TEX - Por Giolitti |
Final dos Anos 60. Eu era um adolescente
e tinha uma coleção
de revistas
em quadrinhos imensa.
Não perdia uma só edição da EBAL
(editora
Brasil-América),
da Rio Gráfica editora, editora O Cruzeiro,
e também devorava
os títulos e heróis
lançados pelos pequenos
editores nacionais.
Jim Gordon foi lançado no Brasil pela Rio-Gráfica e Editora |
Batman e Superman eram as revistas carro-chefe da editora EBAL |
Brasinha, dos irmãos Harvey |
Capitão 7 foi o primeiro herói brasileiro da TV e das Histórias em Quadrinhos |
O Anjo - por Flávio Colin |
O Escorpião, criação de Wilson Fernandes, por Rodolfo Zalla |
Golden Guitar - Um herói jovem |
O Judoka |
Na verdade eu
lia de tudo, não importava
o gênero e mantinha
minha coleção a sete chaves,
intocável,
no meu quarto.
Na verdade eu torrava a
grana que meu pai me
dava com
histórias em quadrinhos.
Por que esta tara? Quem pode saber?
Certo dia,
passeando pelo
centro da cidade descobri
uma importadora de comics
americanos
numa
travessa da rua Sete de
Abril, bem no centro
da capital paulista.
Decidi
entrar e me extasiei
com os inúmeros títulos que
estavam expostos ali, da
editora
americana chamada Gold Key
(Chave de Ouro).
Consultei o bolso e de
imediato levei umas 6
daquelas caras edições, em cores,
importadas,
para casa,
feliz da vida.
Dentre os inúmeros títulos
americanos que também passei
a
colecionar, estavam:
Might Sanson (Poderoso Sansão),
Lost In Space
(Perdidos no
Espaço - antiga
série da TV e que
tinha suas HQs desenhadas
pelo incrível Dan
Spiegel), Voyage
To The Bottom of The Sea (Viagem ao
Fundo do Mar – que também
era um
seriado imperdível da TV), Star Trek
(Jornada nas Estrelas)
e Turok, Son
Of Stone).
O mesmo desenhista estiloso
que fazia Star trek,
desconhecido, também
desenhava Viagem ao Fundo
do Mar e Turok.
Flecha Ligeira era um dos meus favoritos |
Namor - O Príncipe Submarino |
Originais da série Turok |
Confesso que adorei aquele estilo
marcante,
diferente, porém,
infelizmente as artes não vinham
assinadas, naqueles
quadrinhos em
cores, sem requadração.
As capas, da Gold Key
eram belíssimas,
muito bem pintadas.
Logo oficial da famosa editora americana |
Enfim, levei um tempão danado
apreciando aquele belo traço,
daquele
artista desconhecido,
tentando adivinhar quem era o fera.
Anos depois,
quando me
tornei um profissional
da área editorial é que fui
descobrir de que o
dono daquele traço fantástico
era um tal de Giolitti,
que na verdade não era
americano e, sim, italiano.
Viagem ao Fundo do Mar |
Original de Jornada nas Estrelas |
King Kong - o filme No Brasil saiu em P&B pela EBAL |
Algum tempo depois, adquiri
uma edição especial
em preto e
branco, formato
magazine, lançado pela
editora EBAL, sobre o filme
King Kong, o
clássico
do cinema -, totalmente
desenhado pelo mesmo
mestre italiano que
eu
tanto adorava.
Convivendo com os
profissionais das HQs
acabei descobrindo
também que o mestre tinha
um estúdio na Itália
e que muita gente
boa havia
passado por lá,
inclusive, Giovanni Ticci.
Até hoje, quando vejo um trabalho de
Ticci ele me faz lembrar a técnica
inconfundível de Giolitti.
Após relembrar esses
fatos do passado
foi que eu resolvi escrever
esta
matéria sobre o
fantástico mestre, que
jamais deve ser esquecido...
ALBERTO GIOLITTI
No estúdio cercado de referências |
O mestre Alberto
Giolitti foi um grande artista
de quadrinhos da Europa e também foi o mestre
de
muitos dos artistas que ainda fazem ou
fizeram os quadrinhos italianos,
e não
apenas aqueles que
faziam parte do famoso
"Studio Giolitti", em Roma.
O propósito desta matéria
especial é relembrar
o
trabalho deste grande mestre
italiano - que fez escola
e fez também muito
sucesso na América e que
acabou conquistando muitos fãs –
como eu -, pelo mundo
afora.
Decidi escreve este texto
para reavivar a memória
daqueles felizardos,
como eu, que tiveram o
prazer de acompanhar a fantástica trajetória
deste super
profissional e também para
apresentá-lo para aqueles que desconhecem
os quadrinhos incríveis de Giolitti.
Durante anos ele não assinou suas pranchas.
Conheci o trabalho de Alberto
Giolitti
nos anos 60,
como já citei, e até hoje sou seu fã.
Um de seus discípulos está
aí
até hoje produzindo
Tex para a Bonelli Comics. Seu nome?
Giovanni Ticci, que de
tanto trabalhar com o mestre
possui um traço muito parecido com o do seu
antigo
amigo e instrutor.
Ticci, em Lucca., Itália |
Giolitti
descobria os artistas,
na rua ou em qualquer
outro lugar, e pedia para eles
irem trabalhar com ele.
Muitos
artistas italianos
daquela época mudaram
suas vidas radicalmente após irem
trabalhar com o mestre.
Giolitti circulava pela Via
Cutigliano, em Roma,
pela Via Veneto.
Ele adorava Frank Robbins
(Johnny
Hazard) e também John Prentice que fazia
Rip Kirby, bem como outros
artistas
americanos.
Mas, seu grande ídolo era Alex Raymond,
autor de Flash Gordon, Rip
Kirby
e Jim das Selvas.
Vivia
comprando álbuns e livros de
quadrinhos
produzidos na América.
Arte de Alex Raymond |
UMA VERDADEIRA
MÁQUINA
DE PRODUÇÃO
Alberto Giolitti teve
uma breve carreira - morreu
prematuramente-, porém super produtiva.
Fez: Turok - Son of Stone (O filho da Pedra), Gunsmoke,
Have Gun (serie que foi exibida na TV brasileira com
o nome de Paladino do
Oeste), Viagem ao Fundo
do Mar, King Kong, Tex, etc.
Poucos artistas tiveram o privilégio de desenhar personagens tão famosos |
Em seu estúdio seus
discípulos
ficavam boquiabertos
ao vê-lo tirando de um
armário uma série de
títulos de gibis americanos.
Ele costumava
dizer: "Sim, eles são meus, eu
desenhei eles, para os Estados Unidos." Dizia
isso na maior simplicidade.
Além de seus incríveis
trabalhos feito para
os americanos, Alberto
também
havia criado uma
verdadeira agência editorial
chamada "Studio
Giolitti".
A equipe de
artistas que
trabalhavam para ele
crescia a cada dia, assim
como os pintores de
tela (artistas plásticos)
que surgiam e que ele
distribuía vários trabalhos,
todos encomendados
por empresas
editoriais do exterior.
O grande
mestre estava sempre pronto para
oferecer conselhos e sugestões profissionais
super valiosos aos amigos que também
trabalhavam com a chamada arte sequencial.
Giolitti também trabalhou para
editores famosos
da Alemanha,como: Bastei Verlag,
Moewig Verlag,
Pabel Verlag,
na época
era o seu secretário,
Christy, que mantinha para
ele contato no
exterior.
Mas, após a saída de
Christy -,
com o tempo, Alberto e Joan, a mulher
de Giolitti, fizeram contato com a
IPC
Fleetway, famosa
editora da Inglaterra e
também como as editoras
dos Estados
Unidos,
como: Dell Publishing e outras.
Inicialmente, Giolitti começou
a fazer quadrinhos para a famosa
editora britânica Fleetway.
Eram histórias de guerra e, em seguida fez
para eles personagens do mundo do
esporte.
O pessoal que conhecia seu estúdio ficava
impressionado com a
sua mania de colecionar
modelos em miniatura de naves espaciais,
armas, carros,
navios e uma centena de objetos
de ficção e de outras ciências que usava
como
referência.
Segundo as pessoas que
conviveram com o
mestre, seu passatempo
predileto era montar
modelos de
aeronaves,
carros, etc.
Arte (original) de Ticci e Giolitti |
Star Trek – que foi publicada
pela Gold Key -, foi uma série de
ficção-científica que fez fama na
televisão e que se
tornou muito popular na
América desde 1966 e acabou conquistando
fiéis
espectadores por todo o mundo.
Alberto
Giolitti começou a desenhar
os quadrinhos dessa série sem ter
visto um único episódio.
Fez um trabalho magistral apenas com as
imagens (fotos) que o editor lhe enviava.
Muito tempo depois, em que ele estava
desenhando a série da TV em quadrinhos é
que um modelo da
Entreprise chegou em
suas mãos graças a Wolfgang
Fuchs, famoso editor
alemão de fanzine e historiador
de
quadrinhos e fã, que, depois
de ter conhecido Alberto, em
Munique, decidiu comprar
o modelo da nave
comandada pelo Capitão
Kirk e a enviou para
Roma, para Alberto.
Assim o mestre agora poderia
desenhá-la em
todos os ângulos.
Naquela época o Giolitti Studio
tinha
bastante encomendas.
Tanto que ele precisava
de ajuda para manter
os
prazos em dia.
Assim, muita gente colaborava
com ele, fazendo os desenhos a
lápis e
criando outras séries, de diversos gêneros,
que eram agenciadas pelo estúdio.
Dentre aqueles que
colaboravam com o mestre
estava um jovem, que
tinha
muito jeito para
a coisa chamado
Giovani Ticci.
UM MERO ESQUECIMENTO
QUE VIROU INOVAÇÃO
Alberto Giolitti pediu
a Ticci para fazer o
trabalho a lápis de "Turok".
Curiosamente, os originais
de Turok,
edição # 31,
por descuido, foi mandado para a América
incompleta. Isto é, as histórias
em quadrinhos
não tinham sido requadradas pelo tradicional fio
preto de
contorno,
mas apenas pela cor.
NOTA: Durante anos pensei
que aqueles trabalhos
publicados
pela Gold Key fossem
apenas de Giovanni
Ticci, tamanha é a semelhança dos traços
dos dois mestres.
Na verdade, Giolitti sempre emoldurava
os desenhos antes de
enviá-los para a editora
americana, porem
daquela vez ele tinha se
esquecido e acabou
enviando esses originais
incompletos para os EUA.
Ou seja, sem a
moldura que em
geral
contorna cada quadro.
Os
imensos originais
eram traçados usando
o lápis de cor azul.
Isso permitia
enquadrar
o balão com o azul sem
que ele aparecesse
na impressão.
Assim, apenas o que era traçado
em
preto, a nanquim,
aparecia na impressão da revista.
Trabalhar com o azul era prático, permitia
notas no esboço, setas indicativas ou qualquer
outra coisa que pudesse instruir
os editores,
além disso evitava ter que apagar os originais.
Esses detalhes em azul desapareciam
completamente na versão impressa.
Quando a edição # 31 de Turok,
incompleta, chegou nos Estados
Unidos o editor pensou que
Alberto tinha enviado outra de suas técnicas
que
diferenciava dos concorrentes e acabou
gostando daquilo: quadrinhos sem
requadração.
Porém, temendo que o
leitor estranhasse a
falta do traço do quadro, os originais foram
todos
mexidos, ou seja, neles foram
acrescentados as molduras pretas de
contorno de
cada quadro.
Certo dia, os
editores decidiram lançar
uma edição de Turok sem as requadrações
habituais
para sentir a reação dos leitores.
Após lançarem uma edição dessa forma e
perceberam
que os leitores tinham gostado
da inovação decidiram adotar
Isto aconteceu a partir da
edição # 41 de Turok -
quem comprou o gibi na época pode constatar
.
A “inovação” funcionou e a moldura preta acabou
sendo abolida não só em Turok, mas também
foi
adotada em Star Trek,
Viagem ao Fundo do Mar,
no álbum de King Kong e os outros
trabalhos que se seguiram.
Mais uma prancha de Viagem ao Fundo do Mar |
Com o sucesso das
séries que o Giolitti
Studio faziam para a América todos os seus
colaboradores
passaram a
ser melhor remunerados.
Aos poucos, Alberto Giolitti passou
a ser
meticuloso.
Antes de esboçar cada página de quadrinhos
ele tirava fotos de si
mesmo e de seus amigos
vestidos como os personagens de cada série.
Iluminava
essas pessoas de acordo com os
desenhos que teria que fazer seguindo os
roteiros
enviados da América.
Tudo passou a ser planejado com antecedência.
Essas fotos eram a diretriz para a
versão final
dos desenhos produzidos
pelo estúdio, que
ganhava fama a cada dia.
Para fazer os fundos das histórias em
quadrinhos Giolitti tinha um arquivo enorme
fotográfico que ele tinha trazido
dos Estados Unidos.
Ele usava
muitas referências, como:
fotografias, livros, chapéus,
armas, celas, revistas
e objetos que ele tinha
acumulado ao longo dos anos.
Este método de trabalho, que havia
sido
demonstrado no filme de Jack Lemmon
"Como o Assassinar Sua Esposa",
1965, em
que o grande ator personifica um artista
de quadrinhos, acabou contaminando
muitos artistas da época.
Assim, todo mundo passou a trabalhar
com referências, depois
de ver este curioso filme.
Por
exemplo, o personagem Turok foi inspirado
na própria imagem de Giolitti.
As várias mulheres que apareciam em
suas histórias foram
inspiradas na esposa
dele, Joan, e
até seu filho acabou virando
referência fotográfica para suas HQs.
Outros personagens foram baseados
em seus
amigos.
Durante um bom tempo Giovanni Ticci fez
os desenhos a lápis de Star Trek e Turok
para o mestre. Enfim, tornaram-se bons amigos.
Ticci passou a compartilhar até da
vida
pessoal de Giolitti. Frequentou sua casa, onde
viveu com Joan, sua esposa
e dois filhos, e
depois também em Santa Marinella, um belo
resort de praia perto
de Roma, quando
mais tarde Giolitti foi morar lá com Nicole,
com quem tinha se
casado após o
falecimento da bela Joan.
Giovanni
Ticci chegou até a viajar e a velejar
com seu mestre. Ele adorava velejar.
Muitos de seus discípulos trabalharam
no Giolitti estúdio até
o fim.
Sua morte foi prematura e
um grande choque
para todos os seus amigos e admiradores.
Angelo Todaro, outro amigo íntimo do mestre,
que
também colaborou em Turok, Star Trek
e outras séries de HQs, e Giovanni Ticci
sempre admitiram que aprenderam
muito com o o artista.
A ÚNICA ENTREVISTA
CONCEDIDA PARA O
ZINE PAINEL
ZINE PAINEL
Alberto Giolitti – 1923/1993
A primeira é única entrevista sobre
Giolitti foi publicada em
1971 no fanzine Painel
n º 1, uma revista co-produzida por
Todaro, Wolfgang J.
Fuchs, e Reinhold
Reitberger, na Alemanha, em Munique.
Giolitti, nessa histórica entrevista estava
ao
lado de sua falecida esposa Joan.
Nesta
entrevista histórica, Alberto Giolitti
chegou a afirmar que ele havia trabalhado
sozinho durante muito tempo mas,
na verdade, tinha empregado Giovanni Ticci
como seu assistente.
Muitas vezes, devido a imensa carga de
trabalho destinado a vários
editores
que o estúdio pegava o obrigou a
formar uma equipe. Assim, acabou
contratando várias pessoas para fazer
os desenhos a lápis, para fazer outras
séries ou para artefinalizar originais.
A entrevista a seguir
é uma raridade confira.
A ENTREVISTA COM
ALBERTO GIOLITTI
NOTA: Ele não era
apenas um dos melhores
e mais bem sucedidos artistas de quadrinhos
da Europa,
mas também ele era o cabeça
de um estúdio europeu com uma
clientela
internacional.
Assim, este seu depoimento
exclusivo
dá uma idéia interessante sobre a
produção de quadrinhos nos Estados
Unidos
e na Europa, naquele período.
Além de produzir quadrinhos para as
editoras
da América o famoso Giolitti
Studio
também produzia quadrinhos
especialmente para editoras alemãs,
como:
Bastei, Kauká e Moewig.
Alberto Giolitti também fez arte para séries,
como: Gunsmoke,
Turok - Son of Stone,
Have Gun Will
Travel, Viagem Ao Fundo
do Mar e Star Trek -, séries da TV que
viraram revistas
em quadrinhos e
que são bem conhecidas do público-leitor
alemão, por terem sido
editadas pelas
seguintes casa editoriais:
Bildschriften Verlag e Neuer Tessloff
Verlag. Seu famoso estúdio também
trabalhava para a Perry, Lasso e Buffalo Bill.
ENTREVISTADOR
( PAINEL): Giolitti, você
nunca assinava seus trabalhos que
fazia para os americanos.
Por
quase duas décadas trabalhou no mais
absoluto anonimato. Seu público o conhecia
apenas como um
dos bons artista dos
quadrinhos realistas.
Assim como Carl Barks, o genial
desenhista
criativo, que durante anos atuou no
anonimato por trás de séries
como:
Pato Donald e Tio Patinhas, você também
se manteve no anonimato.
Pergunto: Onde você nasceu?
GIOLITTI: Nasci no dia 14 de
novembro de 1923,
em Roma, Itália. Eu deveria seguir os passos de
meus pais e estava
sendo preparado para
assumir os negócios da família um dia.
Fui enviado para a escola de negócios,
embora preferisse se tornar
um piloto de aeronaves.
Em minhas horas de folga eu gostava de
desenhar baseando-me em fotos,
mas jamais me considerei um cara talentoso.
Jamais sonhei em um dia ganhar a
vida
como artista de fumettis
(HQs, em italiano).
O Planeta dos Macacos - série que fez muito sucesso na TV |
Aos
14 anos, um jornalista que era amigo
da família, viu os meus desenhos e me
perguntou se eu não queria ilustrar uma
página de uma história para
o jornal Il
Vittorioso.
Fiz a ilustração e os
editores pediram
para que eu continuasse
desenhando para eles.
NOTA: A
família de Giolitti era
proprietária da famosa
Caffé Giolitti-Gelateria, desde
1900, renomada
marca de sorvete e casa de café em Roma.
ENTREVISTADOR: Que tipo de história
você fez para eles?
GIOLITTI: A única
coisa que me recordo
sobre este primeiro trabalho que fiz, é que
ele era do
tipo aventura. Quando eu percebi
que alguém estava disposto a pagar
pelos meus desenhos, eu desisti da
escola de
negócios - para a alegria dos meus
professores. Assim decidi me inscrever
numa academia
de arte e decidi continuar
trabalhando para Il Vittorioso.
ENTREVISTADOR: Durante
o
primeiro semestre
de arquitetura estudando na Universidade
de Roma, você foi convocado
pelo exército. Confere?
Tex na visão de Giolitti |
Tex - Por Giolitti |
Capa de Galep |
GIOLITTI: Sim. Depois
da guerra retomei
meus estudos e continuei trabalhando
para Il Vittorioso. Embora eu também
desenhasse cenas de
filmes e fazia
cartazes de filmes pintados, meu
principal interesse eram os quadrinhos.
Eu pretendia ir para os Estados Unidos
para aperfeiçoar o meu estilo de desenho
e sonhava um dia em trabalhar para
a
King Features Syndicate.
Além da Imaginação - antiga série de suspense da TV |
ENTREVISTADOR: Você
sabia, na época,
que com um visto de viagem para a
Venezuela, poderia acabar levando
você
parar os Estados Unidos, onde poderia
permanecer por um mês. Isto era
permitido
caso conseguisse um visto que, no
entanto, não permitia que você
começasse a trabalhar
na América. Correto?
GIOLITTI: Exato. Por isso decidi
optar por outro caminho...
fui para Buenos Aires, Argentina,
onde trabalhei para a Editorial
Lainez e Hermanos
Columba, entre 1946 e 1949.
Os
anos em Buenos Aires foram agradáveis
e, do ponto de vista artístico e
profissional,
me deixou satisfeito. No
entanto, eu ainda
pretendia ir para os Estados Unidos.
Na Argentina, solicitei uma
autorização
especial do consulado americano
para que eu pudesse residir na América.
Finalmente,
concretizei este sonho
em 1949, depois de insistir muito.
Eu sabia que só seria feliz se pudesse
trabalhar para a King Features.
Gunsmoke |
ENTREVISTADOR: Quando você
chegou em Nova York, em junho de
1949, foi direto bater no escritório
da King
Features, para
mostrar seu portfólio?
mostrar seu portfólio?
GIOLITTI:
Exatamente. Eles ficaram
impressionados, me contrataram.
Ofereceram para mim,
de
imediato, 100 dólares por semana.
Pediram-me para desenvolver
uma nova
série
de quadrinhos.
Como meu Inglês
não era muito bom na
época perguntei para um amigo, que
tinha acabado de se
formar da escola
jornalista na Universidade de Michigan,
para cooperar na
criação de uma
história em quadrinhos original.
Este primeiro esforço não deu certo.
Nem o meu amigo,
um russo
que tinha sido criado na Itália,
e nem eu sabíamos nada
sobre o gosto
e a mentalidade que os
leitores americanos tinham na época.
Ter esse conhecimento era vital para
poder,
de fato, trabalhar para o mercado
americano e para a King.
ENTREVISTADOR: E, como
você se saiu dessa?
GIOLITTI: Fiquei arrasado. Eu estava
contratado,
mas não conseguia desenvolver nada,
por não dominar o idioma ou
conhecer
melhor o gosto do público-leitor da América.
ENTREVISTADOR: É
verdade que o pessoal
da King Features lhe chamou e perguntou
se você não
queria fazer Roy Rogers,
em quadrinhos?
GIOLITTI: Sim.
Porém, não aceitei.
Foi estupidez da minha parte...
mas, no fundo, eu tinha a
certeza de que mais cedo
ou mais
tarde eu iria
criar o meu próprio personagem.
Como
conseqüência dessa minha atitude
insensata a King parou de me pagar,
obviamente,
logo eu estava sem um
tostão no bolso.
Porém,
decidi continuar, não desisti.
Eu queria ganhar dinheiro fazendo aquilo
que eu
tanto adoro: histórias em quadrinhos.
Continuei tentando criar uma
série de minha
autoria.
ENTREVISTADOR: Nessa época a coisa ficou
feia
para os eu lado. Mas, de repente, você encontrou
Joan, sua futura esposa.
Foi Joan que sugeriu para você que ela
passaria a mostrar seus belos
trabalhos
artísticos?
GIOLITTI: Sim... foi ela que deu a
idéia.
Afinal, meu inglês era ruim, porém Joan
era americana. Graças a Joan é
que comecei a
trabalhar numa série chamada Indian Chief.
Esta foi a minha
primeira história em
quadrinhos que publiquei na América,
pela Publishing
Company.
Esses quadrinhos, na época, eram
vendidos com a marca Dell.
Indian Chef |
ENTREVISTADOR: Joan
Giolitti também está
aqui presente, nesta entrevista,
amigos leitores...
Joan, você ainda se lembra como foi sua
primeira visita na Western
Publishing?
JOAN: Nunca, na
minha vida, eu podia imaginar
que um dia ia desempenhar o papel de
agente de um
artista... eu tinha que andar
por toda a cidade atrás de editores, fazer
reuniões, tentar vender “o peixe”.
Eu tinha que beber muitos chás e cafés
antes
de encontrar coragem para entrar
na redação e encarar os editores.
Nessa visita, tomei um
“chá-de-cadeira”.
Esperei por muito tempo para ser atendida,
quando foi
chegando perto do fim do horário
de expediente decidiram me atender.
A secretária do diretor de arte acho não foi
com a minha cara,
até que viu os
desenhos de Alberto.
Ela
imediatamente mudou de atitude
comigo e pouco depois me conduziu
para o escritório
de Oscar Lebeck, o
então diretor de arte daquela casa editorial.
Os trabalho de Alberto foram
considerados
maravilhosos. A
única crítica feita por
George Brennen foi para que o artista
parasse de usar Jungle Jim (Jim
da Selvas)
como modelo para seus heróis.
Expliquei
que Alberto não copiava desenhos
de ninguém, mas que ele utilizava
referências
fotográficas até de si mesmo
para fazer seus desenhos.
Expliquei que essa tal semelhança, com
o
ator que interpretava o herói da TV,
poderia ter sido causada pelo fato de que
Alberto
Giolitti havia se baseado em
suas próprias fotos para fazer aqueles
desenhos e
que ele e o ator, Johnny
Weissmuller (Jim das Selvas),
eram muito parecidos.
De fato,
quando levei Alberto no
escritório do editor pela primeira vez,
dias depois,
George comentou de imediato,
olhando para mim: "Oh, meu Deus!
Você estava
absolutamente certa!
Ele realmente se parece com Jungle Jim!".
O ator e ex-campeão olímpico de natação Johnny Weismmuller viveu Tarzan (no cinema) e Jim das Selvas, numa série da TV |
ENTREVISTADOR: Pelo
que
sei, o belo trabalho feito
para a revista Indian Chief
rendeu frutos.
A
Western Publishing,
gostou e decidiu contratá-lo
para fazer outras séries
de
quadrinhos,como: Tonto,
Sargento Preston, Gunsmoke,
Tales of Wells Fargo e
Have
Gun Will Travel.
GIOLITTI: Sim e
mal pude
acreditar que, de repente, as portas
estavam se abrindo.
Também fiz
várias edições para eles,
como: Zorro, Cisco Kid, Jim das Selvas
e Tarzan. Assim
como uns clássicos,
como: Alexandre,
o Grande, A História de
Natal, Aladdin e a
Lâmpada Maravilhosa
e As Viagens de Gulliver.
Sergeant Preston - Rei da Polícia Montada, no Brasil |
Cisco Kid |
ENTREVISTADOR: Por seu
espetacular
trabalho para o livro As Viagens
de Gulliver você recebeu o
Prêmio Thomas Alva Edison,
pelas melhores ilustrações infantis,
feitas em 1955. Após receber este
importante prêmio você
acabou sendo
chamado para fazer a adaptação da história
de Abraham Lincoln, em
quadrinhos.
Fale-me sobre isso...
GIOLITTI: Minha
arte tinha
que ser aprovada
por Carl Sandburg, autor do romance
“ A Vida de
Abraham Lincoln”, no qual a
história em quadrinhos foi baseada.
Tive que fazer
uma espécie de teste.
Caprichei e
dei a maior atenção aos
detalhes e o autor acabou
aprovando meu trabalho.
De volta ao Planeta dos Macacos baseado na série da TV |
Planeta dos Macacos foi lançada no Brasil pela Bloch Editores |
Graças a este livro ilustrado importante
que narra a história de um
grande americano, entre 1951 e
1953, nós,
os Giolittis, visto
que eu e Joan já havíamos se casado
nessa época, vivemos em Lake Placid,
nas Montanhas
Adirondack, a fim de
estar perto de Jacques Suzanne, um
criador bem conhecido
de cães huskies
e que também tinha conhecimento
íntimo sobre a vida na região
norte
daquele país. Eu, Kimo - um
husky, a
criada Jacques Suzanne, servimos
todos de modelo para a série
Sergeant Preston
(Rei da Polícia Montada).
ficaram
durante
um ano morando em Roma. Tempos
depois, os Giolittis decidiram viver
na
Flórida entre 1954 e 1960.
Jim das Selvas |
GIOLITTI: É
verdade... foi lá que
eu aprendi a andar a cavalo,
montado numa sela de
cowboy,
para aumentar a autenticidade
dos meus quadrinhos. Foi uma grande
surpresa para as
pessoas quando
souberam que o artista que desenhava
Gunsmoke era um italiano
que vivia na
Flórida, em uma pequena cidade à beira-mar.
As pessoas ficaram ainda mais
espantadas
pelo fato de que eu sempre me
vestia de acordo com a última moda italiana.
Durante este tempo - e por muitos anos
depois – fiquei conhecido pelos leitores
de quadrinhos, em ambos os lados do
Atlântico, como o grande artista das HQs
de aventuras da Dell, mas
ninguém
sabia o meu nome.
ENTREVISTADOR: Em 1960
você e sua
esposa retornaram para Roma e aí você
foi contratado para fazer Turok...
GIOLITTI: Foi
assim que tudo aconteceu.
Depois de Turok, eles me pediram para fazer:
Viagem
ao Fundo do Mar – fiz diversas edições-,
e depois Star Trek.
Original de Turok |
ENTREVISTADOR: Voces já
tinham
uma filha de três anos
e aí veio um irmão mais novo em 1961.
Dizem que na época a casa dos
Giolittis também cresceu muito, inclusive
por vocês terem pegado para criar
diversos animais de
estimação.
Por este motivo o retorno de
voces aos Estados Unidos foi adiado?
GIOLITTI: Era
impossível, naquele momento,
pensarmos em voltar à América.
Por sorte, quando a
família Giolitti começou
a crescer decidi abrir o
Giolitti Studio em Roma.
Como os meus trabalhos tinham caído no
agrado dos editores americanos e dos
leitores decidi continuar trabalhando
para
eles e para outras casas editoriais
européias e minha esposa continuou
sendo minha
agente. Joan se deu bem
nisso, como minha vendedora.
Ela sempre fez os contatos
eu só executava (risos).
ENTREVISTADOR: Você fez HQs para a
América e para os editores
europeus, Giolitti.
Na sua opinião, qual é a diferença entre
os
comics americanos e os
quadrinhos europeus?
GIOLITTI: Dá pra encher um livro completo
comparando comics
americanos e europeus.
Vou apontar
as diferenças mais evidentes.
Vou
pegar, como exemplo, os quadrinhos
britânicos, que são mais tradicionais.
Para mim, a composição dos quadrinhos
britânicos, segundo a minha experiência,
são completamente diferentes
daqueles
que são feitos na América.
A HQ
inglesa usa uma paginação com
quadros ilustrados que, além das
legendas habituais,
tem muito
texto explicando a ação.
Nos quadrinhos norte-americanos,
no entanto, os desenhos em
si já
mostram a ação de forma que
pouca ou quase nenhuma
explicação é
necessária.
Nos quadrinhos
americanos os leitores
ficam mais próximos aos protagonistas
da história, por
causa do uso do diálogo
e de close-ups. Assim, o leitor tem a
chance de
conhecer melhor os
protagonistas.
Um
quadrinho americano,
basicamente, é a história
de um ou mais heróis em
situações diferentes,
enquanto que os quadrinhos ingleses
apresentam uma
história que envolve
muitos personagens. Isso
é verdade,
especialmente nos semanários e em
algumas revistas em quadrinhos,
mas
isto não se aplica necessariamente
às tiras inglesas diárias e a algumas
histórias em quadrinhos.
No resto
da Europa, normalmente, o conceito
americano é seguido, mas nem sempre
com sucesso. Na Itália há muitos artistas
de
renome.
Infelizmente, muitos
desses artistas
italianos estão mais interessados em
criar ilustrações, desenhos bonitos e
não
estão nem aí para o desenho da
arte sequêncial que, em geral, conta
histórias. Talvez, por isso, não temos
na escola
artistas tão consagrados
nas histórias em quadrinhos como
há na América.
Precisamos ter mais
gente se dedicando as HQs. Afinal, a
arte de fazer quadrinhos
nada mais é do que
a arte de saber contar uma boa história,
simplesmente. Acho
que a maioria
dos desenhistas italianos acreditam
que os quadrinhos
são uma
arte menor.
ENTREVISTADOR: Você se preocupa
quando percebe que um outro
artista
copiou alguma cena sua?
GIOLITTI: Não, bobagem.
Na verdade eu me sinto
até lisonjeado. Eu só odeio quando eu
percebo que não fui
bem copiado.
ENTREVISTADOR: Você
poderia nos dizer
algo sobre o seu estúdio, seus assistentes
e editores? Em que
o seu estúdio
está trabalhando, agora?
GIOLITTI: Meu trabalho é
completamente
separado do que é conhecido
como "o Giolitti Studio ".
Eu geralmente trabalho sozinho, sem
assistentes. O lápis e tinta é
toda minha.
Para mim é
extremamente difícil e não
vale o tempo e esforço para usar um
desenhista como
assistente.
Na verdade, Giovanni
Ticci, era o meu
único assistente. Ele
desenhava os
cenários e eu desenhava os
personagens principais.
Nós
trabalhamos bem e felizes juntos,
durante anos, mas ele se tornou um bom
artista também, que
não precisa
de assistência de ninguém.
JOAN GIOLITTI (Fazendo um aparte):
Alberto
tem um arquivo enorme
de material de referência
e estou sempre com medo de que,
um dia, ele vai enterrar a todos nós sob ele.
Ele
também tem uma coleção relativamente
grande de material ocidental da América:
Armas,
cinturões, selas, artefatos
indígenas, que ele também usa para
documentar o seu
trabalho.
Nos Estados Unidos,
durante o período
em que ele fez a revista
Preston Sargent
vivíamos cercados
por
trenós, arreios, pele, etc.
E
cada vez que mudávamos
para outro local
o peso dessa imensa
coleção de referências
usadas por Alberto aumentava.
O Studio Giolitti é um híbrido... é uma
agência que representa free lancers,
um
lugar onde originais são requadrados
e é lá que os demais serviços de
produção
para todas as fases da produção
de uma histórias em quadrinhos e livros
infantis são produzidos e fornecidos
para as editoras.
O "Studio" produz arte para
os EUA,
Grã-Bretanha, Alemanha e Itália.
Atualmente
estamos produzindo
coisas tipicamente americanas, tais
como: Bugs Bunny
(Pernalonga), Daffy Duck
(Patolino), Porky Pig (Gaguinho) e HQs
sobre o velho
Oeste. Histórias em
quadrinhos
para meninos e meninas
semanais são feitas para revistas
IPC da Grã-Bretanha.
Edição brasileira de Pernalonga |
Jackie e os Wild Boys and Princess Tina
é uma das nossas
tiras. Chama da Floresta
e Leão e
A Ilha Encantada no Tammy, estas
séries também foram produzidas por nós.
Também produzimos um trabalho em
cores
para Treasure, Tell Me Why,
Once Upon a Time. Para
a Alemanha,
que atualmente envia para fazer a arte
para séries de Sci-fi,
fazemos para
a Moewig Verlag, de Perry Rhodan.
O novo conceito para a série foi
criada
em nosso estúdio e desde então vem
sendo produzida lá.
Também fazemos as histórias de Reno
para Bastei (Nós não estamos muito
feliz com essa série, mas temos que
atender
as necessidades
dos nossos editores).
O
"Studio" também produz alguns contos
de fadas agradáveis e adaptações
de romances para a Bastei.
Como
você provavelmente sabe, estamos
preparando para trabalhar para a Kauká.
Além disso, na Itália, estamos
começando
agora a começar a trabalhar para Spada
em preto e branco e em cores.
Alberto atua como diretor de arte, mas
às
vezes encontra neste trabalho uma
certa frustração, quando o que
desejam
eles conflita como seus gostos,
opiniões e desejos. Por vezes, as
ideias dele são
extremamente diferentes
do que os editores querem e esperam.
ENTREVISTADOR: Sua
arte não
mostra nenhuma
relação com a de outros artistas de
quadrinhos. Algum artista de
quadrinhos influenciou
você?
GIOLITTI: Meu estilo, eu sempre
tentei seguir
os passos de Alex Raymond e Hal Foster,
sempre os admirei...
mas
depois, é claro, eu senti um desejo
de desenvolver meu próprio estilo.
ENTREVISTADOR: Quais são as
suas ferramentas preferidas para
desenhar? Lápis, caneta, pincel?
Até que ponto você usa material
de
referência, por exemplo, quando faz
histórias em quadrinhos baseadas
em séries
televisivas como
Gunsmoke e Star Trek?
GIOLITTI: Eu
trabalho todos os
detalhes a lápis muito
meticulosamente antes
de começar a
trabalhar com canetas
ou pincéis. Se
eu usar canetas ou pincéis
depende do meu humor ou do tipo de
trabalho na mão.
Como material de referência para os
quadrinhos baseadas na TV eu só uso
o que eu preciso para semelhanças
dos personagens
ou o fundo.
Uma das razões pelas
quais eu gosto de
Turok é que eu não tenho de seguir
qualquer direção especial
e que
não é um show de TV.
Alexandre, o Grande |
ENTREVISTADOR : Uma pergunta
sobre o persoangem
Fiery Furnaces, pois
estamos ansiosos para imprimir esta
edição memorável de
Painel, com a
sua entrevista... Você
desenhava o
Fiery Furnaces sozinho
ou com um assistente?
Quem escrevia a história?
Para criar e desenvolver este
pertsonagem,
você fez uso de suas experiências
na América do Sul?
Abraham Lincoln |
GIOLITTI: Fiery
Furnaces foi um trabalho
desenhado inteiramente por mim.
Sinto muito, mas não me lembro quem
escreveu a história.
Para ser
honesto, eu não gostava deste
meu trabalho e sentia que esta série
não ia
seguir em frente, não ia durar
por muito tempo. Fiery Furnaces, a
série ou o
personagem não tinha
nada a ver com as minhas experiências
sul-americanas.
Eu recebia o roteiro e trabalhava em
cima dele, simplesmente.
Os editores alemães,da Bastei Verlag,
é que se encarregavam de contratar
os roteiristas e depois nos enviavam
os
textos pelo correio. Jamais escrevi
um texto se quer. A Bastei Verlag não
é a
única empresa editorial da Alemanha
que encomenda trabalhos de arte
para estúdios
estrangeiros.
Por alguma razão, inexplicável, os artistas
italianos parecem ter
um interesse
maior em fazer
quadrinhos
para a Alemanha.
Para dar conta da sua
enorme produção de originais
para serem lançados
como produtos editoriais
a Bastei Verlag está
sempre em
busca de talentos.
Acho que foi por isso que acabaram
nos descobrindo
e chegaram ao
nosso estúdio.
Nosso estúdio produz arte baseando-se
nos roteiros
exclusivamente criados
ou encomendados pelos editores
dessas séries.
Então,
basicamente, esses originais
de textos eram praticamente um script
completo como
um storyboard.
Jamais alteramos qualquer
texto.
Mas, houve exceções...
Em outros trabalhos como nas adaptações
da novela para a
série Berühmte
Geschichten (Histórias Famosas)
a coisa foi diferente.
Os textos,
nesse caso, foram
criados por nós.
E esses nossos manuscritos dava aos
nossos artistas
maior liberdade de criação,
pois eles podiam até compor as páginas
por conta
própria, baseando-se nos
roteiros criados pelo nosso pessoal.
Entretanto, nesses
casos, nós, do
Giolitti Studio, produzíamos os model
sheet de todos os
personagens
da série em questão e mandávamos
tudo previamente para a aprovação
dos editores antes de começarmos
a executar as artes para esses livros.
Muitas
vezes a produção dessas
histórias em quadrinhos estava ligada
à produção de uma
bela capa de livro.
Para dar uma idéia do que os editores
queriam fazíamos uma
descrição
detalhada da série com esboços e
encaminhávamos para eles.
Nosso principal “parceiro” nesse
tipo
de negócio com os editores
internacionais
sempre foi a Sra. Joan Giolitti, uma
americana charmosa, que
atualmente também
administra toda a produção
do nosso
estúdio.
ENTREVISTADOR: Esta
senhora vale ouro...
Grato, por seu depoimento, Giolitti.
Até a próxima.
BREVE
RESUMO SOBRE
A CARREIRA
PROFISSIONAL
DE GIOVANNI TICCI
É praticamente impossível
falar de Alberto Giolitti
sem falar de Giovanni Ticci.
Suas carreiras estão
interligadas.
Giovanni Ticci nasceu em 20 de abril
de 1940, em Siena,
Itália.
Começou, aos 16 anos, ocasião
em que começou
a trabalhar, por um ano,
em Milão no Studio
"CREAZIONI D'Ami", onde ele aprendeu os
princípios
básicos comerciais que um artista
de quadrinhos precisa saber.
Depois disso, se juntou em 1958 com
Franco Bignotti para desenhar
"Un Ragazzo nel Far West"
para Edizioni
Araldo.
Em 1960 ele começou a
trabalhar para
Alberto Giolitti, realizando inúmeros
trabalhos em parceria com
o mestre em
empreitadas como: Turok -
Son
of Stone-,
e assumiu Viagem ao
Fundo do Mar, em 1963.
Em 1966 Ticci começou a
trabalhar
por conta própria e dedicou a maior
parte de seu tempo para Texas,
da
Edizioni Araldo, de Sergio Bonelli,
onde assinava em conjunto com Franco
Bignotti e em Judik, uma série de
ficção-científica tão curta quanto insólita,
também de autoria de Bonelli.
De vez em quando, Ticci, também fazia
curtas
histórias em quadrinhos para
a Gold Key, como foi o caso da
série Twilight Zone
(Quinta Dimensão,
HQ baseada numa série de TV homônima
de muito sucesso).
O mestre Alberto Giolitti costumava
dizer
sempre que Ticci havia se tornado
um artista completo e que ele não
precisava mais ser
assistente de ninguém.
Ticci nunca foi para
uma academia de arte.
É autodidata. Recebeu
instruções sobre arte
de Rinaldo D'Ami durante o ano em que
conviveu com este
outro grande mestre
no seu estúdio em Milão.
Segundo ele, um dos artistas que mais
gostava e que
provavelmente - a princípio –
o influenciou muito foi Alex Toth,
além de
Alberto Giolitti, obviamente.
Dan
Spiegle e "il Bravissimo" Dino Battaglia
também são admirados por Ticci.
Em "Un Ragazzo nel Far West" podemos
notar a forte
influência que Giovani
Ticci tinha do mestre Giolitti.
Certa feita ele declarou para uma revista
especializada:
“ Quando eu desenhei
"Un Ragazzo nel Far West"
meu estilo estava ainda influenciado
pelo estilo inconfundível de Giolitti,
mas
eu nunca pensei em trabalhar
com ele ou seguir seu estilo.
Este selo editorial era
símbolo de qualidade
símbolo de qualidade
A coisa foi automática.
A parceria entre Ticci e Giolitti só
começou quando o mestre
retornou
à Itália. Em 1960, Giolitti
me fez uma
proposta para que Ticci trabalhasse com ele.
Ticci aceitou, mas
continuou a trabalhar
em "Un Ragazzo nel Far West".
De lá para cá ele nunca
mais parou.
Teve sua estréia na revista Tex edição
italiana # 91 ao desenhar a
HQ “Revenge
of India” (Vingança Indígena), em 1967.
Rapidamente se tornou um
dos mais
populares desenhistas da série, devido
ao seu senso de proporção e
paisagens
deslumbrantes. Na década de 80, realizou
uma série de aquarelas para
as capas da
coleção Os Grandes Westerns, editada
pela editora La Frontiera.
Há
anos ele vem desenhando Tex
e hoje pode ser considerado
um veterano das
histórias do ranger.
Durante 7 anos Ticci trabalhou com
o mestre Giolitti.
O QUE PENSA
GIOVANNI TICCI,
SEGUNDO SUAS
DECLARAÇÕES
Paera o mestre Giovanni Ticci, os
quadrinhos ocidentais
americanos são mais simples que
os produzidos na Europa.
As séries que ele fez na época para as
editoras americanas se
resumiam no
mocinho,
o bandido e o cavalo, assim como nos
velhos filmes sobre o velho Oeste,
em virtude das histórias
serem bem mais curtas.
Cada história produzida na América era
concluída em 28 páginas.
Uma revista de
quadrinhos americana,
em geral, tem 32 páginas.
Na Itália, entretanto,
como podemos
ver em Tex – da Bonelli Comics-, as
histórias são muito mais
complexas e
incrementadas com roteiros mais
intrincados e as revistas possuem
um maior número de páginas.
Esta arte de Tex foi feita por Ticci e ofertada ao cowboy Zeca Willer, do blog do Tex, em Portugal |
Ainda segundo Ticci, o
termo
"spaghetti westerns",
criado para designar os filmes e HQs de
western produzidas na Itália, vem
a calhar, pois o material produzido
pelos
italianos nada tem a ver com o
Oeste ocidente real. Nas HQs italianas
do gênero os
personagens
aparecem sempre com roupas engraçadas
e as histórias, em geral,
apresentam
uma violência excessiva.
Mesmo
achando que a
imagem do Ocidente
tal ele e apresenta nos filmes de
Hollywood,
muitas vezes nos dá uma
impressão errada sobre o velho Oeste
selvagem, mas o
artista acha que
esses filmes tem um charme especial
e o mais importante é que
eles te
dão uma sensação de liberdade,
apresentam um céu imenso, coisa
que
raramente os westerns
europeus evocam.
Ticci também fez diversos trabalhos
para a Western
Publishing.
Sempre gostou de
desenhar a lápis tanto
quanto adora fazer artes finais.
Para executar uma boa
arte final
sempre usou tinta nanquim, canetas
e pincéis. Com uma escova costuma
dar um suave toque
no trabalho.
Mas, sempre achou que com a caneta
fica mais rápido para trabalhar.
Trabalha
cerca de seis a sete
horas por dia numa página.
Ele não coleciona ou lê mais histórias
em quadrinhos.
Fazia isso anteriormente.
Lia muito "
Johnny Hazard", do
lendário Frank Robbins
e "Rip Kirby".
Tex - por Giovanni Ticci |
Alfio Ticci é o nome do irmão de Giovanni
Ticci. Ele já ajudou o irmão famoso
artefinalizando algumas páginas
de Tex Willer.
EDIÇÕES CLÁSSICAS
PARA COLECIONADORES
A editora americana Dark Horse criou a
coleção Classics para resgatar as
grandes criações e publicações do
passado e uma das edições da
luxuosa série traz de volta as
primeiras HQs de Turok.
EDIÇÕES CLÁSSICAS
PARA COLECIONADORES
A editora americana Dark Horse criou a
coleção Classics para resgatar as
grandes criações e publicações do
passado e uma das edições da
luxuosa série traz de volta as
primeiras HQs de Turok.
O álbum contém as primeiras seis edições lançadas pela Dell |
Turok não foi criado por Giolitti. Mas, curiosamente, inicialmente ele não desenhava a série, mas assinava algumas HQs. |
NOTA: Há uma grande polêmica no que se refere a
criação de Turok. O escritor Gaylard Du Bois
não iniciou a série, mas escreveu algumas
edições. A partir da edição # 9 Turok
foi escrita por Paul S. Newman.
Alguns estudiosos afirmam que Turok
foi concebido pelo roteirista\criador
Matthew H. Murphy e que depois
foi escrito por Gaylord Du Bois
e Paul S. Newman.
Gaylord Du Bois |
Mas, porque Giolitti aparece assinando
algumas edições como escritor?
Erro dos editores?
As primeiras edições foram
desenhadas por Rex Maxon (1929-1936),
que também desenhou Tarzan.
As aventuras de Turok narram a história de dois índios - pré-Colombo, que foram renegados por sua tribo e que acabam caindo num vale cheio de dinossauros |
Também foi lançado um DVD com uma série de desenhos animados desse clássico das HQs, em 2008, que também foi lançado em álbum de HQs |
Se você é fã dessa série não perca esses sensacionais lançamentos. A venda nas importadoras, gibiterias e pontos de vendas especializados |
Pégasus\Divulgação |
Mais matérias e entrevistas bacanas?
Visite...
E saiba mais sobre a Harvey Comics,
que além da turma do Casper lançou
super-heróis e quadrinhos de
terror e suspense, com muito sucesso!
Conheça a verdadeira história desse
verdadeiro império editorial americano
nos anos de ouro e de prata dos
comics!
Copyright 2011\Tony Fernandes\
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verdadeiro império editorial americano
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Copyright 2011\Tony Fernandes\
Estúdios Pégasus\São Paulo - Brasil
Tony, que puta matéria que você nos proporcionou!!!
ResponderExcluirEu sou um fãzaço do Giolitti, e pude reviver nesta matéria várias dos personagens tão bem desenhados por ele.
Nos desenhos de western nunca vi alguém que fizesse os desenhos das dobras das roupas tão perfeitas quanto ele. Suas rochas, pedras e solos são magnificamente detalhados. Ninguém desenha uma paisagem no deserto americano como ele. Talvez só o, também grande artista de quem sou admirador, Fábio Civitelli.
Obrigado Grande Bengala-Mor por esta oportunidade de relembrar minha juventude e a arte deste grande desenhista.
Grande abraço
Alvarez
Então, somos dois fãs do fera, Dom Alvarez de La Mancha! O homem era muito bom. As paisagens que ele aziam, d efato, eram espetaculares e vejo que o Ticci herdou isto do mestre.
ResponderExcluirEu é que agradeço, por sua visita, e por seus
comentários! APareça amis, bengala friend!