sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

HOMEM-ARANHA, NO JAPÃO, QUASE FRACASSOU! SAIBA MAIS...



Quem poderia imaginar que a poderosa Marvel Comics
detentora dos direitos de licenciamento de um super-herói,
que é um fenômeno de venda em boa parte do mundo, teria
dificuldade de obter sucesso com ele no País do Sol Nascente?
Relaxe e curta a interessante matéria a seguir, 
webleitor, e saiba mais como o...

HOMEM-ARANHA TEVE QUE SUPLANTAR OBSTÁCULOS
PARA FAZER SUCESSO
NO JAPÃO!

















O editor Ryoichi Ikegami - da editora Kodansha -, 
no início dos anos 70, ciente do sucesso mundial que faziam as aventuras de um personagem da Marvel decidiu publicar 
a revista do Homem-Aranha no Japão, 
após adquirir os direitos.
Porém, não obteve sucesso.
Curioso e inconformado com o insucesso da série o 
representante da Marvel no Japão, na época, foi procurar o editor porque não entendia como um personagem que tinha feito sucesso
 em diversas partes do mundo não tinha acontecido no mercado editorial japonês. Uma pesquisa foi feita entre os leitores locais do aracnídeo, que afirmaram gostar do drama do personagem e de 
suas aventuras. Porém, a maioria afirmou que perdia muito 
tempo lendo os textos dos balões e que aquelas histórias 
eram ruins para serem lidas entre uma estação do metro e outra.

Um artista de quadrinhos japonês me disse que se ele pegasse
uma HQ do Aranha original de 17 páginas, ele poderia fazer 100 páginas”, declarou Gene Pelc, que representava e licenciava os personagens da Marvel no Japão.

O que sempre diferiu as HQs do Ocidente e do Oriente são 
a forma de apresentar uma HQ. Um mangá, por ter um grande
 número de páginas, usa a linguagem cinematográfica de imagens
 e pouco texto. Portanto, ler um manga é coisa rápida. 
No Ocidente, como as edições são limitadas por certo número de páginas. Muitas imagens são supridas e há um excesso de texto.
Por exemplo, uma edição de Tex de 200 páginas leva muito
 mais tempo para ser lida do que qualquer mangá.
Enfim, o homem da Marvel concluiu que o problema não 
era com o personagem e sim com a forma como as HQs
 dele eram apresentadas, num mercado que estava
 habituado a consumir um quadrinho altamente digestivo.
Para que o Aranha emplacasse no Japão suas HQs teriam que ser adaptadas para a linguagem dos mangas, concluiu Gene Pelc.

HOMEM-ARANHA

EM VERSÃO JAPONESA

Em fim, O Homem-Aranha só passou a fazer um
 relativo sucesso no Japão quando Ryoichi Ikegami -
 futuro autor de seres consagradas como Crying Freeman,
 Mai – A Garota Sensitiva, Sanctuary, Samuray Crusader 
e Strain – foi escolhido para produzir a série.


UM JOVEM ARTISTA





Ikegami tinha sido assistente de Shiheru Mizuki, 
o criador do bem-sucedido Gegege no Kitaro, série
 que marcou época nas páginas da mais importante
 publicação semanal da editora Kodansha, a Shonen
 Magazine, que na época era a campeã de vendas, 
ocupando o status que depois veio a pertencer
à Shonen Jump.
Ikegami era de origem humilde ao contrário de boa
 parte dos artistas bem-sucedidos da época, como
 Yohsiharu Tsuge e outros, que eram intelectuais.

Na efervescência do mercado editorial japonês nos anos 
60, a maioria daqueles veteranos autores tinha bagagem 
para dar equilíbrio as necessidades de fazer uma HQ comercial 
com certa carga cultural local. Ikegami não tinha essa 
capacidade e seus personagens eram, em geral, inseguros 
e talvez por isso não obtinha sucesso. Desenhar as HQs 
do cabeça de teia foi o melhor negócio que Ikegami fez 
para alavancar sua carreira profissional, até então insípida. 
Ele iniciou uma saga bem sucedida de 5 volumes mensais com aventuras do aracnídeo na editora que concorria com a poderosa Shonen Magazine de então – atual Monthly Shonen Magazine.
Explorando mais a linguagem visual habitual das HQs feitas
o Japão, o desenhista e escriba aos poucos foi conquistando
 os leitores nipônicos.

HOMEM-ARANHA NO
ESTILO MANGÁ
NO BRASIL



Mas, se a versão oriental do Aranha emplacou no 

Japão, nos outros países ela não foi tão bem recebida. Por exemplo, o início do Homem Aranha publicado pela Mythos, no Brasil, reproduzia as HQs juvenis criadas no Japão, aparentemente, baseadas na criação original de Stan Lee e Steve Ditko, da Marvel.

Mas, bastava ler a primeira edição para constatar que 
naquela série havia algumas bruscas alterações: Yu Komori
 (versão nipônica de Peter Parker) era um adolescente deslocado 
e sem amigos que só pensava em estudar. 
Ao contrário de Parker, sua nerdice era fonte de ironia, 
mas se dava bem com os amigos de escola. Vivia coma tia 
May e não aparecia o tio Ben. Quanto aos poderes 
adquiridos pelo rapaz, a origem foi apresentada de 
forma reduzida, mas similar ao original americano 
criado por Lee e Ditko.

Logo na primeira aventura, Komori (Parker) conhece 
uma garota chamada Rumi (Rumiko), que estava em Tóquio
 à procura de um irmão que tinha desaparecido e que era 
o único que podia pagar as contas da mãe hospitalizada. 
Komori decidi ajudá-la utilizando sua recém-inventada 
identidade de Homem-Aranha. Por fim, o Aranha acaba
 matando num combate o vilão chamado Electro, que não
 era o suposto raptor do irmão da garota. Na verdade, 
Electro era o próprio irmão da garota que tinha simulado
 o tal rapto. Assim, ela passa a odiar o Aranha, por ter 
matado seu irmão, o único que podia pagar as despesas
 hospitalares da mãe internada. Um verdadeiro dramalhão mexicano.

Na época, Ryoichi Ikegami, o autor dessa versão japonesa
 do Aranha, era um autor inexperiente que tinha 
apenas um trabalho em seu currículo, a série Auieo Boy, 
escrita por Kazuo Koike – autor do clássico Lobo Solitário.
 Ikegami só amadureceu profissionalmente e definitivamente 
sua arte ao realizar obras como Sanctuary, 
Crying Freeman e Mai, anos depois.

Convenhamos que a arte dele foi evoluindo aos poucos, 
também, ao longo que produzia a série do Homem-Aranha, 
mas tentar adaptar elementos que não pertenciam ao
 universo do personagem da Marvel foi lamentável. 
A série desagradou os fãs ocidentais do personagem e
 também não agradou alguns leitores japoneses.
Ikegami ainda tentou se aproximar da versão americana 
ao fazer o herói enfrentar inimigos clássicos como o
 Lagarto e outros, criados originalmente pela Marvel, 
mas ao enfrentar o Canguru, Komori (Peter Parker), 
desiste de ser o Aranha. No mundo dos quadrinhos já 
virou piada o número de vezes que Parker desistiu de
 ser o herói, até mesmo nas HQs originais americanas.

Numa outra fase do Aranha, com desenhos menos caricatos, 
no estilo mangá, Komori (Parker) totalmente 
desequilibrado fica maluco e fantasiado de Aranha 
começa a atacar as pessoas na rua. Convém frisar 
que, essa HQ foi publicada 16 anos antes do Cavaleiro
 das Trevas, de Frank Miller.

Para tentar resolver o problema surge Mysterio, um novo
 herói que decidi salvar Tóquio das garras do Aranha 
enlouquecido. Numa batalha final os oponentes se 
confrontam e o Aranha obtém a vitória e volta a 
administrar de forma mais equilibrada os seus problemas
 psicológicos graves com a identidade de super-herói.
 A dramaticidade criada nessa HQ produzida no Japão 
supera os dramas vividos pelo aracnídeo em sua versão
 original americana e foi reverenciada como o ponto alto dessas edições no estilo mangá desse famoso herói da Marvel.

MANGÁ DO ARANHA

NA AMÉRICA



Desde que o genial Frank Miller ajudara a divulgar os 
mangás japoneses na América, aos poucos, o estilo 
oriental de fazer HQs foi tomando conta do mercado editorial americano e acabou se transformando em verdadeiro
 sucesso editorial de diversas séries Made in japan.
Nesse mesmo período, diversos seriados de super-heróis
 nipônico também começaram a ter boa audiência nas 
emissoras de TV americanas. Ante a nova realidade de 
mercado os editores da Marvel decidiram entrar na onda.








Na América o mangá do Homem-Aranha foi publicado 
em 6 edições, onde o personagem só aparecia duas vezes. 
A história dava ênfase ao drama vivido por Kimori (Peter Parker).
A série não agradou muitos fãs americanos, obviamente.
Segundo especialistas em HQs, O Homem-Aranha no
 formato mangá apresentava histórias violentas que 
tinham enredos sobre drogas e até estupro - da namorado do personagem principal. Aquele tipo de histórias , no Japão, eram comuns para os leitores de publicações shonen (
destinadas aos adultos), mas nos Estados Unidos causaram
 polêmica e dores de cabeça aos editores. Cartas de protesto 
chegavam as centenas na redação.
As vendagens na América da versão mangá foi um
 fracasso e para piorar a coisa, esta série conflitava com
 alguns eventos da série original americana que 
estava sendo publicada simultaneamente. 
O caos tomou conta do universo do aracnídeo.





Depois da publicação desse material polêmico, a Marvel lançou 
A Sombra do Aranha, uma HQ que antecedeu em 
décadas Venon: um anti-Aranha, que mostrava um 
personagem poderoso com desvio de caráter. 
Para reafirmar os rumos que a série tinha tomado – 
sombria e desesperançosa – foi preciso dar um jeito 
e melhorar o desastroso início dessa seqüência de histórias.
 Uma outra saga, ainda no estilo mangá foi publicada,
 mas desta feita as histórias foram no estilo policial, 
com belas seqüências narrativas de abertura da série. 
Infelizmente, a série deixou de circular – devido as
 baixas vendas - na edição # 31 (no primeiro capítulo da
 história, que acabou ficando incompleta).
Alguns leitores ficaram frustrados e revoltados. 
 Aquela foi a última HQ do Aranha em versão mangá 
que foi publicada nos Estados Unidos.
Segundo os críticos e leitores americanos, as melhores 
HQs do aracnídeo foram publicadas no título 
Untold Tales of Spider-Man,
de Kurt Busiek, que contava histórias 
do personagem 
no início de sua carreira.

Nessa mesma época, surgiam as revistas em quadrinhos 
da Image e as vendas da Marvel e DC declinavam 
assustadoramente. Isso preocupava os editores e 
assim os executivos da Marvel decidiram não mais 
publicar a versão mangá de seu personagem, 
devido a baixa aceitação.





NÃO DEU CERTO NA AMÉRICA,

ACONTECEU NO JAPÃO




Por ironia, apesar do insucesso na América, esse
 material teve algum sucesso no Japão, permitindo 
ao seu autor, Ikegami, continuar sua carreira artística
 no mundo das HQs. Mas, parou de escrever histórias dramáticas e passou a se dedicar exclusivamente aos desenhos e se deu bem fazendo parceria com roteiristas japoneses de peso. Daí surgiram séries bem sucedidas que tornaram o desenhista famoso, como: Sanctuary, Crying Freeman e outras.

Mesmo após o encerramento da primeira série do 
Homem-Aranha na versão mangá, o personagem não 
encerrou sua trajetória no País do Sol Nascente. 
Em 1978, ganhou uma série para a TV – produzida
 no Japão- , que não tinha nada a ver com o personagem
 original, onde o herói vivia histórias com robôs gigantes 
e alienígenas, conceito criado em 1973, na série 
Jumborg Ace, que publicava as aventuras de Jaspion, 
Spectreman, séries a la Ultraman – antigo seriado que 
fez sucesso durante anos, no Japão e pelo mundo.
O animê fez sucesso na TV. Tanto que ganhou uma
 nova versão em mangá, desta vez desenhada por 
Mitsuru Sugaya que foi publicada, com um traço 
infantil, na revista Boken - O Magazine, de Akita Shoten.

MARVEL SATISFEITA


Apesar de tudo, a Marvel pode se dar por satisfeita, 
porque apesar da dificuldade inicial de introduzir 
seus famoso personagem no mercado nipônico de HQs,
 o Aranha até hoje é lembrado no Japão. Não foi à toa
 que a estréia mundial do terceiro longa-metragem do
 aracnídeo foi lançado primeiramente em Tóquio. 
Atualmente, os Amecomics – como os japoneses 
denominam as HQs Made in América - ,
 são publicados para um pequeno nicho de leitores fiéis.
Há quem afirme que, se a venda dos mangás andaram
 crescendo muito no território americano, nas últimas
décadas, isto significa que as HQs produzidas nos
 Estados Unidos deixaram de fazer sua função primordial: se comunicar de forma correta com seus leitores.

É fato que os leitores orientais sempre deram preferência
 aos heróis criados no Japão. Entretanto, Batman e
 Superman são reconhecidos, respeitados e bem 
populares por lá.
Uma coisa é certa, a Marvel só conseguiu obter um 
relativo sucesso com o Homem-Aranha no País do 
Sol Nascente, quando admitiu que o personagem 
tinha que falar o idioma desse povo e usar a
 mesma linguagem cultural e visual utilizada 
nas publicações nativas.





Por Tony Fernandes\Redação\Pegasus Studios
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