Você já ouviu falar de Benedito Carneiro Bastos Barretos?
Pois é, muita gente, inclusive do
setor editorial brasileiro,
até hoje não sabe dizer quem foi esse ilustre
cidadão,
ou que apito ele tocava. Porém, num passado não muito
distante, ele
foi um dos grandes e mais populares
cartunistas do Brasil. Ganhou notoriedade
quando
passou a colaborar com a lendária
revista chamada ALVORADA.
Num
verdadeiro trabalho de garimpagem e resgate,
dos grandes artistas do passado, que
agitaram
o mercado editorial nacional, tenho a honra
de escrever, desta feita,
sobre o inigualável...
BENEDITO CARNEIRO BASTOS BARRETOS, QUE FICOU CONHECIDO
COMO BELMONTE, UM DOS
GRANDES MESTRES DA
CARICATURA DO BRASIL!
![]() |
1896 - 1947 - Cartunista, pintor, caricaturista, cronista, escritor, desenhista e ilustrador |
Belmonte
era magro e esguio, nasceu no dia 12 de maio
de 1896, na cidade São Paulo (que atualmente é
a maior metrópole da América Latina),
local onde morou durante toda a sua vida.
![]() |
São Paulo, antigamente... |
![]() |
... e atualmente |
Quando a revista CARETA, famoso periódico
carioca, o chamou para substituir
J. Carlos, outro
grande caricaturista da época, ele foi convidado para
morar na
cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro,
para trabalhar na revista. Mas nessa
cidade praiana
![]() |
Viaduto Santa Ifigênia - São Paulo |
Não
hesitou e nem demorou muito, para pegar o
primeiro trem noturno e rapidamente
decidiu
voltar para São Paulo, cidade pela qual sempre
foi apaixonado. Dizia, aos
amigos, que não
conseguia viver longe dela. Assim, preferiu
trabalhar como
colaborador da referida revista,
que fazia muito sucesso na época.
UM
CONVITE PARA TRABALHAR
Sua
arte era excepcional. Fazia caricaturas como
ninguém jamais vira antes. Tanto é
que mais tarde,
o jovem e talentoso mestre dos traços foi convidado
para
trabalhar para a Metro Goldwin Mayer
(a famosa MGM), para fazer caricaturas
para os
cartazes dos filmes de Hollywood.
Mas, recusou o convite. Preferiu
continuar como
chefe do departamento de publicidade dessa
mesma empresa
americana, que na época
estava situada em um das salas do antigo
Palacete Santa
Helena, em São Paulo. Belmonte
vivia dizendo sorrindo que sua paixão por
esta
cidade era “Puro caipirismo de paulista”.
![]() |
Teatro Municipal de São Paulo |
NASCEU
NA POBREZA
Por
ser de origem humilde jamais pode ingressar
num curso de desenho porque seus
pais
não tinham dinheiro . Rabiscava por pura intuição,
por dom. Belmonte
conseguiu publicar seus
primeiro desenho quando tinha 17 anos, em 1914,
na
revista Rio Branco. Mas não recebeu nada
como pagamento. Nesse mesmo ano,
começou a colaborar com a revista Alvorada,
mas por ser tímido e desconhecido jamais
cobrava por essas empreitadas. Somente em
1919 ele veio a receber o seu
primeiro pagamento,
cinco mil réis, pagos pela revista
Miscellanea, por uma
arte.
MEDICINA
OU CHARGES?
Seus
trabalhos caíram no gosto popular.
Tanto que, de repente, uma serie de convites
foram feitos por outros editores. Foi assim
que ele passou a colaborar com
diversas
publicações, como Zig-Zag e D. Quixote.
Ao começar a ganhar algum
dinheiro, decidiu
investir em si mesmo e saiu em busca de estudos,
visando se
formar em medicina.
Paralelamente, nas
horas vagas, esse grande
caricaturista continuou a fazer suas charges,
desenhos, pinturas e artigos jornalísticos.
Porém,
no dia do exame final, da escola de
medicina, quando estava prestes a ingressar
definitivamente na carreira médica, não
compareceu ao exame, preferindo sair
para remar no lago do atual Parque da
Aclimação (zona sul de São Paulo),
porque
já havia optado, definitivamente,
que iria trabalhar com veículos de
comunicação,
NASCE
UM GRANDE ARTISTA
Da
cidade provinciana que se transformava
em metrópole (São Paulo) , ele retirava
a
matéria-prima para seus trabalhos.
Sua carreira se consolidou quando, em 1921,
foi convidado para fazer
parte da equipe de
colaboradores do recém criado jornal paulistano
chamado Folha
da Noite, atual Folha de São
Paulo (um dos mais conceituados
e tradicionais
periódicos paulistano).
e tradicionais
periódicos paulistano).
caricaturas e crônicas, ele transmitia os
anseios do
povo em relação as cobranças
da Light (nome da antiga companhia que
fornecia
energia elétrica nessa cidade),
do bonde, da telefônica, bem como a
burocracia,
os escalabros, a corrupção
e os subornos.
SURGE
JUCA PATO
O
criativo Belmonte inventou um personagem
que passou a ser o porta-voz dessa
luta, e
que era como um símbolo do homem comum
do povo e que se tornaria o seu
mais famoso
personagem: Juca Pato.
Juca
Pato, era um baixinho, careca, que
usava óculos de arco de tartaruga e
polainas.
Ele nasceu José Juca Pato, nas páginas
do jornal Folha da Noite, em
1925. Segundo
o próprio Belmonte, Juca Pato já nasceu
calvo “De tanto levar na
cabeça”.
Ele era a caricatura que denunciava os protestos
do seu povo. Seu lema
era “Podia ser pior...”.
Belmonte
lançou o seu primeiro álbum
“As
Angústias de Juca Pato, em 1928,
uma coletânea com as desventuras
do seu
personagem.
TRABALHOS
CENSURADOS
![]() |
Satirizando o presidente Getúlio Vargas |
No
período do chamado Estado Novo, pressionado
pela censura imposta pelo então
presidente
Getúlio Vargas, deixou o personagem em
“banho-maria” (na gaveta), e
passou apenas
a ilustrar caricaturas de personalidades
do cenário
internacional. Durante o” Estado
Novo Getulista”, muitos dos seus
trabalhos
foram censurados.
SEGUNDA
GUERRA MUNDIAL
Com o
advento da Segunda Grande Guerra
Mundial, ele manteve uma campanha de charges
e
caricaturas contra os nazistas e que foram
difundidas por toda a América.
Goeebels,
ministro da propaganda de Hitler, foi publicado
no álbum Caricatura
dos Tempos. Segundo
jornalistas da época, Goeebels teria declarado,
certa feita, sobre
Belmonte : “Ele ataca o
nazismo porque é muito bem pago pelos
ingleses e pelos
americanos”.
RENOME
INTERNACIONAL
Desse
período foram publicados os álbuns:
A
Guerra do Juca, No Reino da Confusão,
Música Maestro, Nada de Novo, Ideias de
João
Ninguém e Caricaturas dos Tempos. Suas
charges e caricaturas passaram a
ser estampadas
nas páginas das principais revistas internacionais
da época,
sendo publicadas em diversos países,
como: na Alemanha (na revista Kladeradtsch),
na Argentina (na revista Caras e Caretas),
nos Estados Unidos (na revista Judge),
na França (na revista Riri), e em Portugal
(na revista ABC).
SÍTIO
DO PICA-PAU AMARELO
![]() |
Monteiro Lobato |
Para
os livros do consagrado escritor Monteiro Lobato
(autor da Turma do Sítio do
Pica-Pau Amarelo
(um clássico da literatura infantil do Brasil),
Belmonte foi quem
criou personagens famosos
como Emília, Pedrinho, Narizinho, Dona Benta,
Tia
Anastácia, o Marquês de Rabicó, Visconde
de Sabugosa, e outros.
JECA
TATU
Quem tem mais de 40 anos, na certa, se
lembra
dos famosos almanaques Biotônico
Fontoura (do Jeca Tatu), que eram distribuídos
nas farmácias de quase todo país, gratuitamente,
ao Jeca Tatu (um
caboclo pobre que vivia no
mato, numa casinha de sapé, e que vivia
cheio de
germes, por andar descalço), também
foi o incrível Belmonte. Ele ilustrou
vários
livros dessa inesquecível coleção,
FAZENDO
QUADRINHOS
Belmonte
estreou nos quadrinhos na segunda
fase da Gazetinha, em 14 de setembro de 1933,
quando a mesma voltou a ser publicada,
após um longo período de paralização, causado
pelas revoluções de 1930
e 32, quando
tivera suas instalações destruídas e queimadas.
Ele publicou 130
páginas de histórias em
quadrinhos, durante mais de 3 anos, além
de produzir
muitas capas e ilustrações.
Também foi o responsável pelas famosas
Cartas
Enigmáticas (mensagens
codificadas por figuras, letras e palavras
que deveriam
ser adivinhadas pelos leitores,
que concorriam a prêmios que o jornal oferecia).
Esse passatempo inteligente fazia o maior
sucesso entre os leitores infantis e
adultos,
da época. Esse jogo, criado por ele,
fazia as vendas subir
vertiginosamente.
Mais
de 90 dessas histórias em quadrinhos
eram dos personagens Paulino e Albina,
que
foram criados por Belmonte.
Essas HQs contavam as aventuras de um
menino branco
e uma menina negra, na Gazetinha.
A
famosa e saudosa publicação Gazetinha
fazia muito sucesso. Foi publicada até
março
de 1940. Somente por quatro vezes o artista
Uma dessas vezes, foi quando uma HQ de
Walt Disney foi publicada e os
personagens
desse genial autor americano apareceram
na capa , em 11 de julho de
1935, em
sua edição de número 96.
SUCESSO
ABSOLUTO
Belmonte
publicou charges, desenhos e
caricaturas em praticamente todas as
revistas
brasileiras e ilustrou dezenas
de livros, além de capas de partituras
musicais.
Com toda a fama, reconhecimento
público e trabalhando cerca de 18 horas por
dia, o chargista deixou para sua esposa e
filhos, ao falecer, apenas sua obra
como herança.
Morreu de tuberculose no dia 19 de abril de
1947, num dos quartos
do hospital
São Lucas, em São Paulo.
PRÊMIO
JUCA PATO
A UBE
(União Brasileira de Escritores), em 1962,
criou o famoso Prêmio Juca Pato para
o
Intelectual do Ano. Este troféu foi idealizado
pelo escritor Marco Rey. E, foi
ele quem
propôs utilizar o nome do personagem
de Belmonte, Juca Pato, que foi a
grande vítima
dos “tubarões” do café e da política, pisado
pelos homens da lei
e pelos poderosos, em
geral, e que nunca apareceu numa HQ ou
charge com um
amigo de verdade.
Assim, com a instituição do prêmio, o injustiçado
Juca Pato
passou a ter diversos amigos
intelectuais, que se acumularam o longo dos anos.
O prêmio Juca Pato já foi concedido aos
escritores: San Thiago Dantas, Alceu de
Amoroso Lima, Cassiano Ricardo, Tatiana
Belinski, Érico Veríssimo,
Belinski, Érico Veríssimo,
Jorge Amado e Cora Coralina,
entre outros.
“O artista
tem que viver entre o povo, embora
não deva fazer concessões à popularidade.
Ser popular não é o mesmo que ser vulgar.
O “Xis” da questão está em tomar um
assunto complicado e difícil, digeri-lo,
simplificá-lo e torná-lo acessível ao
grande público. Resumir numa charge,
por exemplo, um problema econômico ou
financeiro, eis o ideal (...) fazer arte para
ser entendido por algumas pessoas
é criar uma
aristocracia artística.” (Belmonte).
mestre Belmonte, e obrigado por ter
enaltecido,
ainda mais, com sua arte o setor editorial
brasileiro. Seu talento,
seus desenhos,
charges e ilustrações jamais serão esquecidos.
Caros webleitores, aqui me despeço.
Espero que tenham apreciado esta matéria.
Até a próxima!
Por
EDNO RODRIGUES
Copyright
2014\Edno Rodrigues\Tony Fernandes\
Estúdios Pégasus – Uma Divisão de Arte e
Criação da Pégasus Publicações Ltda –
São Paulo – SP - Brasil
Todos
os Direitos Reservados.
Proibida a reprodução total ou parcial,
sem
autorização.
OBS:
As imagens contidas nesta matéria são meramente
ilustrativas e seus direitos
autorais pertencem a
seus autores, parentes ou representantes legais.
Edno
Rodrigues é irmão do falecido desenhista
Edmundo Rodrigues, criador dos
quadrinhos de
Jerônimo, o herói do sertão (que surgiu como
novela radiofônica
criada por Moises Weltman).
Em parceria com seu irmão, Edno também executou
outros inúmeros trabalhos. Em 1956, abriram um
estúdio de rte e criação onde
fazia os desenhos
a lápis (que foram artefinlizados por Edmundo),
de HQs de
cowboys, terror, guerra, e até uma
edição do personagem Raio Negro (O Anel de
Lid),
criação-Mor do saudoso desenhista e escritor
Gedeone Malagola. Atualmente
Edno mora na
cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro,
no bairro de
Copacabana, e também está
no Facebook. Contatos?