sexta-feira, 5 de agosto de 2011

ENTREVISTA COM LEO SANTANA, DONO DA FAMOSA BODEGA DO LEO!



Durante anos, os sites http://www.bigorna.net/ e a famosa http://www.bodegadoleo.com/ 
foram os mais representativos, quando se trata de expor e vender publicações,
 quer sejam elas independentes ou não. Lamentavelmente a famosa Bigorna 
foi pro saco, literalmente, este ano, mas a famosa Bodega do Leo 
continua aí firme, com seu esquema "enxuto" de trabalhar. 
Muitos artistas profissionais e independentes recorrem à ele para 
promover, divulgar e vender seus trabalhos. Há tempos esses famosos tipos de
 sites me chamaram atenção. A Bodega taí firme prestigiando os intrépidos autores 
nacionais, que insistem em manter seus trabalhos longe das bancas e do 
péssimo trabalho de distribuição feita pela única distribuidora do país 
a Treelog, que pertence ao poderoso Grupo Abril, que hoje detém o
monopólio de mercado. Enfim, atualmente, os editores, sem outra opção 
de distribuição, devem se sujeitar as normas deste único distribuidor.
Segundo a Constituição Brasileira, monopólio é proibido. Porém, nessa
terra sem lei onde o poder do capitalismo fala mais alto 
há vários exemplos por aí que contrariam as normas.
Saber mais sobre como surgiu e como trabalham este respeitável e 
importante tipo de site de venda sempre foi minha meta (e aposto que o sonho de 
muito autor de HQs por aí), e graças ao editor independente 
Arthur Filho – editor da Billy The Kid, que corajosamente chegou a 
edição # 14  (que tive a honra de fazer a capa), foi que tive o prazer
 de contatar Leonardo Santana. 
Perguntei à ele se poderia me conceder uma entrevista e ele topou. 
O resultado está aí.
Curtam esta entrevista\debate sobre a situação atual do mercado
brasileiro de HQs, que fiz com...

LEONARDO SANTANA, DONO
DO FAMOSO SITE BODEGADOLEO,
QUE APOIA AS HQs MADE IN BRAZIL!


Leo tem como pano de fundo as belas paisagens de Recife.


TONY – 1: Léo, quanto prazer em poder colher seu depoimento nesse nosso já 
conhecido e conceituado talkie show virtual, que prima pela veradde,
e que hoje é visto e lido por gente que faz e gosta de Histórias em Quadrinhos em
diversas partes do mundo. 
Eu sempre quis desvendar como funciona 
um site famoso e que tem uma séria proposta como o seu. 
Vai nos revelar seus segredos? (Rsss...). Posso começar a saraivada
de perguntas cabulosas?


LÉO: Olá Tony. O prazer é todo meu. Não sou um homem de segredos e,
por isso, o que eu puder compartilhar com você e seus leitores será
uma alegria para mim. Vamos em frente!

TONY – 2: Ok. Let's go! Primeiramente, todos desejam saber, em que dia, mês,
 ano e estado em que você nasceu e seu nome completo, é óbvio.


LÉO: Vamos lá! Meu nome completo é Leonardo Santana. Só isso mesmo. 
Eu nasci em Recife no dia 25 de setembro de 1973.




Palestrando, numa das convenções do P.A.D.A
TONY - 3: Terra de gente boa e criativa. Tenho muitos amigos por aí e
uma saudade danada da chamada "Veneza Brasileira". Pernambuco é
e sempre foi o celeiro de grandes autores de Histórias em Quadrinhos. 
Quando foi que surgiu a idéia de abrir a famosa BODEGADOLEO 
e por quê? Outra coisa: Quem surgiu primeiro? A BODEGA ou o BIGORNA?


LÉO: Não sei dizer qual site veio primeiro, mas a idéia surgiu da necessidade
 de divulgar e vender revistas independentes que, inicialmente, 
só tinha meus trabalhos. 
Mas a coisa cresceu e eu acabei pensando numa forma de transformar a loja 
num centro descentralizado de venda de quadrinhos independentes nacionais.



Tony 4 –  A idéia foi genial. Parabéns.  O povo quer saber... (Rsss...)...
Você tem sócio ou sócios?


LÉO: Não. Tudo na Bodega do Leo foi pensado, desenvolvido e gerenciado 
por mim mesmo. Não foi nada fácil no começo mas consegui criar um sistema
 que gerencia tudo praticamente para mim facilitando muito o trabalho pesado.


Tony - 5: A coisa rola automaticamente... interessante...
Eu não sabia que você também era autor de Histórias em Quadrinhos. 
Confesso que fiquei surpreso quando você pediu o meu endereço pra me mandar 
seus trabalhos. Quando os recebi, adorei-os. Estão show de bola! 
Qual é a sua “praia”. Ou seja, qual é o seu estilo de trabalho preferido?



LÉO: Eu gosto de me imaginar como roteirista de histórias em quadrinhos. 
Não roteirista de HQs de super-heróis ou roteirista de HQs de terror. 
Acredito que o verdadeiro roteirista é aquela que consegue contar uma 
boa história independente do tema escolhido. Por isso, já escrevi histórias
 de super-heróis, de terror, ficção, humor, drama e por aí vai. 
Eu, particularmente, gosto de histórias onde eu possa ter aventuras e
 dramas pessoais para contar. Mas não gosto de me prender a um só tema.

Mirza: Numa versão de Leo Santana e Jean Okada

Tony – 6:  Quero frisar aqui que você é um ótimo roteirista.
Gostei bastante de suas histórias. Infelizmente o país precisa de mais gente como
você, ou seja: bons contadores de histórias. Também concorcordo com esta sua visão.
Um autor deve ser polivalente, eclético.
Quais foram suas experiências no setor editorial?
 Já publicou, alguma vez, profissionalmente?



LÉO: Profissionalmente, não. Todas as minhas experiências como editor
 foram de forma independente (Leia-se sem receber nada por isso). 
Mas acredito que consegui aprender muito, fazer contato com pessoas 
talentosíssimas e imprimir a minha personalidade em minhas publicações.


Tony – 7: O que vale é o know-howw, é claro.
Na minha opinião, divulgar e vender HQs através do site foi uma 
idéia genial, principalmente, numa época em que as vendas despencaram 
bastante nas bancas – de todo o mundo. As bancas de jornais, tradicionais
 pontos de vendas de revistas e de quadrinhos viraram lojas de conveniência, 
pelo Brasil afora. O pessoal vende balas, chicletes, sorvetes, doces, cartões telefônicos,
cartões de zona azul, recarga de celulares, enfim, vendem de tudo. Exceto, 
por irônia, revistas... (Rsss...). A partir do momento em que um "gênio"
inventou o sistema de assinaturas - para comprar revistas -, e a tal de
mercadoria consignada, os jornaleiros perderão o tesão de
vender revistas, esta é que é a verdade. Antigamente, eles pagavam pela
mercadoria, a coisa mudou, e na atualidade - com o sistema de consignação -,
 eles estão se lixando pras vendas e, na real, são apenas dono da
"lata", da banca... (Rsss...). O sindicato dos jornaleiros de São Paulo
admite que permitir assinaturas foi um dos grandes erros da classe. 
Analisei o seu site e notei que hoje você tem uma 
grande gama de produtos editorias de qualidade, tanto quanto o BIGORNA
tinha. Quando você começou o site, de imediato, surgiram os chamados editores
 independentes, ou eles só vieram com o tempo? Conte-me como a coisa “rolou”
mais detalhadamente...


Um argumentista eclético que fez e faz boas parcerias

LÉO: A coisa foi fluindo com naturalidade. A maioria dos editores independentes 
que expõem para vender no site da Bodega do Leo vieram com o tempo. 
Uma grande vantagem que o site oferece aos editores é que se eles não 
venderem nada, também não tem custo algum. 
Isso facilita a vinda de novos editores e novas edições.


Tony - 8: Sem dúvida, o sistema é funcional e não onera aquele que não vende,
exatamente o oposto do que ocorre hoje com a grande distribuidora e os editores.
Se um editor não atingir um limite "X" de vendas tem que pagar, do próprio bolso, o
chamado "custo operacional", é mole? Antigamente isto não existia.
Outra coisa, sobre o seu site que eu acho que todos gostariam de saber...
 Há algum critério para selecionar o material que 
normalmente é exposto com o release do produto editorial, nos eu site, ou 
você aceita de tudo, independentemente se o tal produto tem qualidade ou não?



LÉO: Não existe critérios seletivos para entrar na Bodega do Leo. Acredito 
(e os compradores atestam essa minha teoria) que existe sempre um 
trabalho para cada leitor. O que muitas vezes achamos uma porcaria,
 interessa a um ou outro leitor. Portanto, todos podem colocar seus trabalhos a 
venda na Bodega do Leo. Agora, se o leitor efetua compras e os editores 
não cumprem com sua parte no envio das revistas, devolvemos o crédito 
ao leitor e retiramos aquele editor e suas revistas de nosso catálogo. 
Mas isso é algo raro de acontecer por que a maioria dos artistas querem 
justamente é que o maior número de novos leitores 
possam conhecer os seus trabalhos.

Adaptação de um clássico da literatura, em formato de tiras

Tony – 9: Perfeito... gosto não se discute... (Rsss...). 
Com o crescimento das vendas pela Internet surgiram milhares 
de editores independentes, no Brasil e no mundo. Em geral, quais são as 
tiragens que esse novo tipo de editor faz? Você sabe me dizer? 
Outro detalhe importante: Há editores independentes que conseguem 
vender toda a tiragem via site? Em geral, quanto tempo isso leva pra acontecer?



LÉO: No Brasil, as tiragens médias de editores independentes é 
de 1.000 (mil) exemplares. Na Bodega do Leo, as vendas ainda não são 
consideráveis. São bastante modestas. Depende muito do número de títulos 
que um editor possui. Acredito que a continuidade de um mesmo título ajuda
 a vender números anteriores. Ao mesmo tempo que uma edição one-shot 
tem uma venda considerável num primeiro momento mas depois 
acaba ficando esquecida.


Tony - 10: Legal esta sua análise... Seu site apenas expõe os produtos editoriais, 
mostram um preview e um release, OK? Quem despacha o produto pelo correio 
é o próprio editor, confere? Daí você cobram 20% do preço de capa 
de cada edição vendida por seu respectivo editor, correto? 
Explique detalhadamente como toda esta engrenagem funciona...






LÉO: É exatamente isso que você explicou. A revista fica exposta na Bodega
 do Leo, mas quem a detém é o editor. Quando o leitor compra a revista,
 um e-mail é disparado para o editor que fica responsável por enviar a mesma. 


Tony – 11: É fácil administrar este tipo site que, aparentemente,  não tem  uma 
estratégia de logística, bengala friend... 
Pelo visto, da pra fazer tudo sozinho, OK?



LÉO: Faço tudo sozinho. A parte de controle de dados é todo automatizado o 
que facilita muito a minha vida. Já a parte física da coisa (enviar, saber se 
foi enviada, recebida, cobrar para enviar novamente, etc), é mais complicada.

Tony - 12 : Pra mim, sites como foi o BIGORNA e como é o seu são geniais. 
São verdadeiros “Anjos da Guarda” das histórias em quadrinhos brasileiras. 
É pena que o Bigorna "saiu do ar". Prestou um grande serviço aos autores de HQs.
O que você tem a dizer sobre isso? (Rsss...).



LÉO: Eu só tenho a agradecer pelas suas palavras. O que começou como 
uma forma de vender meus próprios quadrinhos evoluiu e hoje eu vejo o site 
muito mais como uma forma de mostrar aos leitores brasileiros o que estamos
 publicando uma variedade enorme de quadrinhos com qualidade e que eles
 estão ao alcance de qualquer um. 

Tony - 13 : Um site como o seu deve ter uma porrada de acessos semanais,
 mensais. Você tem idéia de quantas pessoas acessam o BODEGADOLEO,
 por mês, para comprar gibis?



LÉO: Não tenho. Do acesso, não. Eu faço um milhão de coisas e acabo não 
podendo dar a devida atenção a todos os detalhes.
 O controle que tenho da Bodega do Leo é de quanto vendo por mês. 
Mas como as vendas dependem muito de uma série de fatores como
 divulgação, interesse, etc. elas acabam sendo bastante oscilantes.


Tony – 14: A maior parte dos pedidos que recebem são do exterior ou são
 de leitores brasileiros ávidos por adquirir esses novos autores e produtos?



LÉO: Só de brasileiros.






Tony – 15: Qual é o gênero mais vendido atualmente? Mangá ou 
super-heróis nacionais?



LÉO: Super-heróis nacionais disparado. Em especial os personagens Raio 
Negro, Velta e o Cometa. A minha revista Space Opera, que é uma ficção com 
aventura, também está bem cotada entre as mais vendidas. 
Para ver uma lista ordenada das 16 revistas mais vendidas de todos
 os tempos na Bodega do Leo, basta clicar aqui:

Mas, se você me perguntasse quais os estilos mais vendidos eu 
diria que são: Super-Heróis, terror e aventura em geral.


Tony - 16: Interessante... Quadrinhos de western, como Billy The Kid e Apache, 
também ainda tem aceitação, ou o western é restrito a um pequeno nicho 
de leitores das antigas, bengala brother?



LÉO: Eu acho que quadrinhos de faroeste até vende bem. 
Não tanto quanto os super-heróis, mas acredito que eles tenham 
o seu nicho específico. Talvez o que falte seja mais quadrinhos desse
 tema para arregimentar novos leitores. Acredito que o faroeste tem 
sido muito negligenciado nos últimos anos e acredito que exista 
uma legião de fãs saudosos pelo tema.


Tony 17 – Com certeza, esqueceram os leitores saudosistas do passado.
Com Apache, acabamos conquistando até jovens leitores do gênero, que 
é considerado por muitos como: retro.
Deu pra perceber, tanto no seu site, quanto no BIGORNA, que há 
uma infinidade de heróis novos nesse novo mercado virtual que vocês criaram. 
Parece que a maior parte desses novos editores só pensam em criar, 
desenvolver e publicar esses seres bombados e acabam esquecendo 
outros gêneros. Qual é a sua opinião pessoal a esse respeito? 
Se nossas bancas estão empesteadas de heróis Marvel e DC, criar mais 
super seres, não é imprudência?





LÉO: Eu concordo com a sua primeira análise. Os artistas partem do lugar 
comum ao qual estão acostumados, que é o mundo dos super-heróis, e 
criam os seus próprios, muitas vezes, mesmo que inconscientemente, 
como réplicas das cópias americanas. Sobre ser ou não imprudência, 
eu não sei o que lhe dizer. Se você quer dizer que de cada 100, apenas um irá 
vingar, eu acho que pode ser verdade. Se você fala no sentido de que é 
melhor procurar outros temas, acho que para eles (os autores), é a mesma 
coisa. Com a Bodega, eu acredito que os super-heróis nacionais tem vez. 
O que acho que falta é boas histórias de super-heróis.
 Um outro problema é o alcance. Vender pela Internet é sempre uma 
minúscula porcentagem do que seriam as vendas em bancas. 
O problema é que o segundo incorre em muitos custos enquanto o primeiro 
em quase nenhum. Assim sendo, acredito que com histórias realmente
 boas, continuidade e qualidade (desenhos, roteiros, cores, edição), 
podemos ter alguma chance. É claro que eu, fazendo futurologia barata,
 não posso dar nenhuma garantia disso. 
Mas é uma sensação que me persegue.


Tony 18 – É evidente, Leo... mas sua visão de mercado é hiper realista e este
nosso bate papo virtual, sem dúvida, está esclarecendo muita gente. 
 Antigamente, quando criei o Fantasma Negro (na década de 80), em 
parceria com o Beto, sentimos na pele o preconceito que os leitores tinham
 quando colocamos, como pano de fundo do personagem a cidade de
 São Paulo. Parece que atualmente tem herói mascarado e super em João Pessoa, 
em Garanhuns, etc... (Rsss...). O novo e mirrado leitor tupiniquim tá aceitando
 melhor os heróis brasileiros na atualidade, ou estou equivocado?



LÉO: Uma vez mais, acredito que o problema é se temos boas histórias ou não. 
O problema nunca é o leitor. A não ser quando ele é um fanboy. 
Os fanboys é que são responsáveis pelo fim dos quadrinhos como conhecíamos.
 O que nos falta é um projeto editorial de longo prazo que vise dar 
visibilidade a um determinado produto e que ele tenha qualidade 
editorial (Diagramação, cores, etc), bons roteiros, excelentes desenhos, 
bons personagens ou temas (Terror ou ficção, por exemplo) e uma boa 
distribuição e divulgação e acho que conseguiremos criar um novo hit.
 Vamos fazer uma brincadeira rápida aqui: projete 12 edições bimestrais 
de uma revista qualquer (Vamos usar o tema TERROR que tem uma 
procura incrível); Chame excelentes roteiristas que temos por aí
 como o ABS MORAES, GIAN DANTON, ANDRÉ DINIZ, 
WELLINGTON SRBECK, DANIEL ESTEVES, ALEXANDRE
 LOBÃO, ETC, e os coloque para produzir roteiros para essas 12 edições. 
Desenhista eu nem vou citar por que aí é que nós temos gente 
de talento mesmo. Coloque eles para desenharem esses roteiros. 
Chame pessoas para colorir esses trabalhos. Coloque uma capa que
 misture terror com belas garotas semi-nuas. 
Divulgue e faça uma boa distribuição. E segure as pontas por
 dois anos (12 edições x 2 meses = 2 anos). Pronto. Teremos aí um 
novo hit nacional semelhante ao Krypta, Spektro e tantos outros 
de outras gerações. “Ah, Leonardo! Falar é fácil mas no nosso mundo real 
as coisas não funcionam tão bem assim!”, alguém poderá dizer. 
Mas, se eu tivesse dinheiro para bancar essa iniciativa, não pensaria 
duas vezes em fazer isso dessa forma.

Um grande e incansável autor, batalhador e divulgador das realizações do
P.A.D.A e das HQs Made in Brazil
Tony 19 – A fórmula que você expos é óbvia e, com certeza, traria ao mercado 
um novo hit nacional. O problema é ter "gás financeiro" pra aguentar o 
auto custo operacional para manter esses bons autores trabalhando, de bolsos cheios.
Custa caro manter um bom time de profissionais e o pior é segurar esta
barra com o mínimo de retorno. Esta "tarefa estratégica" só poderia ser
bancada por uma grande editora. Mas, elas estãos e lixando pras HQs
e autores nacionais. Veja, o exemplo do Mauricio de Sousa... poucos sabem,
mas o primeiro a lançar a revista com os personagens do nosso Disney foi
a tradicional Gráfica e Editora Penteado (a revista se chamava Bidú). Na
época a coisa não funcionou. Anos depois, graças a PROEME ( de Ênio
Mainardi) o Mauricio fechou com a CICA e com a Abril, aí sim, a coisa rolou.
A parceria com uma grande editora (que lançou uma grande tiragem),
 mais a midia da CICA na TV fez a 
coisa emplacar. Voltando a explanação inicial...   
Na mesma época que lancei Fantasma Negro, lancei, também, 
Fantasticman, um super-herói sideral, que falava uma linguagem universal. 
E as aventuras desse personagem sempre vendeu mais do que o outro que
 atuava na capital paulista. Daí lembrei de um antigo editor que me dizia: 
“Tony, o povo não gosta de ver sua própria realidade. Torcem o nariz pra
 heróis nacionais.  Acham ridículo e odeiam HQs de cangaço”. 
Esse papo ouvi na década de 70. Só espero que esta mentalidade tacanha
 tenha mudado ao longo dos anos, bengala friend.
Aonde já se viu o leitor tupiniquim continuar a desprezar sua própria cultura?
Isto é babaquice, um absurdo.
 Quais são os títulos de super-heróis nacionais que você 
mais tira pedidos, bengala young?



LÉO: O problema é muito mais o acesso do que a mentalidade. As pessoas
 gostam de ler coisas variadas. Os fanboys é que são aversos a tudo o
 que é feito no Brasil, independente de ser bom ou não. 
O que eu concordo é que a maioria das tentativas nacionais foram feitas 
de forma amadora e entusiasta. E isso não é ruim mas, de certa forma, 
afasta os leitores. É preciso de uma série de coisas que vão dos bons 
roteiros, passando por desenhos realmente bons, cores (sempre são bem
 vindas) , preço acessível, distribuição eficiente e divulgação inteligente 
e constante. Para se ter uma idéia de como isso influencia, eu era fã do gibi
 “Júlia, as aventuras de uma criminóloga”, de Giancarlo Berardi  (mesmo criador 
de Ken Parker) mas parei de colecionar por causa de maldita setorização.
 O mesmo aconteceu com vários quadrinhos da Vertigo. 
Eu até gosto mas deixo de ler por que não tenho o acesso fácil que eu gostaria de ter. 


Tony 20 – Distribuição no país sempre foi problemática, devido a sua extensão, etc.
Distribuição setorizada - isto significa: tiragem pequena. Distribuições até
50 mil exemplares sempre foram consideradas neutras, devido aos 5 mil pontos
de vendas que temos, há anos, no país. A má distribuição sempre fez a gente
acabar perdendo leitores. Dá pra imaginar o mercado hoje, onde a distribuidora 
chega a pedir tiragens ridículas, tipo: 10 mil ou 6 mil exemplares. Fica difícil
pra qualquer editor manter uma empresa, uma estrutura. 
A verdade é uma só: Os super-heróis produzidos no país, mesmo 
que tivessem uma linguagem universal, nunca foram campeões de vendas. 
Faziam um relativo sucesso, mas jamais “arrebentaram a boca do balão”, 
como diz hoje a galera. Há muita lenda a respeito.
Obviamente, se eles tivessem alcançado boas vendas 
estariam no mercado até hoje, como Batman, Superman, etc.
 Os heróis americanos também oscilam no mercado, como qualquer outro
 produto, mas a diferença é que os editores da América não param, 
trocam de escritores, de desenhistas, mudam completamente o universo 
do personagem, etc,  e acabam achando, de um jeito ou de outro, uma
 “fórmula mágica” (mera estratégia de marketing) para alavancar as vendas. 
Ao seu ver, o que falta pros heróis tupinqiuins, gibis, autores e editores
 nacionais, venderem bem, de verdade?






LÉO: Para se ter sucesso de vendas, além de tudo o que já foi citado 
aqui, é preciso também de uma força de trabalho e um mercado 
PRODUTOR aquecido e em constante renovação. 
Se não for assim, podemos até ter um hit ou outro mas, depois de 
algum tempo, o artista cansa e não pode ser substituído em tempo hábil. 
E isso, quem tem que impor, são as editoras que tem capital para
 investir nisso. Os artistas lançam HQs mas não vivem disso.
 Vivem de aulas, publicidade, vendas, mesadas e outra infinidade de 
subterfúgios para compor a renda mensal e sobreviver. 
Eles não podem mais carregar essa responsabilidade nas costas. 
A quantidade de trabalhos de qualidade publicados atualmente 
mostra que temos sim bons roteiristas, desenhistas, histórias e
 personagens. Que temos qualidade, comprometimento e profissionalismo 
(Coisas que sempre foram criticadas como ausências nos artistas nacionais). 
O que falta agora é alguém que tenha o cacife, visão e interesse que possa 
fazer ou aceitar projetos a longo prazo não para um ou outro 
artista mas para o incentivo e renovação constante 
do nosso mercado. Nós poderíamos estar criando álbuns e publicações 
para exportar para os estados unidos e Europa mas, no entanto, estamos
 apenas sublocando nossa mão-de-obra para eles produzirem lá e a 
gente importar pra cá. O velho caso da exportação de matéria-prima
 e importação de material industrializado. Portanto, resumidamente, 
o que falta são iniciativas de longo prazo que incentivem a produção 
local de forma inteligente e profissional.

Tony 21 – Em geral, a qualidade dos roteiros brasileiros são terríveis. 
Vide o cinema nacional, que sofre o mesmo problema há séculos. 
O pessoal da uma puta importância pros desenhos e esquecem o principal: 
os enredos. O leitor, em geral, não entende patavina de arte, mas paga pra 
ler uma boa HQ. Um super desenhista não segura uma revista que tenha
 um roteiro de merda. Mas, um grande escriba consegue segurar uma revista 
que tenha um desenho mediano e até medíocre. 
Você concorda com esta minha visão, ou discorda?



LÉO: Concordo com você, mas já faz algum tempo que a situação vem 
se invertendo. O problema é que as pessoas por trás dos projetos
 (Geralmente editores e desenhistas que criam personagens) é que não
 abriram os olhos ainda para isso.  Já citei alguns excelentes roteiristas
 lá em cima mas o fato é que o roteirista é subestimado na hora de
 produzir HQs. Eu concordo com você também que só os desenhos não
 seguram uma revista por muito tempo. O ideal é que tenhamos bons 
desenhos para instigar um leitor a pegar uma revista para conhecê-la 
e que tenha excelentes roteiros para que ele CONTINUE 
comprando essa revista. Ou seja, temos roteirista excelentes. 
Só falta que as pessoas por trás de cada novo projeto que brote 
tenha em sua cabeça a necessidade primordial de utilizar alguém assim.



Tony 22: Além da qualidade do material Made in Brazil (roteiros ruins),
 ainda temos que enfrentar outro ainda maior: A má distribuição.
 O país é imenso e o custo operacional pra colocar o material nas bancas 
sempre foi problemático. Pra uma banca eles mandam 20 revistas, na banca 
da esquina não mandam nenhuma. Ou seja, o reparte é muito mal feito. 
Tex, o cowboy dos Bonellis, tá a mais de 50 anos sendo publicado no país. 
Mesmo assim, achar um gibi do Tex nas bancas é uma tarefa de garimpeiros. 
Em meu bairro, nem as bancas enormes de hipermercados têm Tex,
 muito menos Apache. Brigar com uma empresa que detém o monopólio do
 mercado de distribuição é doidice. E não é só as HQs que são mal 
distribuídas, não. 
As demais revistas, de outros segmentos, sofrem do mesmo mal. 
Afinal, eles tem grana, eles ditam as regras e quem não rezar pela
 cartilha deles vai, literalmente,” pro saco”. Está fora do mercado. 
Daí, só restaram sites como o seu e o BIGORNA, como uma esperança 
de venda. Você acredita que, com o tempo, haverá outros 
sites trabalhando como voces?



LÉO: Concordo que a distribuição no Brasil é um problema seríssimo. 
E não consigo visualizar uma melhora significativa nesse problema. 
Recentemente estou vendo que uma saída para esse problema é a 
virtualização dos quadrinhos. Os e-Comics. 
O problema é descobrir uma forma de cobrar por cada edição e
 a prevenção (Na medida do possível) contra a pirataria. 
Quanto a outros sites, acredito que hoje exista 
diversos blogs fazendo o trabalho como o Bigorna fazia. 
Não com o mesmo alcance. Mas eles podem chegar lá.
 O fato é que estamos recebendo apoio de todos eles.

Tony 23 – Quais foram seus heróis favoritos? 
O que você lia, ou lê?


LÉO: Na minha época de leitor eu gostava muito dos X-Men, 
do demolidor e do Mestre do Kung Fu. 
Da DC, gostava da liga da justiça e dos Novos Titãs. 
Dos nacionais, não conhecia muitos personagens que eu 
me identificasse mas adorava os quadrinhos de terror da Vecchi
 e posteriormente, Press editorial.


Tony 24 – Um grande desenhista ou autor nacional?



LÉO: É complicado indicar só um. Dos Mestres temos Shimamoto, 
Mozart Couto, Watson Portela. Gosto ainda de citar Jean Okada, 
Luciano Félix, Daniel Brandão, Allan Goldman, Carlos Brandino, 
Rosendo Caetano e Rom Freire. 
São tantos que eu poderia passar o dia aqui... 
No campo dos roteiros posso repetir os 
mesmos roteiristas citados acima.



Tony 25 – Um grande autor ou desenhista internacional que você admira?



LÉO: Gosto muito de Ivo Milazzo,  Moebius, Eduardo Rizzo, Brian Hitch, 
Adam Hughes. No campo dos roteiros posso citar Giancarlo Berardi, 
Allan Moore, Grant Morrisson, Mark Millar e Warren Ellins.


Tony 26 – Este ano, editores americanos e europeus decidiram 
investir firme nas webcomics. Você acredita que elas são a solução? 
A Archie Comics, parece que ela se deu bem ao investir nesse segmento.
 Mas, será que vai continuar a loucura? 
OBS: A Archie Comics têm produtos destinados a geração TEAM, 
verdadeiros viciados na WEB.



LÉO: Eu não diria que elas são simplesmente a solução. 
Elas são o caminho natural. Assistíamos filmes no anos 50 no cinema. 
Hoje assistimos em casa em DVDs, na teve aberta, na teve por 
assinatura e, até mesmo, pela Internet.
 Os quadrinhos resistiram muito mais tempo até que uma 
nova forma de consumi-los fosse realmente interessante. 
Com a disseminação dos tablets, acho que que essa hora chegou. 
Portanto, sim. Acredito que os web-comics vieram para ficar.


Tony 27 – Muitos, pelo mundo, afirmam que as Histórias em Quadrinhos, 
que eram consumidas aos montes no passado, perderam feio pros
 games, celulares e para a Internet? 
Concorda com estes pontos de vistas?



LÉO: Concordo. Mas esse não é um problema exclusivo 
dos quadrinhos. Até mesmo a televisão com suas novelas e programas 
diversos está sentindo o mesmo problema. 
Mas, o consumo de outra mídia não exclui totalmente a outra. 
Elas podem até se tornar um nicho. Por exemplo, os jogadores 
de games podem se tornar leitores de uma edição de quadrinhos 
de um jogo. Mas, com certeza, é uma boa briga. 


Tony 28 – É isso aí. Outro dia ouvi alguém dizendo que a grande época 
de vender Quadrinhos já passou e que ela acabou quando a editora 
Abril decidiu parar de lançar HQs. 
As publicações, em banca, estão cada vez mais caras
 e luxuosas. Se tornaram elitistas. Mas, pelo visto, nem a elite tem 
consumido Marvel e DC ultimamente. Qual seria a saída? 
Voltar a lançar produtos com preços mais populares? 
Vendê-las somente via Internet?



LÉO: Eu não saberia dizer em que momento a época de vender 
quadrinhos passou. A verdade é que no Brasil nunca tivemos 
transparência nesse assunto. As editoras nunca disseram qual suas 
tiragens e quanto cada edição vendeu.
 Assim, não dá pra saber exatamente o que está 
acontecendo realmente. Eu acho que o mercado se canibaliza quando
 pública 50 edições por mês com álbuns de luxo e etc. 
O leitor acaba tendo que escolher o que comprar e o que não comprar. 
Pode ser que tenhamos um volume maior de vendas em reais do que 
uma venda por edições. Ou seja, vendemos poucos exemplares mas 
ganhamos mais em dinheiro (falando como um editor). 
Mas a verdade é que não dá pra saber nada e, assim, não dá para
 fazer um diagnóstico verdadeiro. Tudo o que temos é o chororô de 
sempre das editoras (Que já existia nos anos 80 e continua até hoje). 
Não queremos a palavra vazia de quem trabalha lá. 
Queremos dados reais. Nos Estados Unidos essas informações são 
fornecidas mês a mês. No Brasil é a zona de sempre. Falei demais mas
 não disse qual a saída. Para falar a verdade, não sei. 
Preços mais baixos atraem mais leitores enquanto a internet ainda 
não os atinge completamente. Só sei que a livraria não é o melhor 
caminho para recuperar leitores.



Tony 29 – Leonardo Santana, por Leonardo Santana?
 Dá pra se definir, caro bengala friend?



LÉO: Workaholic, inseguro, multitarefa, maníaco-depressivo, determinado, 
maluco, honesto, fiel, justo. Resumindo, um cara legal.


Tony 30 – Haja adjetivos pra se auto definir... (Rsss...). Adorei... 
Planos para o futuro? Planos para o site?



LÉO: Com pouco dinheiro é difícil (Quase impossível) fazer planos mas 
estamos preparando algumas edições especiais para a P.A.D.A. 
(Produtora Artistica de Desenhistas Associados, associação na qual 
eu faço parte) que incluem a volta do ZÉ GATÃO ...
(http://www.prismarte.com.br/pada/?p=858) de Eduardo Schloesser, uma 
recontagem da história do Rei Arthur a partir de um livro pesquisado 
e escrito pelo autor pernambucano Virgílio Campos intitulado 
O SENHOR DOS DRAGÕES (http://www.prismarte.com.br/pada/?p=793), 
o lançamento da SPACE OPERA 03 e a DO ALÉM 02. 
Para a Bodega do Leo, a última novidade que tivemos foi a inclusão
 da venda de originais por grandes nomes dos quadrinhos nacionais como:
 SHIMAMOTO, DANIEL BRANDÃO e muitos outros.


Tony 31 – Uma excelente idéia esta, vender originais dos feras, e que é bastante 
explorada nos sites americanos que vendem estes "artigos preciosos"
a preços extorsivos. E o mais interessante é que sempre há alguém
disposto a pagar uma fábula por essas raras peças artisticas e que
de fato tem seu valor. 
Esta pergunta não pode faltar... aposto que todo mundo tá curioso 
para saber... Em média, quantos pedidos de compra seu site recebe por mês? 
Outro detalhe... dá pra ganhar uma boa grana, com o esquema que
 você montou no site?



LÉO: Sinto dizer que quem pensa que estou montando burros de dinheiro 
por causa do site, está enganado. Faço muito mais por idealismo e 
por achar que eu ajudo muito mais pessoas do que a mim mesmo 
com o site. Obviamente ele não dá prejuízo.
 Mas o lucro chega a ser irrisório.
 Não tenho a mãos a quantidade média de pedidos por mês. 
Mas dá para se ter uma idéia, dá pra dizer que vendo uns 300 reais de
 quadrinhos por mês. Mas é bom lembrar que venda é apurado, 
não é lucro. Eu fico com apenas uma porcentagem desse valor.


Tony 32 – Grande bengala friend e bravo guerreiro, este nosso delicioso bate 
papo está chegando ao final, infelizmente. Foi um prazer trocar idéias contigo.
 Manda aí o seu recado para aqueles que sonham em editar e poder contar
 com um site que exponha e venda bem o seu produto, 
como o BODEGADOLEO...



LÉO: Não desista, não seja orgulhoso, não desista, seja humilde, 
não desista, seja amigo, não desista, colabore, não desista, acredite,
 não desista, não seja preguiçoso, não desista, não arranje desculpas,
 não desista, não perca tempo, não desista. 
A Bodega sempre vai estar aberta a todos vocês.
 Mas o principal é com você. E se você não fizer, ninguém o fará por você.


Tony 33 – Taí a voz da experiência... falou e disse tudo... Bengalas friends, 
não deixem de visitar o site do Léo semanalmente para saber das 
novidades e poder adquirir os novos e sensacionais
 lançamentos. O endereço é...
Um big amplexo pra todos os bengalas friends que acompanham nossas
entrevistas e até nossa próxima entrevista, cowboys!   

MAIS ENTREVISTAS DAS FERAS DOS COMICS NACIONAIS?
MAIS VIDEOS MUSICAIS BACANAS E DE ANTIGOS
SERIADOS DA TV?  LANÇAMENTOS DO MUNDO DAS HQs?

Visite...
http://tonyfernandespegasus.blogspot.com/


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2 comentários:

  1. Mais uma grande entrevista de Tony Fernandes, desta vez com ninguém menos do que Leonardo Santana, de quem sou fã.

    Fã e cliente, já que, pelo menos a acada dois meses, faço uma boa compra de quadrinhos independentes na Bodega do Leo. Foi através dela que conheci o Cometa, do Samicler Gonçalves, grande desenhista que não deve nada ao pessoal que desenha lá fora, e tenho a coleção completa da revista. E também tudo que o Emir Ribeiro lançou de Velta, Nova, Homem de Preto, etc. Já completei toda a obra do Emir, sempre comprando pela Bodega.

    A Space Opera do Leo também é de excepcional qualidade, com aqueles roteiros sempre caprichados, que são sua marca registrada.

    Pena que ainda não vi anúncios da Apache por lá. Rsss

    Grande abraço ao Leo e vida longa para a Bodega.

    Alvarez

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  2. Valeu, Dom Alvarez de La Mancha, honorável bengala friend!É um prazer tê-lo mais uma vez com a gente! Sim, de fato o Leo é um grande cara, que dá uma tremenda força par quem edita HQs independentes nesse país.
    Grato, pela visita, pelo comentário e por ter
    gostado dela. Apareça sempre pra mais um café!

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