sábado, 15 de janeiro de 2011

ENTREVISTA COM ZECA WILLER, UM DOS MAIORES COLECIONADORES DE TEX, DO MUNDO! PARTE 2!


O BATE PAPO CONTINUA  COM...


JOSÉ CARLOS (ZECA WILLER),
UM EXPERT EM MATÉRIA
 DE TEX E FANÁTICO COLECIONADOR!
Segunda parte



 Nota do entrevistador:

Se você web-leitor perdeu a primeira parte desta espetacular e esclarecedora entrevista
você vai encontrá-la seguindo o link abaixo...
http://tonyfernandespegasus.blogspot.com/

Confira a primeira parte antes de ler a
parte final desta entrevista.

Nota: Optei por dividí-la em 2 partes devido a sua extensão (50 perguntas, para testar os conhecimentos texianos do cowboy em questão), visando não cansar os
amigos web-leitores.
O grande, esclarecedeor e maravilhoso bate papo continua... Confira a última parte a seguir!

Tony Fernandes 26 – Grande bengala brother, Zeca Willer, vamos em frente... nessa quilométrica, mas excelente e esclarecedora entrevista... Na Itália, dos nossos dias, qual é a mais popular revista em quadrinhos, dos Bonellis ou de outros concorrentes?

Zeca - Tex continua a ser imbatível na Itália e os números provam isso facilmente. Na Sergio Bonelli Editore apenas Dylan Dog, que num determinado período chegou até a vender mais do que Tex, consegue apresentar números não muito distantes do Ranger. Da concorrência, creio que Diabolik, um anti-herói criado pelas irmãs Angela e Luciana Giussani em 1962, seja aquele que mais se aproxime de Tex a nível de popularidade, não falando de Corto Maltese de Hugo Pratt, que considero pertencer a outra categoria.


Dilan Dog já foi um campeão de venda


Arte de Mike Mignola, autor de Hellboy
Diabolik é uma série campeã, tanto que virou game.

Tony 27 – Na verdade essas irmãs criaram um grande personagem e ficaram famosas... olha aí a mulherada agitando e fazendo HQs, gente. Conheço bem Diabolik e o trabalho delas. Elas são geniais e Diabolik acabou virando até game, devido a sua tremenda popularidade. Portugal... vamos falar da sua pátria... os autores de seu país se limitam apenas a lançar álbuns esporadicamente ou há aqueles que fazem produtos periódicos, como revistas em série de BDs?

Zeca - Não sou um grande especialista no que à banda desenhada portuguesa diz respeito e confesso que nem sequer acompanho-a com a devida regularidade, mas creio que os principais autores nacionais publicam no estrangeiro como acontecerá por exemplo com "Female Force: Angelina Jolie", a biografia da actriz que será desenhada por Nuno Nobre para o mercado norte-americano através da Bluewater Productions. 
O mesmo sucede com "Onslaught Unleashed", mini-série de quatro números que Filipe Andrade está a desenhar para a Marvel a partir de um argumento de Sean McKeever. Ainda na Marvel, Nuno Plati Alves desenha o seu primeiro comic completo, "Marvel Girl #1" e João Lemos volta a Wolverine, desenhando uma história de Sarah Cross. Mas há outros dois projectos que marcaram recentemente a BD feita em Português - "BRK", um thriller urbano com contornos políticos, de Filipe Pina e de Filipe Andrade, e "Asteroids Fighters", uma space-opera de Rui Lacas.

BK, uma publicação da editora Asa

Tony 28 – Muita gente trabalhando pra fora, por falta de espaço interno, como acontece por aqui... isto é lamentável. Mas adorei saber que os guerreiros Filipe Pina e Filipe Andrade, com “BRK”, e “Asteroids Fighters”, de Rui Lacas, conseguiram publicar com êxito nos eu país. Maravilha... não se pode deixar morrer o mercado interno, nunca. Ele gera empregos pra muita gente e até divisas, em muitos casos. Qual é o autor português mais famoso, na atual conjuntura?

ZECA - José Carlos Fernandes é muito provavelmente o mais prestigiado e produtivo autor português contemporâneo, tendo já adquirido um estatuto de clássico. Distinguido três vezes com o Prémio Rafael Bordalo Pinheiro, atribuído pela Câmara Municipal de Lisboa, venceu também outros concursos de banda desenhada, em Portugal e no estrangeiro sendo o autor da notável “A Pior Banda do Mundo”, entre outras obras. É sem dúvida, um dos melhores criadores lusos de banda desenhada e teve inclusive o privilégio de ter sido escolhido como o primeiro autor português presente nos Clássicos da 
Banda Desenhada - Série Ouro.


Asteroides Fighters

Tony 29 – Beleza... preciso conhecer melhor o trabalho desses mestres portugueses.... Você chegou a conhecer ou ouvir falar de Jayme Cortez - um grande e saudoso amigo-, nosso grande mestre do quadrinho brasileiro? O Cortez foi uma grande sumidade das HQs brasileiras e o interessante é que ele era português... (Rsss...). Você sabia disso?

Zeca - Conhecer Jayme Cortez, esse mestre português da 9º Arte, não conheci, mas sei que fez parte de um restrito grupo de autores portugueses que partiram para o estrangeiro em busca de melhores condições de trabalho, como aconteceu também com Eduardo Teixeira Coelho, Victor Péon e Carlos Roque, mas antes de emigrar ainda trabalhou na prestigiosa revista portuguesa O Mosquito tendo inclusive desenhado o western “O Vale da Morte” em 1946, conforme consta inclusivamente no blogue do Tex. E por falar em Tex, recordo também que no Festival da Amadora em 2008 quando se comemorou os 60 anos de Tex, Jayme Cortez também esteve “presente” com Os Dois Amigos na Cidade dos Monstros Marinhos, Uma Espantosa Aventura, Os Seis Terríveis, tudo histórias publicadas n’O Mosquito através da exposição integrada no tema central do Festival: Tecnologia e Ficção Científica na BD portuguesa.



Logo oficial da revista


O Mosquito foi lançada em 14/01/1936

Um clássico de Jayme Cortez

Tony 30 – Que bom saber que voces também tiveram o prazer de conhecer o trabalho do grande mestre Cortez, que fez história nesse país... No Brasil acontecem coisas interessantes... a maior "cantora brasileira" foi Carmem Miranda - que ficou conhecida internacionalmente, no passado-, o maior "desenhista brasileiro" foi Jayme Cortez... tanto um quanto o outro, de fato, eram portugueses... (Rsss...). Isto prova que o potencial artistico 
de sua gente é enorme.

Zeca - Realmente é algo de curioso, sensivelmente o mesmo fenómeno que acontece em Portugal quando dizem que o melhor jogador português (de futebol) de todos os tempos, foi o Eusébio, por acaso um cidadão moçambicano como eu (…risos…)
Mas voltando à Carmen Miranda, há a particularidade dela ter nascido na mesma terra do meu pai: Marco de Canavezes.

Tony 31 – Interessante essa revelação sobre a nossa querida, saudosa e grande Carmem, que aconteceu lá nos Estados Unidos e que fez muito sucesso como cantora e atriz dos filmes de Hollywood... Você, quando era garoto – como citou acima -, conheceu o Mosquito, uma publicação sobre BDs lançada pela Meribérica. OK? Fale-me sobre essa publicação que ficou famosa até no Brasil...

Zeca - “O Mosquito” é, pelo que conheço, a grande referência da banda desenhada portuguesa dos anos 40, tendo sido lançado em Janeiro de 1936. Teve uma grande longevidade e um grande número de edições publicadas, mas eu só vim a conhecer a revista já na minha adolescência, isto porque em Moçambique nunca tive contacto com ela e então em Portugal é que vim a constatar que fazia parte das melhores revistas portuguesas de banda desenhada que existiram, e das quais se destacam, “ABC-zinho”, “O Papagaio”, “Mundo de Aventuras”, “Diabrete”, “Cavaleiro Andante” e “Tintin”, mas foi n’O Mosquito que surgiram os primeiros, únicos e verdadeiros autores portugueses, exclusivamente especializados em banda desenhada, como: Vítor Péon, Eduardo Teixeira Coelho e claro Jayme Cortez, os quais viriam também a destacar-se pela notabilíssima carreira internacional que construíram, como você bem fez questão de frisar com o Jayme Cortez, duas perguntas atrás. Com o decorrer dos anos, houve várias séries d’O Mosquito mas julgo que nunca foi uma publicação com o selo da Meribérica, a não ser no seu final de vida editorial, mas se assim foi, eu desconheço.

Tony 32 – Olha que maravilha, acabamos de descobrir o ano em que “O Mosquito” surgiu... essas entrevistas sempre acabam sendo reveladoras e a gente acaba aprendendo sempre um pouco mais... valeu. Quanto a Meribérica, na verdade tenho uma edição do “Mosquito”, editada por ela... mas, você tem razão... isto aconteceu quase no final desta excelente publicação, na década de 90, eu acho. Falando de BDs... O que lêem seus filhos atualmente?

Zeca - A minha filha mais nova, a Ana Beatriz tem apenas 6 anos e ainda não lê, mas a Andreia Sofia a nível de banda desenhada lê bastantes revistas da Disney que pertencem ainda à minha colecção, mas já a surpreendi lendo aventuras de Tex, sobretudo algumas coloridas.

Esta revista chegou a vender 80 mil exemplares

Tony 33 – Na certa, ambas, puxarão pro pai: grandes leitoras de BD... Qual é a revista de BD mais lida, 
hoje, em Portugal?

Zeca - Creio que Astérix continue a liderar as vendas em Portugal no que à BD diz respeito, ainda mais depois da grande aposta da ASA ainda embalada pelas comemorações dos 50 anos das Aventuras do gaulês.


Tony 34 – Asterix é genial, através da satira e do bom humor os álbuns contam a história da França... ainda tenho a coleção. Uderzo e Goscinny, pra mim, são geniais. Por sorte voltaram a publicar os belos álbuns de Asteriz e Tintim, no Brasil. Mas, durante um bom tempo ficamos sem esta obra fantástica. Outra série que eu adoro é Lucky Luke, do Morris e do Goscinny, é uma sátira genial aos velhos faroestes... Tex também é editado em Luanda, na África?

Zeca - Tex nunca foi editado em Luanda e que eu saiba, nem sequer distribuído por lá, pelo menos a nível oficial.


Edição italiana. Capa inédita no Brasil
 

Tony 35 – Ué... alguém me disse uma vez que ele saia por lá... bem, ao menos, a coisa ficou esclarecida. .. O primeiro país do mundo a comprar os direitos para publicar Tex, na Europa, foi a França, pelo que me consta. Você sabe dizer em que ano isto aconteceu?

Zeca - Pode datar-se de 1948 a estreia de Tex num país estrangeiro e foi exactamente em França, mais precisamente no dia 29 de Novembro, apenas dois meses depois da sua estreia na pátria italiana. Tex, rebaptizado com o nome “Texas Boy” foi publicado no formato apelidado de striscia (tira, em italiano), semelhante a uma caderneta de cheques.

Tony 36 – Confere, grande mestre colecionador... de fato, estou aqui testando seus conhecimentos sobre o ranger... No Brasil, Tex foi publicado pela primeira vez nos anos 50, pela Rio Gráfica Editora (atual Globo), a partir do número 28 da revista Junior (até o número 27 Junior publicava outros personagens). Esse gibi era semanal e trazia o subtítulo "As Aventuras de Texas Kid"; até o número 178 seu formato era em tiras (deitado), com 36 págs exatamente como edição italiana, porém a partir do número 179 passou a ser editada verticalmente no formato 13,5 x 17,5 cms, pouco menor do que a edição italiana "Gigante". Tex foi o único personagem da revista Junior que foi publicado até a edição 265, de julho de 1957. Após este ano a tradicional revista que fazia a alegria da garotada passou a publicar outros personagens e ninguém mais ouviu falar no velho ranger até fevereiro de 1971, quando surge a ed. #1 da nova série, no formato idêntico ao original italiano, com edições de 100 e 130 págs, pela extinta editora Vecchi. Você, como colecionador, possui essas edições brasileiras raras, hoje em dia?

Zeca – Possuo.
Tony – Incrível...


Livro sobre o ranger de autoria de G.G.Carsan

Zeca - ... algumas edições da revista Júnior da Rio Gráfica Editora, sendo a mais antiga a número 29 (a que trouxe a 2ª aparição de Tex no Brasil), tanto no formato de 1 tira, como de 2 tiras, todas elas presenteadas por amigos, assim como possuo edições no mesmo formato oriundas da Itália, Finlândia, Alemanha e Argentina...

Tony - Caramba...
 Zeca - ... Também todas elas recebidas como presentes ou devido a trocas. Servem sobretudo como curiosidades da minha colecção já que não faço questão de as ter todas, isto porque hoje em dia são revistas raríssimas e caríssimas e como nunca vieram para Portugal, só muito tarde é que tive conhecimento da sua existência, além de que possuo todas essas histórias publicadas em colecções posteriores. A propósito destas revistas, há quem considere que as edições de Júnior não se podem bem considerar como verdadeiras peças de colecção de Tex porque o nome da personagem era Texas Kid
opinião que eu não partilho...


Zeca com Civitelle e o grande desenhista Hermann, à direita.



Tony 37 – Nem eu. Zeca, você não é fraco, não... conhece mesmo tudo sobre Tex... fantástico... No final dos anos 70 Tex era a revista mais vendida da editora Vecchi, cerca de 150 mil exemplares. Bons tempos aqueles... atualmente, como já citei, as vendas cairam sensivelmente... pergunto: você sabe quais são em média as tiragens de Tex feitas pela Mythos? Qual é o título deles - do ranger - que mais vende? Sei que as tiragens são pequenas, mas não sei exatamente quantas cópias são feitas atualmente. 

Zeca - Por motivos que desconheço as tiragens de publicações tanto no Brasil como na Itália, ao contrário de Portugal, não são tornadas públicas pelo que não há como saber o real número de Tex’s vendidos pela Mythos ou sequer a sua tiragem. Há no entanto rumores de que Tex deve ter um número de leitores no Brasil a rondar entre os 20 e os 30 mil, mas como disse, tratam-se apenas de rumores…
Quanto ao título que mais vende, creio não haver dúvidas de que se trata do Tex regular, tendo em conta o facto de ser a revista mais antiga aliada à circunstância de ter o preço mais acessível.

Tony 38 – Confere, pelo que sei... cerca de 20 a 30 mil leitores... isto, na atualidade, é uma grande e excelente venda, bengala brother... Durante a palestra do Civitelli, aqui no Brasil, ele disse que fazia 15 págs por mês de uma edição de Tex. Quem me derá ter nascido na Itália ou Estados Unidos, onde os caras são bem remunerados, ou poder fazer 15 páginas, no capricho, por mês... (Rsss...). Em meu páis faço 100 págs de Apache, por mês, é mole?
Mas, voltando a falar dos artístas italianos e de seu moroso processo de criação... obviamente, isto explica a qualidade das artes - apesar da série ter tido muitos desenhistas ruins também, ao meu ver,  como é comum a qualquer série. Daí é fácil concluir que vários desenhistas trabalham simultaneamente em histórias diferentes para poder manter a publicação em dia, pois as edições sempre trazem HQs longas. Pergunto: Todos os desenhistas de Tex trabalham com esse prazo dilacerado?


Já deu pra notar que o acervo do homem não é brincadeira

Zeca - Cada vez mais, os novos desenhadores são mais lentos, se bem que hoje em dia há também um cuidado muito maior por parte do desenhador, sobretudo com a pesquisa e documentação. Se no passado os desenhadores de Tex chegavam a fazer mais de 30 páginas por mês, hoje em dia um que desenhe 10 a 12 páginas já é considerado relativamente rápido, até porque há diversos autores que fazem
 somente 5 a 8 páginas por mês.

Tony – São tartarugas? (Rsss...). Digo, lerdos assim, 
pois primam pela qualidade, provavelmente.
 Impressionante, isto...

Zeca – Continuando... Isto também só é possível, porque os desenhadores de Tex são relativamente bem pagos e porque uma página de Tex pode render outros proveitos. Ou seja, Sergio Bonelli paga a produção de uma página, que por sua vez é propriedade do desenhador que normalmente a vende por um preço muito maior, já que na Itália há um mercado muito interessante de venda de originais e depois sempre que essa mesma página for publicada nas diversas reedições de Tex ou até no estrangeiro, o desenhador recebe novamente uma parte, embora obviamente menor, relativamente aos direitos dessa mesma página. Multiplique-se isso por um número maior de páginas e pode-se ter uma bela ideia dos 
rendimentos de um desenhador de Tex…

Tony - Que maravilha...

Zeca - Este número reduzido de páginas realizadas pelos autores aliado ao facto das histórias de Tex serem longas e de serem necessárias anualmente cerca de 2.000 páginas ...

Tony - Minha nossa, haja produção... admiro o pique dos americanos e dos italianos... o pessoal trabalha muito, levam a coisa a sério. A coisa virou indústria. Isto é o que falta aqui no Brasil...

Zeca -  Como eu dizia, as histórias são longas e são necessárias cerca de 2.000 páginas para todo o leque de publicações inéditas... isto obriga a que o staff de desenhadores de Tex seja muito extenso. Isto porque por norma cada um trabalha numa história do princípio ao fim, levando isso também a que demorem alguns anos até se ver um desenhador reaparecer novamente em Tex. Só para se ter uma ideia, actualmente estão em produção 35 histórias de Tex o que também nos garante ainda um longo futuro pela frente…






Com Tito Faraci e Pasquale Del Vecchio

Tony 39 – É, os caras são siperprofissionais. Trabalham com uma grande dianteira. Aqui no Brasil conheço gente que a vida inteira fez umas 100 páginas e acha que fez muito... isto é ridículo... (Rsss...).  Você saberia me  dizer quantas pessoas, hoje, compõem a equipe que produz Tex? Entre desenhisas e argumentistas, revisores, letristas, etc?

Zeca - Tex é supervisionado pela cúpula redaccional da Bonelli, representada por Sergio Bonelli, Decio Canzio (já reformado, mas ainda colaborando na editora), Mauro Marcheselli e Michele Masiero e tem actualmente 6 argumentistas: Mauro Boselli, Tito Faraci, Pasquale Ruju, Gianfranco Manfredi, Antonio Segura e Claudio Nizzi, embora este último já tenha abandonado as suas funções, ainda há histórias suas para publicar. A nível de desenhadores o leque é
obviamente muito mais extenso: 29.
Já quanto a revisores e letristas aí não sei ao certo quantas pessoas são, o que sei é que somente mulheres exercem funções de letrista e como curiosidade informo que quem letreira as histórias desenhadas por Giovanni Ticci é a sua esposa, a Monica Husler, que também letreira as histórias desenhadas por Fabio Civitelli devido à grande e duradoura amizade que liga as duas famílias.

Tony 40 – É muita gente, mesmo... olha que bacana, Tex sustenta muitas famílias. Essa do Ticci e da esposa é muito legal... adoro o traço desse veterano... Ao seu ver, quais foram os piores desenhistas dos rangers?

Zeca - Por incrível que possa parecer, não encontro nenhum mau desenhador na longa história de Tex, aliás, não é por acaso que sempre digo que Tex tem os melhores desenhadores do mundo. Agora as histórias que mais me custaram a terminar de ler, devido aos desenhos não serem totalmente do meu agrado foram as desenhadas por Sergio Zaniboni, Giancarlo Alessandrini e Carlo Ambrosini, curiosamente nenhum deles pertencente ao staff efectivo de Tex…



O desenhista e amigo Décio Ramirez, eu e o Zeca
Tony 41 – Gostei da sua “saída estratégica”... (Rsss...). “Não encontro nenhum mau desenhador”... “...as histórias que mais me custaram de ler...” Foi bom político, Zeca... tá certo... (rsss...). Toda série tem gente boa e ruim, apesar de eu respeitar todos os trabalhos artisticos, é óbvio. Nobody is perfect... todos nós temos nossos acertos e falhas... Os melhores desenhistas, na sua opinião? E qual é o seu preferido? Ou melhor, quem são eles?

Zeca - Fabio Civitelli e Claudio Villa, ambos com um estilo cristalino, caracterizado por grandes cuidado nos mínimos detalhes e por um hábil uso do preto e branco e do extremo asseio dos traços elegantes e harmoniosos, respeitando a tradição, mas sendo ao mesmo tempo modernos e cativantes. Eles são para mim o expoente máximo, sem desprimor para artistas de tão grande calibre como por exemplo o 
Ticci nos seus tempos áureos.


A incrível arte de Ticci, um dos meus favoritos (Tony)



Tony 42 – Também gosto dos dois que você citou...  mas, o Ticci, pra mim é o meu predileto, há anos... Giovanni Luigi Bonelli foi o mais importante roteirista dos fumetti italianos. Começou a escrever pequenos contos aos 18 anos, após concluir o ginásio. Suas primeiras obras foram publicadas no famosíssimo Corriere dei Piccoli e no Giornale Illustrato dei Viaggi, editado em Sonzogno. Nesse mesmo período produziu vários romances de literatura juvenil. Em 1952 Bonelli escreveu I Tre Bill, realizado com Benvenuti, D'Antonio, Dami e Calegari. Em 1953 foi lançada no mercado italiano o primeira edição da revista Collana Arco, trazendo as aventuras de Yuma Kid desenhadas por Uggeri. Como podemos ver a obra do mestre Bonelli é imensa. Você, Zeca, meu querido bengala friend de além-mar, conhece toda a obra do genial Bonelli?


Quadros, livros, bonecos, gibis e tudo o que se relaciona com Tex

Zeca - Conheço toda a vida e obra do patriarca do fumetto italiano devido aos inúmeros livros italianos que possuo e que falam da sua relevante existência, assim como de ouvir Sergio Bonelli falar do pai, mas a nível literário e com profundidade somente conheço a sua maior criação: Tex.

Tony 43 – Parabéns, tem muita gente por aí que só conhece Tex, Zagor, Mister No, etc... mas, mister Bonelli sempre foi muito prolífico, criativo... antes de acontecer com Tex e abrir sua editora criou inúemros personagens e trabalhou pra diversos editores... Tex foi criado em 1948, pela dupla Gianluigi (texto) e Galleppini (arte), para a revista Audace, confere? Você tem um exemplar raro, como este, que hoje deve valer uma fortuna?

Zeca - Tex foi de facto criado em 1948 por essa mítica dupla, mas a revista denominava-se Collana del Tex. Audace era o nome da editora, mais precisamente Casa Editrice Audace. Quanto a esse raríssimo e valiosíssimo exemplar nº 1, de 1948, continua a ser o objecto mais cobiçado por mim, já que infelizmente não o possuo. Mas apesar de ser historicamente a edição mais importante, não se pode considerar a mais valiosa, já que está avaliada em cerca de 1.800 € enquanto por exemplo o Tex Gigante nº 2, “L'agguato”, da 1ª série, de 1954, 
está avaliado em quase 7.000 €.

Tony 44 – Sete mil euros!? Uau! É incrível como você, de fato, conhece tudo sobre Tex e seu criador... congratulations, dear bengala brother... Será que existe algum colecionador que tenha esta edição da Audace? 

Tcham-tcham-tcham-tcham!?


Zeca com Mauro Boselli e Pasquale Frizenda





Zeca - Existem vários na Itália, por exemplo o meu amigo Enzo, que considero um dos maiores coleccionadores mundiais de Tex, como disse anteriormente, possui-a, assim como também a possui o meu amigo italiano, o Giancarlo. Em Portugal penso que ninguém a terá.

Tony 45 -  Meu amigo, esses caras são privilegiados... minha nossa... No início o ranger bonelliniano ia  se chamar Tex Killer, certo? Mas, quem foi que se opôs a esse nome agressivo e sugeriu o nome de:Tex Willer? Você sabe? Putz... isto aqui tá mais parecendo um interrogatório policial... (Rsss...). Desculpe-me, bengala Zeca, estou querendo apenas testar e avaliar seus conhecimentos sobre o mundo do ranger e seu autor.

Zeca - Essa história ouvi-a da boca de Sergio Bonelli, assim como ouvi ele contar a origem do nome Zagor enquanto contava também algumas aventuras que ele próprio viveu na Amazónia, num jantar especial em 2002, onde eu estava acompanhado do Dorival e do Júlio Schneider, lá em Milão, no dia em que conheci Sergio Bonelli, mas vamos lá ao Tex Killer, nome inicialmente eleito por G. L. Bonelli para sublinhar que Tex era um justiceiro. Mas que foi modificado (Sergio Bonelli já não se recordava se pela sua mãe que não sabia inglês, ou se  fôra por indicação de outra pessoa), para Willer, porque poderia ser considerado muito provocatório para a época, sobretudo por aqueles que criticavam a grande carga de violência contida na banda desenhada em geral por essa altura.
Já agora, deixe-me fazer-lhe uma pergunta… você sabe que no Brasil Tex chegou a ser chamado pela
Editora Vecchi de Tex Taylor?

Tony 46 – Tex Taylor!? Agora você me pegou... (Rsss...). Esta eu não sabia... mas, só um detalhe, ouvi uma versão de que quem batizou o ranger de Tex Willer foi a dona Tea Bonelli, a esposa do criador... como correm muitas lendas sobre Tex a gente acaba sempre ficando na dúvida. Il Totem Misterioso era o título da capa da primeira revista de Tex, lançada no dia 30 de setembro de 1948... Confere?

Zeca - Confere.

O amigo Carlos Moreira o presenteou com um avental do Tex
 
Tony 47 – Você sabe tudo... maravilha... adorei saber que você tem um vasto conhecimento e uma ótima memória sobre o nosso querido ranger. Parabéns, mais uma vez. Professor José Carlos Willer (Rsss...), foi um prazer imenso poder bater este  papo saudável com você e fazer com que assim todos possam conhecer melhor você, suas experiências, etc. Você é uma figura fantástica. Também foi uma grande honra poder dispor de sua amável atenção nessa entrevista quilométrica, mas sensacional e esclarecedora... é pena que estamos prestes a terminá-la... mas, antes eu gostaria de lhe fazer mais 

algumas questões finais... como:
José Carlos por José Carlos? Ou seria, Zeca Willer por Zeca Willer? (Rsss...).

Zeca - Uma pessoa simples, de gostos simples, hábitos simples e amiga do seu amigo, que se preocupa com os outros e o seu bem-estar, especialmente dos que são mais chegados e que tem duas grandes paixões na vida: Tex Willer e 
o esporte clube Benfica!

Tex - Arte do mestre Fabio Civitelle

Tony 48 – Muito bom... Um sonho?

Zeca - Gostaria de um dia retornar a Moçambique e rever a cidade onde nasci, de preferência com a minha esposa e filhas.

Tony 49 - Alguma frustração?

Zeca - Frustração não, mas lamento muito não ter tido a oportunidade de conhecer Sergio Bonelli dois anos antes, pois isso teria certamente permitido conhecer também o seu mítico pai, já que G. L. Bonelli faleceu em 2001.


Com Carlo Chendi e Giorgio Cavazzano

Tony 50 - John Wayne?

Zeca - Actor que encarna o Tex no meu coração.

Tony 51 - Não existe quem não venere o big John... o maior cowboy que o cinema já produziu... (Rsss...). Em quantos países, atualmente, Tex é publicado? Pode relacioná-los?

Zeca - Com o recente regresso de Tex a Espanha, actualmente Tex é publicado em 11 países: Itália, Brasil, Noruega, Croácia, Finlândia, Turquia, França, Macedónia, Eslovénia, 
Grécia e Espanha.

Tony 52 - Os americanos, geralmente, não aceitam HQs produzidas por estrangeiros, que falem
sobre o folclore deles. Foi preciso que o mestre Joe Kubert se aliasse à famíla Bonelli para que Tex finalmente entrasse no mercado americano?


Com Civitelle. no Rio de Janeiro. Brasil.

Zeca - E mesmo assim a publicação dessa aventura de Joe Kubert nos Estados Unidos foi uma aventura em si mesmo, cheia inclusive de peripécias e que resultou numa primeira fase numa edição colorida e luxuosa que existiu fisicamente mas que nunca chegou a ser posta à venda devido a um litígio entre a Dark Horse e a Venture, tornando-se por isso mesmo uma edição raríssima que somente alguns poucos editores, como por exemplo o Dorival da Mythos, no Brasil e o Pedro Silva, da Vitamina BD (Portugal), possuem. Mas Tex chegou a ver a luz do dia na sua “terra natal”, quando finalmente em 2005 a própria SAF Comics, detentora dos seus direitos internacionais, publicou “Tex: The Lonesome Rider”, numa edição impressa na Eslovénia, com 240 páginas a preto e branco, capa em brochado e com o custo de $15,95 dólares.

Tony 53 - Tex, ele continua a ser publicado 

na América, ou parou?

Zeca - Essa foi a única história de Tex publicada nos Estados Unidos e mesmo assim foi uma história de características especiais, pois seria certamente complicado publicar alguma história em que se mostrasse Tex como 
chefe dos índios navajos…

Tony 54 – Esses americanos são terríveis... Mon ami, c'est fini, como diriam os franceses... (Rsss...). No final das contas, você se deu bem nessa verdadeira sabatina texiana que preparei... provou que sabe tudo de Tex e sobre o seu genial criador. Grato por esta brilhante e empolgante entrevista e até a próxima, grande amigo. Muito sucesso e tenha um grande ano novo junto aos seus entes queridos! Valeu! FUIIIII!



Com Civitelle e Dorival, da Mythos - à esquerda - no Rio
  Zeca - Agradeço os seus votos, que aproveito para retribuir, agradecendo também esta extensa entrevista que acabou sendo muito prazerosa de responder pese o grande número de perguntas. Hasta la vista!

Tony - Hasta, hombre!


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