhos, que você admira, e 
que gostaria de ter letrerado suas histórias?

MALDONADO: Quando comecei a trabalhar com Histórias em Quadrinhos eu tinha 29 anos, faz tempo, hein? 
Os personagens que eu não tive oportunidade de letrerar 
são da Turma da Mônica e outros personagens do
Mauricio de Sousa, principalmente porque são
direcionadas a população infantil.




TONY 38: Legal... Nunca é tarde, de repente...
Ainda faz tudo na raça ou atualmente 
usa algum software especial para letrerar 
as HQs de Tex?

MALDONADO: Hoje o meu trabalho de letrista 
é feito no computador, o que se torna menos 
trabalhoso, no Tex eu uso dois programas: 
o Photoshop e o In Design. No Photoshop 
eu deleto todo o texto da revista que vem
em italiano e preparo as páginas na
proporção para o formato da revista. 
No In Design eu ajusto as páginas e coloco 
o texto já em português e distribuo as 
palavras de acordo com o formato dos balões.

Com Franco de Rosa - Troféu Angelo Agostini 29ª edição

Com o desenhista e roteirista Joás
TONY 39: O Giovanni é o tradutor oficial do Tex... 
Quando você recebe o texto traduzido por 
ele, já teve alguma dificuldade para
colocá-los nos balões? No caso do texto ser
maior que o espaço dos balões, você tem 
liberdade para “enxugá-lo”?

MALDONADO: O tradutor de Tex desde o tempo
que eu letrerava para a Editora Vecchi e que 
traduz até hoje para a Mythos é o Paulo Guanaes, 
do Rio de Janeiro e agora também o Júlio Schneider, 
de Curitiba, dois grandes amigos de longa data, 
com a capacidade que eles tem de traduzir,
e depois passa pela revisão de texto do 
Dorival que adapta e atualiza algumas palavras,
dificilmente encontro dificuldades, mas se 
em algum balão o texto não cabe eu tenho 
a liberdade de enxugá-lo.



Paulo Guanaes - Tradutor
Júlio Schneider (Tradutor) e José Carlos Francisco (Zeca Willer)
TONY 39: Como e quando você teve o prazer de
conhecer o simpático e o maior divulgador 
de Tex, além-mar, nosso querido cowboy 
Zeca Willer?  

MALDONADO: Foi no ano de 2002 Quando o
José Carlos Francisco muito conhecido por Zeca 
veio de Portugal com a família, de passagem pela
Editora Mythos comentou com o Dorival que
gostaria de conhecer-me pessoalmente, 
combinaram comigo e nos encontramos em 
uma chácara que eu tinha em Sorocaba, a 
partir daí fizemos uma grande amizade e ele
veio mais uma vez nos visitar, e eu e a Dolores
tivemos o prazer de retribuir essas visitas indo
por duas vezes em sua casa em Portugal na 
cidade de Anadia onde fomos muito bem 
recebidos por sua família, o que
ficamos muito agradecidos. 


O Casal 20, na Espanha






TONY 40: A que você atribui o enorme sucesso
que Tex faz no Brasil e na Itália , até hoje?

MALDONADO: Na minha opinião esse sucesso
se deve ao cuidado e profissionalismo que
a Editora Bonelli e seus colaboradores sempre
dispensaram ao Tex, não se consegue nada na
vida se não for com muita dedicação e amor no
que se está fazendo, quantos profissionais na Itália
ou mesmo no Brasil passaram momentos de 
sacrifícios para manter a qualidade da revista,
argumentistas, tradutores, revisores de texto, 
desenhistas, letristas, os próprios editores que 
são os que mais tem que se preocupar com a 
qualidade para que a revista chegue o 
mais perfeita possível para os seus leitores.   

TONY 50: Ainda segundo meus espiões, 
não muito secretos, foi lançado um livro sobre 
vocês... Isto é fato? Se ele existe, como podemos 
fazer para adquiri-lo? E, quem é o autor?

MALDONADO: É Tony, na realidade foi editado 
um livro que relata um pouco da história da 
nossa família, o autor é meu saudoso irmão 
Antonio Maldonado, que foi o pioneiro da família 
na arte de letrerar, e um grande Artista Plástico,
inclusive tenho vários quadros pintados por ele, 
por termos nascido quatro irmãos Hemofílicos 
(deficiência na coagulação do sangue ), mesmo 
problema que tinham os irmãos Henfil cartunista 
o Betinho sociólogo e o Chico Mário, cantor e
compositor, também era hemofílico Sergio
Bittencourt, compositor da música naquela mesa, 
era filho do Jacob do Bandolim, meu irmão 
resolveu contar um pouco da nossa história.
Esse livro traz algumas ilustrações desenhadas 
por ele, o título do livro é: O Hemofílico que venceu
na arte da vida e na vida da arte, quanto a adquiri-lo 
terei muito prazer em presenteá-lo com um
exemplar, pois não saberia dizer onde comprá-lo.


TONY 51: Neste exato momento,você está 
fazendo o quê? Dá para revelar? Algum novo 
projeto de HQs para a Mythos, que será 
lançado este ano ?

MALDONADO: Atualmente estou letrerando uma 
edição de Tex. É, Tony, por enquanto vou continuar
na minha tarefa de letrista, quanto aos projetos da 
Mythos é difícil saber, pois como você sabe as 
editoras se mantém com muita dificuldade.



TONY 52: Como já declarei numa matéria especial
que fiz sobre você e a Dolores, vocês são o 
“Casal 20” das HQs. Meus ídolos.
Vida longa e muito trabalho para vocês e
até aproxima oportunidade, grande guru das 
HQs. E dê um grande mano amplexo na Dolores!
Valeu!

MALDONADO: Olha, Tony, saiba que foi para mim 
uma honra ter sido entrevistado por você, tenho 
acompanhado suas entrevistas sempre com perguntas 
de quem tem um grande conhecimento sobre a nona 
arte, eu e a Dolores ficamos muito agradecidos a você 
por ter-nos dado a oportunidade de mostrar um pouco
da nossa história nessa profissão de Letristas de Histórias
em Quadrinhos que é tão pouco conhecida, um 
grande mano amplexo como diz você, meu e da Dolores.

TONY 53: Outro, proceis...





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