quarta-feira, 18 de março de 2015

NOBLET - UMA BOA EDITORA NACIONAL!

Esta é a história de um homem que morou em Paris, 
em Nova Iorque e que um dia decidiu vir para o Brasil,
com apenas 900 dólares no bolso – como ele mesmo 
costumava contar a nós, seus funcionários -, e com muita luta,
garra e perseverança conseguiu abrir uma editora, construir
um parque gráfico e manter suas publicações até o final da vida. 
Esta é uma homenagem póstuma a Joseph Abourbih, 
que foi proprietário da...

EDITORA NOBLET!
Segundo consta ela era filho de judeu e uma egípcia. Nasceu no 
Caíro no Egito em. Sofreu na pele o preconceito por ser meio árabe 
e meio hebraico. Foi morar em Paris, em busca de novas 
perspectivas de vida, trabalhou no mercado municipal da cidade luz
carregando caixas até descobrir que aquela cidade era o 
paraíso da jogatina. Assim, passou a viver investindo exclusivamente 
em jogos de azar. Em Paris encontrou seu verdadeiro amor, uma 
francesa chamada Janninie. Se casou. 
Mas, como poucas vezes dava sorte no jogo - 
em geral perdia -, precisava arrumar um modo de 
sobreviver de forma mais estável e que pudesse honrar seus 
compromissos. Foi com a esposa para Nova Iorque em busca de 
melhores oportunidades.
 Certo dia veio ao Brasil, país em que já residia sua irmã mais velha. 
Aqui abriu um bar, mas se deu mal, foi enganado pelo sócio.
Tempos depois arrumou algum dinheiro e abriu uma pequena 
casa editoria (Ed. Noblet), alugou um escritório à rua Marquês de Itú,
bem no centro da cidade, e começou a editar alguns títulos.

A primeira vez que vi uma publicação da Noblet nas bancas
foi na década de 70. A Minami-Cunha tinha falido, a editora 
Saber resolveu editar apenas a revista Sargento Bronca # 1. 
Nesse entretempo eu tinha colaborado com o Estúdio Ely Barbosa,
desenhando HQs dos personagens Hanna-Barbera e 
paralelamente desenvolvi artes para merchandising da 
Pantera Cor-de-Rosa e de Tom e Jerry, para a VIACOM, 
do Alvaro Figueiredo. Porém, esses trabalhos não eram contínuos. 
Eu precisava arrumar algo mais estável, que garantisse 
um faturamento mensal. que Eu havia casado, tinha uma
filha para criar e todo dia ia fuçar nas bancas, pois eu 
estava procurando empresas para fazer freela. 
A primeira revista que encontrei da Noblet foi Espoleta, 
em formatinho, com 32 páginas em cores, desenhada 
por Avalone. Procurei outros títulos do mesmo selo, 
mas não encontrei.




Em outra ocasião descobri a revista Akim, no formato 
livro de bolso, com 132 páginas, lombada quadrada etc. 
Folheei a publicação e para mim aquela espécie de Tarzan 
só podia ser feita por brasileiros. As artes não estavam 
assinadas e os desenhos não me impressionaram. 
Ao contrário, achei eles inexpressivos. Para quem, 
como eu, que estava acostumado a consumir HQs 
da DC e da Marvel, aqueles desenhos eram muito 
acanhados e até mal feitos. Mesmo assim, por 
curiosidade, acabei comprando uma edição.

Em casa, eu desenhava na mesa da cozinha, na esperança
 de criar algo que eu pudesse oferecer para os editores 
e levantar algum dinheiro. Como eu adorava a revista Mad 
comecei a criar e a desenvolver algumas sátiras de 
personagens de terror. “Criei” a Seção Terrir 
(HQs cômicas que satirizavam as series de terror), 
onde eu satirizava em HQs curtas, A Múmia, O Lobisomem 
e o Drácula. Tudo a meio tom aguado. Mas, onde levar
e onde vender aquilo?


No mês seguinte, lá estava eu pentelhando o jornaleiro 
da esquina outra vez. Ficava horas fuçando as revistas, 
anotando os telefones das editoras para depois ligar 
para elas para oferecer os meus trabalhos. Foi nesse 
dia que encontrei mais uma edição de Akim e acabei c
omprando. Apesar dos desenhos não serem impactantes 
quanto o de Jack Kirby, as histórias eram muito bem 
feitas e divertidas, diferiam do Tarzan de Edgar Rice 
Burroughs, completamente. Fiquei fã daquela serie.
 Eu ia saindo da banca quando o amigo jornaleiro me disse:
- Ei, garoto! Não vai levar Espoleta?
Peguei a revista a não e de  imediato percebi que os
desenhos eram de outro artista. Logo identifiquei o traço
que era do Paulo Hamasaki, um que uma vez tinha
visto na casa do Ignácio Justo junto com seu sócio 
de estúdio Paulo Fukue. Aquele japa também tinha 
lançado algumas edições pela Minami-Keizi Editores: 
Uma HQ de aventura de Torn e uma edição de western
que não recordo o nome. Esta última feita em parceria 
com o Fukue. Anos antes de eu conhecer o Hamasaki 
eu já era seu fã quando comprei Mundo dos Gigantes, 
um almanaque formato magazine feita por ele e pelo Moacir... 
O texto era de um tal Gedeone Malagola, autor de Raio Negro,
Hydroman e o Homem Lua, além de uma porrada de histórias
para revistas de terror.




Naquela época a Minami – Cunha já havia fechado as portas, 
infelizmente. Ver o nome de alguém conhecido me empolgou.
 Não pensei duas vezes e comprei a revista Espoleta que 
agora tinha como principal protagonista o personagem 
MIUDO, um personagem infantil, criado por Paulo 
Hamasaki, um ex-colaborador do Mauricio, da Turma da Mônica.

Assim que acabei as primeiras “HQs de terrir” decidi ir visitar 
aquela editora que ficava bem no centro da cidade, próximo
a praça da República. Noi escritório fui recebido pelo editor, 
que me apresentou a esposa dele e o Paulo Hamasaki.
- Paulo, esse moço...
- Tony Fernandes! – Disse ele – Você não é da turma do 
“Barraco do Justo?” Já nos vimos antes... o que tem aí 
para eu dar uma olhada? – quis saber assim que viu que
eu tinha uma pasta enorme embaixo do braço. - 
Seu Joseph, esse rapaz é um desenhista! Deve ter 
trazido alguns trabalhos vou avaliar! – falou voltando-se
para o editor.



Fomos para uma mesa da sala e lá o japa, que tinha baixa 
estatura, examinou as artes e leu atentamente os textos e
 me disse: - Gostei dos seus textos! Eles têm um non-sense
 muito bom! Mas, não publicamos revista Mad porá aqui. 
Apanhou duas revistas e me deu. Uma era Akim e 
a outra era A Turma do Miudo, antiga revista do Espoleta.
- No momento só estamos publicando essas edições, 
rapaz, e um livro ou outro! A empresa é nova e o seu 
Joseph é um editor meticuloso, dá um passo de cada vez...
Examinei as edições que eu já conhecia e não vi qualquer 
chance de eu poder colaborar com elas. A infantil em cores,
 o Paulo fazia... curiosamente, indaguei: Quem tá fazendo Akim?
 É nacional?
- Não – disse sorrindo. – É importado! O material é italiano. 
Os desenhos são do Pedrazza. Mas, recebemos o material 
da França, pois o seu Joseph tem contato por lá com uma
editora chamada Mon Journal...
Mon Journal... eu nunca tinha ouvido falar dessa editora
francesa, mas ele me disse que aquela casa editorial
europeia tinha diversos títulos mensais e semanais.
Akim era um desses títulos semanais.





Deduzi que o material vinha pronto, completo, mas mesmo 
assim decidi inquirir: - Só fazem a tradução e os balões, suponho?
- Sim nossa tradutora, a Dafne, ajeita para o português e 
as letras quem faz é o Maldonado, meu rapaz...
- O Marcos Maldonado? Que legal... ele também trabalhava 
pra Minami-Cunha, mas não o conheci pessoalmente – 
A muito tempo, desde que eu começara a ler HQs 
que os nomes Dolores e Marcos Maldonado me eram familiar.
- Exato. Mas, aquela editora já era, foi pra cucuía. 
Também trabalhei pra eles...
- Eu sei... eu sei...
- Como anda o Justo?
- Há tempos não nos vemos, Paulo. Sabe como é, me 
casei, tenho agora mulher e filhos pra sustentar...
 não posso vacilar, tenho contas à pagar. 
Estou batendo de porta em porta, tentando vender
 meus desenhos... mas se eu não conseguir nada 
vou ter que arrumar um emprego e rabiscar nas horas 
vagas. O leite Ninho não pode faltar – esbocei um sorriso.
- Olha, Tony... as vezes, para completar a edição de
 Akim faltam algumas páginas...
- É sério?
- Sim...  umas dez ou quinze... deixa seu material aí vou falar 
com o chefão. Quem sabe eu consigo te encaixar. 
Gostei dos seus textos, você escreve bem! 
Essas HQs estão engraçadas... muito boas! 
Os caras que colaboravam com a gente não são lá muito constantes e precisamos de gente que cubra essas páginas todo mês!
Saí de lá nas nuvens. Pelo visto, tudo indicava que ali poderia surgir uma oportunidade. Ele me deu o telefone da empresa e me pediu para ligar na semana seguinte. Eu, por fim, estava vendo uma luz no fim do túnel. 
O final de semana demorou para passar, tamanha era minha ansiedade de ligar para a editora.
- Oui? Noblet, bonjour – me disse a voz feminina do outro 
lado da linha. – Quer falar com monsieur Paulô? 
Um momento, por favorr...
Ela falava francês. Deduzi que deveria ser a esposa do dono. 
Fiquei mais tranquilo quando o Hamasaki entrou na linha e disse:
 - Meu rapaz, tenho boas novas... acha que consegue fazer
 uma quinze páginas de HQs cômicas por mês, para a revista Akim?
- Claro... claro, podem contar comigo.
- Mas, tem um detalhe essas sátiras de terror não dá 
pra usarmos agora... o editor quer que você crie algo 
que tenha a ver com aventuras de selva. Como sabe, 
Akim é uma versão europeia do Tarzan,que deu certo... 
você é capaz?
- Deixa comigo, Paulo! – disse visivelmente empolgado – 
Vou bolar alguma coisa e depois lhe mostro. OK? 
Obrigado, meu amigo! Você salvou a pátria!
Lendo a minha enciclopédia conhecer descobri que na 
África há uma vegetação rasteira chamada savana. 
Daí pensei: selva, savana... hum... tudo a ver. 
E, como eu era fã do seriado do Jim das Selvas, da TV e, 
especialmente admirava o filho desse personagem que 
sempre aparecia usando pulseiras de pele de onça e arco
 e flecha, criei um boneco a La Mortadelo e Salaminho –
 sempre fui fã do quadrinho europeu, desde quando o 
descobri.  Asterix e Mortadelo e Salaminho eram minhas 
edições preferidas, além de diversos heróis Marvel e DC. 
Desde solteiro eu “investia” minhas economias em HQs. 
Tinha um belo acervo de revistas nacionais e da Gold Key, 
editora americana. Fiquei durante um bom tempo 
exercitando fazer aquele tipo de boneco. Daí concebi 
o visual do Capitão Savana: uniforme, duas pulseiras 
de onça e botas, chapéu e uma faca. 
A ideia era satirizar heróis tipo Jim das Selvas, Tarzan
 e outros. Daí pensei, mas ele precisa de um fiel amigo,
 como é de praxe a todo herói. Por que não criar um parceiro
 indígena africano atrapalhado? Assim, surgiu King Kong,
 filho de um grande chefe tribal do continente africano.







A primeira HQ da serie que escrevi chamava-se Safari da
 Pesada. Desenhei ela em formato oficio (A-4) e assim que 
ficou pronta levei na Noblet. Eles riram com a história e 
decidiram pagar por ela. Me pagaram a vista. Vibrei por dentro 
sem demonstrar minha empolgação, é óbvio. 
Peguei o cheque e sai voando para o banco que ficava 
a poucas quadras dali. E o melhor, me encomendaram mais HQs.
Durante um bom tempo passei a colaborar para a revista Akim. 
Além de fazer as aventuras do Capitão Savana eu também 
comecei a fazer jogos e passatempos para preencher a edição.   
Tempos depois, eles me informaram que estavam mudando
 para o Cambuci, pois o editor estava montando um 
pequeno parque gráfico. Anotei o novo endereço e 
certa tarde fui visitá-los. Deixaram o centro da cidade 
e se instalaram na rua Almeida Torres.
O lugar era espaçoso e o Hamasaki me disse que a 
máquina de impressão,que o seu José havia comprado
 da Abril estava chegando. Eles estavam se organizando. 
Fiquei feliz sem saber que a empresa estava expandindo. 
Assim, continuei a colaborar com eles. A cada 
vinte dias eu ia até lá para levar mais material e receber.

JOGOS E DIVERSÕES


Certo dia, o Hama me disse, você conhece essa revistinha de jogos?
- Não. Nunca tinha visto ela.
Era uma edição francesa da editora Mon Journal, com
 capa em couchê em cores e miolo em papel jornal. 
Folheei a edição e notei que se tratava de passatempos 
para crianças. Nas páginas havia muitas ilustrações cômicas.
- Nosso editor está querendo fazer algo parecido no Brasil. 
Você topa? Nossa edição deverá ter 32 páginas mais capas...
Apesar de nunca ter encarado uma empreitada daquela 
decidi aceitar o desafio, mas para isso disse que tinha um 
amigo, que trabalhava em estamparia, mas que desenhava 
muito bem. Expliquei que se ele poderia também 
entrar nessa nova edição.
- Tem certeza de que o cara é bom, Tony?
- Você vai ver. Na semana que vem trago ele aqui.
Eu e o Wanderley Felipe vivíamos grudados, morávamos 
no mesmo bairro, na Freguesia do Ó. Tínhamos algumas
afinidades: garotas, música e HQs. Eu arranhava um violão
e ele bateria. Vira e mexe nos reuníamos para tocar e 
para falarmos sobre HQs ou mostrar desenhos, criações.
O cara não titubeou. Na semana seguinte fomos para a Noblet.
Fomos bem recebidos e o Hamasaki, que era o diretor 
de arte, após examinar os desenhos do Felipe, os aprovou. E disse:
- O Tony já explicou o que vocês terão de fazer, meu rapaz?
- Eu já mostrei a revistinha francesa que você me emprestou, Paulo!
- Ótimo, vão conseguir fazer?
- É óbvio – respondi, o Felipe era meio acanhado, 
mas eu sempre falei pelos cotovelos.
- OK, rapazes... então vamos até a sala do editor – disse 
apontando o caminho. – Chegou a hora de negociar o preço. 
E foi assim que começamos a fazer a revista Jogos e Diversões, 
meio a meio. Uma capa eu fazia, a outra era do parceiro. 
Naquela época eu nem imaginava como a coisa funcionava. 
Não tinha ideia de custo, tiragem e como era feita a 
distribuição em banca etc. Acho que foi pura sorte de 
principiantes, pois a revista vendeu razoavelmente bem. 
Continuei a fazer jogos e HQs para a revista Akim e os
 jogos para o novo título que assumimos,
Jogos e Diversões durou um ano. Ou seja, fizemos 12 edições. 
E foi justamente na última edição que decidi lançar um 
personagem que já há algum tempo eu tinha guardado na 
gaveta: Zink, O Homem Formiga, que acabou virando Fantastic Man.
Mas, a primeira HQ dele que saiu na edição dessa revista 
de jogos nada a tinha a ver com a versão que lancei 
na década de 80. O nome foi mudado quando tomei 
conhecimento que havia um herói da Marvel com o mesmo nome.

NOBLET EM EXPANSÃO

Certo dia, ao ir visitá-los tive uma ótima surpresa, quando 
o Paulo me disse que precisava de um assistente de arte 
e me indagou quanto eu queria ganhar por semana para
trabalhar com eles? Assim que o editor chegou do almoço
fomos até a sala dele e quando indaguei o que eu iria 
fazer o seu Joseph me disse:
- Ajudar o Paulo, meu amigo...
- Preciso de alguém para retocar originais, conferir e retocar 
com abideque os fotolitos, enfim  que  me auxilie, Tony. 
Estamos pensando em lançar outros títulos. A proposta 
financeira não era ruim e inicialmente fui contratado para 
trabalhar meio período. Minhas manhãs eram livres e isso 
era excelente, porque eu podia continuar a fazer alguns “bicos” por aí.
De fato, novos produtos foram surgindo nas bancas com os 
elo Noblet. O primeiro que veio depois de Akim 
foi Carabina Slim, uma HQ ambientada no velho oeste, o 
desenhista Militelo, ex-funcionário da Abril, começou a fazer
 a revista de atividades infantis chamada Prezinho, cujo principal 
protagonista era Godofredo. 



















Depois foi lançada uma coleção 
de pocktes books para adultos  chamada Afrodite, duas revistas
para adultos: Hot Girl e Contos Excitantes – feitas inicialmente
pelo mestre Antonio (Toninho Duarte), Giddap Joe – outro 
gibi europeu de western, Vampirella, Mister No e o jornal policial,
que eu comandava, chamado Policia Magazine. 
O mestre Jayme Cortez começou a fazer uma bela revista 
em cores infantil, enquanto Primaggio criou uma revista de 
atividades com o Sacarrolha. Na sequência a contista Eugênia 
Cecília Brasiliense também foi contratada para comandar
 uma coleção de livros de bolso eróticos feitos por autores nacionais.
Nosso estúdio era grande e vivia entrando e saindo gente.

DIVERSOS COLABORADORES


Internamente formamos um time da pesada: Joseph Abourbih 
era o editor, na direção de arte estava Paulo Hamasaki, 
assistentes, eu e o J. B. Pereira, e os jovens Décio Ramirez, 
Robertinho – ambos moravam na redondeza -, tradutoras de
francês: Dafne Rodrigues, letras: Marcos Maldonado, 
produção gráfica: Fausto Kataoka, Toninho Duarte e Eugênia
 Cecília Brasiliense, que coordenava os escritores nacionais 
e produzia contos e textos dos pocktes books. 
Nos serviços burocráticos atuavam: Dona Janinie – 
a esposa do editor -, Josete e Frida – ambas sobrinhas do homem.
O parque gráfico era coordenado por Davi, o impressor oficial – 
durante anos - e Fausto Fausto Kataoka – dois polivalentes 
quando o assunto é gráfica. Aos poucos outros maquinários chegaram e a pequena gráfica se tornou um grande parque gráfico, com uma seção de acabamento cheio de garotas que eram comandadas pela simpática Maria Pereira. 

Na medida em que as revistas de Hqs da Noblet cresciam 
eu ia desenvolvendo novos personagens para cobrir as
 páginas complementares. Para Akim, como já citei criei o
 Capitão Savana, para a revista Carabina Slim, Águia Azarada, 
para Mister No, Jerônimo Dias, para a revista Jogos 
e Diversões, O Inspetor Pereira e Zink, o Homem Formiga 
(futuro Fantastic Man). Além disso, também fazia uma serie de jogos de passatempos para o recheio das edições.












COLOBORADORES: Passaram pelas edições de HQs da Noblet diversos colaboradores, como Avalone, José Carlos Pace, eu, Wanderley Felipe, 
Marcos Maldonado, Mauro,  Shimamoto – autor da serie O Gaúcho, que foi publicado na revista Carabina Slim-, Ataíde Braz e Roberto Kussumoto – 
autores de Manco Capa - que foi publicado em capítulos na revista 
Mister No-, Carlos Magno, Seabra, Rodval Matias, Jorge Fisher – 
ambos escreviam textos de HQs para a revista Sexorama que 
posteriormente foi rebatizada de Sexyman - porque a editora
Act-Vita do amigo Ino G. Alhanat  detinha o direito sobre o título - 
Décio Ramirez e Robertinho – criando jogos e passatempos.



























SEXORAMA (SEXYMAN)

Inicialmente esse título começou com HQs de autores estrangeiros
 e aos poucos ele foi se nacionalizando. Colaboraram com essa revista: 
Jorge Fisher, Carlos Magno, Rodval Matias, Seabra, Salatiel de Holanda, 
Mauro e Eugênio Colonnese.
Militelo – autor de Godofredo - fazia a revista Prezinho, que depois 
foi assumida por Wanderley Felipe.
Quando o saudoso Toninho Duarte deixou de fazer as revistas Hot 
Girls e Contos Excitantes assumi a direção de redação e tempos depois coordenei o jornal Polícia Magazine, que tinha como colaboradores 
Ibrahim Hamaddam e sua equipe – do extinto jornal Notícias 
Populares do Grupo Folha da Manhã (Folha de S. Paulo)-, Salatiel de Holanda que fazia ilustrações para o citado jornal e o cartunista Pestana.

















As duas páginas de abertura foram desenhadas pelo Hamasaki






UM IMPORTANTE PONTO
DE ENCONTRO




Durante a semana o ritmo de trabalho era pauleira, mas trabalhávamos 
num clima descontraído, de auto astral. E, toda sexta-feira o happy hour era sagrado e na maioria das vezes rolava noite à dentro. Na medida em que o estúdio crescia muita gente importante passava por lá, como: Reinaldo de Oliveira – importante produtor gráfico e ex-proprietário da editora Graúna –
 futuro sócio na distribuição de tiras e tabloides da Mauricio de Sousa 
Produções -, Hélio Porto – idealizador e um dos editores da revista Psiu -, 
Jaime Cortez, Primaggio – que passou a fazer uma revista de atividades 
infantis do Sacarolha - , Shimamoto, Salvador Bentivegna, Paulo Fukue, Cassandra Rios, Toninho Lima, Ataíde Braz, Roberto Kussumoto, 
Neide Harue, Salatiel de Holanda, Wilson Hisamoto, Jorge e Ruy 
Takahashi, Jorginho,  Minami Keizi, além de diversos 
escritores e contistas.    
Trabalhei durante 5 anos na editora Noblet e pedi as contas 
em 1982 para abrir minha primeira empresa, meu primeiro estúdio – 
que acabou se transformando numa editora - 
E.T.F Comunicação Comercial Ltda.

E.T.F (ESTÚDIOS TONY FERNANDES)

Eu morava, na época, no bairro da Casa Verde, zona norte 
de S. Paulo. Abri o estúdio na zona sul, mais precisamente 
na Praça da Árvore, em frente a estação do metro. Passei a 
atender diversos clientes – editores e agências de publicidade, 
como: Acti-Vita, Onix, Rios, Luzeiro, Tálamus, Evictor, Nova 
Sampa, Yakult, Viacom, Character, Imprima, F.T.D. Agênciais 
e clientes diretos: São Paulo Alpargatas, Young Rubican, Mauro
 Salles, MacCan – em associação com Adão Gonçalves e Salatiel 
de Holanda -, e outras.
Desenvolvíamos campanhas publicitárias, rótulos e embalagens, 
logomarcas, projetos de HQs, revistas de atividades infantis, 
contos eróticos, Jingles, textos para livros eróticos – em que 
eu usava diversos pseudônimos, inclusive femininos e estrangeiros -, 
ilustrações e artes finais.   

BONS TEMPOS

Confesso que tenho saudade daquele velho e bom tempo. 
Trabalhar naquela editora foi muito bom. Aprendi muito com 
ela e com os profissionais tarimbados que passei a conviver –
 todos mais velhos do que eu. Confesso que aprendi muito 
sobre produção gráfica (formatos de papéis, gramaturas etc).
Além disso, a partir do momento em que meu nome passou a sair
no expediente daquelas edições surgiu inúmeros convites para 
trabalhar com outras edições de empresas editorias concorrentes. 
Durante o período em que trabalhei na Noblet fiz inúmeros freelas 
e isso me ajudou a acumular uma dinheiro a mais para alugar 
uma sala e começar meu próprio negócio. Afinal, eu sempre 
pensei em abrir meu próprio negócio. 

Revistas como Akim, Sexyman, Contos Excitantes e Hot Girls, que 
também ajudei a fazer duraram anos e isso me deixa feliz. Mesmo 
fora daquela editora, eu e o Hamasaki, todas as sextas nos reuníamos
com o editor para almoçarmos, relembrar o passado e dar boas risadas.
Nos últimos anos, não havia mais ninguém naquele que outrora fora
um grande estúdio de arte e criação. Jonas, o impressor passou a fazer a produção gráfica, Paula, a sobrinha do editor organizava os textos 
enviados pelos colaboradores e Juvenal passou a ser o braço 
direito do editor secretariando-o e cuidando dos lançamentos.

A Noblet só cessou suas atividades porque J. Abourbih, já com
 idade avançada, começou a ter sérios problemas de saúde, 
acabou sendo internado e veio a falecer. Não tinha herdeiros 
(filhos), e as sobrinhas não tinham intenção de continuar editando.

UMA FÍGURA POLÊMICA

Joseph Abourbih sempre foi uma figura polêmica, amado e odiado 
por alguns. Mas, nesse mundo quem é que consegue agradar 
gregos e troianos? Fora da empresa era um gentleman – vira e mexe nos convidava para irmos a um bom restaurante, onde fazia questão 
de sempre pagar a conta. Na empresa, brigava por centavos de 
forma radical, como todo cidadão que tem sangue hebraico nas veias.
 Sabia separar amizades de negócios e por isso conseguiu 
manter heroicamente a empresa de pé por tanto tempo. 
Não devia anda a ninguém. Era exigente com os autores e 
tinha a mania de dizer: “No, no.no.no. no, meu amigo, aprende 
uma coisa na vida...”.
Por isso, nós, seus funcionários o apelidamos carinhosamente de 
Mister No e Old Fox.Rsss... Era uma figura. Tinha um grande 
coração e se ouvisse alguém contar as mazelas não hesitava em 
abrir a carteira. Apesar de ter sangue hebraico nas 
veias era fã de Maomé, 
o profeta muçulmano. Adora histórias em quadrinhos. 
Foi com ele que aprendi a conhecer melhor as HQs europeias, 
pois ele mantinha assinatura de algumas revistas importantes
 franceses, que recebíamos semanalmente.
Vivia nos dizendo que no Egito ele tinha sido “piblicitário” (publicitário).

Mas, com o tempo descobrimos que naquele país ele tinha 
trabalhado como vendedor de anúncios para jornais. 
Também apregoava que tinha nascido na terra de Ali Babá e 
os 40 Ladrões e que dificilmente alguém poderia lhe passar a 
perna (enganá-lo em termos comerciais). Era ligeiro nas transações
 de negócios. Foi o primeiro cliente da DINAP (Distribuidora Nacional de Publicações) – do Grupo Abril, por isso gozava de certas regalias com eles.
Na verdade, quando abri minha primeira editora só consegui fechar
contrato com a DINAP depois que disse que era um 
ex-funcionário da Noblet. ABRACADABRA: As portas se abriram. 
Joseph Abourbih tinha um ótimo conceito na DINAP.

Quando abri a Phenix Editorial foi me visitar e elogiou a minha 
iniciativa. Apesar de eu e ele termos brigado bastante, quando 
durante os anos que trabalhei para a Noblet, nos dávamos bem. 
Só consegui ficar durante 5 anos nessa editora, graças ao 
Hamasaki que vivia nos apaziguando. Ele falava alto – acho 
que deveria ter algum problema de audição -, e eu sempre 
odiei que alguém gritasse comigo. Fora este pequeno detalhe, 
nos dávamos bem.

Certa vez, quando eu comandava a redação do jornal Polícia 
Magazine – apesar de já ter meu estúdio, ele me contratou para
 trabalhar meio período nesse jornal que ele sonhava em editar 
a vida toda -, ele me chamou na sala e se alterou dizendo que
 a chamada das matérias estavam erradas. Disse que os espaços
 que eu havia deixado para as chamadas de matéria estavam 
pequenas demais. Como iria caber as chamadas de matérias, 
que ele achava que tinha que ter 4 ou 5 linhas. Disse isso aos 
berros. Retruquei, também no mesmo tom de voz, e indaguei: 
Aonde o senhor aprendeu a fazer jornal? 
Não tinha cabimento fazer uma chamada de matéria com 5 linhas. 
Dessa forma íamos contar 
todo o conteúdo da matéria jornalística. Para que o leitor ia ler 
a matéria, se já contávamos tudo nas chamadas de capa? 
Ele voltou a dizer que estava errado. Fiquei puto e joguei 
os originais na mesa dele e pela
terceira ou quarta vez pedi as contas. 
O Hamasaki ficava doido com a gente e vivia dizendo: 
“O santo de vocês não bate... digo, o signo de vocês não 
combinam, Tony.”
O Hama tinha mania de horóscopo e só contratava gente 
para trabalhar no estúdio só se fossem do elemento ar – 
fossem compatíveis. Achava isso ridículo. 
Nunca acreditei em horóscopos. Principalmente por 
que durante anos escrevi esse tipo de coisa. 



Por isso apelidei o Hama de “Astrólogo do Oriente”. Rsss.
O “seu” José se foi. A editora Noblet encerrou suas atividades, 
mas ficaram as boas recordações. Foi graças a J. Abourbih, 
um homem que nasceu do outro lado do mundo, que nós 
conseguimos nos consolidar como profissionais do ramo. 
Que sua alma descanse em paz, bravo guerreiro!
Que assim seja.
  
Por Tony Fernandes\Redação\Pegasus Studio -
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