quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

ENTREVISTA COM ROBERTO GUEDES, O GENIAL CRIADOR DE METEORO E OUTROS PERSONAGENS DE HQS!

Ele não é velho, ele não é jovem. 
Ele pertence a uma geração intermediária 
entre a minha e a nova geração, e hoje f
az a ponte entre elas, visto que um 
de seus super-heróis, uma de 
suas inúmeras criações: 
Meteoro, caiu no agrado 
dos jovens leitores.
 Ele tem grande bagagem profissional, 
se expressa com lucidez, 
é excelente escriba, autor de vários 
livros sobre HQs, é editor e atualmente
 edita o Almanaque Meteoro, que 
está prestes a ter sua terceira edição. 
Curta, agora, um bate papo super 
descontraído com um dos mais
prolíficos e persistentes autores da
 atualidade. Conheçam um pouco 
mais sobre o criativo e incansável 
bengala friend e grande amigo...

ROBERTO GUEDES,
O METEÓRICO ESCRIBA!


Tony – Grande Guedes! Quanta honra,
 brother...Vamos nessa? Aí vem chumbo 
quente! Quando e onde você nasceu?

Guedes – Fala Tony! É um prazer participar
 deste bate-papo legal com você. 
Bem, eu nasci em 18 de dezembro de
 1965, na capital paulistana, mais 
precisamente na Bela Vista. 
Mas fui criado no histórico bairro do Ipiranga.

Tony – Eu tenho muito orgulho de
 ter publicado suas primeiras HQs, 
além de ter visto seu
 personagem Meteoro nascer, 
praticamente, na minha editora, 
a Phenix. Eu acho... (Rsss...)

Guedes – Você e Wanderley Felipe fizeram 
um ótimo trabalho de edição
 naquelas minhas toscas 
HQs de humor. (risadas) Só que você está 
confundindo: as primeiras histórias saíram 
pela Editora Ninja. 
Eu lembro perfeitamente quando 
fui visitá-los ali num escritório na
 Praça da República. Depois, salvo 
engano, já sob o selo da Phenix,
vocês publicaram 
mais algumas das minhas HQs, 
quando, então já estavam no Brás.
 Quem me recomendou que mostrasse 
o Meteoro pra vocês foi o Gilberto
 Firmino, que me encomendou um 
monte de historinhas de humor 
quando trabalhava na GED 
(Galvão Editora e Distribuidora).
 Àquela altura eu já tinha pelo menos 
quatro histórias do Meteoro escritas
 e desenhadas, mas você – 
graças a Deus! – mandou redesenhar
 a primeira, que, ao final das contas, 
ficou bem melhor. 
Meu desenho era horroroso. (risadas)

Tony – É... você tem razão, 
trabalhávamos para a ed. Ninja...
depois abrimos a Phenix. 
Tô ficando velho... (Rsss...).
 Gilberto Firmino,
 grande cara, grande amigo, 
editor da revista Porrada, que
 foi um grande sucesso. 
Quando sai da Noblet, 
o Wanderley Felipe entrou no
 meu lugar e
 quando o Felipe saiu, entrou 
o Firmino. 
Conheci o fera por lá, acho 
que na década 
de 80, por aí...  Outro dia trombei
 com ele na cidade. Virou produtor e
 atualmente trabalha em casa fazendo 
palavras cruzadas, caças-palavras, etc,
 para diversos editores... 
Então, você tinha 4 HQs do Meteoro 
desenhadas? Isto, pra mim, é novidade. 
Legal... essas entrevistas sempre 
acabam elucidando as dúvidas, 
de todos nós...  Em minha opinião, hoje 
você é uma peça importante no intercâmbio 
entre nós, os mais velhos, e a nova
 geração que é fã do seu Meteoro. 
Você é uma das cabeças mais brilhantes 
que já conheci! Escritor, jornalista,
 editor, autor, etc. Qual é sua formação?

Guedes – Puxa! Não sei se é pra tanto, 
mas vindo de você – a quem 
eu sempre respeitei 
bastante – o elogio ganha muito 
mais peso.
 Eu fiz História na 
Universidade São Marcos.

Tony – Conheço a São Marcos... é 10! 
Quer dizer, você teve ensino superior,
 dá pra se notar pelo nível de seus artigos, 
seus livros e HQs... isto é ótimo. 
No passado, a maioria dos
 autores nem sabiam
 português, era lamentável... (Rsss...). 
Você, pelo que me consta, tinha uma 
banca de jornal – em que
 região da cidade?

Guedes – Na cidade de Santo André, região 
do ABC Paulista.

Tony – Região de grande poder aquisitivo 
devido as diversas montadoras de 
automóveis, que existiam naquela 
imensa área urbana. 
Hoje, a maioria delas saiu de lá... 
mas, é ainda uma das regiões mais 
ricas de São Paulo... 
Então, temos aqui um jornaleiro, 
que virou escritor, produtor,
 editor e jornalista, né? 
Uma trajetória de vida fantástica, 
caro bengala friend. 
Um exemplo de garra, 
de luta, à ser seguido... 
A banca em Santo André, ela foi 
antes ou depois de você se tornar 
um fanzineiro convicto?


Guedes – Foi apenas uma aventura! 
Porra-louca de quadrinista querendo
entender o outro lado das vendas. 
Surgiu uma oportunidade 
de fazer negócio com isso, 
e decidi investir. Mas durou 
pouco, não tinha 
nada a ver comigo...


Tony – Olha, taí um negócio interessante 
que você falou... “ver o outro
 lado das vendas”. 
Acho que o dono de um banca, ele, 
mais do que ninguém, sabe o que 
o público leitor quer. 
Tem contato direto com o consumidor. 
Deve ter sido uma boa experiência... 
O grande escriba Roy Thomas – 
que assumiu o cargo do genial
 Stan Lee, como roteirista
 oficial da Marvel -, e outras
 feras americanas 
começaram nos fanzines e
 se tornaram grandes profissionais
 da área. Parece que você 
seguiu os passos
 desses mestres gringos. 
Foi isto mesmo?

Guedes – Pode-se dizer que sim, embora, 
um ano antes de lançar 
o meu primeiro fanzine, 
eu já tivesse atuado como profissional ao
 vender o meu primeiro roteiro para o editor
Gilberto Firmino, da revista Porrada!.

Tony – Esta eu também não 
sabia, o Firmino foi o primeiro 
a lançar um trabalho seu na Porrada...
 legal. O Firmino também
 sempre incentivou
 os iniciantes, fez a sua parte e deve 
ser reverenciado por isso.
 Sempre deu força ao pessoal. 
Que bom saber...
 Lembro-me que a sua primeira 
HQ publicada na revista Udigrudi foi 
desenhada por mim.
 E o tema era o Rock’n’Roll.
Vejo que você 
sempre foi muito ligado, 
como o genial Baraldi –
 sou fã desse cara, ele é impagável -, 
no bom e velho Rock! 
Você também teve bandas ou alguma 
ligação com o mundo da música?
 Pergunto isso, porque 
muitos artistas 
das HQs também possuem
 o dom musical. Eu mesmo
 já tive diversas 
bandas, fazia o vocal e tocava
 contrabaixo ou guitarra. 
Meu ex-sócio o Wanderley era 
um excelente baterista, também... 
o Alexandre Dias, o Cavalo,
 da banda Velhas 
Virgens, colaborava na revista Udigrudi,
 chegamos até a tocar 
juntos à noite em casas noturnas...

Guedes – O Rock está em minhas veias 
desde moleque! Formei algumas 
bandas com amigos da escola
 e da vizinhança. Até compus 
algumas canções
 e ainda tenho as gravações de muitas 
músicas nossas. Se um dia eu criar 
coragem, coloco-as no 
You Tube (risadas). 
E não esqueça que, em 
sua identidade secreta, 
o Meteoro é um guitarrista,
 certo? (risadas)

Tony – Ahá! Eu sabia que essa
 fissura por rock guardava um
 músico e um compositor
 escondido atrás do grande 
escriba e editor... (Rsss...). Legal.
Essas composições, aposto que agora
 todo mundo ficou curioso pra ouví-las... 
coragem, my friend... coloca lá no 
You Tube... (Rsss...). 
Também compus umas 200 músicas e 
chegamos até a gravar CDs... como a 
banda não tinha nome virou
 Bengalas Boys (Rssss...), atual nome
 da nossa milenar confraria. Como eu
 disse, a maioria dos que desenham 
ou escrevem nascem com o dom 
musical, é incrível... Qual foi o primeiro
 personagem que você criou?
 E quando e como isso aconteceu?


Antigos seriados da TV, que
Roberto Guedes curtia...





Guedes – Difícil dizer. 
Eu lembro que assistia 
os seriados Tarzan,
 Zorro e Bonanza,
depois corria pra mesa 
 da cozinha desenhar 
histórias desses personagens.
 Logo, comecei a criar os meus 
próprios heróis. Um que me vem
 sempre à memória é um alienígena, 
estilo Superman, que batizei de “Ajax”.
 Só depois é que ficaria sabendo 
que aqui no Brasil, o Caçador de 
Marte da DC Comics era
chamado assim. 
Provavelmente me inspirei no 
produto de limpeza homônimo... 
(risadas) Isso foi ainda nos anos 70. 
Já na fase do Colegial, criei diversas 
histórias e personagens, 
transportando-as para peças de
 teatro amador. Até que, enfim, 
sintetizei várias idéias dispersas na 
elaboração do Meteoro.


Tony – Que legal saber que você 
também curtiu Bonanza... (Rsss...). 
Pelo visto, você também já é um 
bengala-boy... (Rsss...). 
Bem vindo a milenar confraria. 
Mas, vamos falar sobre Meteoro,
 que é um personagem marcante
 e que fala a língua dos jovens! 
Quando ele surgiu exatamente, 
e, por que, atualmente, você 
aderiu ao estilo mangá nas
 histórias do Mascarado Voador?

Guedes – Os primeiros roteiros do Meteoro
 são de 1987. Mas discordo, Tony, 
quando você diz que as aventuras 
atuais são mangás. É evidente 
que o estilo do desenhista Aluísio 
de Souza nas duas primeiras HQs tem 
influência do traçado japonês, mas
 é algo bem mesclado com o padrão 
comics dos norte-americanos, devido, 
principalmente ao enquadramento 
e poses. Costumo classificar seu 
estilo de “híbrido”. Conheci o 
Aluísio em 2001, quando formamos 
a equipe que iria produzir a 
graphic novel em comemoração aos
 40 anos do Vigilante Rodoviário. 
Seu traço foi aprovado pelo próprio 
Ary Fernandes. Pena que o projeto 
acabou engavetado devido aos 
problemas de saúde do 
cineasta na ocasião.

Tony – Gostei do desenho do Aluísio, 
que você chama de “híbrido”... (Rsss...). 
Não vejo nenhum mal no estilo mangá.
 A galera jovem curte e adora. 
Voces se conheceram em 2001, 
para fazer a edição comemorativa
 do Vigilante Rodoviário... que legal. 
Faz uma data, hein?
 E eu adorava esta série de TV, 
criada pelo Ary Fernandes.
 Tive o prazer de falar com Ary
 no facebook umas duas vezes,
 na sequência soube que ele 
havia falecido. 
O homem foi um herói.
 Merecia uma estátua. Fazer séries 
de TV no Brasil é pior do que fazer:
 teatro, cinema, ser jogador
 de futebol, ator de TV, ou fazer 
HQs... poucos conseguem fatura 
bem nessas profissões marginais. 
Você sabe... Gosto muito do Meteoro, 
que praticamente vi nascer! 
Quantas edições do herói 
foram lançadas até hoje?

Guedes – Não foram muitas, 
provavelmente 20 e poucas, 
contando as independentes 
do selo Fire Comics, as da Júpiter II, a 
edição da Escala, e os recentes
almanaques. 
Mas esse número vai aumentar!

Tony – Parabéns! Vinte 
e poucas, pra um herói 
tupiniquim, é uma vitória 
e espero que saiam 
muitas mais! Adorei 
o Almanaque Meteoro! 
Tá muito bem feito e um 
show de apresentação
 gráfica. O preço também
é campeão! Li vários
 depoimentos seus dizendo que 
o Cláudio Vieira – 
que desenhou a primeira HQ do 
Meteoro e que na época 
colaborava com a Phenix –
 trabalhava como animador pro
 Maurício de Sousa. 
Só para corrigir...
 o Cláudião era animador
 da Disney no Brasil, fazia 
freelas pros gringos.
 Você nunca mais falou com ele?

Guedes – Pois é! Pura mancada minha!
(risadas) Conversei com Cláudio
recentemente, e, talvez, voltemos 
a trabalhar juntos numa mesma HQ.
Quando eu tiver novidades 
concretas neste sentido, 
comunicarei na imprensa.

Um dos livros de Guedes
Tony – Legal, saber que vocês 
mantiveram contato. 
Ele até me pediu
 pra mim falar com você... ele é 
gente finíssima... mancada?
 Nobody is perfect, my old 
friend... (Rsss...). Depois dessa 
fase inicial como roteirista para
 as editoras GED, Ninja, Phenix etc,
 e do seu período no circuíto 
independente, quando você 
iniciou sua fase de editor 
na Opera Graphica?
Guedes – Em 2002.

Tony – Que tal a experiência 
de ser editor?...


Guedes – Foi e continua sendo um 
aprendizado e tanto. Apesar das 
aporrinhações é uma atividade muito
 divertida. Nunca tive dificuldade 
nenhuma pra editar o que quer
 que seja: livros, álbuns, magazines,
gibis. Cheguei à editora para oferecer
 serviço de tradutor e já me 
mandaram editar cerca de 20 
títulos de uma vez só. (risadas)

Tony – Isto prova a confiança que
 você transmite, é boa praça, e
 super competente. E você fez um
 ótimo trabalho! O Franco e o Carlos 
Mann te davam total 
liberdade de criação?


Guedes – Dependia da obra.
 Geralmente nas revistas mensais
 eu trabalhava sozinho, assim como
 nos álbuns de super-heróis e em 
alguns com autores nacionais. 
Em alguns títulos em específico 
ocorriam interferências. Normal.
 O negócio era meio sobrecarregado. 
Em outras editoras, há um editor
para cada quatro ou cinco títulos
 no máximo, mas na Opera 
eu cuidava sozinho de praticamente 
tudo o que se referia a Quadrinhos. 
Além da edição em si, tinha de 
traduzir quase tudo que publicávamos; 
escrever releases e conceder 
entrevistas para a imprensa; cuidar 
da coluna “Bate-Papo”, que saía, 
no mínimo cinco vezes ao mês; 
responder os e-mails de leitores;
 fazer revisão e copidesque; realizar
 entrevistas com autores brasileiros;
 escrever artigos biográficos para 
o site da editora e matérias
 quilométricas pras nossas revistas; 
prefácios para obras de outros autores; 
textos de orelha e de quarta capa etc. 
Tudo isso, sem falar quando me
 pediam pra ajudar a revisar ou 
editar revistas para outras editoras
 como a Escala, a Minuano e até
 uma de Portugal: revistas infantis, 
femininas, pôsteres de bandas, 
e por aí vai. Mas nunca reclamei. 
Se me passavam o serviço é
 porque gostavam do meu trabalho,
 e sou muito grato por isso. 
Ah, e ainda encontrava tempo para
 escrever meus próprios 
livros teóricos. (risadas)

Tony – Haja fôlego... você sempre
 foi polivalente e prolífico. Seus livros 
são geniais. Quais eram as tiragens
 daqueles álbuns luxuosos com
 capa cartonada em papel 
couchê, a cores? 
Comprei alguns clássicos que você 
editou das HQs Marvel. 
Belo trabalho...


Guedes – Não lembro direito. Acho que 
as tiragens dos álbuns variavam 
em torno de mil a dois mil exemplares. 
Algo pra circular em livrarias e comic shops.
Já as revistas de banca 
tinham tiragens bem maiores...

Tony – Ok. Quem diria que aquele 
jovem que um dia apareceu 
timidamente na minha editora, há 
mais de 20 anos, se tornaria um 
empreendedor, e um dos mais 
prolíficos e inteligentes 
profissionais da área? 
Quadrinho sempre
 foi uma paixão?


Guedes – Sim, Quadrinho sempre esteve 
presente de maneira muito importante
 na minha vida. É o que eu sempre quis fazer...

Tony – Quando a Opera Gráfica 
encerrou suas atividades, 
infelizmente, você deu um 
disappear do mercado por
 algum tempo. Só viémos a nos
 encontrar anos depois quando eu
 estava lançando Apache
 (pela ed. As Américas), e você o 
Almanaque Meteoro,
na livraria Comix.





Pra mim, aquela foi uma feliz 
coincidência. Ainda mais porque 
a ed. 1 do Almanaque Meteoro
 trazia uma homenagem
 ao meu personagem Fantasticman,
 feita pelo Carlos Henry e a turma dele.
Um crossover legal entre Capitão 7
 e Fantasticman.
O que você fez durante este 
período em que sumiu das bancas?


Série: Fantastic Man -
As Aventuras do Homem de Vulcano


Guedes – Ô Tony, não sumi, não! (risadas) 
Assim que saí da Opera em 2006, trabalhei
 para a Mythos, do Helcio de Carvalho 
e Dorival Lopes. Escrevi artigos para 
revistas infantis e de cinema e traduzi 
algo do Fantasma. Em seguida fui 
contratado em base free-lance
 para editar e traduzir vários álbuns 
de luxo e revistas mensais pra Panini, 
como por exemplo:
Biblioteca Histórica 
Marvel, Os Maiores Clássicos, 
Homem-Aranha: Grandes
 Desafios etc.






 Prestei serviço pra Myhtos/Panini 
até meados de 2008. Nesse mesmo 
ano, a HQ Maniacs Editora lançou 
meu terceiro livro A Era de Bronze
 dos Super-Heróis. Ainda colaboro 
com tradução e revisão para algumas 
editoras, além de editar o Almanaque 
Meteoro atualmente.

Tony – Ô, Guedes... a gente pensa 
que sumiu, porque, de repente, 
ninguém via mais o Meteoro por aí,
 ou você atuando com seus
 personagens de HQs, mas o 
você, então, tava aí atuando 
nos bastidores agitando 
outras publicações. 
O pessoal também
 diz que eu sumi, uns 12\16 anos, 
mas tava aí nas agências e fazendo
 outros tipos de publicações.
 Temos que sobreviver e nem
 sempre dá pra fazer nossa paixão:
 HQs. Como e quando 
surgiu Guedes Manifesto?


Guedes – No final de 2008. A idéia inicial 
era fazer um site, mas como não teria
 tempo pra me dedicar integralmente, 
optei pelo blog, que é mais fácil de 
gerenciar, além de ser possível 
manter um contato mais informal 
com meus leitores. O selo editorial 
foi uma conseqüência disso tudo.

Tony – Achei a idéia genial... Qual é a 
tiragem atual do 
Almanaque Meteoro? 
Que, aliás, tem uma excelente 
apresentação gráfica, como já disse. 
Parabéns!


Guedes – Brigadão, Tony! Realmente a revista 
está bem caprichada mesmo! A tiragem é 
limitada, voltada para gibiterias e locais 
especializados. Mas a venda pelo correio 
tem sido muito boa! Mais até do que
eu poderia imaginar.

Tony – Desejo à você muito sucesso, 
sempre... Você escreveu um livro sobre 
HQB: A Saga dos Super-Heróis Brasileiros. 
Aliás, preciso te agradecer, em público, 
pelos elogios que teceu à minha figura 
e a minha editora Phenix. 
Dos artistas nacionais do passado,
 quem você curtia?


Guedes – Acho que Watson e Mozart Couto
 marcaram bastante. Deodato, também.




Tony – Watson, Mozart e Deodato, 
também sou fã dessas feras. 
Fizeram história... 
aliás, o Deodato ainda faz. O Mozart 
nunca mais ouvi falar dele... É pena que 
o Mozart tenha sumido das bancas 
e que Watson tenha se decepcionado 
com a coisa, segundo o Wilde.
 O cara era genial. Paralelas, dele, 
é um clássico. Deveria voltar. 
O mano Wilde, velho guerreiro,
 taí de volta. Batalhando com
o Chet, um grande personagem. 
E, Gedeone Malagola?


Lee Falk (criador do Fantasma e Mandrake) e
 Gedeone Malagola (autor de Raio negro,
Homem Lua e Hydroman)
Guedes – Eu tive o prazer de conhecer 
Gedeone pessoalmente e de trocar 
correspondência com ele durante um 
bom tempo. Fiquei muito feliz quando 
autorizou o encontro de 
Raio Negro com Meteoro. 

Tony – O professor Gedeone, ele era 
uma simpatia, mesmo. Nunca vi alguém 
gostar tanto de fazer HQs e colecionar
 gibis, como ele. Tinha um acervo
 incrível na casa dele em Jundiaí,
 interior de S. Paulo. O porão da
 casa dele era uma gibiteca imensa...
 E os estrangeiros?


Guedes – Vários! Só para citar alguns que
 me fizeram a cabeça: John Romita, 
Jack Kirby, Steve Ditko, Neal Adams, 
John Buscema...

Tony – Só nego ruim... (Rsss...). 
Também adoro esses mestres... 
Durante sua prolífica carreira, além 
de fazer HQs, editar trabalhos
 importantes, escrever livros, etc,
 você também fez grandes entrevistas.
 Que celebridades, da Marvel, 
você chegou a entrevistar?


Stan Lee
Roy Thomas


Guedes – Stan Lee, Roy Thomas, Tom
DeFalco e Marv Wolfman. Por coincidência,
 quatro ex-editores-chefes da Casa 
das Idéias. Doravante, tive a honra de 
ser listado no rol de colaboradores 
da lendária Alter Ego do Roy. Demais!


Guedes e os seus livros


Tony – Genial! Poucos brasileiros 
tiveram este privilégio. Eu fiquei
 fora do mundo das HQs por 
uns 12\16 anos, fazendo 
publicidade para empresas 
diversas e esporadicamente 
fazia uma capa de livro, 
uma revista de atividades 
infantis, palavras cruzadas, etc,
 só pra não tirar o pé da
 banca (rsss...). Quando comecei a 
oferecer novas séries de HQs 
no mercado editorial, senti certa
 resistência por parte dos editores. 
Todos afirmavam que o mercado 
havia mudado e que as vendas
 estavam em baixa. 
Você já enfrentou essa barra?


Guedes – Sem dúvida, Tony. E bota 
barra nisso! (risadas)

Tony – Como é ser um editor independente? 
Dá pra ganhar dinheiro com isso?
 Acho difícil...


Guedes – Dinheiro? E quem liga pra isso?
 Eu quero é mais fazer gibis! Hã, com
 licença, é o meu gerente na outra 
linha querendo saber das
minhas aplicações... (risadas)

Tony – Você tá que nem eu? 
Os gerentes dos "meus bancos"
 vivem correndo atrás de mim... (Rssss...). 
É, não é fácil. Em Portugal, os 
Quadrinhos não vendem quase
 nada na atualidade. Obviamente 
que a crise mundial afetou
 muito mais a Europa do 
que a nós e isto deve ter
 contribuído muito para que a
 situação por lá chegasse a
 esse ponto crítico. Gente 
esforçada como o amigos 
bengalas guerreiros, de além mar,
 como o Zeca Willer (ou Zeca 
Benfica)- do blog do Tex-, e 
o valente Jorge Machado-Dias...
 eles estão lá brigando pra
 não deixar as BDs sucumbirem.
O BDJornal é uma fantástica 
publicação de ótima qualidade,
 toda equipe briga pra manter
 a chama acesa.
O Jorgão já deve ter comido o pão
 que o diabo amassou, pelo 
visto, mas não desiste. Enquanto 
o Zeca faz um puta trabalho 
fantástico no Blog mais comentado 
do velho ranger dos Bonellis, 
inclusive dando destaque pra nós,
 os tupiniquins que fazem westerns... 
Pergunto: será que no Brasil 
também vamos chegar a um 
estado crítico desses, ou já 
estamos quase lá? Você não
 acha que deveríamos voltar
 ao velho formatinho, bons 
preços, boas tiragens, na 
esperança de atrair os 
leitores que hoje fogem
das bancas?

Guedes – Se levarmos em conta uma 
série de fatores, como a profusão
 dos jogos eletrônicos, a interatividade 
da Internet com suas redes sociais 
e a coqueluche dos celulares, teremos
 um panorama nada animador
 das preferências de entretenimento 
do jovem – em tese, o público-
alvo das editoras de Quadrinhos. 
Assim, quem trabalha nessa área, 
cada vez mais terá de buscar 
uma nova forma de identificação
 com o leitor. Não dá para se
acomodar em velhas fórmulas.
 É evidente que um preço de 
capa baixo torna-se mais atraente
 para um consumidor eventual. 
Por exemplo: A revista Turma da
 Mônica Jovem tem boa tiragem, 
vende bem, é relativamente barata, 
com miolo em papel jornal e P/B.



GUEPARDO - Mais uma criação de Roberto Guedes.
Tony – Você é um cara inteligente
 e foi direto e objetivo em sua resposta. 
É evidente que, hoje, um editor tem 
e deve ser multimídia. Quanto aos
 preços, estão um roubo.
Os preços estão afugentando 
os antigos leitores, esta é que 
é a verdade. A Turma da Mônica
 Jovem é um grande exemplo 
de sucesso, citada por você. 
Tem boa tiragem e um preço legal.
Conclusão: vende bem. 
Chega de gibis chiques, 
eletizados, pra meia-dúzia 
comprar...
No meu tempo um gibi custava 
o preço de um jornal. E vendiam 
pra cacete... lembro-me que
 as edições da Rio Gráfica 
(atual Globo), em cores, do
 Fantasma, de Lee Falk, se
 esgotavam antes do meio-dia,
 no mesmo dia em que eram 
lançadas. Hoje, eles – os editores -, 
 vêm com apresentação gráfica 
luxuosa, custando mais de 20 pratas! 
Acho isto um roubo, um absurdo! 
Na América trilharam por este 
caminho e deram com
 os burros n’água!

Guedes – O Mercado Direto surgiu por 
lá como a salvação da lavoura para as
editoras que perdiam milhões de
 dólares ao ano por causa das 
distribuidoras picaretas; mas 
com o passar dos anos tornou-se
 o principal causador da falta de 
renovação de leitores, já que
 elitizou demais o mercado.
 Hoje, quem segura a popularidade 
dos personagens são as produções
 cinematográficas. Por aqui, o negócio
 é mais gritante, já que não temos 
uma rede de comic shops e de
 livrarias tão abrangente quanto 
em outros países, o que “esconde”
 ainda mais nossas produções de
 luxo, voltadas para um público 
bem restrito, adulto e com poder 
aquisitivo elevado. 
Enfim: preços altos, produtos
 questionáveis, 
vendas pífias.

Tony – Bem observado, mestre... 
sempre é bom conversar contigo...
rola sempre um papo-cabeça... 
lucidez total. Você fala com base, 
tem know-how, conhece bem 
 mercado tanto quanto eu... não 
“viaja na maionese”... (Rsss...).  
Apesar de sua notória 
paixão por super-heróis, pergunto: 
você também curte ou curtia gibis
 de Bang Bang? O que acha da 
volta desse gênero promovido 
por Billy The Kid, de Arthur Filho, 
Apache, da Editora As Américas
 e de Chet, da Ink Blood Comics?

Guedes – Adoro faroeste! E esse revival 
citado por você só confirma que há público 
interessado por todos os gêneros. 
E com certeza Apache abrirá 
muitas outras portas...

Tony – Que Manitu te ouça, my friend...
 Esta é a idéia, vamos 
ver se vinga... (Rsss...). Dificilmente
 um autor brasileiro 
cria um produto que venda bem. 
Há uma luz no fim do túnel para 
os novos profissionais? Ou seja, 
dá pra vislumbrar um futuro
 melhor para se trabalhar 
com HQs no Brasil?


Livro reunindo as HQs clássicas do
 Quarteto Fantástico
editado pelo Guedes, pela Opera Gráfica
Guedes – Hoje há uma leva 
bem considerável 
de desenhistas trabalhando para o 
mercado americano. Infelizmente aqui 
no Brasil as editoras não querem, ou 
não têm como investir em produção 
autoral nacional, como já aconteceu 
no passado. Cabe, então, aos
 próprios autores se auto-editarem.
 O que não deixa de ser algo bacana, 
já que isso promove o nascimento 
de várias editoras novas todos os dias
 O grande obstáculo continua
 a ser a distribuição.

Tony – Com certeza, distribuir revistas 
num país de dimensões continentais 
sempre foi o nosso drama... uma 
revista pra chegar em Manaus, 
custa caro. E o pior, apesar de
 nossas vias fluviais imensas
 ainda usamos o pior método:
 transporte rodoviário. Q
uando eu editava abri um 
leque de revendedores 
em todo o Brasil.
Viajei muito, fui atrás e abri 
esses contatos.  Chamávamos 
aquilo de “distribuição alternativa”, 
fora dos grandes distribuidores 
oficiais. Ou seja, pegávamos
os encalhes, dávamos 50% de 
desconto do preço de capa e 
vendíamos a mercadoria 
diretamente para os 
distribuidores das 
principais capitais. 
Tínhamos clientes por todo o país.
 Uma loucura. Era só transportadora
 na nossa porta carregando 
caixas o dia todo... Lembro-me bem,
de um cliente de Manaus, gente fina, 
que comprou bem e pediu prazo 
para pagar: 45,50 d\data. 
Chamamos a transportadora.
 Mas, durante a longa viagem,
 o caminhão atolou na rodovia 
Transamazônica, que há muito
 tempo tá abandonada.
Quando venceu o primeiro 
título o homem não tinha 
como pagar e nem tinha recebido 
ainda a mercadoria. É mole?
 Tivemos que prorrogar os prazos
de pagamentos. Se mandássemos 
de avião, o custo do frete ficaria 
altíssimo. Distribuir por aqui, 
sempre foi um grande problema.
 Acho que nos países pequenos
da Europa – em relação ao noss
o, é óbvio -, não há este tipo de 
problema... Bem, mas de volta 
ao nosso bate-papo... 
O que consagra qualquer autor,
 em minha opinião, são as vendas.
 Quer ele seja bom ou ruim. 
Tem muita gente ruim faturando 
e muito nego bom na berlinda. 
Como dá pra explicar isto? 
O público-leitor não sabe distinguir
 uma coisa da outra?


Uma aventura clássica que o
Guedes selecionou
para formar o livro\miolo
Guedes – Acho que sempre haverá 
casos pontuais, Tony, não necessariamente
 uma regra. Acho que, em dado momento, 
o público se cansa de certo título ao 
constatar que o mesmo não traz nada 
mais de interessante. Mesmo que 
por trás da revista esteja um forte
 trabalho de marketing e propaganda.

Tony –  Faz sentido... Bem, estamos 
chegando ao final dessa entrevista 
bacana, descontraída. Diga-me cá, 
ó gajo: Um sonho?


Guedes – Bah! Queria mesmo é viajar 
no tempo, aos anos 60, e poder trabalhar
 com feras como Stan, Jack, Jazzy 
Johnny e Roy na elaboração dos heróis 
Marvel. Como isso será muito difícil 
de acontecer, desejo, então, que os 
gibis brasileiros voltem a vender
 horrores em todas as bancas 
do nosso ensolarado país. (risadas)

Tony – Que Deus te ouça!
 Alguma frustração?

Guedes – Nenhuma. Deus permitiu 
que eu trabalhasse com o
 que eu gosto, e só tenho 
a agradecer por isso.


Quarta capa deste sensacional livro editado
por Guedes, que tem capa dura (cartonada)
e é totalmente em cores, impresso em papel
couchê

Tony – Bacana... também 
me sinto assim, 
em relação ao nosso trabalho... 
]tivemos a sorte de publicarmos 
bastante num país subdesenvolvido,
 pegamos épocas duras, grandes 
fases, e, por fim, sobrevivemos... 
já valeu! Grande amigo e poderoso 
guerreiro bengala Guedes, foi uma 
honra entrevistar um cara como 
você, super talentoso e lúcido! 
Dá um alô aí para os seus fãs e 
diz como é que o pessoal faz 
pra comprar o Almanaque do 
Meteoro. Um grande hiper 
amplexo e muito sucesso!


Guedes – A honra é minha, Tony!
 Pode apostar! Ah, aos interessados, basta 
escreverem para o e-mail
guedesbook@gmail.com 
que explico como adquirir minhas publicações, 
ou então, acessando o blog:

Tony – Ah, me esqueci... deve ser arterios-
clerose... (Rsss...). Roberto Guedes 
por Roberto Guedes?


Guedes – Idealista.


Tony – Vamos morrer assim.
 Fazer o que, né?
 Graças a Deus! Valeu, Guedão! 
Sucessão, procê! 
Que suas vendas sejam 
meteóricas... FUIIII!

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