terça-feira, 29 de julho de 2014

JOSÉ LANZELLOTTI, UM ARTÍSTA QUE RETRATOU A CARA DO BRASIL!



Nunca nenhum outro artista brasileiro se dedicou tanto a pesquisar e a registrar em seus traços as diversas nuances que existem no imenso território brasileiro. Dono de um grande senso de observação e um traço dinâmico, assim como  de uma esmerada técnica para elaborar belas pinturas em telas, este artista fora de série durante sua produtiva vida profissional se destacou entre seus contemporâneos (Jayme Cortez, Nico Rosso, Shimamoto, Waldir Amaral, Juarez Odilon, Benício, Ivan Wash Rodrigues, e outras feras do traço) como um dos mais respeitados mestres do traço.

Foi proclamado na revista Manchete como "O Debrech Tupiniquim", e sua vida repleta de aventuras e estudos culminou com uma série imensa de registros artísticos sobre os povos do Brasil. Na verdade, ele foi uma espécie de Indiana Jones dos quadrinhos nacionais, área em que também se destacou ao realizar Raimundo, o Cangaceiro.
Eu era um adolescente quando descobri a arte fantástica deste artista fora de série, na década de 80. Fiquei fascinado pelo seu traço, suas pinturas , e até hoje guardo a sete chaves alguns trabalhos deste excepcional artista. A seguir, saiba mais sobre...


JOSÉ LANZELLOTTI  








SAIBA QUEM FOI JOSÉ LANZELLOTTI

Mini Biografia


José Lanzellotti nasceu no dia 21 de julho de 1926 na capital paulista. Viajou por quase todo o Brasil realizando pesquisas folclóricas e sobre as raízes culturais do nosso povo. Em 1949,  aos 19 anos,  fez parte da expedição denominada "Roncador Xingu", em companhia dos lendários irmãos Vilas Boas, verdadeiros desbravadores da floresta Amazônica. Dessa verdadeira aventura surgiram diversos  trabalhos fartamente documentados sobre a cultura indígena. Lanzellotti também foi autor de diversos livros sobre etnologia que valem a pena conhecer.

UM ARTISTA MULTIMÍDIA


Muito antes da palavra multimídia ser conhecida e usada amplamente, Lanzellotti já estava atuando em diversos meios de comunicação de seu tempo.
Ele foi desenhista, pintor, escultor, cenógrafo, figurinista de teatro e de companhias cinematográficas e TV, trabalhou e colaborou com diversas casas editoriais. Participou também de exposições de pintura.
Sua vida e sua obra foi amplamente divulgada numa extensa reportagem na revista Manchete (Bloch Editores - edição # 999)  publicada no dia 12 de junho de 1971, onde foi citado, devido a importância de seu trabalho, como: " O Debret Nacional do Século XX". Seu nome consta nos melhores dicionários de artistas plásticos, assim como no Dicionário do Mec (Ministério de Educação e Cultura) em 4 volumes, Dicionário de Roberto Pontual, Dicionário de P.M. Bardi, Mestres da Ilustração de Jayme Cortez, The World Encyclopedia of Comic - Maurice Horn, 1977. Historia de Los Comics - fascículo 44 - com texto de Alvaro de Moya - Tautain Editores, 1982. Enciclopédia dos Quadrinhos - Goida - L&PM Editores, no formato pocket book.





Dentre suas inúmeras realizações se destacam:
"Índios e Arte Indígena" documentário de etnologia com 150 desenhos a cores;
O roteiro do filme "Canta Brasil" (desenho animado),
"O Este Abandonado"; documentário sobre a vida cabocla desenhada a cores, num total de 100 pranchas; "Trajes Típicos do Brasil", documentário a cores com 120 pranchas;
"Antologia Ilustrada do Folclóre Brasileiro", com 640 desenhos em preto e branco.
Ele também ilustrou o Atlas de Educação Moral e Cívica do Ministério da Educação e Cultura elaborado pelo então ministro Jarbas Passarinho.


As obras de Lanzellotti foram apresentadas ao público, numa exposição organizada em São Paulo pelo escritor Afonso Schmidt, que por ter se encantado com os desenhos, definiu o autor assim: "
Ele é o Debret do Século XX".


Suas pranchas foram divulgadas num luxuoso álbum patrocinado pelo Conselho Estadual de Cultura de São Paulo.
Ele também expôs seus desenhos e documentários, na antiga galeria Lotis Seavers, de São Paulo.


Além dos documentários, ele também foi um dos pioneiros das histórias em quadrinhos em nosso pais, tendo criado o personagem Raimundo, o cangaceiro, que acabou sendo transformado em figura mitologica no sertão, a ponto de Vitalino reproduzi-lo em bonequinhos de barro que se vendiam rapidamente na feira popular de Caruaru, em Pernambuco.


Tal como Debret, sua obra possui um grande valor artístico, histórico, etnológico e folclórico, alegam os especialistas.


ANO 2.000


Bem na virada do século XX para o XXI a obra de Lanzellotti foi exposta, desta feita na exposição chamada "Senhores da Terra", no museu histórico e Pedagógico "India Vanuire" de Tupã.


Em novembro de  2010, na Gibiteca de Bauru (Aucione Torres Agostinho) situada na  avenida Nacões Unidas, 8 - 9, seus trabalhos foram expostos mais uma vez. Desta feita, em forma de homenagem idealizada e realizada por sua filha Jussara Lanzellotti com ajuda do artista Plástico Leandro Gonçalez.

Infelizmente, io talentoso José Lanzellotti morreu, assassinado, em sua residencia em São Paulo, no dia 12 de junho de 1992.


Durante boa parte de sua vida, ele atuou como ilustrador, criando e desenvolvendo fantásticas ilustrações.












Jussara, à esquerda, expondo uma das obras do pai.


 Na década de 50 deixou sua contribuição ao mundo das histórias em quadrinhos ao criar e produzir para a Editora La Selva a série Raimundo, O Cangaceiro.


O artista fazendo histórias de cangaço em quadrinhos


Esta revista em quadrinhos de aventuras surgiu justamente após o tremendo sucesso alcançado nas telas pelo filme do produtor Lima Barreto, chamado o Cangaceiro (1955), que foi contemplado no Festival de Cinema de Cannes. Alguns críticos da época afirmaram que a série desenvolvida brilhantemente pelo artista tinha um grave erro: os cangaceiros não usavam cavalos. 



Capa de uma das edições de Raimundo, o cangaceiro

Mesmo assim, a série desenhada por Lanzellotti foi um sucesso e um dos mais belos trabalhos sobre o denominado “Faroeste rural brasileiro”. 




Nos anos 70, Lanzellotti desenhou para a revista Crás, da editora abril, uma HQ fora de série chamada A Lenda da Iara.



Gaúcho, figura típica do sul do Brasil - Arte: Lanzellotti


Seus traços estão espalhados por uma centena de livros que ele ilustrou ao longo de sua produtiva carreira sobre temas tipicamente nacionais e regionais, como: costumes, lendas e crenças do povo brasileiro.



Jussara Lanzellotti cuidado de um autoretrato do pai

Dono de um traço excepcional e atento aos mínimos detalhes dos trajes e ambientes típicos de cada região do país, José Lanzellotti se revelou um exímio pesquisador e ilustrador virtuoso. 





HISTÓRIAS E LENDAS DO BRASIL!


O título acima marcou época e foi fartamente ilustrada pelo genial Lanzelotti, um pesquisador nato que registrou masgistralmente a iconografia perfeita dos povos do Brasil.


Seu editor foi André Pérez de Lima. A série que foi lançada pela editora Apel tinha adaptações de textos originais de Gonçalo Ribeiro Tia Regina era uma autora de livros infantis e uma grande contadora de histórias – pelo menos na opinião das crianças. 




A Coleção Histórias e Lendas do Brasil, na época, passou a ser obrigatória nas bibliotecas das escolas do país, e através dela as crianças tomavam conhecimento das lendas e folclore do imenso Brasil.

Os personagens desta coleção, enquanto passeiam por cidades históricas do Brasil, visitam lugares diferentes e conhecem pessoas interessantes. Assim, Tia Regina ia narrando as histórias e lendas mais significativas de cada região do país, enquanto as belas ilustrações do mestre Lanzelloti recheavam as edições, tornando as edições ainda mais atrativas.




Faziam parte desta coleção: 

O Peixe de Olhos de Fogo; Contos Gaúchos (A Salamandra do Jarau); Contos Nordestinos, Contos da Amazônia, Contos da Terra do Ouro.







Na década de 80 passei a conhecer o belo trabalho desenvolvido por este grande artista. Apreciei seu traço bem definido e suave, suas cores pasteis, suas composições geniais e, principalmente, o trabalho iconográfico realizado por este verdadeiro garimpeiro dos costumes deste imenso Brasil.
Fiquei fã e, de imediato, passei a buscar em lojas de revistas usadas outros trabalhos deste grande mestre. Afinal, é preciso se espelhar em quem é bom. Mas, com bom senso. Pois, sei que jamais farei meu trabalho evoluir no mesmo estágio em que este gênio da arte chegou, após milhares de horas de estudo.
Até hoje mantenho em minha coleção algumas obras ilustradas por este homem fantástico, grande pai, companheiro e grande artista plástico.
Descanse em paz, mestre. E, somos gratos a você pelo imenso legado que deixou para nós. Eles retratam fielmente os povos do Brasil, duas raízes.

Se depender de nós e de sua filha, Jussara, que tanto se esforça realizando exposições para que seus trabalhos jamais caiam no esquecimento, sua obra é imortal. 
Grande mano amplexo, esteja onde você estiver!  

Por Tony Fernandes\Estúdios Pégasus -
Uma Divisão de Arte e Criação da Pégasus Publicações Ltda - São Paulo - SP - Brasil
Todos os Direitos Reservados.

OBS: As imagens contidas nesta homenagem póstuma pertence ao autor, seus herdeiros ou representantes legais. Elas foram publicadas de forma meramente ilustrativa.




Um comentário:

  1. Era criança na década de Setenta quando fui presenteado por meu Pai com o livro Histórias e Lendas do Brasil.
    Fiquei fascinado, de imediato, com a riqueza das nossas lendas e pelas maravilhosas ilustrações do livro.
    Quase "furei" o livro com os olhas de tanto que lia e admirava as ilustrações.
    Foi um marco na minha infância esta coleção. Parabéns ao José Lanzelotti pelo marca indelével de suas ilustrações na minha imaginação de menino!!

    ResponderExcluir