Anos
70 - Certo dia, quando fui à banca de jornal comprar mais algumas revistas em
quadrinhos da EBAL (Editora Brasil-América) me surpreendi ao ver que havia um
novo título de um herói escarlate, super veloz. Folheei a edição, formato
magazine, em preto
e branco, gostei dos desenhos e comprei.
Ao ler a história
adorei aquele novo e sensacional personagem,
cujas aventuras abordavam temas
altamente científicos.
Foi assim, que comecei a fazer a minha coleção de...
THE FLASH,
O HOMEM RELÂMPAGO
1940
– Empolgado com estrondoso sucesso alcançado com as aventuras do Homem de Aço
(Superman, publicado na revista Action Comics), o editor da DC Comics (Julius Schwartz)
convocou o escriba Gardner Fox e o desenhista Harry Lampert e lançou um novo desafio: “Preciso que vocês
criem um novo personagem, diferente, que seja um velocista e que use um chapéu
com asas!”O nome desse personagem o próprio editor já havia definido: The Flash.
Excitados, os dois jovens artistas decidiram aceitar o desafio e começaram a
trabalhar na concepção desse novo futuro produto editorial que aquele editor
sonhava em lançar brevemente e obter sucesso.
Algum
tempo depois, o primeiro roteiro e a concepção visual do personagem foram
apresentados para o manda-chuva da poderosa major americana. O roteiro narrava
a história do cientista Jay Garrick, que tinha ganhado velocidade graças a um
acidente químico e que combatia o crime em Keystone City. O editor, após ler a
sinopse daquela HQ aprovou rapidamente tudo.
Curiosamente,
Flash foi o primeiro herói a estrear seu próprio título durante a chamada Era
de Ouro dos Quadrinhos da América.
Ao contrário dos demais personagens, que
inicialmente saiam em outros títulos e que só ganharam uma revista própria após
se consolidarem bem no mercado. O sucesso de Flash foi instantâneo. Dizem que
Julius Schwartz tinha plena convicção disso. Pois, segundo ele, qualquer mortal
que já perdeu uma condução, por questão de segundos, ou que teve que fazer
tarefas atrasadas, logo se identificaria com o personagem. Sonhar em ser veloz
- tema explorado na série -, era o sonho da humanidade desde os primórdios da
civilização. O homem tinha mesmo visão.
Edição # 86 |
Apesar
do tremendo sucesso alcançado por este novo produto editorial, Lampert, o
desenhista, logo deixou a série.
Primeira edição |
NOVOS
ARTÍSTAS
Jovens
desenhistas como Joe Kubert e Carmine Infantino passaram a fazer a série. Eles
acabaram imprimindo estilos bem definidos e distintos nas aventuras do Homem
Relâmpago. Até hoje os traços desses dois mestres da arte sequencial são
considerados os mais dinâmicos de toda a série do personagem, que foi publicada
na década de 40.
As
histórias, A Ameaça da Idade da Pedra e O Flash Revival! São consideradas
clássicas pelos colecionadores e são exemplos nítidos do toque pessoal que cada
um desses dois excelentes profissionais do desenho deram ao personagem.
Apesar
de sua popularidade, The Flash, saiu de circulação no início dos anos 50,
quando os quadrinhos de super-heróis deixaram de vender, no geral. As editoras
entraram em crise. O mercado editorial americano estava virado de ponta cabeça.
Isto,
só tinha um significado: os leitores exigiam novidades. Era preciso inovar ou morrer.
Enquanto
as revistas da DC e de outras editoras tinham vendas cada vez minguadas, uma
pequena editora Timeley (Marvel) estava conquistando público apresentando HQs
de terror e ficção científica criadas por Stan Lee, Jack Kirby e Steve Ditko.
Um
mercado que outrora vendera bem super-heróis e westerns agora estava voltado
para o terror e o suspense.
Ditko |
Wallace Wood |
O
editor da DC fez diversas reuniões com seus colaboradores. Tinha consciência
que para reverter a situação era preciso criar, renovar, mudar tudo. Nos ano 60,
Batman foi salvo da falência graças ao seriado de TV estrelado por Adam West e
Burt Ward. Gradativamente as vendas voltavam a crescer. Foi então que a DC
decidiu ressuscitar o homem mais rápido do mundo, numa nova versão. Novos
roteiros foram elaborados e assim, Barry Allen, um perito da policia de Central
City, entrou em cena e passou a ser a identidade secreta do super-herói. Joe Kubert
e Carmine Infantino foram convocados para remodelar o antigo uniforme do
personagem. Após a modernização e a aprovação do novo visual e dos novos
roteiros, Flash voltou às bancas com sucesso e acabou ressuscitando o gênero de
aventuras de super-seres, que estavam em baixa. Assim, o personagem se tornou o
primeiro grande herói da denominada “Era de Prata dos Quadrinhos”.
Se Jay Garrick – o antigo Flash – só enfrentava vilões e gângsteres num mundo estranho, quase mágico, o novo Flash da Era de Prata vivia suas aventuras num mundo puramente de ficção científica. Dizem que o editor Julius Schwartz, o roteirista John Broome e Gardner Fox passavam horas a fio discutindo os roteiros, pois a idéia era deixar aquelas aventuras incríveis criveis. As novas aventuras deste curioso personagem estavam no limiar daquilo que era considerado o máximo em termos de ciência e tecnologia da época.
COMO
CONVENCER OS LEITORES
QUE FLASH, COM SEUS PODERES,
PODIA ATRAVESSAR PAREDES?
Toda
inovação deve ser pensada, pois uma mudança brusca pode, ao invés de atrair
leitores, afugentá-los. As novas aventuras do Homem Relâmpago apresentavam
situações inusitadas que jamais foram abordadas em qualquer outra revista de
quadrinhos da época.
Na
concepção do roteirista, um dos poderes de Flash era atravessar paredes. “Como
acha que faremos os leitores acreditarem num absurdo desse? Flash, por acaso, é
um super-herói, ou um fantasma?” – indagou
A
solução foi conceder ao personagem o poder de vibrar tanto, em supervelocidade,
que suas moléculas pudessem ultrapassar elementos aparentemente sólidos e
impenetráveis.
Outro
dilema era o fato de que os roteiros mostravam o herói andando pelas paredes
dos prédios. Como explicar isso aos fiéis leitores? A solução foi simples: ele,
ao atingir uma velocidade anormal conseguia contrabalancear as forças da
gravidade.
Numa
dessas reuniões, o editor indagou:
“E
como vamos explicar o que aconteceu com o Flash anterior?”
“Podemos
dizer que existem Flashs de dois mundos paralelos!”, explicou o escriba.
Irv Novik escreveu para os personagens mais famosos da DC |
A HQ
intitulada Flash de Dois Mundos, que explicava o desaparecimento do antigo, foi
um sucesso e um grande marco do mundo das histórias em quadrinhos. Nessa
história Jay Garrick vivia num mundo paralelo – numa terra quase idêntica a de
Barry Allen, ocupando a mesma posição no tempo e no espaço, mas invisível aos
sentidos humanos e totalmente inatingível, por ocupar uma faixa vibracional
diferente. Sem dúvida, uma ideia inovadora e maluca para a época. Esse conceito
de “Multiverso” se tornou fundamental no mundo das HQs de séries de
super-heróis desde então e, o personagem mais rápido dos quadrinhos acabou
influenciado as demais séries do gênero até hoje.
UM
EDITOR MUITO LOUCO
A
história chamada Fato ou Ficção? - Ela foi criada praticamente no escritório de
Julius Schwartz, durante uma dessas loucas reuniões. Quem conheceu o poderoso
homem da DC, afirma que ele era fantástico, meio maluco, e criativo. “O cara
era incrível! Cheio de ideias malucas! Sua mente era futurística, uma espécie de
Isaac Azimov dos quadrinhos. Alguns diziam que aquele lunático era capaz de ter
uma esteira cósmica escondida dentro de uma porta secreta daquela estranha sala
dele”, declarou certa feita, um de seus assessores.
MULTIINIMIGOS
COLORIDOS
O
personagem The Flash, na Era de Prata,
não foi o primeiro a ter uma legião de vilões para contracenar, mas nenhum
outro herói das HQs teve tantos inimigos coloridos que, com freqüência, se
uniam para criar um exército de vilões para tentar destruir o relâmpago escarlate.
Isto pode ser constatado na história chamada O Desafio dos Supervilões. Naquela
edição todos tramam diabolicamente contra o herói. Na HQ Um Noivo a Mais, Ela mostrava uma rixa
pessoal entre o velocista escarlate
(Flash) , e o vilão misterioso que descobriu o que existia além da denominada
“Barreira da supervelocidade”. Este vilão pesquisador sabia o que havia além da
barreira do tempo, que sempre foi descrita pelos demais criminosos como algo tão
terrível e imprevisível que mesmo eles evitavam ultrapassá-la.
UM
ROTEIRISTA CAMPEÃO
Barreira
da Velocidade – Este era o título de uma das mais sensacionais histórias da
série. Esta HQ foi criada por Cary Bates, que assumiu as aventuras do
personagem em 1972 e seguiu até o término da série em 1986, estabelecendo assim
um recorde de trabalho contínuo sem precedentes na história das HQs, com o
mesmo personagem.
Ele
foi o desenhista que mais tempo fez as aventuras de Flash, chegando mesmo a
rivalizar – em termos de longevidade de trabalho com a mesma série-, com Cary
Bates. A arte de Novick definiu de vez o uniforme do velocista escarlate mais
famoso do mundo dos super-heróis para toda uma geração.
A
MORTE DE BARRY ALLEN
Em
1986, o personagem morreu num conflito cataclísmico que ficou conhecido como
Crise Nas Infinitas Terras, uma HQ genial, que reformulou praticamente todos os
personagens da DC. Em honra de Barry, sua identidade de Flash e seu uniforme
foi herdado por seu pupilo, Wally West, também conhecido como Kid Flash. Este
acontecimento inédito no mundo das HQs também foi um grande marco, ao mostrar
um aprendiz de herói seguindo os passos de seu mentor e que acabou fazendo jus
ao seu legado assumindo publicamente o papel para o qual vinha sendo treinado.
UMA
NOVA SÉRIE
Wally,
como o mais novo velocista da DC acabou ganhando em 1987 sua própria revista.
Em sua edição de estreia o roteiro foi escrito por Mark Waid e se chamava
Deslocado no Tempo. A arte ficou por
conta de Mike Wieringo, um grande mestre do traço que acabou ganhando o status
de superstar dos quadrinhos, por sua magistral interpretação de Wally. Segundo
especialistas em HQs, Mike estabeleceu um padrão ultra definido ao jovem
personagem que
jamais foi suplantado até hoje.
UM
CAMPEÃO DE LONGEVIDADE
Apesar
das constantes mutações que ocorreram ao personagem ao longo dos anos, Flash foi
o título mais publicado continuamente pela DC, mais do que qualquer outro de
super-herói, com exceção de Batman e
Superman. As aventuras de Flash o consagraram e ele ainda hoje está no patamar
dos super-seres mais populares do mundo. Não é a toa que o personagem também
virou série de TV, nos anos 80. No Brasil, o seriado foi exibido pela Rede
Globo.
MARK
WAID
Mark
é um escriba criativo, experiente, e incansável. Já escreveu mais de 800 HQs,
de diversos gêneros, uma boa parte delas eram aventuras de Flash. Mark Waid
também escreveu roteiros de HQs bem conhecidas, como: Reino do Amanhã, 52,
Impulso, O Bravo e o Audaz e para a série Legião dos Super-Heróis - um clássico
da DC -, que se tornou verdadeiro fenômeno de venda. Enfim, o escriba tem
grande bagagem.
Segundo
ele, só conseguiu desenvolver sua carreira no mundo encantado dos quadrinhos
graças a Wally West e a Brian Augustyn, que lhe deram chance e dicas preciosas de
como os roteiros de Kid Flash deveriam ser para obter sucesso: dirigidos ao
público jovem.
Estamos
em pleno século XXI, e até hoje as HQs de Flash, o Homem Relâmpago, ainda povoam
as mentes dos mais velhos e o personagem ainda vive fantásticas aventuras que fascinam
a nova geração.
Por
Tony Fernandes
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