domingo, 19 de outubro de 2014

GUSTAVO MACHADO É O ENTREVISTADO DA VEZ!


Tem início mais um bate papo virtual com outro grande 
nome das histórias em quadrinhos nacionais. 
O entrevistado de hoje tem uma larga bagagem
 profissional e construiu uma carreira sólida no 
setor editorial brasileiro. É dotado de grande talento,
 tanto para desenhar figuras cômicas, 
infantis, quanto as humanas.
 Colaborou ao longo dos anos com a Divisão Disney 
que foi criada pela editora Abril, fez HQs eróticas 
colaborando para o meu estúdio e me surpreendeu
 quando tomei conhecimento (segundo meus
 informantes, ex-agentes da KGB), que ele
 também pertenceu ao lendário “Barraco do Justo”,
 assim como eu. Relaxe, webleitor, pois vamos
 saber o que é lenda e o que verdade. 
Curta este nosso talkie show virtual, feito 
especialmente para você que curte saber o 
que rola nos bastidores do mundo 
das HQs. Saiba mais sobre
 a carreira brilhante do mestre...

GUSTAVO MACHADO!   




Tony 1: É com orgulho que recebi seu aceite ao lhe 
propor uma entrevista, Gustavão. Acompanho ao longo
 dos anos sua carreira e sempre admirei seu traço, seu 
trabalho, e seu jeito simples de ser. Posso “mandar bala”?
 Afinal, aposto que você tem boas 
histórias para contar (Rssss...)...

GUSTAVO: O prazer é todo meu, caro Tony! 
Lembro que a gente se conheceu  há mais 
de vinte anos, quando publiquei algumas HQs 
através do seu estúdio, como você bem lembrou.
Acompanho o seu blog, curtindo sempre suas 
grandes entrevistas, em tamanho e qualidade! 
São repletas de detalhes e histórias fantásticas. 
Nelas, pude desvendar muitos mistérios do 
mundo dos quadrinhos e dos seus criadores.
 São registros fantásticos!

Tony 2: Grato, por acompanhar nossos talkies shows, 
estimado bengala brother. Vou dar o 
"tiro de largada"... Apesar de eu conhecer o seu trabalho
 há algum tempo, foi só na década de 90 que o 
conheci pessoalmente. Na ocasião eu e o Wanderley 
Felipe (vulgo Tulipa) criamos o Estúdio Felipe – Fernandes. 
Éramos os responsáveis por todo o material 
editado pela editora Ninja, de Fernando Mendes,
 vulgo Manelão (por ter nascido em Portugal). 
Estávamos no 5º andar daquele velho prédio da 
esquina da avenida São João com a avenida 
Ipiranga, onde até hoje há academias de musculações,
 sobre o tradicional e extinto bar do Jeca, ponto
 de encontro obrigatório de músicos, artistas e 
“intelectantãs” em geral. Na época desenvolvíamos
 uma série de publicações para a referida e
 extinta editora, e quando passamos a produzir
 diversas edições de HQs eróticas para adultos
 sentimos a necessidade de contactar diversos 
colaboradores visando manter a periodicidade
 daquele tipo de produto editorial que vendia muito. 
Foi quando você surgiu com um amigo trazendo alguns
 originais de HQs para adultos. Fiquei surpreso ao ver
 seu belo traço e suas deliciosas figuras femininas,
 principalmente, porque jamais imaginei que você
 fizesse aquele tipo de arte. Sabia que você detonava 
nas figuras cômicas e infantis, mas anatômicas?
 O que o levou a nos procurar, naquela época?

GUSTAVO: Guardo bem essa ocasião em seu estúdio,
no mítico cruzamento bem no centrão de São Paulo.
Agora, quer saber mais? Tenho um caderno com anotações
dessa época, e lá está anotado um encontro nosso, ele foi entre 
os dias 22 e 24 de junho de 1989. Eu estava hospedando um
amigo, o mineiro João Baldisseri Jr, quadrinista e idealizador 
dos encontros de Quadrinhos da cidade de Araxá, Minas Gerais. 
Ele estava organizando o 2º Encontro, e entre os 
profissionais do ramo que ele agendou para visitar 
está anotado, no meu caderno: 
Tony Fernandes e equipe. Acredito que esse tenha 
sido o amigo e a ocasião que você relembrou.


Turma que participou em Araxá - 1988

Tony 3: Cacilda, você tem tudo anotado! isto é incrível! Juro que 
não estava lembrado do Baldisseri (como sou relapso).
 Foi isto mesmo, pois acabamos comprando e publicando o
 material dele também... relembrar é viver! Baldisseri, há quanto
 tempo não o vejo... Adorei! Baldi, valeu! E desculpe-me pelo 
esquecimento, véio... conheci tanta gente que, de repente, 
dá um branco nesse meu cérebro jurássico.
 Coisas da idade, eu acho...Rssss...

GUSTAVO: Revendo essas anotações resgatei lembranças
 incríveis, como o fato de seu estúdio ter sido o QG das
 negociações com aquele belga, o Piet De Lombaerde,
 que representava a agência europeia distribuidora 
de quadrinhos, a Commu. Ele estava no Brasil fazendo
 contato com vários quadrinistas para a produção
 e publicação de quadrinhos na Europa, lembra?

Tony 4: Sim, claro, claro... o Piet... quem me apresentou 
ele foi o grande mestre escriba Ataide Braz...

GUSTAVO: Foi no seu estúdio que peguei uma cópia
 do contrato da agência, como também levei 
material meu para apreciação do Piet e - nunca me 
esqueço! - tomei um “porre” de cafezinho! É que o
 belga chamou a gente para descer no boteco 
debaixo do estúdio - que acredito ser o Bar do Jeca
 citado - pra tomar um cafezinho, só que ele ia 
pedindo um atrás do outro, e oferecendo pra
 todos, como se fosse cerveja. O belga era fascinado
 pelo nosso café, ou melhor, viciado!  hahahaha...

Tony 5: Bem lembrado... enchemos a carcaça de cafezinhos
 no boteco de Jeca... o gringo era maluco... 
maluquinho por café...Rssss...

GUSTAVO: Por conta desse contato, você acabou
 conhecendo o meu material erótico da Grafipar, se 
interessou e propôs republicá-los. Minhas HQs 
acabaram saindo em algumas revistas, como
“Fetiche” e “Fantasia”.

Tony 6: Exato. Fetiche e Fantasia, os dois títulos eram
 da editora Ninja... O bacana é que você chegou
 bem na hora em que necessitávamos de novos 
colaboradores para manter aquelas séries que 
vendiam bem. Colaboravam com a gente, Salatiel de
 Holanda, Gilvan Lira e Décio Ramirez (desenhista e fotógrafo), 
que naquele dia, munido de sua câmera, registrou em foto
 nosso encontro. Não lembro exatamente quantas HQs 
você nos apresentou naquele dia, só sei que fechamos
 negócio contigo, pois o material era de qualidade.
 Dá pra recordar quantas e quais HQs você nos apresentou?

GUSTAVO: Poxa, você tem essas fotos?

Tony 7: Acho que tenho algumas... se encontrar uma 
juro que posto nesta entrevista. Mas, quem sabe o Ramirez 
tenha todas... vou perguntar pra ele. Tá sempre no face!

Foto tirada por Décio Ramirez (anos 90)

GUSTAVO: Gostaria muito de vê-las! Nessas minhas 
anotações de caderno tenho inclusive a lista das minhas
histórias que deixei com você, que somavam um total 
de 126 páginas. Os títulos eram os mais diversos, e 
talvez o destaque tenha sido umas HQs curtas da 
personagem Malícia, uma loura gostosa criada pelo
Claudio Seto para uma revista do mesmo nome, e 
cujos originais eram coloridos com ecoline. Infelizmente, 
por limitações técnicas, as histórias saíram desta 
vez em p&b, mas eu acabei gostando do resultado,
pois evidenciou mais os traços.



FOTOS 1 e 2: Reuniões sobre quadrinhos na Grafipar

Na época tinha muita gente fazendo quadrinhos no Brasil



Com Bonini e Watson na rodoviária de Curitiba



Tony 8: Cento e vinte seis páginas!!! Cara, é incrível 
como você é organizado... tem tudo anotado. Impressionante...
lembro-me bem da Malícia, quando saiu pela Grafipar... é, 
ficou bom em meio tom... Eu era fã de seus trabalhos feitos
para a Disney e que eram publicados pela Abril.
Por falar em editora Abril... Quando passou a trabalhar
e colaborar para a Divisão Disney?

GUSTAVO: Minha história com a Editora Abril 
começou em 29 de dezembro de 1987 
(segundo minhas anotações, (hehe...)...


O jovem Gustavo, ralando na prancheta (1977)


O jovem desenhista (1979)

Tony 9: Anotações... eu chamaria isto de um verdadeiro
 diário. Você acabou escrevendo um verdadeiro
 diário da sua carreira profissional. Isso dá um bom livro...


Famoso Comediantes da TV brasileira viraram HQs


GUSTAVO: Foi na ocasião que peguei uma HQ dos 
Trapalhões para desenhar. Fiquei como freelancer 
até maio de 88, quando fui contratado como
 desenhista no setor de infanto-juvenis da Abril 
Jovem, uma divisão da editora Abril. Nessa época, 
um pouquinho antes da contratação, eu havia criado
 os modelos da Xuxa para quadrinhos para a editora 
Globo, através da Art&Comics, como também a criação
 gráfica do Gugu Liberato, sendo que esse para
 uma revista em quadrinhos a ser lançada pela própria Abril.
Acabei abrindo mão de continuar produzindo as
 HQs da Xuxa para aceitar o convite da Abril. 


Xuxa - Layout de capa - 1988



O setor de quadrinhos nacionais era dirigido 
ainda pelo saudoso e querido Igayara, passando 
posteriormente para as mãos de outro grande amigo, 
Primaggio Mantovi.






Tony 10: Primaggio (vulgo Primo) e o Yga, grandes, 
velhos e bons amigos. 
O Yga, infelizmente "subiu o morro", foi pra uma melhor...
mas, prossiga...

GUSTAVO: Desde então, durante os seis anos 
seguintes desenhei vários títulos nacionais, 
como “Gugu em Quadrinhos”, “Sergio Mallandro” 
e o xodó da redação, os gibis “Os Trapalhões”, 
que tinha os personagens infantis desenvolvidos
por Cesar Sandoval.




Revista do Gugu (original)




Original - Sergio Mallando - HQ

Tony 11: Esta eu não sabia... foi o Cesar que 
desenvolveu a imagem dos caras da TV (comediantes), então...
 conheci ele nos anos 70, na Abril, na avenida Faria Lima, e
 confesso que na época não fui muito com a cara dele... 
anos 70, faz um tempão... há uns quatro anos atrás 
trombei com ele na editora As Américas, onde publiquei 
Apache, um western diferente, e o Cesar republicou 
as HQs da Turma do Arrepio... 


A, Turma do Arrepio - Por Gustavo Machado - Criação: Cesar Sandoval

GUSTAVO: Pois é... Nessa época, tive uma das maiores
 realizações da minha vida como desenhista de 
quadrinhos, criando a concepção gráfica e desenhando 
a graphic novel... quer dizer, “Grafic Trapa - Didi Volta p
Para o Futuro”. Um trabalho que foi super premiado e
 é prestigiado até hoje, contando com uma grande 
equipe de feras, como Watson Portela, Napoleão
 Figueiredo, João Anselmo e Edde Aguiar, numa 
fantástica adaptação da trilogia 
“De Volta Para o Futuro”, escrita pelo
 talentoso Marcello Cassaro.







Original - Os Trapalhões Editora Abril

Foi só após o cancelamento de todos esses títulos 
com celebridades nacionais da televisão – que 
foi uma moda nos quadrinhos dos anos 80 – 
que passei a desenhar quadrinhos da Disney.

Tony 12: Agora deu pra entender tudo... eu pensava que 
você tinha começado fazendo Disney... mas, a coisa
 rolou ao contrário. Maravilha, você elucidou tudo...
 Como surgiu a oportunidade de fazer Disney para 
a maior editora da América do Sul?


Abril jovem - Com: Noriatsu, Primaggio, Napoleão e Fernando Arcon

GUSTAVO: Foi início de 1994, quando o Primaggio, então 
chefe do setor de quadrinhos nacionais da Abril Jovem, me 
avisou que infelizmente as revistas dos Trapalhões seria
 cancelada. Logo em seguida, disse que gostaria que eu 
desenhasse o Zé Carioca, até porque não restaram muitas
 outras opções de trabalho, pedindo para que treinasse 
o estilo enquanto me enviava o primeiro roteiro. 
Cara, tremi nas bases! Veja bem, eu já tinha desenhado 
de tudo um pouco... Mas Disney é Disney, né?! 
Sempre ficava maravilhado com trabalhos dos 
meus amigos desenhando os personagens dessa linha, 
como o meu saudoso e querido amigo Fernando Bonini. 
Achava que jamais me adaptaria aquele estilo tão 
sofisticado e clássico. Aprendi a ler com o Tio Patinhas,
Pato Donald e Mickey, e Carl Barks, o homem 
dos patos, foi a minha primeira grande inspiração,
entre os tantos desenhistas que conheceria 
e me influenciariam durante minha vida.










Respirei fundo e desenhei minha primeira HQ do
Zé Carioca, cujo roteiro era de outro saudoso colega,
Genival de Souza. Como já morava em Londrina 
nessa época, enviei a HQ por sedex para avaliação
e, após alguns acertos e retoques a história foi aprovada.
Dali em diante eu continuaria desenhando
regularmente as HQs do papagaio malandro.

Tony 13: Desenhar Disney... não há quem não trema na base. 
Mas, você, como bom profissional que é deu um show, como
 sempre. Adoro o Zé Carioca feito por você, bengala brother...
 prosseguindo: Durante quanto tempo você desenhou
 os personagens Disney?  E quais personagens você fez?  




GUSTAVO: Foram mais de 120 HQs, o que parece muito,
 mas não é, se contabilizarmos a produção dos 
profissionais que passaram décadas desenhando
 esse e outros personagens da Disney, como é o caso 
dos mestres Luiz Podavin e Edgard Herrero, que 
continuam na ativa e me inspirando sempre.








Zé Carioca, por Gustavo Machado






Desenhei o Zé Carioca, de 1994 até 2000, quando
 então a editora Abril parou com a produção.
 Agora em 2013, treze anos depois, fui convidado 
a desenhar novamente o papagaio, o que me 
deu enorme satisfação.
Além do Zé, desenhei também alguns outros 
personagens da Disney, todos ligados aos 
lançamentos dos longas-metragens de animação
 para o cinema, como o “Corcunda de Notre Dame”, 
“Hércules”, “Mulan” e “Tarzan”. Essas histórias 
fizeram parte de uma iniciativa arrojada do Primaggio,
 que conseguiu que, pela primeira vez, um material 
produzido no Brasil fosse aprovado diretamente pelo
 estúdio da Disney em Burbank, Los Angeles, para ser
 distribuído para todo o mundo, simultaneamente 
com os lançamentos no cinema. Mais à frente,
 outros desenhistas se juntaram a essa
 produção internacional, como 
Paulo Borges e Aluir Amâncio.




Um trabalho fora de série





Simba # 4 - Série: Rei Leão

Tarzan - Versão de Walt Disney

Tony 14: Também desconhecia isso... poxa, o Primaggio
 foi ousado mesmo... Uma produção Made in Brazil, 
destinada ao mercado internacional! Caramba! 
E ele conseguiu um time da pesada... fantástico! 
Eu também cheguei a produzir Disney, por breve período,
na década de 70, quando esta divisão, que dava
emprego para muitos desenhistas nacionais, estava
na avenida Faria Lima. Mas, confesso que fazer aqueles 
bonecos baseando-se nos Model Sheets vindos da
América era um pé no saco. Os caras pagavam bem, 
mas exigiam demais. Conheci Jorge Kato, Izomar,
Igayara (o poderoso chefão), Primaggio, prof. Fioroni, 
Kitty, Dudu, Cesar Sandoval (autor da Turma do Arrepio) 
e outras feras como Júlio de Andrade Filho, Ivan 
Saidenberg, excelentes escribas “Disneyanos”, Farias,
e o famoso P.P (Paulo Paiva). Você também os conheceu?
Conviveu com essa turma da genial?

GUSTAVO: Ah, então você entende bem o que
 passei para aprender a desenhar os personagens da
 Disney! Realmente, é bem complicado assimilar
 todo o conceito gráfico disneyano. Eu tenho até 
uma teoria... Como os personagens da Disney
 são mundialmente conhecidos, qualquer
 escorregada, um errinho que seja na 
concepção e criação fica logo visível, você não acha?
 Por isso o pessoal marca em cima.

Tony 15: Sim, você tá coberto de razão. Além do mais se cada
 desenhista que fizer Disney for dar um toque pessoal 
nos desenhos, em pouco tempo os personagens ficariam
 irreconhecíveis. Por isso nos obrigam a seguir um padrão...
 mas não é fácil. Avante... e, me desculpe, pelos apartes...


O Corcunda de Notre Dame

Mulan - 1988

GUSTAVO: Quando desenhei os personagens
 das animações para cinema que citei acima, como
 o Corcunda e Mulan, foi ainda mais difícil, pois 
meus desenhos eram enviados para os EUA para 
avaliação, e voltavam com correções que beiravam 
a insanidade, como corrigirem a franja do Corcunda, 
enfatizando que eu tinha feito duas pontas de cabelo
 na testa, quando teriam que ser três, e por aí vai... 
Mas tarde, com a continuidade da produção, os
 americanos deram uma relaxada... Ainda bem! 
Acho que era um teste de resistência, desses 
praticados em calouros, trote de desenhista! hahaha...

Tony 16: É... acho que eles testam nosso poder de sofreguidão...
 a coisa é pior do que tortura chinesa 
(aquelas gotinhas pingando na testa), Rssss...

GUSTAVO: Prosseguindo,Tony... sobre os nomes 
que você citou, conheci e trabalhei por muito tempo
 com alguns deles. Além do Primaggio e Igayara,
 também convivi com o Izomar e o Cesar Sandoval.
 Este último já havia saído da editora Abril e
 atuava no ramo de animação, como diretor do 
estúdio Sketch Filmes, onde eu havia feito muitos
 desenhos animados durante a minha fase profissional 
em animação, que foram  cinco anos antes de entrar
 para a editora Abril.
Eu e César fizemos muitas parcerias também
 em quadrinhos. Desenhei a primeira HQ
 da “Turma do Arrepio”, reservada especialmente
 para mim num gesto carinhoso dele, e mais 
algumas outras do início. César era muito 
criativo e sempre estava desenvolvendo
 novos projetos e me convidando para participar. 
Foi uma boa amizade daquela época, com quem 
aprendi muito. O Farias também é outro amigo
 talentosíssimo, que continuou com a Xuxa, 
quando saí da produção. Curiosidade... 
Você sabia que era o Farias quem desenhava 
muitas daquelas capas dos gibis da Ebal, 
como Batman, no início dos anos 70? Isso porque 
as capas tinham que ser redesenhadas, 
para não pagarem pelo uso das capas originais,
 foi o que ouvi dizer.


Tony 17: Conheço o Farias há séculos, já tomamos muitas
 "brejas" juntos em animados happy hours junto com o
 Fauto kataoka (Ele e os filhos foram grandes produtores
 da editora Escala e da Minuano, atualmente), 
mas nunca soube essas capas redesenhadas no 
Brasil. Essa vou consultá-lo... pra não pagarem 
royalties... essa é boa, Gus. Grato, pela informação...
Na real a gente conhece o pessoal do meio, superficialmente,
é óbvio... é por isso que adoro estas entrevistas.
Aqui, de fato, ficamos sabendo das coisas 
e as lendas (informações erradas que saem por aí)
acabam se dissipando...

GUSTAVO: Paulo Paiva , o Pepê, é um caso a parte, 
pois é um amigão desde quando conheci ele
 e sua esposa, a Suely, assim que me mudei de 
Curitiba para São Paulo, em 83. Um casal muito
 querido! Nessa época fizemos a primeira versão 
do Gugu Liberato para quadrinhos, que
 ele escreveu e produziu.

Tony 18: Se não me engano essa primeira 
edição vocês fizeram para a editora do Itagiba...
 me lembro  bem... Depois, a lendária divisão 
Disney mudou para uma rua paralela a avenida da
 Consolação, que não recordo o nome. Eu e o 
Gedeone estivemos por diversas vezes lá, visitando
 o Iga e o Primaggio. Naquela época jurássica a Abril 
dominava o mercado de quadrinhos, com aquelas 
revistas em formatinho. Lançavam de tudo, 
super-heróis, uma gama de Disney, personagens 
Hanna-Barbera, DC, etc. Como disse certa feita Primaggio:
 “O sonho acabou!” Tem saudade ou boas 
lembranças daquela época? Quantas pessoas
 trabalhavam aproximadamente na
 lendária Divisão Disney?

GUSTAVO: Você com certeza se refere ao 
prédio da Abril Jovem, na rua Bela Cintra...


Abril Jovem - 1990

Tony 19: Bela Cintra... este é o nome da rua. Putz... 
bem que eu te disse que meu cérebro jurássico anda
 de mal a pior... Rssss... valeu! Vamos em frente...


 GUSTAVO: Foi exatamente ali onde trabalhei durante
 anos, quando fui contratado. No início, eu fazia
 parte do setor de infanto-juvenis desenhando Trapalhões, 
Gugu e Sergio Mallandro, como já comentei. Na época 
em que comecei a desenhar o Zé Carioca, já havia
 me mudado para Londrina, no Paraná, e nessa mesma
 ocasião todos os setores e departamentos da 
Editora Abril foram transferidos para num 
imenso prédio de trinta andares, na Av. das 
Nações Unidas, em Pinheiros. Fui poucas vezes 
nesse novo endereço, pois enviava minhas histórias
 pelos correios. De certa forma, o sonho começou
 a acabar durante essa mudança, acredito... 
Já havia tido um grande corte na Abril Jovem, 
com muitas demissões no nosso setor, um tempo
 antes, deixando-nos desfalcados de muitos amigos
 e grandes talentos. Nos nossos bons tempos, 
o setor todo devia contar com uns cinquenta 
profissionais, acho. Pouco depois, em setembro 
de 1997, o sonho definitivamente acabou, pois houve
 uma demissão coletiva, praticamente fechando o 
setor de quadrinhos, que continuou por mais três 
anos com a produção nacional cada vez
 menor, contando essencialmente com freelas,
 até acabar totalmente em 2000, quando 
continuou apenas com HQs republicadas 
e material enlatado. O desmoronamento lento e
 gradual daquele grande estúdio de criação, 
a partir de 92, foi muito doloroso. Mesmo quem
 continuava sentia que não era a mesma coisa
 daqueles velhos e bons tempos, quando a sala 
do setor era repleta de pranchetas e se respirava
 quadrinhos o tempo todo. Penso que aquele 
foi o último grande estúdio de produção de HQ no Brasil.

Tony 20: Sem dúvida, até hoje ninguém no país conseguiu mais 
montar um estúdio imenso como aquele pra produzir 
HQs. Foi uma pena aquilo ter acabado... muita gente 
ficou ao "Deus dará", sem emprego e sem trabalho...
 Neste período as HQs produzidas no país com os 
personagens Disney eram feitas em “linha de montagem
 ou produção”, para atender a demanda. Isto é: Um escrevia, 
outro desenhava a lápis, outro arte finalizava, alguém 
fazia os balões e outro, a colorização. Ah, eles tinham 
gente só pra desenhar os títulos das HQs. Hmmm... 
mas me esqueci o nome deste genial “titulizador”,
 o cara que desenhava os títulos das HQs e
 logos de capa de cada personagem...  Conta pra
 gente como é que a coisa funcionava na época? 
Você recebia os roteiros ou desenvolvia roteiro e
 desenhos? Era funcionário ou fazia freela?

GUSTAVO: Era exatamente como você descreveu, 
cada profissional em sua especialidade. Eu já 
estava acostumado com esse esquema, pois 
comecei profissionalmente na RGE como desenhista 
da equipe do “Sítio do Picapau Amarelo”, e lá
 também funcionava essa linha de produção.
Eu até poderia escrever roteiros, o que fiz na RGE, 
mas na Abril Jovem fui contratado como desenhista,
 essencialmente para desenhar os quadrinhos na 
fase do lápis. Recebia um roteiro aprovado e desenhava.
 Depois que o desenho era aprovado, a HQ era
 passada para o letrista, que cuidava de todos os 
balões e onomatopeias. Em muitos casos nessa 
etapa, tinha o trabalho do titulista, um profissional
 que cuidava apenas dos títulos, que muitas vezes
 eram bem criativos, muito além de meras letras.
 Um bom exemplo é o meu mestre dos tempos da
 RGE, Murilo Moutinho, que considero o mais talentoso
 desenhista com quem trabalhei. Soube que no 
seu início na RGE ele criava títulos, como aqueles 
nas belíssimas capas do Gibi Semanal. Tinha também
 o José Belmiro de Menezes, que depois da RGE chegou 
a trabalhar na Abril Jovem. Tenho até HQs dos 
Trapalhões com títulos criados por ele. Depois disso, 
a HQ seguia para o arte finalista, que finalizada 
tudo com pincel e nanquim, fazendo os pequenos 
detalhes com aquelas canetas técnicas de nanquim,
 muito usadas por arquitetos. Finalmente, a HQ
 chegava para o trabalho do colorista, que através 
de uma xerox reduzida das páginas, indicava as 
cores pintando toda a história com lápis de cor, 
caneta hidrocor ou guache, anotando cada cor c
om sua porcentagem, estabelecida pela  tabela
de cores usada na gráfica.
Para começarmos nosso trabalho, tanto nós os 
desenhistas contratados quanto os freelas, 
recorríamos a uma grande pasta repleta de 
roteiros - que na Abril se chamava “argumento”
– e que ficava na sala do chefe do setor.
Ali ficavam todos os argumentos de quadrinhos
 aprovados e a disposição para desenhar. 
Às vezes, acontecia a produção pedir para 
pegarmos uma história específica, já programada
 para alguma edição, mas geralmente tínhamos 
bastante liberdade de escolha. Era muito legal ficar
 sentado numa mesa folheando roteiro por
 roteiro, conferindo as criações dos amigos e 
ficando na dúvida, qual história escolher. 
Quem trabalhava em casa geralmente
 pegava um bom volume de histórias, mais
 ou menos o que seria a produção do mês.
Em tempo... O contrato da Abril com os
 desenhistas exigia que cumpríssemos uma cota 
de 22 páginas por mês de desenho a lápis, mas 
se a gente produzisse além, o que sempre
 acontecia, recebia adicionalmente por cada 
página extra produzida. Minha média era entre
 35 e 40 páginas a lápis, por mês.

Tony 21: Você tinha uma ótima média de produção.
 Acho que jamais vai existir no país uma editora que
 pague tão bem pelos originais como a editora Abril. 
Os caras exigiam, mas reconheciam o talento 
dos seus contratados e profissionais. Tive boas 
experiências com eles... Antes de trabalhar com
 a Abril, quais foram suas experiências profissionais,
 no ramo, mesmo?

GUSTAVO: Comecei profissionalmente aos 
18 anos, desenhando o gibi do “Sítio do Picapau Amarelo”,
 na RGE (Rio Gráfica e Editora, hoje editora Globo), em 1977. 
Consegui o emprego respondendo um anúncio do Jornal
“O Globo”, que minha tia recortou e me mostrou. 
Como deve ter acontecido também com você e 
muitos colegas da profissão, a gente era 
conhecido como os desenhistas da família, né?
 Entre os parentes, sempre que aparecia algo referente 
a desenho, me comunicavam. Aliás, até hoje recebo
 recortes de revistas e jornais da família, quando 
acham que a matéria possa me interessar. É um
 antigo mimo familiar... Carinhoso, não?
O anúncio do jornal que citei dizia: 
Desenhista de Histórias em Quadrinhos – 
precisa-se com experiência. Horário integral, 
bom salário. Sinceramente, respondi ao 
anúncio sem grandes expectativas, visto que 
o texto exigia: “com experiência”, o que eu não
 tinha alguma... Mas não custava tentar, pensei.



1978 - Na porta da Rio-Gráfica Editora

Hoje tenho a convicção que o que me motivou, o que
 me deu, coragem para responder aquele anúncio 
foi um fato ocorrido seis meses antes...
Estava em férias escolares no Rio de Janeiro com 
minha família, pois nessa época morávamos em
 Volta Redonda, no interior do estado. Eu era
 maravilhado com as publicações da RGE, que
 naquela época nos brindava com o Gibi Semanal, 
que resgatava os grandes clássicos dos quadrinhos
 como: “Spirit”, “Terry e os Piratas”, “Príncipe Valente” 
e tantos outros. Resolvi tentar conhecer onde se 
faziam todas aquelas revistas que eu admirava tanto,
 e na cara de pau fui bater na porta da RGE, no famoso 
endereço da Rua Itapirú, nº 1209, no bairro do
 Rio Comprido. Quando cheguei era hora do almoço, 
e o porteiro, o Pelé, depois de ouvir minha história
 de fã de quadrinhos, compadecido, deixou eu entrar
 e tentar ver se achava alguém que me recebesse,
 mesmo naquele horário. Fui então encaminhado 
para o refeitório da empresa, no último andar do prédio. 
Quando cheguei ao local, só havia uma mesa ocupada,
 com umas cinco pessoas. Quando viram aquele 
rapazinho ali, com cara de perdido e explicando 
o que pretendia, um deles se dirigiu a mim se 
apresentando e disse: - Espere só um pouco,
 rapaz, que eu já estou acabando o almoço e 
te levo pra conhecer o estúdio. Era o Walmir Amaral!
 Eu, num misto entre sem graça e extasiado, pouco
 depois seguia com ele pelos corredores desertos
 naquele horário, até uma grande sala repleta de
 pranchetas. Nunca vou esquecer aquele cheiro
 de estúdio, uma mistura de papel, nanquim... 
Enfim, cheiro de quadrinho!



A arte espetacular de Toth









Walmir foi extremamente amável, pedindo desculpas 
pelo lugar estar vazio, sem outros profissionais que
 pudesse apresentar. Levou-me até sua prancheta e 
começou a pegar vários desenhos guardados nas gavetas,
 inclusive uma capa a guache que havia acabado de fazer.
 Era a capa da nova revista de terror que estava 
para ser lançada, “Kripta”! Eu vi em primeira mão 
aquela bela ilustração do Drácula, segurando uma 
bela e gostosa jovem desfalecida em seu colo, com 
um castelo ao fundo!
Para minha surpresa, ele ainda me presenteou
com alguns originais seus! Conversamos um pouco 
e nos despedimos. Não preciso contar o 
estado de êxtase em que fiquei daquele momento em diante!
Como disse, hoje sei que esse acontecimento me
ajudou a não temer voltar naquele prédio para
fazer a entrevista respondendo ao anúncio,
embora não tivesse experiência alguma.
Aquele ambiente já me era familiar, e eu 
sonhava trabalhar num lugar como aquele, 
desde aquela visita.




Conseguir a vaga como desenhista na equipe 
do “Sítio” foi outro deslumbre, que também demorou
bastante pra que caísse a ficha. Soube depois que
estava entre mais 16 aspirantes àquela única vaga.
Comecei minha vida profissional como desenhista
já fazendo o que mais gostava – quadrinhos – 
trabalhando ao lado de muitas pranchetas
repletas de grandes profissionais, alguns dos
quais se tornariam grandes amigos, como: Fernando
Bonini, Antonino  Homobono Balieiro, Itamar
Gonçalves, Murilo Moutinho, Evaldo, Norival, 
Wanderley Mayhé, Adauto Silva, assim como 
o próprio Walmir Amaral. Foi um início de carreira abençoado!
A propósito, tenho aquele recorte do anúncio da RGE até hoje. 
Está emoldurado e é minha “moedinha nº 1”!

Tony 22: Bota abençoado nisso, grande guerreiro.
 E esse tal anúncio, de fato, merece destaque, pois
 mudou radicalmente sua vida. Que bacana... Putz... ia 
me esquecendo: Em que dia, mês, ano, cidade e
 estado, você nasceu, bengala brother?

GUSTAVO: Nasci no dia 25 de dezembro de 1958, 
no Hospital dos Servidores do Estado, na Lapa. 
Sou um genuíno carioca da gema do ovo. 
Minha mãe tinha 21 anos, era professora primária 
e papai acabava de ser formar arquiteto, aos 26 anos.
Dois anos e meio depois nasceria minha única irmã, Gisela.


Bairro da Lapa - Rio de Janeiro

Tony 23: Agora sim... agora estamos inteirados sobre o seu
 surgimento neste planeta... Curiosamente, você fez ao
 contrário do Carl Barks, famoso colaborador da Disney 
e criador de Uncle Scrooge (Tio Patinhas, no Brasil). 
O genial Barks começou desenhando HQs eróticas e depois
 foi fazer infanto-juvenil. Você primeiro fez figuras 
cômicas e infantis e só depois enveredou para o erótico, certo?


Barks desenhando HQs eróticas



GUSTAVO: Só há pouco tempo tomei conhecimento 
dessa produção erótica do grande Carl Barks. Que bom
que você o citou, pois este foi o primeiro desenhista
a me influenciar, ainda na infância, e que admiro desde então.
Meu primeiro gibi foi um Tio Patinhas com histórias
 dele, e foi amor a primeira vista. Tinha sete anos e 
recém alfabetizado. Foi o primeiro gibi que eu li.
Nunca esqueço quando, poucos meses depois 
de tê-la comprado, ouvi muito triste a notícia da 
morte de Walt Disney pela TV. Também guardo 
esse gibi até hoje.
Rapaz, como eu falo, hein?! Hehe... Mas voltando a 
sua pergunta... De fato, comecei profissionalmente
desenhando quadrinhos infantis no “Sítio”, e só 
depois desenharia quadrinhos eróticos. Isso foi quando
ainda trabalhava na RGE...
Um dia, dando uma passada pela prancheta do 
Walmir - novamente ele marcando em minha vida! - 
um ritual que todos no estúdio costumavam 
fazer para conferir as maravilhas que ele 
sempre estava criando, constatei que ele 
estava desenhando uma belíssima HQ, chamada
“Estupro”. Era para a Grafipar, que eu nunca tinha 
ouvido falar. Walmir contou-me sobre a nova
editora curitibana, que estava aceitando 
colaborações e dando oportunidade há quem se
dispusesse entrar em contato. Assim como a Grafipar, 
a editora Vecchi, ali mesmo no Rio, também vivia um 
grande momento com a publicação da revista de
terror Spektro e outros títulos.

Adicionar legenda
A deliciosa Maria Erótica - Criada por Cláudio Seto - Arte: Gustavo




Tony 24: Grande Walmir, apesar de jamais tê-lo conhecido
 pessoalmente, ele era um dos meus grandes ídolos. 
Fez inúmeras capas e até HQs do fantasma e Mandrake, 
do genial Lee Falk... O que o levou a criar roteiros e belos
 desenhos para o público adulto, bengala brother?

GUSTAVO: Embora gostasse de desenhar infantis, 
estilo que aprendi desenhando as histórias do “Sítio”,
 cresci curtindo e desenhando essencialmente quadrinhos
 com figuras humanas, quase sempre super-heróis 
e HQs de ficção cientifica. Quando adolescente,
 um pouco antes de entrar na RGE, havia desenhado 
umas HQs eróticas só para mim, escancaradamente
 inspiradas nos catecismos de Carlos Zéfiro & Cia 
(estou contando isso em primeira mão! 
Apenas três amigos de adolescência tiveram
 acesso a esse material proibido, hehehe...). 
Aqueles catecismos eram difíceis de conseguir,
 e geralmente eram emprestados entre os colegas.
 Resolvi desenhar os meus próprios, o que foi um
 ótimo treinamento para aprender anatomia humana, hehehe...
O surgimento da Grafipar e Vecchi era a chance 
que esperava para desenhar no estilo figurativo, e 
tanto eu quanto os meus amigos desenhistas da 
equipe do “Sítio” começamos a colaborar 
para ambas as editoras.








Minha primeira HQ para a Grafipar foi “Aula Particular”, 
que não passava de uma nova versão de uma daquelas 
HQs eróticas que havia
desenhado na adolescência.
Com a Vecchi e Grafipar disponibilizando tanto 
espaço para publicação, o entusiasmo foi tanto 
que acabei pedindo as contas na RGE para poder
 dispor de tempo livre para desenhar para as três 
editoras, isso porque continuei fazendo os
 quadrinhos da turma de Monteiro Lobato
 (Sítio do Picapau Amarelo) para a RGE, mas 
então como freelancer.

Tony 25: Além da poderosa Abril, para que outras
 casas editoriais você colaborou ao longo dos anos?  

GUSTAVO: Além da Abril, Vecchi, RGE e Grafipar, 
também saíram publicadas HQs minhas na editora
 Globo, nos gibis da Xuxa e Turma do Arrepio. 



HQs feitas para a editora Vecchi - 1979



Eventualmente algum material erótico da Grafipar
 foi publicado pela Press/Maciota, assim como 
pela Ninja, como você mesmo destacou.
No início dos anos 90 houve um derrame de
 material erótico da Grafipar sendo publicado
 de forma pirata por uma editora, 
mas isso já é outra história...

















Dando palestras





Tony 26: Pois é... sofremos pirataria de quadrinhos... e o pior,
 ninguém ferrou os caras. isto é Brasil, gente.
 Aqui não se respeita Direitos Autorais... isso tem que mudar...
 Sua primeira HQ, ela foi publicada em que 
ano, por qual editora?

GUSTAVO: O meu debut profissional aconteceu 
em março de 1977, na 1ª edição do gibi 
“Sítio do Picapau Amarelo”, pela Rio Gráfica e
Editora. Antes disso, tive um desenho meu 
publicado numa seção para amadores na revista 
MAD, da editora Vecchi, cujo editor era o Otacílio
D’Assunção Barros que, quem diria, seria meu
editor em HQs de terror poucos anos depois. 






Foi a 1ª vez que saiu um desenho meu impresso 
na grande mídia, isso foi em 1976. Nesse mesmo
ano também colaborei para um pequeno jornal 
chamado “Opção”, de Volta Redonda, no interior 
do estado do Rio, onde residia com minha família.
Não considero esse meu início profissional 
porque nunca ganhei um centavo por qualquer 
ilustração que tenha feito para aquele semanário.
Fazia por curtição e pra treinar, pois descobri
que desenhar por encomenda é muito mais 
desafiador do que fazer apenas
as coisas que curtimos.




Tony 27: O que você lia na infância e na adolescência?

GUSTAVO: Meu caro amigo, se você se refere a
 quadrinhos, li muita coisa! Comecei pelo Tio Patinhas, 
graças a minha paixão pelos desenhos de Carl Barks
 nos patos, e Paul Murry nas histórias de Mickey
 e Pateta como detetives. Também gostava dos
 desenhos de Floyd Gottfredson. Embora 
achasse suas HQs estranhíssimas e até pesadas, 
mais tarde acabei me apaixonando por completo 
pelo seu estilo tão original.
Meu gibi de super-herói predileto na infância era
 o Super-Homem, com os desenhos de Curt Swan.
 Tive a sorte de viver o momento em que os
 super-heróis da Marvel estavam sendo
 lançados no Brasil, numa parceria da Ebal e 
postos Shell. Era apaixonado por todos eles,
 como o Homem Aranha, Capitão América, 
Homem de Ferro, Thor, Hulk e Namor.
Ainda na infância, conheci os quadrinhos
 europeus através de umas edições portuguesas 
da revista “Tintin”, que uma tia me presenteou.
 Fiquei deslumbrado com aquele material 
sofisticado e totalmente diferente dos comics
 americanos. Além do próprio Tintin, foi ali que 
conheci Asterix, Bruno Brazil, Michel Valiant
 e muitas outras lindas bande dessinées franco-belgas.
Adorava também o estilo fantástico das HQs da Harvey, 
como Riquinho e Gasparzinho. Na adolescência,
 descobri o Surfista Prateado numa edição
 da GEP, e fiquei completamente fascinado pelos 
roteiros de Stan Lee e pelo belíssimo grafismo
 de John Buscema, desde então um dos
 meus grandes mestres.
Outros que me influenciaram muito foram Joe Kubert,
com seu Sgt Rock e Tarzan, e Neal Adams,
 com seu inovador, impactante
e sofisticado Batman.


Adams

Com o lançamento do Gibi Semanal, em 1973, 
tive a oportunidade de conhecer muitos clássicos
 dos quadrinhos, alguns que apenas tinha ouvido
 falar, como o Spirit, do mestre Will Eisner.
Hal Foster, com seu soberbo Príncipe Valente e
 Alex Raymond, com os magníficos, Flash 
Gordon e Nick Holmes, sempre ficarão num 
pedestal acima, nas minhas preferências.
Lembro que juntei dinheiro de mesada e
 donde mais pudesse, até conseguir os quarenta
 cruzeiros para comprar a edição gigante de luxo
 de Flash Gordon, que a Ebal lançou nos anos setenta.

Tony 28: Curtimos as mesmas coisas, Gus. 
Bons tempos eram aqueles... nossa geração deu 
sorte, curtimos o melhor da música, do cinema, do
teatro, da TV e dos quadrinhos. Fomos

 verdadeiros privilegiados do Universo... 
Autores preferidos, nacionais e estrangeiros?

GUSTAVO: Além dos autores citados anteriormente,
 existem muitos outros que admiro. No exterior, 
os clássicos: Winsor McCay (Little Nemo), José 
Luiz Salinas, E.T. Coelho, Roy Crane, Al Capp, 
Milton Caniff, Jim Holdaway, Jesus Blasco, Stan Drake,
 André LeBlanc... Entre os contemporâneos: 
Jean Giraud/Moebius, 
Meziéres, Hermann, Carlos Gimenez, Esteban
 Maroto, Richard Corben, Hugo Pratt, Guido 
Crepax, Manara, Serpieri, Magnus, Gianni de
 Lucca, Paul Gillon, Sempé, Giorgio Cavazzano... 
Ih, cara, devo estar deixando outros de fora...

Tony 29: Não é de duvidar (Rsss...)... vi o tamanho
 da lista dos feras que citou... só gente ruim 
de traço... só tranqueiras (Rsss...)... pois é, mas
 deve ter muitos que você esqueceu. Impossível
 lembrar de todos... prossiga, quantos aos nacionais...

GUSTAVO: Entre os brasileiros, sempre admirei 

a arte de Ziraldo, Watson Portela, Nico Rosso, 

Rodolfo Zalla, Ignacio Justo, Sergio Lima, Edmundo

 Rodrigues, Claudio Seto, Fernando Ikoma, 

Mozart Couto, Sebastião Seabra, Rodval Matias,

 Walmir Amaral, Ivan Wash Rodrigues, 

Carlos Alberto, FHAF, Julio Shimamotto, 

Flavio Colin, Laerte, Jô Fevereiro, Luiz Gê, 

Marcelo Quintanilha, Jayme Cortez, Lyrio 

Aragão, Eugênio Colonnese, Luiz Saindenberg,

 Fernando Bonini, Arthur Farias, Osnei, 

Luiz Podavin, Murilo Moutinho, Antonino

 Homobono, Itamar Gonçalves, e outros 

que vou me arrepender mais tarde 

por não lembrar de citá-los.


Tony 30: Deixa disso, bengala brother. A galera não 
vai ficar P... da vida, não. Também admiro essa gente
 que você citou. Valeu! Você tem formação acadêmica?
 Estudou arte?

GUSTAVO: Não, nunca estudei desenho. Infelizmente,
 sempre houve uma grande carência de bons cursos de
 desenho aqui no Brasil. Quando leio as biografias
 dos desenhistas estrangeiros fico com uma ponta 
de inveja, pois em seus currículos há quase
 sempre referências a curso
s e escolas de arte. Isso é muito importante, pois 
acelera o processo de aprendizagem. Consegui 
compensar um pouco essa lacuna trabalhando
 nos estúdios de quadrinhos e animação. 
A troca de experiências, o trabalho em equipe
 e os desafios, foram fundamentais na minha formação.
 Acredito que aprendia em um ano o que levaria 
muito mais, caso trabalhasse sozinho. Aliás, essa 
é uma das principais dicas que gosto de passar... 
Sempre que houver a possibilidade, o artista deveria
 optar por trabalhar em equipe, pois isso permite 
evoluir com mais segurança, evitando muitas vezes 
insistir num caminho equivocado, quando 
não há ninguém acompanhando seu processo 
de produção com um 
olhar e experiência profissional.

Junto com minha entrada na RGE, passei 
no vestibular da Cesgranrio para Belas Artes,
 mas o curso era em tempo integral, e não
 trocaria nada por aquele novo emprego. 
Comecei então a fazer um curso de 
comunicação à noite, numa faculdade particular,
 mas acabei desistindo. Não dava para conciliar 
estudos com o trabalho na RGE, e o próprio curso 
se mostrou frustrante.
Mas, quem diria... Agora, depois de velho, 
acabei voltando para a faculdade.
 Minha filha mais velha, a Paula, é formada em
 Artes Visuais e sempre comentava que seria 
um curso legal para mim. Em 2012, quando a
 minha outra filha, a Natália, foi prestar 
vestibular para Filosofia, me inscreveu em 
segredo no vestibular para o mesmo curso 
de Artes que a Paula fez, e me presenteou 
com a surpresa no dia dos pais. Não podia 
amarelar diante do desafio, embora achasse
 que não passaria. Era disputado, para a 
Universidade Estadual de Londrina (UEL), mas passei!
Estou terminando o terceiro ano e gostando 
bastante do curso, embora não tenha nada a 
ver com as experiências profissionais que fui 
acumulando pela vida. O foco é mais em arte
contemporânea, mas estudamos muito história
da arte, como também temos aulas práticas
de escultura, pintura, cerâmica, gravura e mesmo
desenho. Como é um curso de licenciatura, já 
saio formado como professor, o que sempre foi um
dos meus sonhos.
Artes Visuais é um curso que indico para todos, 
pois não se exige uma aptidão formal e acadêmica 
para o desenho, apenas o amor e 
a vontade de aprender Artes.

Tony 31: O Brasil, de fato, é um país incrível...
 verdadeiro celeiro de gente talentosa que
 aprende na garra, na perseverança... isto porque estudar
 neste país é coisa pra quem tem dinheiro. fico
 imaginando se o povão pudesse ter acesso aos estudos, 
se os livros fossem mais baratos e as faculdades
 e universidades acessíveis... na certa, há milhares de
 jovens talentosos no meio do povão que jamais terão 
oportunidade na vida. O gozado é que governo nenhum
 se preocupa com isso.  Acho isso uma puta sacanagem.
 Dão bolsa família... deveriam dar estudos e boas
 condições de trabalho, isto sim. Bolsa família, acho que 
estamos criando um país de vagabundos, infelizmente. 
Na minha opinião, não se deve dar peixe, é preciso 
ensinar a pescar. Isto é Brasil, gente! E nego ainda faz 
propaganda lá fora de que a fome foi erradicada no país.
 Aonde, eu queria saber. Mas, voltado ao nosso bate papo... 
Mestre Benedicto Ignácio Justo (vulgo Sargentão)... 
segundo minha rede de espionagem quase secreta 
(o Barack Obama tá doido para comprar os passes
 desses meus espiões, mas não os vendo nem a 
pau... Rsssss....), como e quando foi que você 
conheceu o Justo (Dito, pros amigos), 
um verdadeiro personagem?

GUSTAVO: Tony, agora você me deixou em
 apuros! Não sei como poderia contestar as informações
 de seus super agentes, mas... simplesmente eu nunca
 conheci o Ignacio Justo! Kkkkk... (tô lascado... agora
 serei raptado e eliminado por um bando de 
espiões vingativos! Hahaha...)... Mas falando sério... 
Infelizmente nunca tive o prazer de conhecer o
 grande mestre Justo, mas espero ter esse
prazer algum dia ainda.

Tony 31: Jamais conviveu com o Justo!? Putz... 
Segundo meus espiões de merda, você também tinha 
estudado desenho com o Sargentão, (Rsssss...). 
Vou mandar essa corja de espiões fajutos pra rua, agora! 
Obama! Se ainda tiver a fim dos passes deles, que tal 
50 dólares por cada tranqueira? Rssss...
 Esses caras só me fazem passar vexame. 
Mas, ainda falando sobre o Sargentão, o homem 
é gente boa e tem um espírito altruísta incrível. 
Sempre está disposto a ajudar alguém. Quer dizer 
que você não pertenceu à famosa “Turma do 
Barraco do Justo”? Jamais frequentou a casa dele, 
que era numa travessa da rua Conde de Sarzedas, no
 bairro da Liberdade – famoso reduto da colônia japonesa
 da cidade de São Paulo -, ou no Jardim da Aclimação, 
atual toca do velho mestre e mancebo?
 Mil perdões, eu estava mal informado...
 – essa galera me paga! Grrrr...

GUSTAVO: Sem problemas, haha... Isso é
 realmente uma lástima, pois gostaria muito
 que essa informação sigilosa procedesse! 
Por favor, dê uma nova chance para os seus 
agentes espreitadores... Quem sabe, um aumento
 de salário? Você pagava bem pelos seus serviços 
secretos? Vai ver isso foi alguma retaliação, vai saber...
 Bem, vou sair fora dessa, pois não tenho nada a ver 
com isso! Hahaha...
De qualquer forma, o Justo me auxiliou 
enormemente, embora indiretamente através
 de uma grande revista dos anos 70, chamada 
“HQ Competição”, da editora M&C. Tanto na edição 
com a participação dele quanto de outros grandes
 profissionais, como Nico Rosso e Paulo
 Hamazaki, pude aprender muitas dicas valiosas
 de como produzir uma HQ. Você e o Wanderley 
Felipe foram mais sortudos, pois foram agraciados 
com a publicação de trabalhos seus naquela revista, 
sob as bênçãos do mestre Justo. 
Eu era adolescente como vocês, e nunca 
esqueço o quanto este episódio me marcou! 
Quando vi naquelas edições que dois jovens 
como eu estavam tendo uma oportunidade 
como aquela, pensei: Caramba, então fazer
 quadrinhos é possível! Foi a primeira vez que 
ouvi falar de você e o Wanderley, e fiquei 
emocionado quando os conheci pessoalmente,
 16 anos depois. Vocês me inspiraram a acreditar
 que era possível viver de quadrinhos. 
Aquelas revistas “HQ Competição” foram como
 portas que se abriam para o meu sonho de quadrinista. 
Estão entre os gibis mais valiosos que guardo até hoje.

Tony 32: Fiquei traumatizado... esses meus espiões fajutos 
do Paraguai, não estão com nada (Rsss...). Falando sério... 
foi bom saber que nós, eu e o Wanderley, servimos 
como incentivo pra você entrar para o setor editorial.
 Ao menos, acho que fizemos alguma coisa de bom na 
vida, pois você é muito talentoso. Sempre fui seu
 fã....Já que você não frequentou o lendário “Barraco
 do Justo”, que outras feras o orientaram
 profissionalmente e que você considera como seus mestres?

GUSTAVO: Comecei profissionalmente 
como assistente do Fernando Bonini, na equipe do 
“Sítio”. A sintonia foi imediata, e nos tornamos grandes
amigos logo em seguida. Ele foi um irmão muito
querido, que me ensinou muito sobre desenho
urante toda a vida. Infelizmente foi-se cedo,
aos 50 anos, em 2005.
Todos os outros grandes desenhistas da RGE
naquela época me influenciaram e ensinaram muito.
Eu era jovem, e absorvia tudo enquanto os observava 
criando em suas pranchetas. Depois na Grafipar, 
quando morei em Curitiba, outros grandes talentos
como Watson Portela e Claudio Seto também 
me ofereceram suas experiências, em contatos
diários como vizinhos de muro, durante três anos.


Artistas vizinhos na cidade de Curitiba



, Franco, Itamar, Watson (abaixo), Gustavo, Antonio Esteves e Vila



Tony 33: Vizinhos de muro... hmmm, isto deveter sido
 muito legal e proveitoso... Pra falar a verdade, você se deu 
bem por não ter estagiado com o mestre da anatomia, das HQs de terror 
e de combate, sabia? Jamais consegui decorar alguns nomes 
que compõem a estrutura do corpo humano, como: 
externo mastoideu, etc. Aquilo era muito pra minha cabeça (Rssss...). 
Você faz bem figuras humanas, estudou anatomia  por conta própria, segundo deu para perceber, pelas declarações que fez anteriormente?

GUSTAVO: Pois saiba que iria sofrer tanto ou 
mais que você! Nunca tive paciência para aprender
anatomia, decorando músculos e ossos do corpo 
humano. Meu desenho sempre foi mais intuitivo,
embora tenha estudando em livros de 
anatomia para artistas. Meu grande mestre 
nessa área é o americano Andrew Loomis, que 
tive a sorte de adquirir alguns dos seus clássicos
livros quando ainda era iniciante. Sua maneira 
didática e seu desenho elegante me ajudaram e 
influenciam até hoje na hora de construir uma figura. 
Loomis também tem grandes livros ensinando
ilustração e perspectiva. Um artista completo!

Tony 34: Bem lembrado... Andrew Loomis foi um grande 
mestre, assim como Victor Perrard... taí as dicas garotada. 
Citamos bons livros sobre arte... confiram eles peloamordedeus!
Ahá! Ia me esquecendo, o livro de anatomia do Hogarth 
(famoso desenhista do Tarzan) também é um show de anatomia. 
O encontrei em importadoras. Vale cada centavo... 
HQs eróticas, desenhando figuras anatômicas, isto não
é para qualquer um... Você sabe, nem todo desenhista 
de figuras cômicas se dá bem com anatomia. 
Notei que pelo nível de seus trabalhos, você estudou 
intensivamente anatomia tanto quanto a gente
(a Turma do Barraco). Seus mestres pegavam muito no seu pé?
Eu e o Justo vivíamos discutindo feito gato e rato...(RS...). 
Mas, no fundo, sempre nos demos bem. Nossas 
personalidades sempre foram muito fortes e isso
provocava discussões, digamos, efervecentes (Rssss...). 
Estimo muito o velho mestre, tanto que de vez em 
quando, aos sábados, nos reunimos na casa dele, 
para relembrar os velhos tempos e para
 "arranhar um piano...

GUSTAVO: Aprender a desenhar figura humana
foi um processo bem mais solitário, ao contrário 
da linha cômica. Como sempre dei preferência 
pelo estilo figurativo desde a fase amadora, tinha 
que recorrer às poucas fontes que dispunha.
Antes de descobrir Andrew Loomis, aos 18 anos, 
tive a oportunidade de adquirir alguns daqueles 
fascículos do Renato Silva, ensinando a desenhar. 
Aquele material ajudou bastante, esclarecendo regras 
de proporções por cabeça, construção das anatomias,
cabeças e mãos. Fora isso, prestava atenção 
nos quadrinhos dos grandes mestres da anatomia,
como Hal Foster, Alex Raymond, Neal Adams, 
Joe Kubert e outros...
Essas reuniões na casa do Justo devem ser 
inesquecíveis!

Tony 35: Você, uma hora dessas precisa participar.
Ainda vou te convidar com antecedência. 
Estou planejando reunir a velha turma, fazer uma 
surpresa pra ele. E o pior é que comecei a entrevistá-lo
há uns 3 meses atrás e até hoje não consegui terminar.
O sargentão fala pra caramba, ele não é fácil não... 
Reuniões na casa do Justo são maravilhosas e divertidas...
Já disse e não me canso de repetir que o Justo orientava 
gratuitamente todos que o procuravam – principalmente 
os menos favorecidos economicamente -, mas detestava
gente arrogante e metida. O cara sempre foi muito
simples e amigável, apesar da forte personalidade autoritária.
Ultimamente, como disse, tenho estado com ele, 
que acabou confessando que sente saudades
da turma, pois todos escafederam-se. O que acha 
de convocarmos a galera toda, gostaria de participar?

GUSTAVO: Seria uma honra! Espero um dia ter
a oportunidade de ser convidado para passar
um desses sábados ao som de piano! Ignácio Justo
é um dos monstros sagrados dos quadrinhos!

Tony 36: Bota monstro sagrado e falante nisso...
fala pelos cotovelos (Rsss...)...Atualmente, você faz o
que, bengala brother? Já está aposentado?
Pendurou as chuteiras? 
Desenhos, nunca mais, ou ainda está na ativa?

GUSTAVO: Como assim, pendurar as chuteiras?!
Você já viu quadrinista brasileiro se aposentar? 
Eu não! Hahaha... Olha, se Deus permitir, quero 
desenhar até o fim da vida; mais especificamente,
gostaria de morrer como o meu mestre maior, o 
desenhista Alex Toth, que deu seu último
suspiro trabalhando, debruçado sobre a prancheta!
Lindo, não?


O incrível mestre Toth

Aliás, na lista acima de grandes desenhistas 
que aprecio propositalmente, não citei dois nomes,
pois são dois casos a parte. Se me perguntassem
quais desenhistas eu realmente mais admiro e, se
fosse possível, ter o mesmo talento, eles seriam:
André Franquin, no estilo cômico, e Alex Toth, no
figurativo, e ponto final! Cada um deles, em linhas
distintas, me deixa extasiado sempre que corro 
os olhos em qualquer um de seus trabalhos. 
A identificação é imediata.

Tony 37: É bom trocar ideias contigo, pois você tem 
profundo conhecimento sobre quadrinhos e seus
autores. Também curto muito Toth, Franquin, Uderzo 
e Goscinny e Francisco Ibañez (Mortadelo e Salaminho), 
entre outros. Grande Gustavo, durante sua carreira 
prolífica houve algum fato engraçado ou pitoresco 
que você possa contar pra gente?

GUSTAVO: Tem uma história com o Will Eisner, 
que me marcou muito...
A primeira pessoa que me falou sobre o Spirit foi meu pai. 
Ele contava que quando era jovem adorava as histórias 
do “Espírito”, como era chamado o personagem de Eisner 
na revista Gibi original, nos anos 40. Papai me
explicava como o grafismo daquela HQ era diferente 
e inovador, assim como as histórias. Finalmente um 
dia, quando tinha meus 12 anos, fomos a uma exposição
de quadrinhos no MAM, o Museu de Arte Moderna, 
no Rio de Janeiro. Eram grandes painéis com 
reproduções de vários personagens e páginas 
de HQs. Num certo momento, meu pai me chamou 
de longe e, ao me aproximar, apontou para um grande
painel e me apresentou: ” Filho, esse é o “Espírito”, 
do Will Eisner, que sempre te falei!”. Lembro que 
era uma enorme ampliação de página, onde o 
Spirit adentrava numa delegacia  encharcado de 
chuva, num jogo de luz e sombra fantástico, 
com um clarão de raio iluminando o ambiente 
escuro e mostrando o personagem. Fiquei
maravilhado, entendendo finalmente o que 
papai queria dizer com o estilo inovador do autor. 
E veja bem, aquele quadrinho já tinha uns
vinte anos naquela ocasião!
Mas o que quero contar não é isso...

Essa história foi apenas um prólogo para o que 
aconteceria quase vinte anos depois... Era 1991, e
eu trabalhava na Abril Jovem desenhando Trapalhões e Cia.
Acontecia a 1ª Bienal de HQ no Rio, e fui 
designado para ficar no estande da Abril desenhando
para o público. Era puxado, mas divertido. Num certo 
momento, percebo um burburinho no ambiente... 
Era o Will Eisner, chegando para conhecer o estande
acompanhado de vários diretores da editora (vale
lembrar que nessa época a Abril publicou o “Spirit”).
Fiquei ansioso e emocionado, mas fiquei num canto 
olhando a fofoca de longe. O lugar era pequeno,
e rapidamente ficou entulhado de gente. 
Todo mundo querendo ver e tirar uma lasquinha 
com o grande mestre, sempre simpático e solícito.
De repente, Eisner pergunta se não tem algum 
desenhista brasileiro no recinto. Só havia eu, e um
dos diretores chegou até mim e pediu se não 
poderia fazer um desenho para presentear o convidado.
Apertado num cantinho e sufocado de gente 
por todos os lados, desenhei um Didi travestido 
de Spirit, num cenário com o Pão de Açúcar e o 
sol escaldante do Rio. Entreguei o desenho para 
Eisner e ele se divertiu muito com a paródia.
Perguntou humildemente se poderia ficar com o
desenho, e pediu para tirar uma foto comigo. 
As pessoas em torno voltaram a roubar a sua atenção,
e eu fui saindo de fininho, com Will Eisner sorrindo
para mim enquanto balançava o desenho 
enrolando em sua mão.
A história com meu pai no museu passava 
pela minha cabeça e eu apenas agradecia por 
aquele momento, não vendo a hora de 
contar aquela fantástico acontecimento
para minha família.


Virou notícia: "O DIA QUE DESENHEI WILL EISNER"

Tony 38: Cacilda!  Que história incrível! 
Parece que vocês estavam predestinados a se
encontrarem um dia... sensacional! Isto só pode ser
coisa do além, e tem gente que não acredita... 
seu pai deve ter ficado extasiado vendo tudo do outro lado.
Prosseguindo... Mauricio de Sousa Produções... você 
chegou a trabalhar pra ele? O conheceu pessoalmente?

GUSTAVO: Conheci o Maurício pessoalmente no
início de 1983. Ainda morava em Curitiba, mas a
era da Grafipar estava agonizando. Na verdade 
eu já trabalhava em publicidade, pois a produção 
de quadrinhos havia caído drasticamente, e
praticamente todos os colaboradores já haviam
debandado para outras oportunidades de trabalho.
Em Curitiba, onde ainda morava, o campo de 
trabalho era muito pequeno, basicamente em agências
de publicidade. Eu e meu amigo, Fernando 
Bonini, estávamos procurando trabalho e fazendo
contatos visitando vários estúdios em São Paulo.
Um deles era o Maurício de Souza Produções, 
que ainda funcionava no prédio da Folha da Tarde,
no bairro de Campos Elíseos.
Fomos atendidos pessoalmente pelo próprio
Maurício, o que sinceramente nem esperávamos.
Muito simpático e bem informado, Maurício
sabia do movimento de quadrinhos da
Grafipar, perguntando interessado e falando 
sobre vários assuntos de interesse recíproco. 
Por fim, disse que nos encaminharia para o setor
de arte, sob a direção de sua mulher, a Alice.
Ela nos recebeu sem nenhuma atenção especial,
informando sobre todo o protocolo que teríamos
que passar fazendo os testes de desenho para
quadrinhos, passando por uma avaliação
e uma possível futura contratação.
Peguei uns dois roteiros para desenhar, 
explicando que ainda morava em Curitiba, o 
que faria demorar um pouco para retornar
com os testes. Fernando logo desistiu, mas eu 
persisti. Durante uns três meses, fiquei indo 
e voltando a São Paulo, sempre com algumas
correções para fazer. Aquilo estava ficando
dispendioso e todo o processo era muito lento.

Finalmente um dia, Alice me disse: Tudo bem, os
personagens estão ok, agora vamos começar a 
olhar os cenários. Putz, pensei, essa coisa vai 
longe! Perguntei então para Alice se eu seria contratado, 
caso meu teste fosse eventualmente aprovado, 
e nesse caso, qual seria o salário inicial. 
Alice respondeu que não pagariam um salário, 
mas sim, uma ajuda de custo, que era algo em

torno de meio salário mínimo da época. 
Agradeci sua atenção e paciência, e disse que 
não teria condições de ir adiante, pois dependia 
de um salário, ao menos razoável, para me mudar 
e viver em São Paulo.

Tony 39: Estagiários sofrem, já passei por isso... 
Agências de publicidade... teve algumas experiências 
com elas, fazendo ilustrações para storyboards, 
conceptboards ou artes finais?   

GUSTAVO: Sim, quando a Grafipar começou a 
entrar em crise no início de 1982, acabei arrumando
um emprego numa grande agência de publicidade 
de Curitiba, a Exclam. Fui parar lá por causa de 
uma curiosidade... Passava um desenho animado das
Lojas  Prosdócimo na TV, e como essa rede era curitibana,
achei que o estúdio que produzia aqueles comerciais 
animados fosse na cidade. Fui até loja principal, que
ficava na praça Tiradentes, e lá me explicaram que 
quem cuidava de toda a publicidade era essa agencia,
a Exclam. Peguei o endereço e fui atrás de um 
velho sonho, fazer desenhos animados. Na agência
soube decepcionado que não eram eles que produziam 
os desenhos, mas um estúdio de animação de São Paulo.

Ainda assim, me perguntaram o que eu fazia, e 
quando disse que era quadrinista se interessaram 
e disseram que estavam precisando de um desenhista.
Passaram um pequeno free-lance teste, e caso me saísse
bem poderia ser contratado. O trabalho era fazer
aqueles desenhos de anúncios de produtos em 
oferta, o varejão, que saíam nos jornais nos fins 
de semana. Eram aparelhos de som, eletrodomésticos,
roupas, tudo desenhado realisticamente e sombreados 
na técnica de aguada.
Em casa, comecei a ficar nervoso, pois não conseguia
desenhar os pedidos com todos aqueles detalhes.
Por sorte meus pais estavam me visitando, e 
enquanto minha mãe me tranquilizava na sala, 
falando para eu dar um tempo e tentar mais tarde, 
papai me chamou e, sentado em minha prancheta
me mostrou um dos desenhos já quase pronto. 
Disse: Viu só, filho, não é difícil... Tente agora. 


Os progenitores de Gustavo (2013)

Com sua experiência como arquiteto e a prática 
de anos usando canetas de nanquim e papel 
vegetal, me deu as dicas como 
fazer aquele serviço. Essa é uma das muitas das 
belas histórias que dividi com minha família.
Rapaz, que volta que eu dei pra contar sobre
a minha fase em publicidade, sô!

Enfim... fui contratado e trabalhei naquela 
agência por quase um ano, quando saí e 
continuei fazendo frees para esta e outras agências
de Curitiba, como a MPM e Opus.
Trabalhava essencialmente como layoutman 
(nome chique, né? Hehe...) mas fazia de tudo, pois 
era o único que desenhava na agência. 


Storyboards para comerciais de TV



Qualquer outro trabalho era passado para freelancers.
Ganhei muita experiência nesse ramo, pois os 
desafios eram constantes e tinha que me 
adaptar a vários estilos. Ali aprendi a fazer
um trabalho limpo, claro e bem apresentável.

Tony 40: Pois é... a publicidade também é uma
grande escola e pagam (ou pagavam) muito bem.
Parabéns, você tem uma bagagem profissional
enorme. Vamos nessa, Gustavão... Madre Teresa 
de Calcutá, Jesus Cristo, Maomé, Sidharta Galthama... 
qual é o seu conceito sobre esses grandes
ícones da humanidade?

GUSTAVO: Acredito que todos eles foram pessoas
iluminadas, que passaram pelo planeta para
mudar e elevar o pensamento e o espírito da humanidade.
São grandes mensageiros de luz. Sou espírita
kardecista, e busco aprender os belos ensinamentos
deixados por esses e outros tantos seres privilegiados,
para poder compartilhar com todos que passam por 
minha vida. É uma busca e aprendizado que não 
tem fim, mas sempre ascendente, eu creio.

Tony 41: Kardecista, então somos dois... Qual é o seu 
processo de produção? Escreve o roteiro, primeiro, ou
“mastiga uma ideia na cabeça” e só depois a sai desenhando?

GUSTAVO: Fiz poucos roteiros profissionalmente,
ainda mais comparados com a produção de desenho. 
Ainda assim, meu método costuma ser, escrever
um rascunho da história, já dividindo o texto por
páginas e quadros. É comum eu desenhar 
um layout da história, reduzido, com duas páginas 
em cada folha sulfite. Como esse rascunho das 
páginas fica pequeno, só indico o texto 
com uma numeração, correspondente a 
marcação que faço naquele rascunho
anterior, onde só havia o texto.


Ilustrações para livros didáticos (editora FTD)






Gustavo domina todos os estilos

O meu processo de desenho é mais complicado
e demorado. Faço um layout da página com
grafite azul, geralmente num A3, pois gosto 
de desenhar com bastante espaço. Esse layout
passa por três fases. Na primeira, desenho os
posicionamentos de personagens e cenários,
ainda muito indefinidos. Faço isso para testar 
o equilíbrio visual da página, pois sempre penso a
página inteira como uma grande ilustração. 
Os quadros tem que ter ritmo e harmonia entre si.
Busco um equilibro de planos gerais, médios e closes. 
Na segunda fase defino todos os elementos,
trabalhando os detalhes, proporções e perspectivas.
Na terceira fase é a definição final do layout, marcando 
com grafite preto todos os desenhos, detalhando
elementos e arrumando imperfeições. Por fim, ufa!
Passo tudo a limpo na mesa de luz, como uma 
espécie de arte final a lápis. Costumo fazer essa
última etapa quando a arte-final real, feita a nanquim
ou vetorial, será realizada por outra pessoa. 
Quando eu mesmo finalizo o meu trabalho,
faço a partir da terceira fase, também na mesa de luz.



Tony 42: É interessante como muita gente não sabe 
que fazer quadrinhos dá um trabalhão danado... e tem
 gente que não dá valor. Como dizia um ex-funcionário 
meu, que também desenhava: "A gente se lasca, perde
 um tempão pra fazer uma página. Depois, o leitor lê o
 gibi em 2 minutos e limpa o rabo com ele!" A coisa é cruel,
 mas é mais ou menos por aí...(Rsss...). De volta às questões...
 Quando você colaborou com a Abril, que cargo você ocupou? 
Ou fazia freela? Quantas páginas de Disney você fazia por dia?
Que formato eram os originais? Fazia lápis e tinta? 

GUSTAVO: Comecei colaborando para a editora 
Abril como freelancer, desenhando os Trapalhões, 
como já disse. Seis meses depois fui admitido 
como desenhista, mas sem a obrigatoriedade de 
fazer arte-final, trabalho de profissionais específicos
 contratados. Havia exceções, como o Luiz Podavin,
 dono não somente de um maravilhoso desenho, 
como também de uma soberba arte-final. Watson 
Portela também finalizava algumas de suas HQs,
 principalmente as mais autorais, como a série 
Jovem Radical. Quando comecei a desenhar Disney 
meu ritmo era mais lento do que com os títulos anteriores
 (Trapalhões, Gugu e Sergio Mallandro), mas logo me
 familiarizei com o estilo e passei a produzir entre 
uma a duas páginas, por dia. Nas HQs especiais, como
 Corcunda, Mulan, Hércules e Tarzan, a produção 
caía drasticamente, não apenas pela complexidade 
do material, como pela avaliação e aprovação mais
 exigente, feita nos EUA. Na primeira HQ que produzi
 nessa linha, uma HQ do Corcunda, levei um mês
 para desenhar oito páginas.
 Eram muitas referências para seguir!
Costumo dizer que, em animação o estúdio
 conta com dezenas, senão, centenas de profissionais, 
cada um em sua especialidade, com os artistas 
para fazer apenas cenários, outros especializados em 
cada personagem, desenhando só os esboços ou 
rough (lê-se: rafe), assim como seus assistentes
 para passar a limpo (clean-up), e várias outras 
especializações...







Já nos quadrinhos, temos que aprender a desenhar 
tudo, ou seja, todos os personagens, objetos, cenários e etc.
Na Abril trabalhávamos com dois tamanhos de folhas 
para desenhar as páginas de HQ, chamadas de diagramas.
A maior tinha a área útil de  21 x 32 cm, enquanto o 
menor media 18 x 27 cm. Eram folhas padronizadas,
como aquelas usadas pela Marvel/DC, com as marcações
e divisões em azul, inclusive com as marcas 
das linhas para letreiramento. Eu desenhava 
a lápis, somente. Geralmente uso uma lapiseira
0,9mm, com grafite azul para o primeiro esboço 
e grafite preto H 0,7mm, para o lápis final.

Tony 43: Durante sua longa e produtiva carreira, colaborou
com editores de menor porte? Em caso afirmativo, 
cite alguns, exceto a editora Ninja...

GUSTAVO: Não, realmente as editoras para as 
quais colaborei foram essas que já citei. Houve,
sim, pirataria, com a publicação de muito 
material da Grafipar sem autorização através de
uma certa editora, em 1990. É bom informar
que todo o material publicado pela Grafipar tinha 
cessão de direito por parte dos autores para uso
da editora por 5 anos. No meu caso, guardo 
todos os contratos de cessão das minhas HQs.
Como todos os quadrinhos foram produzidos até 
1983, obviamente os autores teriam restituído
seus direitos para publicação onde bem entendessem
a partir de 1988. O que aconteceu é que alguém
deu uma limpa na Grafipar após sua falência e pegou
um grande número de fotolitos de nossas HQs e saiu 
vendendo, como se fossem sem dono ou de
domínio público. Picaretagem, mesmo, pois 
era uma editora que publicava quadrinhos! 
Fui atrás e consegui ser ressarcido, inclusive
avisando para vários amigos como o Bonini,
Watson, Shimamotto, Colin, Rodval, Mozart
e outros sobre aquele derrame das nossas
HQs da Grafipar saindo nas bancas.

Tony 44: Agiu corretamente. Lugar de picaretas é na cadeia...  
não fazem o mesmo com o material dos syndicates porque
sabem que aí o bicho pega. Deixando os pícaros de lado...
Você também criou seus próprios personagens? Participou
do projeto tiras idealizado pela  Abril, ou da revista Crás? 
– publicação lançada nos anos 70 que
trazia apenas autores brasileiros...

GUSTAVO: Tony, essa é uma questão que sempre
colocam para um quadrinista, sobre nossos
próprios personagens. Sinceramente, nunca fiz questão 
de criar meus próprios personagens para quadrinhos,
a não ser quando ainda era amador. Fiz muitas 
criações gráficas de personagens encomendadas,
mas nunca finalizei algum projeto próprio. Mesmo
porque nunca pensei em criar um projeto em 
quadrinhos sozinho. Respeito e gosto de contar 
sempre com um bom roteirista. Guardando as
devidas proporções, sempre lembro do grande Carl Barks.


Ele trabalhou a vida inteira sob encomenda
 para Walt Disney, não apenas desenhando, 
como também escrevendo maravilhosas
 histórias e criando anonimamente muitos personagens
 para o universo Disney, como o Tio Patinhas, 
Huguinho, Zezinho e Luizinho, Vovó Donalda, 
Maga Patalógica, Gastão e tantos outros. 
Ele poderia ter criado seus personagens para projetos
 próprios, mas não fez isso. Acho que é uma opção...

Não fiz parte do projeto tiras da Abril, pois além
 de ser anterior a minha fase na editora, ainda 
era muito jovem. Curti muito a revista Crás, 
mas como leitor adolescente.

Tony 45: Sem problemas, não ter criado um personagem
 não denigre em nada a sua brilhante carreira.
 Você fez exatamente como seu grande ídolo (nosso),
 Barks, trabalhou e criou sob encomenda. Parcerias, 
vamos falar sobre elas... sempre trabalhou
 sozinho, ou fez parcerias com outros artistas?

GUSTAVO: Dá para continuar o raciocínio 
da pergunta anterior... Acredito que o quadrinista,
 ou um artista de modo geral, tem a opção de seguir
 uma linha autoral ou compartilhar a sua experiência
 de trabalho com parceiros, estúdios ou equipes. 
Eu, particularmente, sempre preferi trabalhar com 
outros profissionais. Aprendi muito assim, e
 devo muito a vários grandes artistas por
 tantos ensinamentos compartilhados. 
Prefiro trabalhar com um roteirista competente,
 e eventualmente dando palpites no desenvolvimento 
das histórias. Foi assim como o Zózimo Barbosa, 
personagem criado pelo amigo Wander Antunes.


Zózimo Barbosa - editora Pixel 






Um detetive carioca de quinta categoria, vivendo
 aventuras na linha de Nelson Rodrigues, ambientadas
 num Rio dos anos 50. Esse projeto havia começado
 com algumas páginas desenhadas pelo grande e
 querido Mozart Couto. Wander me convidou para 
desenhar e acabamos mudando completamente 
o estilo gráfico, indo para uma linha clara e mais 
cartum. Mozart acabaria fazendo outras belas
 parcerias com Wander. Depois de vários anos
 desenhando histórias curtas conseguimos fechar
 o álbum, “As aventuras de Zózimo Barbosa, 
O Corno Que Sabia Demais”, lançado pela editora 
Pixel, em 2007. Neste álbum ainda tem a participação
 em duas histórias de um velho companheiro 
da Abril Jovem, o Paulo Borges.

Tony 46: O Corno Que Sabia Demais, um título do
 cacete! Adorei (Rsss...)... Animação, você teve 
experiências nesta área? Conheceu Ely Barbosa, 
criador do Zé Apostador do Sr. Abravanel 
(vulgo Silvio Santos, o homem do baú), 
e da Turma do Gordo?

GUSTAVO: Sim, trabalhei com animação ininterruptamente
durante cinco anos, de 1983 a 1988. Relembrando...
Ainda vivia em Curitiba, e a Grafipar estava acabando.
Como a produção de HQs e títulos caía drasticamente, 
resolvi procurar novas alternativas, ainda que 
continuando a fazer quadrinhos eróticos mais 
espaçadamente. Comentei antes que havia 
conseguido um emprego na agência de propaganda 
Exclam, não? Pois bem, descobri que não era ela 
que produzia os desenhos animados, mas tempos
depois, trabalhando como freelancer para uma
outra agência de Curitiba, a Opus, descobri
um catálogo com o endereço de todas as agências
de publicidade e estúdios de animação de São Paulo. 


As agências não me interessavam, mas peguei 
o endereço de vários estúdios de animação e 
fui bater porta com meu portfólio. Foi nessa
 ocasião que fui cair no Maurício de Souza, 
conforme relatei. Visitei outros estúdios, como 
a Start Filmes, que fazia aqueles belíssimos 
comerciais da Sharp, do cotonete do homenzinho
 azul, da barata do Rodox, e muitos outros. Também 
não deu em nada... O último estúdio a ser visitado
 era o do Daniel Messias Cinema de Animação, 
mas não botava fé que fosse conseguir alguma coisa.
 Comecei a pensar que ainda não estava pronto para
 São Paulo, e que seria melhor adquirir mais experiência
 em Curitiba e tentar mais tarde. Para minha surpresa, 
o Daniel não só adorou o meu trabalho, como exigiu
 que eu começasse a trabalhar imediatamente. 
Entrei no ritmo alucinante de Sampa! 
Mas a grande ironia foi quando descobri que 
o estúdio que havia produzido os comerciais 
da Prosdócimo tinha sido o do Daniel Messias! Acredita?!


Animação. Trabalhando com Daniel Messias

Durante os cinco anos seguintes trabalhei também 
para outros estúdios de animação, como a Scketch
Filmes, de César Sandoval e a própria Start Filmes,
aquela que não havia se interessado pelo meu 
trabalho anos antes. Neste estúdio produzi o 
que considero meu trabalho mais importante dessa 
fase de animação, embora tenha animado muitos 
comerciais legais, como o do Coelhinho Quik, o Bond
Boca da Cepacol e outros. Foi em 87, quando 
o Walbercy Camargo, dono da Start Filmes pegou
um serviço grande, uma animação de média metragem
de 25 minutos, com a história bíblica de Artaban, 
o quarto rei mago. Criei toda a pré produção, como o
storyboard das 294 cenas, todo o planejamento do filme, 
mais a criação de todos os personagens e cenários, e
ainda animei umas poucas cenas. Foi desgastante,
já que tive que me virar sozinho durante quase 
cinco meses, mas o resultado compensou. 
Foi como dar vida a um filho. Aliás, essa é a 
mágica da animação, “dar vida” aos desenhos. 
Em meados de 88, acabei largando os desenhos
animados, quando fui contratado pela Abril Jovem.


Com Rogério Soud - Abril Jovem

Sobre o Ely Barbosa, infelizmente nunca tive 
o prazer de conhecê-lo, nem trabalhar para ele, 
mas tenho vários amigos artistas que começaram ou
 passaram pelo seu estúdio.
 Foi uma grande fábrica de talentos.




Tony 47: O estúdio do Ely foi uma grande fábrica 
de talentos, com certeza, como você disse. Porém,
 infelizmente, ele é pouco lembrado. Tive o prazer
 de trabalhar com ele fazendo personagens Hanna-Barbera
 para a Rio-Gráfica Editora (atual Globo). 
Meu querido e incansável bengala brother, você 
tem planos para o futuro?

GUSTAVO: Profissionalmente, gostaria muito de 
poder viver apenas de quadrinhos, como já 
vivi antes. Mas sei que aqueles tempos e realidade
não voltam mais, quando existiam revistas de banca, 
com o conteúdo dos gibis repletos de trabalhos de
vários artistas, como acontecia na Vecchi e Grafipar.
A gente fazia quadrinhos e via sair nas bancas logo
depois... um mês , até. Era um exercício fantástico, 
pois a gente via logo o resultado do trabalho 
e testava novas soluções, novas parcerias...
Nada contra álbuns de quadrinhos para livraria, 
mas hoje o mercado se resume nisso. São produtos
caros e sofisticados, que já escapuliram do 
conceito inicial dos quadrinhos, como cultura 
de massa, dos gibis descartáveis, das tiras
de jornais... Enfim, antigamente, quadrinhos se 
consumia de baciada! Alguns aficionados como 
nós até faziam coleção, mais gibi era um produto
para passar de mão em mão, ser trocado. 
Era uma diversão para ser curtida como uma boa
sessão de cinema, acredito.
Então, vou vivendo e desenhando de
tudo um pouco, mas esperando aquele convite 
para fazer quadrinhos, sempre. Agora que estou
fazendo curso de artes visuais também planejo 
lecionar, mas ainda não amadureci a ideia,
pois ainda estou aprendendo a ser professor.

Tony 48: Você tem muito a ensinar. 
Já nasceu pra isso, pode acreditar... 
Alguma frustração profissional?

GUSTAVO: sinceramente, nenhuma. 
Seria muito mal agradecido se olhasse para
trás e sentisse que faltou algo. Sempre fui
atrás das coisas que me interessavam em 
desenho, e acho que consegui mais do que 
poderia supor, graças a muitas oportunidades 
que me foram dadas e amigos que me
auxiliaram durante minha caminhada.

Tony 49: Um sonho...


Com Fernando Arcon e Nori  

GUSTAVO: desenhar para um grande gibi, ou 
mais, como aquelas belas publicações como:
Metal Hurlant e Heavy Metal, Pilote, Cimoc, 
Fierro, Zona 84, El Víbora, Creepy, Eerie, e tantas outras...
que saíssem todo mês nas bancas, repletas 
de HQs de um monte de velhos e novos amigos,
e que vendesse muitos milhares de exemplares!




Tony 50: Este sonho seu, acho que é o de milhares
de autores de HQs. Deus te ouça... 
Copa do Mundo 2014? Seleção brasileira... 
e qual é o seu time de futebol do coração ?

GUSTAVO: Olha, nunca acompanhei futebol, nem
fui de jogar bola quando criança, mas sempre torci 
muito pelas seleções brasileiras, não só de 
futebol, como vôlei e basquete. Mas depois daquele
fiasco da Copa de 2006, deixei de curtir os jogos
com aquela emoção patriótica e ingênua, de até então.
Não sou fanático nem acompanho os campeonatos, 
mas sempre que vejo o Botafogo em 
campo me emociono. Amor de infância.

Tony 51: Botafogo... eu sabia, ninguém é perfeito (Rsss...).
 Livros que você recomenda?

GUSTAVO: Em matéria de livros, tenho ótimos 
gibis para recomendar! hahaha... Brincadeira, 
mas leio menos do que gostaria. Gosto muito de
biografias e livros sobre música, cinema e 
quadrinhos. Também gosto de Machado de
Assis, e de vários livros espíritas, 
psicografados por Chico Xavier e outros autores.

Tony 52: Grande Chico Xavier, este foi o cara... 
Filmes, atores e atrizes que você curte?

GUSTAVO: Ah, cinema é outra grande paixão!
 Meu filme predileto, desde a primeira vez 
que assisti é “2001, uma Odisseia no Espaço”,
 do grande diretor Stanley Kubrick. Adoro 
outros clássicos de ficção científica, como a 
série original do “Planeta dos Macacos”, “O dia
 em que a Terra Parou”, “Alien”, “Laranja 
Mecânica”, “Jornada nas Estrelas”, “Guerra nas 
Estrelas”, “Contatos Imediatos do 3º Grau”, “Starman”,
 e os mais novos, como “Contato” e “Efeito Borboleta”. 
Não posso deixar de citar minha série predileta 
nessa categoria, a clássica “Além da Imaginação”.

Sou aficcionado por filmes passados durante o
Império Romano, como “Ben-Hur”, “Barrabás”, 
“O Manto Sagrado”, e os mais recentes, “Gladiador”
e a ótima série da HBO, “Roma”. Também gosto 
de drama, comédia, aventura... Enfim, me considero
um cinéfilo, desses de curtir ficar conversando sobre
cinema por horas e horas. 

Em tempo: Amo os filmes de Chaplin, Hitchcock,
François Truffaut,
Jerry Lewis e Woody Allen.
Gosto de muitos atores e atrizes, mas os 
que me vem na cabeça agora são: Dustin Hoffman,
James Stewart, Charlton Heston, Elizabeth Taylor, 
Robin Williams, Clint Eastwood, Meryl Streep,
Jack Lemmon, Henry Fonda, Tom Hanks,
Audrey Hepburn, Shirley Maclaine, e outros que 
só vou lembrar depois...
No Brasil, sou mais ligado nos diretores, 
como Domingos de Oliveira, Bruno Barreto
e Fernando Meirelles.

Tony 53: Parabéns pelo bom gosto 
cinematográfico e profundo conhecimento...
Walt Disney e Mauricio de Sousa? 
Qual é o seu conceito sobre eles?

GUSTAVO: Dois grandes criadores e 
produtores de fantasia, cada um no seu
tempo e dentro do contexto de suas épocas.
Disney se destacou desde cedo, ao criar
o Mickey para curtas-metragens, e alcançou 
a fama com “Branca de Neve e os Sete Anões”, em 1937.
Dali em diante é história... Ele influenciou 
e continua marcando gerações de artistas, 
inclusive Maurício de Sousa. Quando Disney
faleceu, em dezembro de 1966, Maurício começava 
a buscar o seu lugar, até ficar conhecido 
nacionalmente através dos comerciais da Cica 
e o lançamento do gibi da Mônica, em 1970.
Sempre fui fã dos dois, mas até hoje só
consegui desenhar para o primeiro.
Taí, talvez essa seja uma frustração... 
Ter desenhado tantos quadrinhos infantis, 
mas nunca ter trabalhado com o Maurício de Sousa...

Tony 54: Chiclete com Banana ou Geraldão?
Qual das duas publicações você compraria
para ler numa ilha deserta?

GUSTAVO: Angeli e Glauco sempre foram muito bons! 
Vivi a época em que eles aconteceram, nos gibis 
da Circo Editorial, editados pelo talentoso Toninho 
Mendes, e que também publicava o grande Luiz 
Gê e Laerte, de quem, confesso, sou mais fã. 
Agora, já que tenho que escolher um dos dois 
para levar para uma ilha deserta... 
Não os autores, hehe... que fique claro!
 Levaria os gibis do Glauco!

Tony 55: Gustavo Machado por Gustavo Machado... 
quem é você? Tente se autodefinir...

GUSTAVO: Ai... difícil, hein?... Parece aquela perguntinha
final das entrevistas da Marília Gabriela, haha...
Posso dizer que sempre fui obstinado em aprender
desenho e sobre desenho. Desenho sem parar desde
os três anos de idade, e tenho quase tudo que 
rabisquei guardado até hoje, acredita? Minha mulher 
diz que sou um acumulador! Hahaha... Mas o fato é que, 
de tempos em tempos, pego minhas velhas pastas e
papelada antiga e fico revendo tudo. Passa um filme 
por minha cabeça, começo a relembrar tudo o que 
eu gostava em cada fase, o que me interessava aprender
em certa época, meus desafios, as descobertas e
soluções gráficas. Esse resgate sempre me trás 
um novo fôlego, principalmente naqueles 
momentos em que questionamos o que fazemos,
se foram as escolhas certas...
Essa viagem afetiva pelo tempo, através de tudo 
que desenhei sempre me trás de volta ao presente
com a certeza renovada de que eu não poderia ter
feito outra coisa na vida que não fosse o que
faço até hoje e, se Deus permitir, ainda por uns bons anos, 
desenhar e aprender, sempre.
Além da arte que me acompanha, tento sempre me
ver nas situações da vida e perceber se estou 
melhorando como ser humano. 
A gente aprende errando, não? 
E fico parcialmente feliz quando me vejo errando
menos e sendo mais atencioso e agradecido. 
Passamos por tantas provas e continuamos
aqui, e mais do que sobreviventes, penso que
tudo isso é uma grande escola, e que 
estamos passando de ano, sempre, mesmo
com algumas eventuais reprovações e recuperações.

Tony 56: "Passando de ano, sempre, mesmo 
com algumas eventuais reprovações e recuperações", 
achei isso genial... (Rsss...)...Família? Deus e religiões?

GUSTAVO: Minha família, meus pais, irmã e sobrinho, 
assim como minha mulher e minhas duas filhas são 
o meu Norte. Faço tudo pensando neles, e dedicando
a eles. Meus pais sempre me incentivaram e apoiaram 
tudo o que eu quisesse fazer ou seguir, desde criança.


Com a irmãzinha e a mãe (1962)

Nunca me faltou lápis, papel e torcida. Papai, mamãe
e a maninha são os meus mais antigos fãs. 
Minha filha mais velha é ilustradora, formada 
em Artes Visuais, e minha caçula estuda filosofia,
outra matéria que eu amo. As duas convivem
tranquilamente com o pai artista, já que a 
cabecinha delas está sempre voando também,
e minha mulher me atura como ninguém. 
Digo isso porque não deve ser fácil viver 
com um cara que prefere conversar sobre 
uma linda ilustração que acabou de ver
do que resolver sobre o chuveiro 
que queimou, hahaha...


Com a mãe e as filhas


Com Cleusa, a esposa
Tony 57: Família, você deu um show de dissertação...
 mas quanto a Deus e Religiões, saltou de banda.
 Enrolou ou se esqueceu de responder.
 Mas, deixa pra lá... Artista da arte sequencial no
 qual sempre se inspirou?

GUSTAVO: Passei uma lista enorme de artistas
que me marcaram durante toda a vida, mas se
tivesse que escolher apenas um, ou, se pudesse ser um deles,
seria Alex Toth!


A, arte de Alex Toth


Tony 58: Perdão, mestre... meu "HD" jurássico falhou,
 pra variar... (Rsss...). Eu já tinha feito esta questão... 
Tem ideia dquantas páginas de HQs, incluindo Disney, produziu
 ao longo dos anos? Acho que isto eu ainda não perguntei (espero)...

GUSTAVO: Meus primeiros quadrinhos profissionalmente 
no “Sítio do Picapau Amarelo” não tenho como contar
agora, embora guarde a maior parte dos gibis com 
meus desenhos. A produção da Grafipar está contabilizada
e registrada, algo em torno de 500 páginas. 
Minha produção pela Abril Jovem, referente aos
“Trapalhões”, “Gugu” e “Sergio Mallandro”, passa
de duas mil páginas, e minha produção para Disney 
vai além das mil páginas, segundo minhas anotações.
Mas também desenhei algumas poucas HQs para 
a Vecchi, além da “Turma do Arrepio” e “Xuxa”. 
Também produzi bastante páginas de quadrinhos 
corporativos e institucionais, muitos em parceria
com meu casal de amigos, Tomaz e 
Denise Ortega, através do seu estúdio Gibiosfera.

Tony 59: Cara, deixa quieto... você produziu muito.
É fantástico... meus parabéns. E disso que
precisamos nesse país, precisamos de gente
que faz, como você, acontecer... Gênero favorito 
de filmes ou HQs: Guerra, aventura, western, sci-fi, 
comédia, terror ou drama?

GUSTAVO: Acima de tudo, sci-fi, mas gosto
de qualquer gênero, até filmes iranianos. 
Também curto muito filmes B, inclusive alguns 
bem trash! hahaha...

Tony 60: Qual é o seu gênero de música preferido?
Samba, bossa nova, jazz, blues ou rock and roll?

GUSTAVO: Sou acima de tudo um beatlemaníaco confesso!
Adoro o rock e pop dos anos 60, 70 e 80. Amo rock
progressivo, bossa nova, jovem guarda, jazz, 
MPB, música clássica... Ah, sou bem eclético
 com música, mas não gosto de axé, funk e sertanejo.

Tony 61: As HQs impressas, a seu ver, têm futuro? 
Ou a tendência mundial são as HQs virtuais, através
de assinaturas on line?

GUSTAVO: As gerações mais novas gostam desse
formato virtual, pois cresceram com essa mídia, 
mas eu não tenho o menor saco pra ficar lendo 
quadrinhos em monitor! Somos da geração do gibi 
de papel, com volume e cheiro! Nunca esqueço uma 
vez, quando meu amigo Franco de Rosa contou que
certa vez fizeram uma enquete: qual editora 
tinha os gibis mais cheirosos? Ganhou a
Ebal, com justiça! Pessoalmente, sempre fui 
viciado naquele cheiro de tinta dos gibis da
Ebal, e quando tive a oportunidade de 
conhecer seu parque gráfico, quase passei mal 
por overdose! Hahaha... 

Tony 62: Essa foi ótima! Overdose... Rssss.... Ufa!
Depois dessa saraivada de questões, Gustavão, só me resta
agradecer por sua atenção e colaboração. Se quiser deixar
um e-mail, fone, ou site, fique a vontade. 
E, até breve, bengala brother. E que Deus o mantenha 
sempre assim, criativo e acessível. Muita paz e felicidade
para você e seus entes queridos.






Cartaz GIBICON 2012


Aos 11 anos de idade, a primeira tentativa der fazer uma HQ


Hq que Gustavo fez aos 13 anos

HQ de Terror - Texto: Franco de Rosa - Arte: Gustavo




GUSTAVO: Tony, agradeço imensamente por essa 
oportunidade e todo o carinho como conduziu 
essa entrevista. Foi um gostoso bate papo, que
me fez um bem imenso por resgatar tão boas
lembranças e poder compartilhá-las com você
e os amigos que se interessaram em me 
conhecer. Foi através de entrevistas como 
essa que aprendi muito sobre a nossa profissão,
e sempre que tenho a oportunidade de falar 
um pouco da minha vida profissional tenho 
a preocupação maior de poder falar um pouco 
mais sobre esse nosso ramo que, embora maravilhoso
e mágico ainda e pouco valorizado.
Quem quiser pode me encontrar no Facebook, é só digitar
“Gustavo Machado” e procurar por uma foto com um careca!

Tony 63: Um careca... (Rssss...) você é um brincalhão nato.
Esta entrevista, com certeza, está sendo uma das
melhores que já fiz, inclusive por sua lucidez e
detalhes informativos preciosos sobre os bastidores do 
mundo das HQs. Ah... ia me esquecendo... deixe aí um 
recado para a galera que curte seu trabalho e para os
novos autores que estão atualmente b
atalhando pelas HQs nacionais. Alguma dica
importante para se dar bem nessa difícil, 
mas adorável, profissão?

GUSTAVO: Lendo entrevistas como essa e outras
fantásticas que você disponibiliza nesse blog, o 
aspirante e amante de quadrinhos tem a chance 
de conhecer melhor como funciona esse nosso universo. 
É um trabalho como outro qualquer, que só vai pra 
frente se houver muita paixão e dedicação, sempre.
Infelizmente não temos boas escolas de desenho no
Brasil, então a solução é ir atrás dos lugares e pessoas
que produzem quadrinhos, e pedir que avaliem o 
material, aceitando os conselhos com humildade.
Outra coisa importantíssima que sempre friso 
para quem quer entrar no mercado - Cumpram os
prazos estabelecidos! Conheci muitos artistas 
talentosíssimos, mas completamente desorganizados, 
dando furo nos compromissos assumidos com a 
desculpa que queriam caprichar mais ou que não
estavam inspirados. Nosso trabalho é como 
outro qualquer, com pessoas e processos de 
produção que dependem de nós para continuar 
fluindo, até que o material saia publicado. Se o cara
não consegue ou se interessa em ter disciplina, deve
então levar seu talento como um hobby, você não acha?

Tony 64 : Você disse tudo, bengala brother! É isso aí, 
crazy people! Fiquem plugados e até nossa próxima
entrevista! Valeu! 
See you later, cowboys! Be well! 


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