Esta
é a história de um homem que morou em Paris,
em Nova Iorque e que um dia decidiu
vir para o Brasil,
com apenas 900 dólares no bolso – como ele mesmo
costumava
contar a nós, seus funcionários -, e com muita luta,
garra e perseverança
conseguiu abrir uma editora, construir
um parque gráfico e manter suas
publicações até o final da vida.
Esta é uma homenagem póstuma a Joseph
Abourbih,
que foi proprietário da...
EDITORA
NOBLET!
Segundo consta ela era filho de judeu e uma egípcia.
Nasceu no
Caíro no Egito em. Sofreu na pele o preconceito por ser meio árabe
e
meio hebraico. Foi morar em Paris, em busca de novas
perspectivas de vida,
trabalhou no mercado municipal da cidade luz
carregando caixas até descobrir
que aquela cidade era o
paraíso da jogatina. Assim, passou a viver investindo
exclusivamente
em jogos de azar. Em Paris encontrou seu verdadeiro amor, uma
francesa chamada Janninie. Se casou.
Mas, como poucas vezes dava sorte no jogo
-
em geral perdia -, precisava arrumar um modo de
sobreviver de forma mais estável
e que pudesse honrar seus
compromissos. Foi com a esposa para Nova Iorque em
busca de
melhores oportunidades.
Certo dia veio ao Brasil, país em que já
residia sua irmã mais velha.
Aqui abriu um bar, mas se deu mal, foi enganado
pelo sócio.
Tempos depois arrumou algum dinheiro e abriu uma pequena
casa
editoria (Ed. Noblet), alugou um escritório à rua Marquês de Itú,
bem no centro da cidade, e começou a
editar alguns títulos.
A primeira vez que vi uma publicação da Noblet nas bancas
foi na década de 70. A Minami-Cunha tinha falido, a editora
Saber resolveu
editar apenas a revista Sargento Bronca # 1.
Nesse entretempo eu tinha
colaborado com o Estúdio Ely Barbosa,
desenhando HQs dos personagens
Hanna-Barbera e
paralelamente desenvolvi artes para merchandising da
Pantera
Cor-de-Rosa e de Tom e Jerry, para a VIACOM,
do Alvaro Figueiredo. Porém, esses
trabalhos não eram contínuos.
Eu precisava arrumar algo mais estável, que
garantisse
um faturamento mensal. que Eu havia casado, tinha uma
filha para
criar e todo dia ia fuçar nas bancas, pois eu
estava procurando empresas para
fazer freela.
A primeira revista que encontrei da Noblet foi Espoleta,
em
formatinho, com 32 páginas em cores, desenhada
por Avalone. Procurei outros
títulos do mesmo selo,
mas não encontrei.
Em outra ocasião descobri a revista Akim, no formato
livro de bolso, com 132 páginas, lombada quadrada etc.
Folheei a publicação e
para mim aquela espécie de Tarzan
só podia ser feita por brasileiros. As artes
não estavam
assinadas e os desenhos não me impressionaram.
Ao contrário, achei
eles inexpressivos. Para quem,
como eu, que estava acostumado a consumir HQs
da
DC e da Marvel, aqueles desenhos eram muito
acanhados e até mal feitos. Mesmo
assim, por
curiosidade, acabei comprando uma edição.
Em casa, eu desenhava na mesa da cozinha, na esperança
de
criar algo que eu pudesse oferecer para os editores
e levantar algum dinheiro.
Como eu adorava a revista Mad
comecei a criar e a desenvolver algumas sátiras
de
personagens de terror. “Criei” a Seção Terrir
(HQs cômicas que satirizavam
as series de terror),
onde eu satirizava em HQs curtas, A Múmia, O Lobisomem
e
o Drácula. Tudo a meio tom aguado. Mas, onde levar
e onde vender aquilo?
No mês seguinte, lá estava eu pentelhando o jornaleiro
da
esquina outra vez. Ficava horas fuçando as revistas,
anotando os telefones das
editoras para depois ligar
para elas para oferecer os meus trabalhos. Foi nesse
dia que encontrei mais uma edição de Akim e acabei c
omprando. Apesar dos
desenhos não serem impactantes
quanto o de Jack Kirby, as histórias eram muito
bem
feitas e divertidas, diferiam do Tarzan de Edgar Rice
Burroughs,
completamente. Fiquei fã daquela serie.
Eu ia saindo da banca quando o amigo
jornaleiro me disse:
- Ei, garoto! Não vai levar Espoleta?
Peguei a revista a não e de imediato percebi que os
desenhos eram de
outro artista. Logo identifiquei o traço
que era do Paulo Hamasaki, um que uma
vez tinha
visto na casa do Ignácio Justo junto com seu sócio
de estúdio Paulo
Fukue. Aquele japa também tinha
lançado algumas edições pela Minami-Keizi
Editores:
Uma HQ de aventura de Torn e uma edição de western
que não recordo o
nome. Esta última feita em parceria
com o Fukue. Anos antes de eu conhecer o
Hamasaki
eu já era seu fã quando comprei Mundo dos Gigantes,
um almanaque
formato magazine feita por ele e pelo Moacir...
O texto era de um tal Gedeone
Malagola, autor de Raio Negro,
Hydroman e o Homem Lua, além de uma porrada de
histórias
para revistas de terror.
Naquela época a Minami – Cunha já havia fechado as
portas,
infelizmente. Ver o nome de alguém conhecido me empolgou.
Não pensei
duas vezes e comprei a revista Espoleta que
agora tinha como principal
protagonista o personagem
MIUDO, um personagem infantil, criado por Paulo
Hamasaki, um ex-colaborador do Mauricio, da Turma da Mônica.
Assim que acabei as primeiras “HQs de terrir” decidi ir
visitar
aquela editora que ficava bem no centro da cidade, próximo
a praça da
República. Noi escritório fui recebido pelo editor,
que me apresentou a esposa
dele e o Paulo Hamasaki.
- Paulo, esse moço...
- Tony Fernandes! – Disse ele – Você não é da turma do
“Barraco do Justo?” Já nos vimos antes... o que tem aí
para eu dar uma olhada?
– quis saber assim que viu que
eu tinha uma pasta enorme embaixo do braço. -
Seu Joseph, esse rapaz é um desenhista! Deve ter
trazido alguns trabalhos vou
avaliar! – falou voltando-se
para o editor.
Fomos para uma mesa da sala e lá o japa, que tinha baixa
estatura, examinou as artes e leu atentamente os textos e
me disse: - Gostei
dos seus textos! Eles têm um non-sense
muito bom! Mas, não publicamos revista
Mad porá aqui.
Apanhou duas revistas e me deu. Uma era Akim e
a outra era A
Turma do Miudo, antiga revista do Espoleta.
- No momento só estamos publicando essas edições,
rapaz,
e um livro ou outro! A empresa é nova e o seu
Joseph é um editor meticuloso, dá
um passo de cada vez...
Examinei as edições que eu já conhecia e não vi qualquer
chance de eu poder colaborar com elas. A infantil em cores,
o Paulo fazia...
curiosamente, indaguei: Quem tá fazendo Akim?
É nacional?
- Não – disse sorrindo. – É importado! O material é
italiano.
Os desenhos são do Pedrazza. Mas, recebemos o material
da França,
pois o seu Joseph tem contato por lá com uma
editora chamada Mon Journal...
Mon Journal... eu nunca tinha ouvido falar dessa editora
francesa, mas ele me disse que aquela casa editorial
europeia tinha diversos títulos mensais e semanais.
Akim era um desses títulos semanais.
Deduzi que o material vinha pronto, completo, mas mesmo
assim decidi inquirir: - Só fazem a tradução e os balões, suponho?
- Sim nossa tradutora, a Dafne, ajeita para o português e
as letras quem faz é o Maldonado, meu rapaz...
- O Marcos Maldonado? Que legal... ele também trabalhava
pra Minami-Cunha, mas não o conheci pessoalmente –
A muito tempo, desde que eu
começara a ler HQs
que os nomes Dolores e Marcos Maldonado me eram familiar.
- Exato. Mas, aquela editora já era, foi pra cucuía.
Também trabalhei pra eles...
- Eu sei... eu sei...
- Como anda o Justo?
- Há tempos não nos vemos, Paulo. Sabe como é, me
casei,
tenho agora mulher e filhos pra sustentar...
não posso vacilar, tenho contas à
pagar.
Estou batendo de porta em porta, tentando vender
meus desenhos... mas se
eu não conseguir nada
vou ter que arrumar um emprego e rabiscar nas horas
vagas. O leite Ninho não pode faltar – esbocei um sorriso.
- Olha, Tony... as vezes, para completar a edição de
Akim
faltam algumas páginas...
- É sério?
- Sim... umas dez
ou quinze... deixa seu material aí vou falar
com o chefão. Quem sabe eu consigo
te encaixar.
Gostei dos seus textos, você escreve bem!
Essas HQs estão
engraçadas... muito boas!
Os caras que colaboravam com a gente não são lá muito
constantes e precisamos de gente que cubra essas páginas todo mês!
Saí de lá nas nuvens. Pelo visto, tudo indicava que ali
poderia surgir uma oportunidade. Ele me deu o telefone da empresa e me pediu
para ligar na semana seguinte. Eu, por fim, estava vendo uma luz no fim do
túnel.
O final de semana demorou para passar, tamanha era minha
ansiedade de ligar para a editora.
- Oui? Noblet, bonjour – me disse a voz feminina do outro
lado da linha. – Quer falar com monsieur Paulô?
Um momento, por favorr...
Ela falava francês. Deduzi que deveria ser a esposa do
dono.
Fiquei mais tranquilo quando o Hamasaki entrou na linha e disse:
- Meu
rapaz, tenho boas novas... acha que consegue fazer
uma quinze páginas de HQs
cômicas por mês, para a revista Akim?
- Claro... claro, podem contar comigo.
- Mas, tem um detalhe essas sátiras de terror não dá
pra
usarmos agora... o editor quer que você crie algo
que tenha a ver com aventuras
de selva. Como sabe,
Akim é uma versão europeia do Tarzan,que deu certo...
você
é capaz?
- Deixa comigo, Paulo! – disse visivelmente empolgado –
Vou bolar alguma coisa e depois lhe mostro. OK?
Obrigado, meu amigo! Você
salvou a pátria!
Lendo a minha enciclopédia conhecer descobri que na
África há uma vegetação rasteira chamada savana.
Daí pensei: selva, savana...
hum... tudo a ver.
E, como eu era fã do seriado do Jim das Selvas, da TV e,
especialmente admirava o filho desse personagem que
sempre aparecia usando
pulseiras de pele de onça e arco
e flecha, criei um boneco a La Mortadelo e
Salaminho –
sempre fui fã do quadrinho europeu, desde quando o
descobri. Asterix e Mortadelo e Salaminho eram minhas
edições preferidas, além de diversos heróis Marvel e DC.
Desde solteiro eu
“investia” minhas economias em HQs.
Tinha um belo acervo de revistas nacionais
e da Gold Key,
editora americana. Fiquei durante um bom tempo
exercitando fazer
aquele tipo de boneco. Daí concebi
o visual do Capitão Savana: uniforme, duas
pulseiras
de onça e botas, chapéu e uma faca.
A ideia era satirizar heróis tipo
Jim das Selvas, Tarzan
e outros. Daí pensei, mas ele precisa de um fiel amigo,
como é de praxe a todo herói. Por que não criar um parceiro
indígena africano
atrapalhado? Assim, surgiu King Kong,
filho de um grande chefe tribal do
continente africano.
A primeira HQ da serie que escrevi chamava-se Safari da
Pesada. Desenhei ela em formato oficio (A-4) e assim que
ficou pronta levei na
Noblet. Eles riram com a história e
decidiram pagar por ela. Me pagaram a
vista. Vibrei por dentro
sem demonstrar minha empolgação, é óbvio.
Peguei o
cheque e sai voando para o banco que ficava
a poucas quadras dali. E o melhor,
me encomendaram mais HQs.
Durante um bom tempo passei a colaborar para a revista
Akim.
Além de fazer as aventuras do Capitão Savana eu também
comecei a fazer
jogos e passatempos para preencher a edição.
Tempos depois, eles me informaram que estavam mudando
para o Cambuci, pois o editor estava montando um
pequeno parque gráfico. Anotei
o novo endereço e
certa tarde fui visitá-los. Deixaram o centro da cidade
e se
instalaram na rua Almeida Torres.
O lugar era espaçoso e o Hamasaki me disse que a
máquina
de impressão,que o seu José havia comprado
da Abril estava chegando. Eles
estavam se organizando.
Fiquei feliz sem saber que a empresa estava expandindo.
Assim, continuei a colaborar com eles. A cada
vinte dias eu ia até lá para
levar mais material e receber.
JOGOS
E DIVERSÕES
Certo dia, o Hama me disse, você conhece essa revistinha
de jogos?
- Não. Nunca tinha visto ela.
Era uma edição francesa da editora Mon Journal, com
capa
em couchê em cores e miolo em papel jornal.
Folheei a edição e notei que se
tratava de passatempos
para crianças. Nas páginas havia muitas ilustrações
cômicas.
- Nosso editor está querendo fazer algo parecido no
Brasil.
Você topa? Nossa edição deverá ter 32 páginas mais capas...
Apesar de nunca ter encarado uma empreitada daquela
decidi aceitar o desafio, mas para isso disse que tinha um
amigo, que
trabalhava em estamparia, mas que desenhava
muito bem. Expliquei que se ele
poderia também
entrar nessa nova edição.
- Tem certeza de que o cara é bom, Tony?
- Você vai ver. Na semana que vem trago ele aqui.
Eu e o Wanderley Felipe vivíamos grudados, morávamos
no
mesmo bairro, na Freguesia do Ó. Tínhamos algumas
afinidades: garotas, música e
HQs. Eu arranhava um violão
e ele bateria. Vira e mexe nos reuníamos para tocar
e
para falarmos sobre HQs ou mostrar desenhos, criações.
O cara não titubeou. Na semana seguinte fomos para a
Noblet.
Fomos bem recebidos e o Hamasaki, que era o diretor
de
arte, após examinar os desenhos do Felipe, os aprovou. E disse:
- O Tony já explicou o que vocês terão de fazer, meu
rapaz?
- Eu já mostrei a revistinha francesa que você me
emprestou, Paulo!
- Ótimo, vão conseguir fazer?
- É óbvio – respondi, o Felipe era meio acanhado,
mas eu
sempre falei pelos cotovelos.
- OK, rapazes... então vamos até a sala do editor – disse
apontando o caminho. – Chegou a hora de negociar o preço.
E foi assim que
começamos a fazer a revista Jogos e Diversões,
meio a meio. Uma capa eu fazia,
a outra era do parceiro.
Naquela época eu nem imaginava como a coisa
funcionava.
Não tinha ideia de custo, tiragem e como era feita a
distribuição
em banca etc. Acho que foi pura sorte de
principiantes, pois a revista vendeu
razoavelmente bem.
Continuei a fazer jogos e HQs para a revista Akim e os
jogos
para o novo título que assumimos,
Jogos e Diversões durou um ano. Ou seja, fizemos 12
edições.
E foi justamente na última edição que decidi lançar um
personagem que
já há algum tempo eu tinha guardado na
gaveta: Zink, O Homem Formiga, que
acabou virando Fantastic Man.
Mas, a primeira HQ dele que saiu na edição dessa revista
de jogos nada a tinha a ver com a versão que lancei
na década de 80. O nome foi
mudado quando tomei
conhecimento que havia um herói da Marvel com o mesmo nome.
NOBLET
EM EXPANSÃO
Certo dia, ao ir visitá-los tive uma ótima surpresa,
quando
o Paulo me disse que precisava de um assistente de arte
e me indagou
quanto eu queria ganhar por semana para
trabalhar com eles? Assim que o editor
chegou do almoço
fomos até a sala dele e quando indaguei o que eu iria
fazer o
seu Joseph me disse:
- Ajudar o Paulo, meu amigo...
- Preciso de alguém para retocar originais, conferir e
retocar
com abideque os fotolitos, enfim
que me auxilie, Tony.
Estamos
pensando em lançar outros títulos. A proposta
financeira não era ruim e
inicialmente fui contratado para
trabalhar meio período. Minhas manhãs eram
livres e isso
era excelente, porque eu podia continuar a fazer alguns “bicos”
por aí.
De fato, novos produtos foram surgindo nas bancas com os
elo Noblet. O primeiro que veio depois de Akim
foi Carabina Slim, uma HQ
ambientada no velho oeste, o
desenhista Militelo, ex-funcionário da Abril,
começou a fazer
a revista de atividades infantis chamada Prezinho, cujo
principal
protagonista era Godofredo.
Depois foi lançada uma coleção
de pocktes
books para adultos chamada Afrodite,
duas revistas
para adultos: Hot Girl e Contos Excitantes – feitas inicialmente
pelo mestre Antonio (Toninho Duarte), Giddap Joe – outro
gibi europeu de
western, Vampirella, Mister No e o jornal policial,
que eu comandava, chamado
Policia Magazine.
O mestre Jayme Cortez começou a fazer uma bela revista
em
cores infantil, enquanto Primaggio criou uma revista de
atividades com o
Sacarrolha. Na sequência a contista Eugênia
Cecília Brasiliense também foi
contratada para comandar
uma coleção de livros de bolso eróticos feitos por
autores nacionais.
Nosso estúdio era grande e vivia entrando e saindo gente.
DIVERSOS
COLABORADORES
Internamente formamos um time da pesada: Joseph Abourbih
era o editor, na direção de arte estava Paulo Hamasaki,
assistentes, eu e o J.
B. Pereira, e os jovens Décio Ramirez,
Robertinho – ambos moravam na redondeza
-, tradutoras de
francês: Dafne Rodrigues, letras: Marcos Maldonado,
produção
gráfica: Fausto Kataoka, Toninho Duarte e Eugênia
Cecília Brasiliense, que
coordenava os escritores nacionais
e produzia contos e textos dos pocktes
books.
Nos serviços burocráticos atuavam: Dona Janinie –
a esposa do editor -,
Josete e Frida – ambas sobrinhas do homem.
O parque gráfico era coordenado por Davi, o impressor
oficial –
durante anos - e Fausto Fausto Kataoka – dois polivalentes
quando o
assunto é gráfica. Aos poucos outros maquinários chegaram e a pequena gráfica
se tornou um grande parque gráfico, com uma seção de acabamento cheio de
garotas que eram comandadas pela simpática Maria Pereira.
Na medida em que as revistas de Hqs da Noblet cresciam
eu
ia desenvolvendo novos personagens para cobrir as
páginas complementares. Para
Akim, como já citei criei o
Capitão Savana, para a revista Carabina Slim, Águia
Azarada,
para Mister No, Jerônimo Dias, para a revista Jogos
e Diversões, O
Inspetor Pereira e Zink, o Homem Formiga
(futuro Fantastic Man). Além disso,
também fazia uma serie de jogos de passatempos para o recheio das edições.
COLOBORADORES:
Passaram pelas edições de HQs da Noblet diversos colaboradores, como Avalone,
José Carlos Pace, eu, Wanderley Felipe,
Marcos Maldonado, Mauro, Shimamoto – autor da serie O Gaúcho, que foi
publicado na revista Carabina Slim-, Ataíde Braz e Roberto Kussumoto –
autores
de Manco Capa - que foi publicado em capítulos na revista
Mister No-, Carlos
Magno, Seabra, Rodval Matias, Jorge Fisher –
ambos escreviam textos de HQs para a revista Sexorama que
posteriormente foi rebatizada de Sexyman - porque a editora
Act-Vita do amigo
Ino G. Alhanat detinha o direito sobre o título -
Décio Ramirez e Robertinho – criando jogos e passatempos.
SEXORAMA
(SEXYMAN)
Inicialmente esse título começou com HQs de autores
estrangeiros
e aos poucos ele foi se nacionalizando. Colaboraram com essa
revista:
Jorge Fisher, Carlos Magno, Rodval Matias, Seabra, Salatiel de
Holanda,
Mauro e Eugênio Colonnese.
Militelo – autor de Godofredo - fazia a revista Prezinho,
que depois
foi assumida por Wanderley Felipe.
Quando o saudoso Toninho Duarte deixou de fazer as
revistas Hot
Girls e Contos Excitantes assumi a direção de redação e tempos
depois coordenei o jornal Polícia Magazine, que tinha como colaboradores
Ibrahim Hamaddam e sua equipe – do extinto jornal Notícias
Populares do Grupo
Folha da Manhã (Folha de S. Paulo)-, Salatiel de Holanda que fazia ilustrações
para o citado jornal e o cartunista Pestana.
![]() |
As duas páginas de abertura foram desenhadas pelo Hamasaki |
UM
IMPORTANTE PONTO
DE
ENCONTRO
Durante a semana o ritmo de trabalho era pauleira, mas
trabalhávamos
num clima descontraído, de auto astral. E, toda sexta-feira o
happy hour era sagrado e na maioria das vezes rolava noite à dentro. Na medida
em que o estúdio crescia muita gente importante passava por lá, como: Reinaldo
de Oliveira – importante produtor gráfico e ex-proprietário da editora Graúna –
futuro sócio na distribuição de tiras e tabloides da Mauricio de Sousa
Produções -, Hélio Porto – idealizador e um dos editores da revista Psiu -,
Jaime Cortez, Primaggio – que passou a fazer uma revista de atividades
infantis
do Sacarolha - , Shimamoto, Salvador Bentivegna, Paulo Fukue, Cassandra Rios,
Toninho Lima, Ataíde Braz, Roberto Kussumoto,
Neide Harue, Salatiel de Holanda,
Wilson Hisamoto, Jorge e Ruy
Takahashi, Jorginho, Minami Keizi, além de diversos
escritores e
contistas.
Trabalhei durante 5 anos na editora Noblet e pedi as
contas
em 1982 para abrir minha primeira empresa, meu primeiro estúdio –
que
acabou se transformando numa editora -
E.T.F Comunicação Comercial Ltda.
E.T.F
(ESTÚDIOS TONY FERNANDES)
Eu morava, na época, no bairro da Casa Verde, zona norte
de S. Paulo. Abri o estúdio na zona sul, mais precisamente
na Praça da Árvore,
em frente a estação do metro. Passei a
atender diversos clientes – editores e
agências de publicidade,
como: Acti-Vita, Onix, Rios, Luzeiro, Tálamus,
Evictor, Nova
Sampa, Yakult, Viacom, Character, Imprima, F.T.D. Agênciais
e
clientes diretos: São Paulo Alpargatas, Young Rubican, Mauro
Salles, MacCan –
em associação com Adão Gonçalves e Salatiel
de Holanda -, e outras.
Desenvolvíamos campanhas publicitárias, rótulos e
embalagens,
logomarcas, projetos de HQs, revistas de atividades infantis,
contos eróticos, Jingles, textos para livros eróticos – em que
eu usava
diversos pseudônimos, inclusive femininos e estrangeiros -,
ilustrações e artes
finais.
BONS
TEMPOS
Confesso que tenho saudade daquele velho e bom tempo.
Trabalhar naquela editora foi muito bom. Aprendi muito com
ela e com os
profissionais tarimbados que passei a conviver –
todos mais velhos do que eu.
Confesso que aprendi muito
sobre produção gráfica (formatos de papéis,
gramaturas etc).
Além disso, a partir do momento em que meu nome passou a
sair
no expediente daquelas edições surgiu inúmeros convites para
trabalhar com
outras edições de empresas editorias concorrentes.
Durante o período em que
trabalhei na Noblet fiz inúmeros freelas
e isso me ajudou a acumular uma
dinheiro a mais para alugar
uma sala e começar meu próprio negócio. Afinal, eu sempre
pensei em abrir meu próprio negócio.
Revistas como Akim, Sexyman, Contos Excitantes e Hot
Girls, que
também ajudei a fazer duraram anos e isso me deixa feliz. Mesmo
fora
daquela editora, eu e o Hamasaki, todas as sextas nos reuníamos
com o editor
para almoçarmos, relembrar o passado e dar boas risadas.
Nos últimos anos, não
havia mais ninguém naquele que outrora fora
um grande estúdio de arte e criação.
Jonas, o impressor passou a fazer a produção gráfica, Paula, a sobrinha do
editor organizava os textos
enviados pelos colaboradores e Juvenal passou a ser
o braço
direito do editor secretariando-o e cuidando dos lançamentos.
A Noblet só cessou suas atividades porque J. Abourbih, já
com
idade avançada, começou a ter sérios problemas de saúde,
acabou sendo
internado e veio a falecer. Não tinha herdeiros
(filhos), e as sobrinhas não
tinham intenção de continuar editando.
UMA FÍGURA POLÊMICA
Joseph Abourbih sempre foi uma figura polêmica, amado e
odiado
por alguns. Mas, nesse mundo quem é que consegue agradar
gregos e
troianos? Fora da empresa era um gentleman – vira e mexe nos convidava para
irmos a um bom restaurante, onde fazia questão
de sempre pagar a conta. Na
empresa, brigava por centavos de
forma radical, como todo cidadão que tem
sangue hebraico nas veias.
Sabia separar amizades de negócios e por isso
conseguiu
manter heroicamente a empresa de pé por tanto tempo.
Não devia anda a
ninguém. Era exigente com os autores e
tinha a mania de dizer: “No, no.no.no.
no, meu amigo, aprende
uma coisa na vida...”.
Por isso, nós, seus funcionários o apelidamos
carinhosamente de
Mister No e Old Fox.Rsss... Era uma figura. Tinha um grande
coração e se ouvisse alguém contar as mazelas não hesitava em
abrir a carteira.
Apesar de ter sangue hebraico nas
veias era fã de Maomé,
o profeta muçulmano.
Adora histórias em quadrinhos.
Foi com ele que aprendi a conhecer melhor as HQs
europeias,
pois ele mantinha assinatura de algumas revistas importantes
franceses, que recebíamos semanalmente.
Vivia nos dizendo que no Egito ele tinha sido
“piblicitário” (publicitário).
Mas, com o tempo descobrimos que naquele país
ele tinha
trabalhado como vendedor de anúncios para jornais.
Também apregoava
que tinha nascido na terra de Ali Babá e
os 40 Ladrões e que dificilmente
alguém poderia lhe passar a
perna (enganá-lo em termos comerciais). Era ligeiro
nas transações
de negócios. Foi o primeiro cliente da DINAP (Distribuidora
Nacional de Publicações) – do Grupo Abril, por isso gozava de certas regalias
com eles.
Na verdade, quando abri minha primeira editora só
consegui fechar
contrato com a DINAP depois que disse que era um
ex-funcionário
da Noblet. ABRACADABRA: As portas se abriram.
Joseph Abourbih tinha um ótimo
conceito na DINAP.
Quando abri a Phenix Editorial foi me visitar e elogiou a
minha
iniciativa. Apesar de eu e ele termos brigado bastante, quando
durante os
anos que trabalhei para a Noblet, nos dávamos bem.
Só consegui ficar durante 5
anos nessa editora, graças ao
Hamasaki que vivia nos apaziguando. Ele falava
alto – acho
que deveria ter algum problema de audição -, e eu sempre
odiei que
alguém gritasse comigo. Fora este pequeno detalhe,
nos dávamos bem.
Certa vez, quando eu comandava a redação do jornal
Polícia
Magazine – apesar de já ter meu estúdio, ele me contratou para
trabalhar meio período nesse jornal que ele sonhava em editar
a vida toda -,
ele me chamou na sala e se alterou dizendo que
a chamada das matérias estavam
erradas. Disse que os espaços
que eu havia deixado para as chamadas de matéria
estavam
pequenas demais. Como iria caber as chamadas de matérias,
que ele
achava que tinha que ter 4 ou 5 linhas. Disse isso aos
berros. Retruquei,
também no mesmo tom de voz, e indaguei:
Aonde o senhor aprendeu a fazer jornal?
Não tinha cabimento fazer uma chamada de matéria com 5 linhas.
Dessa forma
íamos contar
todo o conteúdo da matéria jornalística. Para que o leitor ia ler
a matéria, se já contávamos tudo nas chamadas de capa?
Ele voltou a dizer que
estava errado. Fiquei puto e joguei
os originais na mesa dele e pela
terceira ou quarta vez pedi as contas.
O Hamasaki ficava
doido com a gente e vivia dizendo:
“O santo de vocês não bate... digo, o signo
de vocês não
combinam, Tony.”
O Hama tinha mania de horóscopo e só contratava gente
para trabalhar no estúdio só se fossem do elemento ar –
fossem compatíveis.
Achava isso ridículo.
Nunca acreditei em horóscopos. Principalmente por
que
durante anos escrevi esse tipo de coisa.
Por isso apelidei o Hama de “Astrólogo
do Oriente”. Rsss.
O “seu” José se foi. A editora Noblet encerrou suas
atividades,
mas ficaram as boas recordações. Foi graças a J. Abourbih,
um homem
que nasceu do outro lado do mundo, que nós
conseguimos nos consolidar como profissionais
do ramo.
Que sua alma descanse em paz, bravo guerreiro!
Que assim seja.
Por Tony Fernandes\Redação\Pegasus Studio -
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