Will Eisner e Jack Kirby foram duas figuras
representativas e de imenso valor e potencial para
os quadrinhos americanos e mundiais.
Sem sombra de dúvida, sem esses dois
valorosos guerreiros, sem estas duas feras,
os quadrinhos americanos e mundiais.
Sem sombra de dúvida, sem esses dois
valorosos guerreiros, sem estas duas feras,
os comics não seriam o que são hoje.
Que tal conhecer melhor esses dois monstros
sagrados do comics internacional?
sagrados do comics internacional?
Esta é a nossa finalidade.
Apesar destes terem seus trabalhos altamente
reconhecidos pelos quatro cantos do mundo,
pouco se sabe sobre o passado deles e o que,
de fato, pensavam.
Nesse delicioso bate papo entre esses dois
megastars da indústria dos comics você vai
saber uma pouco mais sobre eles. Confira!
Poucos sabem, mas o jovem Jack Kirby, que mais
tarde iria se tornar o “Rei dos Comics” numa
parceria sensacional com Stan Lee,
começou sua carreira
parceria sensacional com Stan Lee,
começou sua carreira
no estúdio dos consagrados Will Eisner & Iger.
Eisner foi o criador de clássicos como The Spirit e
o Edifício, uma Graphic Novel (lançada no Brasil
pela Abril, na década de 90), que revolucionou
as HQs americanas, trazendo uma nova proposta:
HQs para o público adulto.
O criativo Kirby, que durante anos também fez dupla
com o genial Joe Simon, durante a chamada
“Era Dourada dos Comics”, anos depois, se
tornou o grande parceiro do também genial
Stan Lee. Ambos foram peças fundamentais
para alavancar as baixas vendas do setor editorial
americano, na época, e para tornar popular uma
editora até então pouco conhecida e pouco
expressiva, para que ela se tornasse a
poderosa Marvel Comics. Sem Stan & Kirby,
talvez, a Marvel jamais existiria nos nossos dias.
Durante a famosa e tradicional Convenção
Anual de Quadrinhos em San Diego,na Califórnia,
em 1982, Will Eisner encontrou Jack Kirb
e decidiu entrevistá-lo.
Este bate papo histórico e maravilhoso entre
essas duas grandes personalidades do
quadrinho mundial transcrevo a seguir.
Conheça o...
Conheça o...
BATE PAPO ENTRE AS FERAS
DOS COMICS: Kirby e Eisner!
DOS COMICS: Kirby e Eisner!
Eisner: Jack, nós trabalhamos juntos no estúdio
Eisner & Iger... entre 1937 e 1938, certo?
Kirby: Levei os quadrinhos a sério por trabalhar
com vocês, Eisner & Iger, porque voces
eram sérios. Acreditavam que era um trabalho válido.
eram sérios. Acreditavam que era um trabalho válido.
Eu não passava de um garoto de rua, naquele tempo.
Eisner: Eram tempos difíceis para encontrar
artistas do gênero, com experiência.
Eu contratava quem pudesse desenhar.
Você já tinha feito algum trabalhado
para alguém, antes de trabalhar com agente?
artistas do gênero, com experiência.
Eu contratava quem pudesse desenhar.
Você já tinha feito algum trabalhado
para alguém, antes de trabalhar com agente?
O lendário autor do Spirit realizou inúmeras obras em sua prolífica carreira |
Kirby: Sim. Para Max Fleischer. Fiz animação para ele.
Eu tinha 17 anos e meio.... Trabalhava numa mesa
de 60 a 90 metros de comprimento.
Era uma fábrica. Associei isso ao trabalho
do meu pai. Não queria ser como ele.
Queria minha individualidade. Acho que as gerações
Era uma fábrica. Associei isso ao trabalho
do meu pai. Não queria ser como ele.
Queria minha individualidade. Acho que as gerações
vêem as coisas diferentes das gerações anteriores.
Jack Kirby teve vários artefinalistas nos diversos estilos que fez |
Eisner: Pelo visto, você queria quebrar um elo.
Sair da rotina, sair daquela vidinha em que
você via seus pais levando, não é?
Sair da rotina, sair daquela vidinha em que
você via seus pais levando, não é?
Kirby: Eu queria cair fora daquele gueto onde
vivíamos. Nasci no baixo East Side de Manhattan,
em Essex Street. Cresci na Suffolk Street, um
lugar barra pesada...
Eisner: Eu também nasci na vizinhança da Williams
bridge ... não era longe do seu bairro, meu amigo...
Kirby: O bairro era East Side, território do John
Garfield... John Garfield saiu dali, daquele
esgoto e virou um grande ator norte-americano,
da época. Você sabe, Will...
Garfield... John Garfield saiu dali, daquele
esgoto e virou um grande ator norte-americano,
da época. Você sabe, Will...
Jack também fez muitas HQs de bang-bang até a década de 60 para a Marvel. Um original do grande artista. |
Eisner: Sim, claro... Hoje você é o John Garfield
dos comics (Rsss...).
Kirby: Aquilo era um inferno... eu adorava Edward
G. Robinson (famoso ator de cinema, da época).
G. Robinson (famoso ator de cinema, da época).
Os filmes eram o meu refúgio. O lugar não tinha
nem espaço para jogar futebol ou basquete.
Tinha muita gente por lá.
Lembro que passava minhas férias
Tinha muita gente por lá.
Lembro que passava minhas férias
em escadas de incêndio.
Eisner: Nossos passados são similares. Também
fui criado num bairro pobre. Mas, esse passado
difícil parece que deixou Impressões
diferentes em nós.
Você, pelo visto, cresceu revoltado com a miséria.
diferentes em nós.
Você, pelo visto, cresceu revoltado com a miséria.
Eu era tolerante...
Kirby: Eu não gostava do gueto e tinha medo daquilo.
Will, você sabe, o gueto deixa marcas profundas
por toda a vida. Quem viveu num lugar desse
sabe do que estou falando...
Não sei se chamo isso de
cicatriz ou experiência.
Não sei se chamo isso de
cicatriz ou experiência.
No passado a Marvel lançou muitas HQs de western |
Eisner: Eu Acho que isso se chama experiência
de vida, meu velho amigo.
Kirby: Hoje, olhando para trás, até posso concordar
com você. Experiência de vida... mas, eu
tinha tanto medo daquilo tudo... vivia
fantasiando em sonhos um mundo
tinha tanto medo daquilo tudo... vivia
fantasiando em sonhos um mundo
melhor do que aquela cruel realidade em que
vivíamos, eu e a minha família.
Eisner: Você já parou para pensar sobre essa raiva,
que sentia daquele lugar?
que sentia daquele lugar?
Acho que é ela que dá esse vigor, esta tremenda
força no seu desenho... seu traço pesado, vigoroso,
forte, é um reflexo direto disso, sabia?
Kirby: É, as vezes penso que
a raiva pode até salvar
a raiva pode até salvar
uma vida. Penso que a raiva pode fazer
você dar uma guinada na vida.
Acho que os gangsters devem
você dar uma guinada na vida.
Acho que os gangsters devem
ter o mesmo tipo de conceito, exceto os que foram
para um lado diferente, é óbvio. Quando Fleischer
mudou os estúdios para a Flórida, minha mãe não
me deixou ir para lá, sabia?
Eisner: Não, mas minha mãe também
não me deixou trabalhar no teatro
ambulante como cenógrafo porque era
"uma vida terrível",segundo ela. (Rsss...).
não me deixou trabalhar no teatro
ambulante como cenógrafo porque era
"uma vida terrível",segundo ela. (Rsss...).
Tira de jornal (original). Série: Skywalker. Lápis: Kirby - artefinal: Wallace Wood |
Kirby: Eu queria ir para Hollywood. Sonhava em ser ator.
E minha mãe não me deixou ir. A depressão estava
no auge, e o pouco dinheiro que eu trazia para
casa ajudava nas despesas. Minha mãe também
tinha medo que perdêssemos o contato.
Ela precisava comprar comida e
contava com a minha ajuda.
Ela precisava comprar comida e
contava com a minha ajuda.
Tempos difíceis...
Eisner: Naquela época acho que
a maioria das famílias esperavam
que seus filhos contribuíssem.
a maioria das famílias esperavam
que seus filhos contribuíssem.
Eu vendia jornais e aqueles poucos dólares
que eu ganhava nos proporcionava uma mesa
respeitável nas noites de sexta (Rsss...).
Original. Detalhe da tira Skywalker feita por Wallace Wood e Jack |
Kirby: Eu era um garoto preocupado com a situação,
com a família, como muitos que conhecemos.
Eu também cheguei a vender jornais, Will.
Eisner: Eu vendia os meus em Wall Street, Jack.
Kirby: Um bom lugar, aquele... Eu era um bom
vendedor de jornais, eu acho.
Eisner: Eu também. Mas eu me complicava dando
troco na hora do rush. Eu conseguia US$ 3,50 por
semana e isso era um dinheirão em 1934.
Kirby: Bota dinheirão nisso... mas, você era mais
paciente do que eu, pelo visto.
Eisner: Bem ... voltemos a falar de Eisner & Iger...
Kirby: Tínhamos uma relação muito boa profissional.
Claro, nós éramos amigos. Me lembro que eu
admirava você e Jerry, vocês eram bons
profissionais. Qualquer coisa que voces tivessem
me pedido para fazer, na época, eu teria feito.
Pois, com vocês, caras mais velhos e experientes,
eu sempre estava aprendendo alguma coisa.
Queria aprender a ser bom, como vocês, para nunca
Queria aprender a ser bom, como vocês, para nunca
mais ter que voltar para aquele gueto. Se você
tivesse me pedido para marchar até a Rússia,
eu teria ido, Will. Juro.
Eisner: (Rsss...). Lembro, de fato, que tínhamos
um bom relacionamento. Você, eu e Lou Fine.
um bom relacionamento. Você, eu e Lou Fine.
Kirby foi o primeiro a fazer HQs para mulheres, histórias românticas |
Kirby: Lou e Jerry, eles eram grandes caras,
grandes amigos... mas, sempre
achei que com você eu tinha
grandes amigos... mas, sempre
achei que com você eu tinha
muito a aprender, Will...
Eisner: Para com isso, Jack... vão pensar que paguei
à você para me elogiar, para dizer isso... (Rsss...).
Kirby: Digo isso porque é a pura verdade.
Certa vez, me comparei com alemães da SS.
Eles eram profissionais.
Certa vez, me comparei com alemães da SS.
Eles eram profissionais.
Foi aí que eu percebi que para sobreviver na "guerra"
eu tinha que ser como eles: profissionais em combate,
eu tinha que ser como eles: profissionais em combate,
também. Mas eu não era. Eles eram
e eu sabia que só poderia
vencer na vida
se fosse como eles.
vencer na vida
se fosse como eles.
Eisner: Você tocou num ponto fascinante...
Kirby: Em suma, eu queria ser como Will
Eisner e Jerry Inger.
Eu lembro da nossa sala.
Sua mesa era perto da minha.
Você desenhava num papel já
com o requadro feito.
Eisner e Jerry Inger.
Eu lembro da nossa sala.
Sua mesa era perto da minha.
Você desenhava num papel já
com o requadro feito.
Eisner: Você fazia uma boa parceria com Lou Fine?
O parceiro Joe Simon |
Kirby: Não, eu nunca me dei bem com ninguém,
exceto Simon. Digo, como parceiro de trabalho.
Depois, da minha longa carreira com Joe Simon.
exceto Simon. Digo, como parceiro de trabalho.
Depois, da minha longa carreira com Joe Simon.
Sempre trabalhei sozinho.
Eisner: Você e Simon eram como Jerry Siegel e
Joe Shuster (Os criadores do Super Homem).
Kirby: Exato. Éramos como eles. Nós não éramos
apenas parceiros, mas profissionais que procuravam
realizar um produto vendável. E eles, por sorte,
vendiam bem, Will.
Eisner: E como vendiam... me lembro bem!
Kirby: Tínhamos uma relação super profissional.
Claro, nós éramos grandes amigos, também.
Mas tínhamos passados diferentes.
Joe era da classe média e eu nunca tinha
conhecido alguém da classe média.
Admirava o pai de Joe porque ele
parecia um político e os políticos no
meu bairro tinham poder.
Ele era um tipo que mandava homens
por aí com US$5 para conseguir votos.
Lembro de um sujeito que veio dar US$5
para o meu pai votar no
Partido Democrático.
Claro, nós éramos grandes amigos, também.
Mas tínhamos passados diferentes.
Joe era da classe média e eu nunca tinha
conhecido alguém da classe média.
Admirava o pai de Joe porque ele
parecia um político e os políticos no
meu bairro tinham poder.
Ele era um tipo que mandava homens
por aí com US$5 para conseguir votos.
Lembro de um sujeito que veio dar US$5
para o meu pai votar no
Partido Democrático.
Na mesma semana, eu estava em uma aula de
Civismo na escola e me disseram que isso era
errado e que eu deveria ter jogado o sujeito
escada abaixo (Rsss). Eu não achei que o tal sujeito
estava corrompendo o meu pai.
Eisner: Lembro de ter visto muito disso no
condomínio em que eu vivia.
Kirby: Nós estávamos tentando nos descobrir
naquela época, né?
Eisner: Naquela época você já era um artista realista,
bom demais. Lembro de seus desenhos quando fez
O Conde de Monte Cristo...
Kirby: Eu trabalhava duro, Will. Não só para
mim mesmo, mas achava que tinha que produzir
uma boa revista para os leitores e também para você,
que eu sempre respeitei e admiro. Sua opinião,
para mim, até hoje, vale ouro. É muito importante...
Etapa inicial de uma prancha fantástica |
Página finalizada, após a aplicação de "pesos", ou seja, claros e escuros |
Eisner: Você era sério e eu gostava disso.
Vamos falar de estilo e técnica. Você estudou arte?
Kirby: Eu fui para um lugar chamado
Education Alliance, apenas por um dia.
Me mandaram embora porque eu
desenhava depressa demais (Rsss...).
Education Alliance, apenas por um dia.
Me mandaram embora porque eu
desenhava depressa demais (Rsss...).
Eisner: Você sempre desenhou bem e tem
estilo marcante, diferente.
Kirby: Acredite, aquilo era um processo
agonizante para mim.
Eisner: Era? Parecia tão fácil, você era tão rápido.
Você se baseava em algum livro de anatomia?
Estudou muito anatomia?
Kirby: Não, eu fazia a coisa por instinto era muito
observador. Observava os gangsters e os tiras (Rsss...).
Eisner: Você se baseava em alguma
coisa, para criar aquelas figuras
impressionantes?
coisa, para criar aquelas figuras
impressionantes?
Kirby: Sim, eu tirava idéia dos filmes.
Acho que sempre
Acho que sempre
fui fã dos filmes da Warner Bros.
Eu chegava a assistir o mesmo filme
sete vezes e minha mãe ia me tirar do
cinema, pela orelha (Rsss...).
Eu era fanático por aqueles filmes de
gangsters... Eu acho que a naturalidade e o drama
Eu chegava a assistir o mesmo filme
sete vezes e minha mãe ia me tirar do
cinema, pela orelha (Rsss...).
Eu era fanático por aqueles filmes de
gangsters... Eu acho que a naturalidade e o drama
nos filmes me influenciaram muito.
Eisner: Você trabalhava com pena e tinta e depois
passou a fazer tudo a pincel.
Mas, lembro-me bem... seu
desenho a lápis era detalhado.
Mas, lembro-me bem... seu
desenho a lápis era detalhado.
Kirby: Eu não queria ser um Leonardo da Vinci,
mas adorava quadrinhos e queria ser
melhor que os concorrentes.
melhor que os concorrentes.
Eisner: Você estudava o trabalho
dos outros colegas de profissão?
Como Milton Caniff (autor da famosa tira
dos outros colegas de profissão?
Como Milton Caniff (autor da famosa tira
Terry e os Piratas), por exemplo?
Kirby: Eu via Hal Foster (autor de Príncipe Valente).
Amava a fluidez de Alex Raymond. Ele tinha uma
naturalidade nas suas figuras que eu adorava.
Caniff tinha um jeito de usar sombras que eu
gostava muito, também. Esses grandes mestres,
ele foram a minha escola. Eu ainda acredito que
um homem é uma escola para outro.
Eisner: Bem, você sempre teve uma espécie de
dinamismo que sempre foi inerente em tudo
aquilo que você faz.
Kirby: Só posso chegar à conclusão de
que isso veio do medo de voltar pra
aquele maldito gueto, pra aquela
que isso veio do medo de voltar pra
aquele maldito gueto, pra aquela
vida miserável...
Original com layers aplicados. Kirby fez muitas HQs românticas de sucesso |
Eisner: Esse “medo” em sua vida passou a ser
uma alavanca que o conduzia sempre em frente, Jack.
Ele, em sua vida, teve um significado importante.
Não sou psicólogo, mas é uma
motivação compreensível.
Trabalhar firme, para evoluir e jamais pensar em
motivação compreensível.
Trabalhar firme, para evoluir e jamais pensar em
voltar para trás, regredir...
Kirby: É, acho que é por aí... eu tinha medo de falhar.
Tinha medo de ser medíocre. Enfim, muitos medos...
Eisner: Ok, vamos em frente... você deixou o nosso
estúdio amigavelmente? Foi para a Fox. Não foi isto?
Kirby: Fui. Mas, nunca respeitei Victor Fox,
como profissional.
Para mim ele era apenas um patrão,
como profissional.
Para mim ele era apenas um patrão,
como outro qualquer.
Eisner: Fox não parecia Edward G. Robinson?
Kirby: Ele era Edward G. Robinson,
uma espécie de poderoso chefão,
um gangster empresarial.
uma espécie de poderoso chefão,
um gangster empresarial.
Ele se achava o "Rei dos Quadrinhos".
Eisner: Ele era um homem de negócios. Tinha vindo
de Wall Street, Jack.
Kirby: Negócios, eu não entendia e nem queria
entender nada daquilo...
Eisner: Você alguma vez pensou nos quadrinhos
como uma forma de arte, do jeito que um escritor
pensa em relação a sua literatura? Ou seja,
como uma obra de arte, de verdade?
Original. Arte para uma capa com os espaços reservados pros textos |
Guia de cor |
Resultado final. Capa publicada |
Kirby: Não. Eu fazia quadrinhos apenas porque
aquele era o meu jeito de ganhar a vida.
Você faz suas próprias inovações e,
de repente, pode cair nas graças do
público-leitor. Essa é uma das razões pelas
Você faz suas próprias inovações e,
de repente, pode cair nas graças do
público-leitor. Essa é uma das razões pelas
quais eu sempre acreditei
no povo. Ele sabe distinguir
no povo. Ele sabe distinguir
o que é diferente, o que é bom...
Eisner: Você diria que aprendeu
muito imitando os outros?
muito imitando os outros?
Kirby: Odeio dizer isso, mas creio
que sim. Todos nós humanos
somos macacos, adoramos
que sim. Todos nós humanos
somos macacos, adoramos
imitar alguém (Rsss...).
Eisner: Hummm ... Interessante esta sua análise!
Kirby: Se nós desenhamos, queremos sempre
fazer melhor do que os outros. Não concorda?
Eisner: Bem... acho que é isso que realmente
nos motiva a continuar nessa difícil
e maravilhosa profissão.
Sempre queremos ser melhores do que os outros,
e maravilhosa profissão.
Sempre queremos ser melhores do que os outros,
isso nos move.
Kirby: Não tenho dúvidas. Todo mundo quer fazer,
tentar superar a si mesmo e aos demais.
Para tal feito precisamos tomar decisões, imaginar
metas. Eu acho que todo quadrinhista, antes de
tudo, é um grande tomador de decisões.
Eisner: É... acho que você tem razão... afinal, estamos
tomando decisões enquanto fazemos um layout,
tomando decisões enquanto fazemos um layout,
por exemplo.
Kirby: Estamos sim... é nessa hora que devemos
decidir se o trabalho está bom ou ruim... se não
parece bom, tem que ser mudado.
E assim que todos nós acabamos
nos transformando num profissional.
E assim que todos nós acabamos
nos transformando num profissional.
o que é ruim... No íntimo isto parece,
a nós, artistas, uma espécie de
a nós, artistas, uma espécie de
conquista pessoal.
Jack Kirby, você tem algo que
Jack Kirby, você tem algo que
gostaria de dizer ao mundo?
Kirby: Não tenho nada para dizer ao mundo (Rsss...).
Eisner: Então, na sua opinião, o motivo porque
fazemos HQs é porque estamos
sempre em busca de algo novo, tentando
nos superar? É um mero desafio?
sempre em busca de algo novo, tentando
nos superar? É um mero desafio?
Somos como os atletas?
Kirby: Sim. O atletas fazem a mesma coisa.
Tentam sempre bater um recorde, superar as marcas.
O artista gosta e também almeja isto, sempre.
Trata-se de uma busca constante. Eu reconheço
um desenho seu de longe.
Você tem estilo, Will. Você conquistou um
estilo próprio, inigualável... isto só
aconteceu depois de anos de busca...
mas, você chegou lá... é um campeão.
estilo próprio, inigualável... isto só
aconteceu depois de anos de busca...
mas, você chegou lá... é um campeão.
Eisner: Você não acha que ao longo da
nossa carreira profissional, talvez
tenhamos influenciado alguém,
profissionalmente falando?
nossa carreira profissional, talvez
tenhamos influenciado alguém,
profissionalmente falando?
Kirby: Eu não acho que influenciei ninguém, não.
Eisner: Mas, segundo sua própria teoria,
todos nós acabamos servindo de
modelo para alguém... (Rsss...).
Sendo assim, é fácil concluir que você
sempre foi
modelo para alguém... (Rsss...).
Sendo assim, é fácil concluir que você
sempre foi
um modelo para alguém.
Kirby: Pode até ser, Will... mas já fui um anônimo,
um zero à esquerda. Mas eu não queria
ter sido o que fui.
Eisner: Então você está me dizendo a diferença entre
o Jack Kirby do East Side e o Jack de hoje?
Kirby: Estou dizendo que hoje tenho um conhecimento
para responder para qualquer um. Conhecimento
se adquiri com o tempo, é óbvio...
Eisner: Você se refere à sua arte, seu desenho
ou sua composição?
Kirby: Joe Simon e eu fomos os primeiros
a criar os quadrinhos românticos, você sabe...
a criar os quadrinhos românticos, você sabe...
Eisner: Foi uma série muito importante.
Lembro-me bem dela... nela, o que
você fazia exatamente?
Lembro-me bem dela... nela, o que
você fazia exatamente?
E o que o Joe fazia?
Kirby: Nós discutíamos muito para criar a trama,
o enrêdo, e na maioria das vezes eu acabava
escrevendo a história.
Eisner: O diálogo também?
Kirby: Sim. História e diálogo.
Eisner: Joe me disse que não tinha muita certeza
disso, mas então era você que escrevia a maioria
daquelas belas histórias?
Kirby: Sim. A função de Joe era negociar
com os editores. Ele era mais alto que eu.
Eles não levariam a sério o baixinho aqui.
Além disso, ele era repórter do Syracuse Journal.
Eu admirava tremendamente Joe por
causa disso. Admirava ele por ter
estudado, por ser da classe média,
com os editores. Ele era mais alto que eu.
Eles não levariam a sério o baixinho aqui.
Além disso, ele era repórter do Syracuse Journal.
Eu admirava tremendamente Joe por
causa disso. Admirava ele por ter
estudado, por ser da classe média,
por ter presença e ser um bom vendedor,
Eisner: Minha relação com Lerry Iger era parecida
com a de voces. Ele era um bom vendedor e eu
era péssimo, muito tímido.
A única diferença entre nós e vocês é
que ele era baixinho e treze anos mais velho
A única diferença entre nós e vocês é
que ele era baixinho e treze anos mais velho
que eu (Rsss...).
Kirby: É... tem gente que leva jeito para negócios.
Em geral, desenhistas e autores, são péssimos
negociantes... (Rsss...).
Eisner: É. Jerry era como Joe Simon arrumava
clientes facilmente.
Mas voltemos aos romances...
Você escrevia e Joe vendia, certo?
Mas ele também desenhava,
clientes facilmente.
Mas voltemos aos romances...
Você escrevia e Joe vendia, certo?
Mas ele também desenhava,
pelo que sei...
Kirby: É. Ele desenhava. Joe sempre foi um
grande artista. Além disso, é um dos
melhores letristas que já conheci.
grande artista. Além disso, é um dos
melhores letristas que já conheci.
Fazia belos anúncios.
Eisner: Ele desenhava muito para publicidade, não é?
Kirby: Sim. Ele sempre foi um profissional completo.
Eisner: Então na série de romances, você criava
ou escolhia uma história...
Kirby: Às vezes juntos.
Mas isso nunca preocupou Joe...
Mas isso nunca preocupou Joe...
Ele queria era ter um bom produto
para vender aos editores.
para vender aos editores.
Eisner: Então vocês escolhiam a história e vocês
começavam a escrever o roteiro. Inclusive os
balõezinhos e o lay-out?
balõezinhos e o lay-out?
Kirby: Você bem sabe que eu sempre tive facilidade
para escrever.
Eisner: Alguam vez, você fez o lápis para o Joe
passar a tinta, Jack?
passar a tinta, Jack?
Kirby: Muitas vezes trabalhávamos assim.
Joe passava a tinta, artefinalizava,
e fazia o letreiramento.
Joe passava a tinta, artefinalizava,
e fazia o letreiramento.
Eisner: Qual era o método de trabalho? Você fazia
os balões primeiro e depois o lápis?
Kirby: Exatamente. Aos costumes... (Rsss...).
Eisner: Do modo como eu lhe ensinei a fazer
na Eisner & Iger? (Rsss...).
Kirby: Sempre segui a risca suas instruções,
mestre... (Rsss...).
mestre... (Rsss...).
Eisner: Lembro que o seu lápis
era muito detalhado e qualquer um
podia passar a tinta nele.
era muito detalhado e qualquer um
podia passar a tinta nele.
Kirby: Meu lápis era, de fato, meticuloso.
Além disso, nós (Joe e eu) ficamos
conhecidos como "o gatilho mais rápido do
Oeste". Produzíamos aos quilos,
com uma certa qualidade...
Além disso, nós (Joe e eu) ficamos
conhecidos como "o gatilho mais rápido do
Oeste". Produzíamos aos quilos,
com uma certa qualidade...
Eisner: A dupla Simon & Kirby era uma
combinação clássica como foi Siegel & Shuster.
Todos sabem disso. Formaram uma
grande e imbatível dupla.
combinação clássica como foi Siegel & Shuster.
Todos sabem disso. Formaram uma
grande e imbatível dupla.
Kirby: Pode-se dizer que sim. Ao menos,
produzimos e publicamos muito na época.
produzimos e publicamos muito na época.
Eisner: Obviamente isso mudou mais tarde quando
você foi para a Marvel e você arrumou um novo parceiro:
Stan Lee. Mas isso fica para depois.
Kirby: Stan Lee e eu também fizemos uma bela
dupla de criação.
Eisner: Voltando a falar do passado... Você acha que
Joe mudou seu estilo para se adaptar ao seu?
Kirby: Negativo. Não dava tempo.
Eisner: Entendo, Jack... naquela época nós éramos
como fábricas... produzíamos em massa, aos quilos...
tamanha era a demanda...
Kirby: Exato, você disse bem...
Nós fabricávamos
Nós fabricávamos
depressa a matéria prima (HQs) porque
os editores precisavam vender
revistas rápido e constantemente.
os editores precisavam vender
revistas rápido e constantemente.
E elas vendiam muito bem. Se eles não
faturassem nós também ficávamos
sem ver a cor do dinheiro.
Enfim, precisávamos uns dos outros.
faturassem nós também ficávamos
sem ver a cor do dinheiro.
Enfim, precisávamos uns dos outros.
Eisner: Joe disse que vocês eram o número dois ou
três no mercado, em matéria de produção. Isto é fato?
Kirby: Sim, Will. Nós éramos mesmo. Principalmente,
quando os super-heróis apareceram no mercado
na década de 30.
na década de 30.
Eisner: Qual foi o seu primeiro super-herói?
Kirby: Capitão América. Eu e Simon o criamos.
Eisner: Para quem você o fez?
Pranchas originais |
Kirby: Para a Atlas. A Atlas ainda não era a Marvel.
Stan Lee não tinha aparecido ainda.
Ele veio depois;
Ele veio depois;
ele era jovem, lembro dele
sentado na minha prancheta,
sentado na minha prancheta,
tocando flauta, interferindo
no meu trabalho.
no meu trabalho.
Eisner: É mesmo? Joe Simon disse que tinha
empregado ele como office-boy.
Kirby: Exatamente. Eu era sério no meu trabalho
e Stan nunca foi sério a respeito de nada.
Era muito jovem. Acho que ele tinha 16 ou 17 anos.
Eisner: Vamos voltar ao Capitão América.
Você e Joe trabalhavam juntos
nesse herói, usando a mesma
Você e Joe trabalhavam juntos
nesse herói, usando a mesma
fórmula de sempre? Isto é, você escrevia e
desenhava, Joe artefinalizava e fazia as letras?
Diga-me... Joe chegou a fazer algum lápis do Capitão?
Kirby: A fórmula de trabalho era exatamente a
mesma, Will. Não, ele nunca fez um lápis do
Capitão América.
Eisner: Ok. Eu queria apenas
ter certeza disso (Rsss...).
ter certeza disso (Rsss...).
Kirby: Às vezes, quando a coisa apertava
eu também acabava passando a tinta.
eu também acabava passando a tinta.
Eisner: O relacionamento entre vocês dois
era mais uma parceria de negócios
do que intelectual, artistica, certo?
era mais uma parceria de negócios
do que intelectual, artistica, certo?
Kirby: Sim. Era simplesmente uma parceria
de negócios. Nosso negócio era criar
produtos que fossem vendáveis.
de negócios. Nosso negócio era criar
produtos que fossem vendáveis.
Sem as vendas, não somos ninguém,
você sabe... o que consagra um artista são
as vendas, é óbvio.
Tínhamos perfeita ciência disso...
sempre.
você sabe... o que consagra um artista são
as vendas, é óbvio.
Tínhamos perfeita ciência disso...
sempre.
Eisner: Não tinham qualquer
afinidade intelectual, de fato?
afinidade intelectual, de fato?
Kirby: Isto era impossível, mestre...
Ele era classe média
Ele era classe média
e eu apenas um pobre garoto
de rua, sem qualquer
de rua, sem qualquer
bagagem cultural.
Eisner: Pra você, Joe Simon caiu do céu. Ele era como
uma espécie de irmão mais velho seu, Jack.
Kirby: Sem dúvida. Nós precisávamos um do outro.
Eisner: Joe, uma vez, mencionou que vocês
moravam perto de Long Island.
Kirby: Isso foi depois, muito tempo depois.
Fomos morar num lugar decente, finalmente.
Mas, estou lhe falando do comecinho.
Melhorei muito, nos últimos anos.
Até me intelectualizei (Rsss...).
Melhorei muito, nos últimos anos.
Até me intelectualizei (Rsss...).
Eisner: Iger e eu não tínhamos uma relação
intelectual, também, assim como você e Joe.
Ele só pensava em negócios!
No estúdio eu tinha diálogo apenas com
artistas como Lou Fine. O papo entre eu e Iger era
puramente comercial.
Kirby: Na verdade, tive poucas afinidades na vida.
Quando menino, eu tinha afinidade com um amigo
que foi baleado e sua mãe se suicidou.
Eisner: Oh, isso é terrível, isto deve ter te marcado.
Bem... voltemos a falar do Capitão América...
Nota do articulista: Pode parecer sacanagem,
mas este maravilhoso e esclarecedor
bate papo estava planejado para continuar
numa das próximas edições de
“Will Eisner’s Spirit Magazine”, que era
editada pela Metal Pesado.
Mas, esta revista, pelo visto, ficou
apenas na primeira edição (1997) e a
entrevista nunca mais foi publicada na
íntegra por ninguém, em português.
mas este maravilhoso e esclarecedor
bate papo estava planejado para continuar
numa das próximas edições de
“Will Eisner’s Spirit Magazine”, que era
editada pela Metal Pesado.
Mas, esta revista, pelo visto, ficou
apenas na primeira edição (1997) e a
entrevista nunca mais foi publicada na
íntegra por ninguém, em português.
Fazer o que, né?
Ao menos pudemos conhecer um pouco
mais dessas duas feras das HQs americanas.
mais dessas duas feras das HQs americanas.
Jack Kirby, “O Rei dos Comics” morreu no
dia 7 de fevereiro de 1994.
O genial Will Eisner, criador do “Spirit”
morreu em 3 de janeiro de 2005, aos 87 anos.
Partiram desta orbe, mas deixaram
um legado inesquecível.
dia 7 de fevereiro de 1994.
O genial Will Eisner, criador do “Spirit”
morreu em 3 de janeiro de 2005, aos 87 anos.
Partiram desta orbe, mas deixaram
um legado inesquecível.
Não percam em...
http://tonyfernandespegasus.blogspot.com
A sensacional entrevista com a desenhista...
NEIDE HARUE...
autora de Drácula, um clássico que foi adaptado para
as HQs pelo mestre\escriba Ataide Bras e
editado pela Nova Sampa Diretriz!