segunda-feira, 10 de novembro de 2014

BELMONTE, O MESTRE DAS CARICATURAS!


Você já ouviu falar de Benedito Carneiro Bastos Barretos? 
Pois é, muita gente, inclusive do setor editorial brasileiro,
 até hoje não sabe dizer quem foi esse ilustre cidadão, 
ou que apito ele tocava. Porém, num passado não muito
 distante, ele foi um dos grandes e mais populares 
cartunistas do Brasil. Ganhou notoriedade quando
 passou a colaborar com a lendária
 revista chamada ALVORADA.
Num verdadeiro trabalho de garimpagem e resgate, 
dos grandes artistas do passado, que agitaram 
o mercado editorial nacional, tenho a honra
 de escrever, desta feita, sobre o inigualável...

BENEDITO CARNEIRO BASTOS BARRETOS, QUE FICOU CONHECIDO 
COMO BELMONTE, UM DOS 
GRANDES MESTRES DA 
CARICATURA DO BRASIL!

1896 - 1947 - Cartunista, pintor, caricaturista,
cronista, escritor, desenhista e ilustrador 

Belmonte era magro e esguio, nasceu no dia 12 de maio
 de 1896, na cidade São Paulo (que atualmente é
 a maior metrópole da América Latina), 
local onde morou durante toda a sua vida. 



São Paulo, antigamente...

... e atualmente

Quando a revista CARETA, famoso periódico
 carioca, o chamou para substituir J. Carlos, outro 
grande caricaturista da época, ele foi convidado para 
morar na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro,
 para trabalhar na revista. Mas nessa cidade praiana
 permaneceu apenas por dois dias.


Rio de Janeiro do passado...

Rio - Atual Cidade Maravilhosa


Viaduto Santa Ifigênia - São Paulo

Não hesitou e nem demorou muito, para pegar o 
primeiro trem noturno e rapidamente decidiu 
voltar para São Paulo, cidade pela qual sempre 
foi apaixonado. Dizia, aos amigos, que não 
conseguia viver longe dela. Assim, preferiu 
trabalhar como colaborador da referida revista,
 que fazia muito sucesso na época.

UM CONVITE PARA TRABALHAR
 NO EXTERIOR




Sua arte era excepcional. Fazia caricaturas como 
ninguém jamais vira antes. Tanto é que mais tarde,
 o jovem e talentoso mestre dos traços foi convidado
 para trabalhar para a Metro Goldwin Mayer 
(a famosa MGM), para fazer caricaturas para os 
cartazes dos filmes de Hollywood. 
Mas, recusou o convite. Preferiu continuar como
 chefe do departamento de publicidade dessa
 mesma empresa americana, que na época
 estava situada em um das salas do antigo
 Palacete Santa Helena, em São Paulo. Belmonte
 vivia dizendo sorrindo que sua paixão por 
esta cidade era “Puro caipirismo de paulista”.

Teatro Municipal de São Paulo



NASCEU NA POBREZA


Por ser de origem humilde jamais pode ingressar
 num curso de desenho porque seus pais
 não tinham dinheiro . Rabiscava por pura intuição,
 por dom. Belmonte conseguiu publicar seus
 primeiro desenho quando tinha 17 anos, em 1914, 
na revista Rio Branco. Mas não recebeu nada
 como pagamento. Nesse mesmo ano, 
começou a colaborar com a revista Alvorada,
mas por ser tímido e desconhecido jamais 
cobrava por essas empreitadas. Somente em 
1919 ele veio a receber o seu primeiro pagamento,
 cinco mil réis, pagos pela revista
 Miscellanea, por uma arte.

MEDICINA OU CHARGES?


Seus trabalhos caíram no gosto popular. 
Tanto que, de repente, uma serie de convites
 foram feitos por outros editores. Foi assim
 que ele passou a colaborar com diversas 
publicações, como Zig-Zag e D. Quixote. 
Ao começar a ganhar algum dinheiro, decidiu
 investir em si mesmo e saiu em busca de estudos, 
visando se formar em medicina. 
 Paralelamente, nas horas vagas, esse grande
 caricaturista continuou a fazer suas charges,
 desenhos, pinturas e artigos jornalísticos.
Porém, no dia do exame final, da escola de
 medicina, quando estava prestes a ingressar
 definitivamente na carreira médica, não
 compareceu ao exame, preferindo sair 
para remar no lago do atual Parque da 
Aclimação (zona sul de São Paulo),
 porque já havia optado, definitivamente,
 que iria trabalhar com veículos de comunicação,
 especialmente, livros, jornais e revistas.


Parque da Aclimação  ou Jardim da Aclimação - Foto atual



NASCE UM GRANDE ARTISTA

Da cidade provinciana que se transformava
 em metrópole (São Paulo) , ele retirava a
 matéria-prima para seus trabalhos. 
Sua carreira se consolidou  quando, em 1921, 
foi convidado para fazer parte da equipe de 
colaboradores do recém criado jornal paulistano 
chamado Folha da Noite, atual Folha de São
 Paulo (um dos mais conceituados
e tradicionais 
periódicos paulistano). 




No jornal, através de suas 
caricaturas e crônicas, ele transmitia os
 anseios do povo em relação as cobranças 
da Light (nome da antiga companhia que 
fornecia energia elétrica nessa cidade), 
do bonde, da telefônica, bem como a
 burocracia, os escalabros, a corrupção
 e os subornos.

SURGE JUCA PATO



O criativo Belmonte inventou um personagem 
que passou a ser o porta-voz dessa luta, e
 que era como um símbolo do homem comum
 do povo e que se tornaria o seu mais famoso
 personagem: Juca Pato.



Juca Pato, era um baixinho, careca, que
 usava óculos de arco de tartaruga e polainas.
 Ele nasceu José Juca Pato, nas páginas 
do jornal Folha da Noite, em 1925. Segundo
 o próprio Belmonte, Juca Pato já nasceu 
calvo “De tanto levar na cabeça”.
 Ele era a caricatura que denunciava os protestos 
do seu povo. Seu lema era “Podia ser pior...”.
Belmonte lançou o seu primeiro álbum 
“As Angústias de Juca Pato, em 1928,
 uma coletânea com as desventuras
 do seu personagem.

TRABALHOS CENSURADOS

Satirizando o presidente Getúlio Vargas
No período do chamado Estado Novo, pressionado 
pela censura imposta pelo então presidente
 Getúlio Vargas, deixou o personagem em
 “banho-maria” (na gaveta), e passou apenas
 a ilustrar caricaturas de personalidades 
do cenário internacional. Durante o” Estado 
Novo Getulista”, muitos dos seus 
trabalhos foram censurados. 

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


Com o advento da Segunda Grande Guerra
 Mundial, ele manteve uma campanha de charges 
e caricaturas contra os nazistas e que foram
 difundidas por toda a América. Goeebels, 
ministro da propaganda de Hitler, foi publicado 
no álbum Caricatura dos Tempos. Segundo
 jornalistas da época, Goeebels teria declarado,
 certa feita, sobre Belmonte : “Ele ataca o
 nazismo porque é muito bem pago pelos
 ingleses e pelos americanos”.







RENOME INTERNACIONAL






Desse período foram publicados os álbuns: 
 A Guerra do Juca, No Reino da Confusão, 
Música Maestro, Nada de Novo, Ideias de João
 Ninguém e Caricaturas dos Tempos. Suas 
charges e caricaturas passaram a ser estampadas 
nas páginas das principais revistas internacionais 
da época, sendo publicadas em diversos países,
 como: na Alemanha (na revista Kladeradtsch),
 na Argentina (na revista Caras e Caretas), 
nos Estados Unidos (na revista Judge),
 na França (na revista Riri), e em Portugal
 (na revista ABC).





SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO







Monteiro Lobato



Para os livros do consagrado escritor  Monteiro Lobato
 (autor da Turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo
(um clássico da literatura infantil do Brasil),
 Belmonte foi quem criou personagens famosos 
como Emília, Pedrinho, Narizinho, Dona Benta, 
Tia Anastácia, o Marquês de Rabicó, Visconde
 de Sabugosa,  e outros.

JECA TATU



,

Quem tem mais de 40 anos, na certa, se
 lembra dos famosos almanaques Biotônico 
Fontoura (do Jeca Tatu), que eram distribuídos
 nas farmácias de quase todo país, gratuitamente,
 e que traziam as histórias em 
quadrinhos de Jeca Tatu.









 Saiba que quem deu vida também 
ao Jeca Tatu (um caboclo pobre que vivia no
 mato, numa casinha de sapé, e que vivia
 cheio de germes, por andar descalço), também
 foi o incrível Belmonte. Ele ilustrou vários 
livros dessa inesquecível coleção,
 além das capas.





FAZENDO QUADRINHOS


Belmonte estreou nos quadrinhos na segunda 
fase da Gazetinha, em 14 de setembro de 1933,
 quando a mesma voltou  a ser publicada,
 após um longo período de paralização, causado
 pelas revoluções de 1930 e 32, quando
 tivera suas instalações destruídas e queimadas.
 Ele publicou 130 páginas de histórias em 
quadrinhos, durante mais de 3 anos, além 
de produzir muitas capas e ilustrações.



 Também foi o responsável pelas famosas
 Cartas Enigmáticas (mensagens
 codificadas por figuras, letras e palavras
 que deveriam ser adivinhadas pelos leitores,
 que concorriam a prêmios que o jornal oferecia). 
Esse passatempo inteligente fazia o maior
 sucesso entre os leitores infantis e adultos,
 da época. Esse jogo, criado por ele,
 fazia as vendas subir vertiginosamente.
Mais de 90 dessas histórias em quadrinhos
 eram dos personagens Paulino e Albina, 
que foram criados por Belmonte. 





Essas HQs contavam as aventuras de um 
menino branco e uma menina negra, na Gazetinha.
A famosa e saudosa publicação Gazetinha
 fazia muito sucesso. Foi publicada até março 
de 1940. Somente por quatro vezes o artista
 deixou de produzir as suas capas.




 Uma dessas vezes, foi quando uma HQ de
 Walt Disney foi publicada e os personagens
 desse genial autor americano apareceram
 na capa , em 11 de julho de 1935, em 
sua edição de número 96.

SUCESSO ABSOLUTO


Belmonte publicou charges, desenhos e
 caricaturas em praticamente todas as
 revistas brasileiras e ilustrou dezenas 
de livros, além de capas de partituras
 musicais. Com toda a fama, reconhecimento 
público e trabalhando cerca de 18 horas por
 dia, o chargista deixou para sua esposa e 
filhos, ao falecer, apenas sua obra como herança.
 Morreu de tuberculose no dia 19 de abril de 
1947, num dos quartos do hospital 
São Lucas, em São Paulo.

PRÊMIO JUCA PATO



A UBE (União Brasileira de Escritores), em 1962,
 criou o famoso Prêmio Juca Pato para o 
Intelectual do Ano. Este troféu foi idealizado
 pelo escritor Marco Rey. E, foi ele quem
 propôs utilizar o nome do personagem 
de Belmonte, Juca Pato, que foi a grande vítima 
dos “tubarões” do café e da política, pisado
 pelos homens da lei e pelos poderosos, em
 geral, e que nunca apareceu numa HQ ou
 charge com um amigo de verdade. 

Belinski

Assim, com a instituição do prêmio, o injustiçado
 Juca Pato passou a ter diversos amigos
 intelectuais, que se acumularam o longo dos anos.
 O prêmio Juca Pato já foi concedido aos 
escritores: San Thiago Dantas, Alceu de 
Amoroso Lima, Cassiano Ricardo, Tatiana
Belinski, Érico Veríssimo, 
Jorge Amado e Cora Coralina, entre outros.
“O artista tem que viver entre o povo, embora
 não deva fazer concessões à popularidade. 
Ser popular não é o mesmo que ser vulgar. 
O “Xis” da questão está em tomar um 
assunto complicado e difícil, digeri-lo,
 simplificá-lo e torná-lo acessível ao 
grande público. Resumir numa charge, 
por exemplo, um problema econômico ou 
financeiro, eis o ideal (...) fazer arte para
 ser entendido por algumas pessoas é criar uma
                         aristocracia artística.” (Belmonte).                             




Descanse em paz entre os deuses do traço,
 mestre Belmonte, e obrigado por ter enaltecido,
 ainda mais, com sua arte o setor editorial 
brasileiro. Seu talento, seus desenhos,
 charges e ilustrações jamais serão esquecidos.
Caros webleitores, aqui me despeço.
Espero que tenham apreciado esta matéria. 
Até a próxima!

Por EDNO RODRIGUES

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Estúdios Pégasus – Uma Divisão de Arte e 
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OBS: As imagens contidas nesta matéria são meramente
 ilustrativas e seus direitos autorais pertencem a 
seus autores, parentes ou representantes legais.

Edno Rodrigues é irmão do falecido desenhista 
Edmundo Rodrigues, criador dos quadrinhos de 
Jerônimo, o herói do sertão (que surgiu como
 novela radiofônica criada por Moises Weltman).
 Em parceria com seu irmão, Edno também executou 
outros inúmeros trabalhos. Em 1956, abriram um 
estúdio de rte e criação onde fazia os desenhos
 a lápis (que foram artefinlizados por Edmundo),
 de HQs de cowboys, terror, guerra, e até uma 
edição do personagem Raio Negro (O Anel de Lid),
 criação-Mor do saudoso desenhista e escritor 
Gedeone Malagola. Atualmente Edno mora na
 cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro,
 no bairro de Copacabana, e também está
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