quarta-feira, 13 de março de 2013

MULHERES FORTES E REBELDES DO VELHO OESTE! Matéria especial!



Série: O VELHO OESTE SELVAGEM - 1

Raramente pudemos ver uma mulher sendo protagonista de uma história passada no velho Oeste. Os antigos filmes produzidos por Hollywood sobre essa época, e até as histórias em quadrinhos desse gênero - que foram populares no passado -, mostravam a figura feminina sempre relegada a um segundo plano, fugindo da realidade. Assim como essas antigas películas e HQs apresentavam os altivos e nobres indígenas sempre como meros selvagens, também coube ao chamado “sexo frágil”, a condição de mera coadjuvante na história da conquista do velho Oeste selvagem americano. Essas imagens deturpadas e estereotipadas jamais fizeram jus tanto aos índios quanto as mulheres. Por isso, decidi estrear essa série de matérias sobre esse fascinante período da história da humanidade com essa matéria curiosa que revela a verdadeira face das...

MULHERES FORTES E
REBELDES DO VELHO OESTE


Etta Place ao lado de Sundance Kid


Na segunda metade do século XIX o Oeste 
americano estava sendo explorado com maior 
intensidade. Existiam poucas mulheres na 
maior parte das regiões inóspitas e selvagens. 
Enquanto milhares de homens cavavam 
alucinadamente o solo em busca de ouro 
ou conduziam manadas de longhorns, se 
apossavam de terras e matavam í
ndios como se fossem moscas, pequenos 
grupos de mulheres do Oeste decidiram se livrar 
dos grilhões em que tinham sido mantidas, 
durante séculos, pelos homens. No princípio, 
apenas algumas mulheres que rumaram para o 
Oeste notaram que tinham certas vantagens sobre 
suas iguais que habitavam no Leste, pois a escassez 
de mulheres na fronteira elevava o status delas. 

Mulher, naquela região, era um artigo raro e, portanto, 
mais valorizada por aqueles homens rudes
 e carentes que estavam preocupados em 
acumular riqueza e não se preocupavam em
 reforçar as antigas leis sociais, que mantinham 
todas que usavam saias subservientes. 
Segundo os códigos civis da época elas eram 
consideradas crianças, idiotas e criminosas. 
As mais astutas perceberam que naquela
 terra sem lei, pelo menos temporariamente, 
nada poderia impedi-las de fazer o que bem 
entendessem. No Oeste, o ritmo de vida 
não era fácil, era dura a luta pela sobrevivência
 e muitas vezes essas situações adversas
 forçavam as mulheres a trabalharem ao lado
 dos homens exercendo tarefas que 
anteriormente eram tidas como exclusivamente
 masculinas, principalmente no civilizado Leste.


Ann Oakley


PLEITEANDO POR IGUALDADE

Foi nesse período que algumas mulheres
 descobriram que podiam se igualar aos 
homens na maior parte das funções, nos momentos 
de dificuldades, onde as experiências inesperadas
 eram comuns para ambos os sexos que tinham 
se aventurado pela fronteira.
 Muitas dessas mulheres se revelavam melhores do que os homens no que se referia a sobrevivência. Um grande exemplo disso, aconteceu no final do terrível inverno passado pelo grupo de Donner, quando ele e seus seguidores ficaram presos nas neves da High Sierras. Por falta de alimentos, uns tiveram que acabar comendo a carne dos que ali pereceram. Nessa terrível experiência todas as mulheres sobreviveram,
 enquanto oito entre dez homens sucumbiram.


Rose de Cimarron, famosa assaltante
de bancos
Na verdade, ao longo da década de 1850, as mulheres do Oeste se desvincularam das leis e dos costumes repressivos dos séculos passados, assumindo certa liberdade, dando início a um processo de emancipação feminina que vem se firmando cada vez mais até hoje. 
Naquela época remota, algumas mulheres de fibra 
invadiram literalmente os domínios considerados 
sagrados pelos homens, como: a política, os 
negócios, as profissões e até mesmo a fiscalização das leis.
Essas corajosas mulheres assumiram esses 
cargos de forma tão eficiente e de forma tão
 hábil que eles, os machões, nem se deram c
onta do que estava acontecendo.



Charles Goodnight é sonsiderado o
"Pai dos Cowboys"

CHARLES GOODNIGHT

Esse movimento feminino arrojado despertou a atenção de Charles Goodnight, que também ficou conhecido como: “O Pai dos Cowboys”, 
que era proprietário de um rancho milionário no Texas. 
Ele, de imediato passou a desenvolver e a produzir 
uma nova sela lateral feita especialmente para
 mulheres, justamente na hora errada, quando elas 
começaram a montar com as pernas abertas.
Elas estavam cada vez mais ativas e 
competitivas e chegavam até a participar de rodeios. 
As primeiras amazonas da América, elas estavam 
fartas de agradar seus senhores.
 Não estavam mais dispostas a atravessar as
 planícies e as Montanhas Rochosas cavalgando 
em posições incômodas nas selas laterais 
criadas por Goodnight, que 
lhes torciam a espinha para o lado. 
Por isso, o projeto das celas laterais 
do milionário texano fracassou.





O SULFRÁGIO FEMININO

Em 1867, surgiu o Movimento do Sulfrágio Feminino no território do Kansas, quando com o apoio da oratória de George Francis Train, elas pleitearam pelo direito de votar, numa época em que as mulheres eram destituídas do direito político. Susan Anthony e Lucretia Mott, as líderes das sulfragistas do Leste, estavam cientes de que as mulheres do Oeste, aos poucos, estavam se livrando da tirania dos homens e dos grilhões. Apesar de toda a luta não obtiveram êxito na primeira tentativa. Dois anos depois, mais para o Oeste, no território do Wyoming, nova tentativa ocorreu e desta feita as feministas, por fim, ganharam o direito de votar, graças a habilidade de Esther McQuigg Morris, de South Pass City. Ela convenceu com habilidade os diversos candidatos dos partidos políticos de oposição a
 apoiarem o sulfrágio feminino no Wyoming.

Joseph Smith e o livro
Ensinamentos para Presidentes

A CONQUISTA

Após as eleições, os democratas controlavam o legislativo e os republicanos o gabinete do governador. Para embaraçar seus oponentes, os democratas aprovaram uma lei garantindo o direito de votação das mulheres, na esperança de que o governador republicano a vetasse. Entretanto, o governador surpreendeu seus adversários políticos e acabou assinando a lei. Assim, pela primeira vez, as mulheres dos Estados Unidos conquistaram o direito de votar no território do Wyoming cinqüenta anos antes da emenda constitucional de 1920 conceder este direito 
para todas as mulheres americanas.

Os homens, assustados, lutaram contra os direitos
 femininos adquiridos, até que o estado do 
Colorado finalmente capitulou, em 1893. 
Durante aquele longo período, um grupo
 considerável de batalhadoras pelos direitos
 femininos eclodiu por todo o Oeste, séculos 
antes de nascer a feminista Betty Fredman. 
Algumas mulheres lutavam pelo
 direito do voto, outras pelo direito a propriedade
 e até pela igualdade social e
 a plena liberdade sexual. Muitas dessas
 valorosas mulheres acabaram 
sendo esquecidas ao longo da história do velho 
Oeste, outras entraram para a história, como: 
Esther Morris, Calamity Jane, Laura Fair, Belle Starr, Cattle Kate, 
Carry Nation, Mary Ellen Lease, Clarissa Nichols e outras. 
Convém lembrar que Ann Eliza Young, a
 esposa rebelde do pastor Brigham Young, que
 residiu na única parte do Oeste onde havia 
excesso de mulheres foi uma 
das figuras mais importantes desse período.


Calamity James



SAIBA QUEM FOI ANN ELIZA YOUNG

O nome dela de solteira era Ann Eliza Webb.
 Ela nasceu em 13 de setembro de 1844, ao
 lado da casa da família de Brigham Young, 
na cidade de Nauvoo, Illinois. Young, 
quando tinha dois anos de idade, convenceu 
o pai dela, Chauncey Webb, a ter mais 
do que uma mulher. 

Quando Ann Eliza tinha 12 anos, convivia com 
cinco esposas que moravam na casa de seu pai, 
enquanto ele vivia viajando em suas missões
 missionárias de expansão. 
A menina que era sensível e que vivia numa 
casa cheia de intrigas de mulheres 
briguentas passou a ter ódio mortal da bigamia 
e passou a hostilizar todos os homens.
A família da pequena Ann Eliza foi uma das 
primeiras a chegar à bacia do Lago Salgado 
em 1848. Durante sua adolescência Ann se 
tornou uma bela jovem que atraía os olhares
 dos adeptos da poligamia que eram mais
 velhos e que tinham predileção por ninfetas. 
Apesar de também incentivar a ideia de 
bigamia propagada por Brigham Young, obviamente, o pai 
da menina desencorajava esses pretendentes mais velhos e
 a estimulava a comparecer nos acontecimentos 
sociais em que freqüentavam j
ovens que tinham a mesma idade dela.

Aos 17 anos, Ann Eliza achou que estava apaixonada pelo irmão 
mais novo de Emmeline Free, que era a décima segunda mulher 
do fundador da religião mórmon, Brigham Young.
Emile também era chamada de “A Luz do Harém”. 
O belo rapaz chamado Finley Free, irmão 
de Emmeline, sempre levava 
Ann Eliza ao magnífico teatro - templo -, que 
o chamado “Leão do Senhor”, Brighan Young,
 mandou construir em Salt Lake City para que 
seu povo pudesse se alegrar e orar. Segundo consta, 
certa noite o pastor viu por acaso a garota e o rapaz juntos ao templo.
No dia seguinte, foi à casa de Webb e avisou a mãe de Ann Eliza que acabasse com aquele namoro, pois julgava que 
a família Free só tinha gente baixa e sem valor moral.
Anos depois, Ann Eliza recordava da raiva que sentira
 de seu pai, que se inspirava no chamado “O Profeta do 
Senhor”, quando decidiu pedir ajuda as suas 
amigas adolescentes.
Segundo historiadores, Brigham estava decidido 
que Ann Eliza se entregasse aos seus caprichos, 
não por afeição especial, mas para puni-la, 
por ela ter dito certa feita que repudiava aquele 
sujeitinho velho e odioso, que era ele.



A numerosa família de Joseph Smith
A CASA DO LEÃO

Quando ela completou 18 anos, Young ordenou que entrasse para a companhia dramática do seu teatro e que se mudasse para a Casa do Leão, local onde ele mantinha suas diversas mulheres e filhos. Assim, ela passou a viver com as filhas mais velhas do pastor, 
que também estudavam arte dramática.

O PRIMEIRO MATRIMÔNIO

Foi no palco que Ann Eliza conheceu seu primeiro marido, James L. Dee, um inglês de boa aparência, cujas moças acreditavam ser um bom partido. A coisa foi amor à primeira vista. Decidiram se casar no dia 4 de abril de 1863. Ela se dedicou de corpo e alma ao marido, que a tratou de forma egoísta. Segundo ela, James era mandão e dominador, como os demais homens daquela época. O marido tinha ataques furiosos de raiva e a ameaça constantemente. Logo depois da lua de mel, ele já estava procurando por outra mulher. Mesmo assim, ao longo de dois anos de um casamento tempestuoso ela lhe deu dois filhos. Mas, quando Dee
 começou a espancá-la ela decidiu se divorciar dele. Seus pais a
conselharam ela a procurar Brigham Young que,
 como chefe da igreja, tinha o direito de 
conceder o divórcio aos membros da sua seita.
Sem pestanejar, ela seguiu à risca os conselhos do pastor e decidiu entrar para as cortes regulares, em vez de depender do divórcio concedido por ele, pois era consciente que só teria validade na comunidade dos mórmons.
Por fim, ela se viu divorciada e feliz, pois recuperara 
sua dignidade, liberdade e paz de espírito. 
Levou seus dois filhos para viverem 
na fazenda dos Webbs, em South Cottonwood.



UM PODEROSO PRETENDENTE

Num domingo, no verão de 1867, Brigham Young chegou em South Cottonwood para pregar na improvisada igreja local. Ann Eliza estava na congregação e se sentiu pouco a vontade sob os olhares do profeta pregador, que condenava o alcoolismo e o vestuário pouco discreto das mulheres em geral. Ann Eliza, de imediato, se sentiu mal. Achava que ele desaprovava suas vestimentas.
Quase cheguei a me levantar e fugi... tive vontade de fazer isso para me livrar daqueles olhos penetrantes.... senti seu poder, como nunca tinha sentido antes, e comecei a compreender um pouco como ele obrigava tanta gente a fazer suas vontades.”, declarou a mulher, anos depois.
No final do culto ele a procurou e elogiou as vestes dela, disse também que ela era bonita e que portanto deveria ter muitos pretendentes. Ela afirmou que sim, mas que não estava disposta a aceitar mais ninguém.
Naquela tarde, Young fez uma visita à residência dos Webbs, onde teve uma longa conversa com o pai de Ann.
Em seguida, partiu. O velho Chauncey Webb contou a filha, de 23 anos, que Brigham Young desejava ser o marido dela. Ela, constrangida, disse ao progenitor que não poderia casar com aquele profeta idoso de 66 anos e que mantinha duas dúzias de mulheres ou mais sem seu harém particular. Com muito custo, ela persuadiu seu relutante pai a dizer ao pretendente idoso que não desejava contrair matrimônio com ele.

CHANTAGEM EMOCIONAL

Young passou a enviar a ela e ao pai diversos presentes na esperança de conquistar a simpatia e o coração da bela jovem. Ao sentir sua estratégia falhando, o pastor envolveu o irmão dela, Gilbert, num problema financeiro terrível que o levou à falência e assim passou ameaçá-lo 
de excomungá-lo da igreja.


BRIGHAM YOUNG

É impossível narrar a história do velho Oeste sem citar o nome desse homem, que teve grande importância nessa conquista, e o de Joseph Smith, fundador da seita dos mórmons. Afinal, até uma tropa composta por mórmons foi enviada ao front durante a Guerra de Secessão.


YOUNG: MINI BIOGRAFIA

Ele nasceu em Vermont, no segundo no do século XIX. 
Quando jovem decidiu ir para o Oeste através do estado de
 New York. Trabalhou como carpinteiro, pintor e vidraceiro.
 Em 1830 ele vivia num povoado fronteiriço perto de
 Rochester. Ali se casou com uma mulher frágil que lhe 
deu duas filhas e depois tornou-se inválida. 
Ele tinha que levantá-la da cama 
toda manhã, após ter vestido e alimentado as crianças. 
Brigham tinha as mãos cheias de calos,
 ombros largos e musculosos, não usava barba e 
era um tipo bem afeiçoado, com cabelos castanhos 
avermelhados que lhe cobriam as orelhas,
 conforme a moda da época.
Como a maioria de seus vizinhos ele se filiou a uma espécie de metodismo wesleyiano primitivo. Mesmo assim, vivia desafiando a fé, por 
não conseguir encontrar respostas aos enigmas da vida.



COMO SURGIU A SEITA DE JOSEPH SMITH

Em Ontário, condado vizinho de Vermont, Joseph Smith, aos 17 anos, alegou ter sido visitado por Moroni, um suposto mensageiro dos céus, que revelou ao rapaz que havia um registro sagrado gravado em placas de puro ouro numa colina chamada Cumorah. Smith afirmou que escavou e encontrou essas placas, traduziu-as para o inglês – tal qual a versão bíblica feita pelo rei James, porém sem a mesma força poética. Nas tais placas, ainda segundo o rapaz, existiam relatos de antigos profetas oriundos de Israel para os Estados Unidos. Revelou também que alguns descendentes desses supostos profetas eram índios americanos, mas que no decorrer dos séculos suas práticas religiosas tinham se corrompido, quando as tribos más conseguiram triunfar sobre as boas. Desse conflito entre bons e maus só havia restado Moroni, que era do bem.




O LIVRO DOS MÓRMONS

Após terminar as traduções das placas supostamente sagradas estas foram devolvidas a Moroni, informou o adolescente. Inicialmente o jovem Joseph Smith arregimentou seguidores entre sua vizinhança. Onze daqueles que aderiram a seita mais tarde afirmaram que também viram as tais placas e que chegaram até erguê-las nas mãos. Um deles vendeu sua fazenda para mandar imprimir em Palmyra, Nova Iorque, cinco mil exemplares do Livro dos Mórmons, que tinha as traduções de Joseph Smith.

UM METODISTA QUE VIROU MÓRMON

Quando um dos exemplares do Livro dos Mórmons chegou às mãos de Brigham Young ele o leu de cabo a rabo, com especial interesse. Depois da visita dos missionários da nova Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, de Joseph Smith, ele, um metodista, foi convencido a se converter para a nova seita. O que mais o atraia na doutrina era que ela pregava que a felicidade era a expectativa de vida. Gostava da citação do Segundo Livro de Nephi, capítulo dois, versículo 25, que dizia:”Os homens podem encontrar a alegria.” Young jamais encontrara alegria no metodismo. Um considerável número de outros americanos irriquietos, que também tinham ido para o Oeste, sentiam-se da mesma forma que ele e acabaram aderindo a nova doutrina. A doutrina mórmon em pouco tempo se alastrou por quase todo o país. Mas devido a contínua perseguição que sofriam seu seguidores, muitos tiveram que mudar do estado de Nova Iorque. Muitos encontraram refúgio em Kirtland, em Ohio. O fluxo contínuo de mórmons acabou rapidamente triplicando a população desse local.


BRIGHAM YOUNG E JOSEPH SMITH

Eles se conheceram no ano de 1832.
Eu queria trovejar e ribombar o evangelho para todas as 
nações...” – disse Young ao fundador da seita, que profetizou 
que um 
dia ele, Brigham Young, iria presidir aquela igreja.
Doze anos depois esse dia chegou, quando os seguidores invejosos de outras religiões levaram os mórmons à margem do rio Mississippi, em Nauvoo, Illinois. Lá, bem na fronteira do território indígena, esse povo que sabia trabalhar bem com as mãos construiu uma nova Sião. Ao redor do belo templo construíram uma cidade de alvenaria, que se tornou a maior de Illinois, que atraia milhares de convertidos diariamente vindos do Leste. Empolgado, o Young partiu em missão para a Inglaterra, para divulgar as suas mensagens divinas. Lá recrutou homens entre os marginais de Liverpool e Manchester. Em seguida, percorreu outras regiões da Grã-Bretanha em busca de homens que tivessem as mãos calejadas e que estivessem dispostos a ouvi-lo. Muitos desses ingleses convertidos foram para Nauvoo, na América. Os políticos de Illinois de imediato foram ao encontro deles 
na expectativa de conquistar novos eleitores.

Templo em Salt Lake City

EM CHICAGO

Nessa época, Chicago era apenas um vilarejo. Os mórmons de Nauvoo promoveram o equilíbrio de poder entre os liberais, conservadores e democratas. Com o tempo, este poder dos mórmons se revelou ser um desastre para eles e os políticos passaram a temê-los. Outras igrejas que lutavam para conquistar adeptos na fronteira
 Oeste ficaram ressentidas desse poder 
mórmon e planejavam destruí-lo.

O “CASAMENTO CELESTIAL”

Ao regressar para a América, Joseph Smith, o fundador e líder da doutrina, informou a Young que tivera uma revelação divina, instruindo os mórmons a aderirem a poligamia. Smith chamou isto de “Casamento celestial” e afirmou que quanto mais mulheres o homem tivesse, maior seria sua glória no reino do céu. Inicialmente Brigham repudiou a ideia. Pouco tempo depois, ele e Smith começaram a arranjar muitas mulheres. Young se casou com quatro entre junho de 1842 e maio de 1844. A quarta esposa dele tinha apenas 14 anos. Na época, a prática da poligamia era secreta, conhecida apenas pelos membros da seita. Mesmo entre os mórmons havia aqueles que condenavam tal pratica e muitos acabaram renunciando a igreja.

SURGEM OS PRIMEIROS BOATOS

Quando os dissidentes da doutrina mórmon buscaram outros caminhos religiosos, começaram a surgir boatos sobre licenciosidade que ocorriam em Nauvoo. Esses boatos se espalharam por Illinois e pelo Missouri.


UM PASTOR NA PRISÃO

1844. No dia 7 de junho desse ano, dois apóstatas publicaram um jornal que acusava a igreja de pregar a poligamia. Imediatamente, Joseph Smith e seu Concílio dos Doze ordenaram que a impressora daquele jornal fosse destruída, ato impensado que rendeu aos inimigos declarados da seita o pretexto que esperavam para acabar com o crescente poder dos mórmons em Nauvoo. As autoridades estaduais prenderam Smith, que foi mandado para uma prisão próxima de Carthage. Um grupo armado de camponeses que odiavam mórmons, na tarde de 27 de junho, invadiu a prisão e mataram o fundador da doutrina. Foi assim que Joseph Smith se tornou o primeiro líder religioso a ser assassinado nos Estados Unidos.

O HERDEIRO

Tudo levava a crer que a igreja alquebrada que Smith fundara estava preste a desaparecer. Isso só não aconteceu devido a vontade ferrenha de Brigham Young, que ao assumir a seita fragmentada, conseguiu milagrosamente manter a união entre a maioria dos seguidores. Antes de entregar Nauvoo para a população revoltada, ele acrescentou a sua coleção de mulheres várias viúvas de Joseph Smith, o mártir. Depois, levou seus crentes para o Oeste, após deduzir que os mórmons só poderiam viver em paz isolando-se de um governo que parecia determinado a acabar com eles. O governo, ao invés de oferecer proteção aos mórmons, como 
garantia a constituição, passou a perseguí-los.

UM LUGAR ESPECIAL

Para se livrar das perseguições, ele desejava encontrar um lugar indesejável que ninguém pudesse cobiçar. Após consultar mapas feitos por antigos exploradores encontrou o que procurava no território que pertencia ao México, no deserto desvalorizado do Grande Salgado.
Foi no verão de 1847, que Young levou através das planícies inóspitas: 143 homens, três mulheres e duas crianças, num comboio de 73 carroças.

JIM BRIDGER

No dia 28 de junho, em Big Sandy, Brigham 
Young conheceu Jim Bridger, que estava 
rumando para o forte Laramie. O novo líder dos mórmons convidou imediatamente o veterano homem das montanhas para acampar com os mórmons, pois sabia que ele deveria ter valiosas informações sobre a bacia do Lago Salgado. Jim aconselhou o pastor
 a não levar muita gente para aquela região árida, desértica.
Somos guiados por Deus!”, disse Young. 
E afirmou que vislumbrou aquele lugar sagrado num sonho.
Bridger zombou do religioso e apostou mil dólares caso os mórmons conseguissem, de fato, fazer brotar naquela
 bacia árida do Lago Salgado a primeira colheita de milho.
Young não gostou nada daquilo. Uma certa frieza se desenvolveu entre aqueles dois homens, que só tinham em comum a tara por várias mulheres.

O PODER DA FÉ

Em 24 de julho Brigham chegou no lugar que tinha vislumbrado num sonho e ficou lá até morrer, 30 anos depois, como um governante absoluto e líder supremo de seus seguidores, fundindo a igreja ao estado, ditando preceitos religiosos, a economia, a política e até as atividades sociais. Convenceu o seu povo de que aquele lugar inóspito era sagrado e forçou-os a sobrepujar as secas, as pragas, a escassez de madeira, as geadas, a falta de mercado e o transporte público. Ensinou eles a obter água derretendo a neve das montanhas que davam para o vale, tornando-o verde. Graças a boa pastagem os rebanhos aumentaram. Construiu teatros para dança e diversões, escolas, pois sabia que era impossível o homem ser salvo vivendo em plena ignorância. Ergueu templos para casamentos, batismos e para pregar suas 
mensagens aos membros de sua doutrina.

FINAL DA GUERRA CONTRA O MÉXICO

Com o término da guerra entre Estados Unidos e México, quando a bacia do Lago Salgado tornou-se parte do território americano, Young através de uma petição pediu que seu estado, Deseret, fosse anexado à União. Porém, sua petição foi recusada, por Deseret ter uma população pouco representativa. Visando aumentar a população local, ele enviou missionários por todos os estados e até para países estrangeiros. Assim, centenas de novos convertidos migraram para o estado criado por ele. Entretanto, não era a falta de população que mantinha os mórmons fora da União, como tinham alegado anteriormente. O motivo era a poligamia praticada por seus adeptos e que não era aceito pelos puritanos, embora apenas 5% das famílias mórmons fossem polígmas. Assim, Deseret passou a ser um território fechado de Utah, consideravelmente reduzido em relação a área original reinvindicada pelo novo líder supremo da doutrina. Foi permitido que ele continuasse a governar a região, mas foi obrigado a aceitar as leis dos juízes federais.

TRASNGREDINDO AS LEIS

Ignorando completamente as fronteiras 
territoriais de Utah, Young e seu concílio 
estabeleceram povoações mórmons ao
 norte e ao sul, assim como na costa do Pacífico. 
Buscaram por pontos estratégicos onde 
pudessem controlar as rotas de viagens 
para dentro e para fora de Utah, entre elas
 o forte Bridger. Com o pretexto de que Bridger
 estava vendendo armas aos índios, e desta
 forma estava incitando-os a guerra, uma 
força paramilitar composta por 150 mórmons 
expulsou Bridger e sua família para as montanhas. 
Destruiram seu posto de comércio, esvaziaram 
seus prédios e levaram todo o seu gado. 
Em seguida, estabeleceram seus próprios
 pontos comerciais ao longo das
 encruzilhadas e das trilhas.

Enquanto isso, uma onda de revolta contra 
os mórmons se alastrava por todo o país. 
Histórias sobre haréns, meninas forçadas a 
se casarem, comportamentos considerados 
bestiais, planos de expansão territoriais, 
maus tratos àqueles que não pertenciam a 
seita viraram manchetes dos jornais do Leste. 

Os mórmons reagiram a essas denúncias
 tornando-se xenófobos, suspeitando de todos 
os atos vindos do governo 
federal. Tal situação só serviu para fortalecer 
ainda mais Young em sua louca batalha para
 obter o absoluto poder. Desafiou as cortes que
 o acusavam de administrar um governo clerical, 
despótico, perigoso e condenado. Mas, na verdade, 
toda essa pressão era em função da poligamia
 propagada pela doutrina. Em 1857, o então 
presidente James Buchanan afirmou que 
Young e seus seguidores estavam em estado 
de revolta contra o governo americano e, em maio
 daquele mesmo ano, ordenou que um exército marchasse do 
forte Leavenworth e invadisse o Reino dos Santos.



A VINGANÇA DE BRIDGER

Jim Bridger serviu de guia para a expedição 
invasora, recuperou seu forte, de onde tinha 
sido expulso pelos mórmons, e arrendou-o 
ao exército para servir de base para suprimentos.
No dia 15 de setembro, Brigham Young anunciou que iria resistir e que lutariam com a espada do Senhor. Promulgou uma lei marcial em Utah e ordenou que sua gente evacuasse as cidades e fosse para o campo para iniciar uma guerrilha. Nesses combates o exército da União sofreu muitas baixas e fiascos lutando com um inimigo invisível. A estratégia usada pelos mórmons foi excelente: atacaram comboios de suprimentos e assim quase fizeram os soldados da federação morrer de fome e de frio durante o cruel inverno. Nesse período, Young fez diversas denúncias aos jornais e se tornou uma celebridade nacional. Declarou em mudar toda a sua colônia para o México ou para o Alasca que pertencia aos russos para escapar dos “mercenários armados” que o governo mandara contra sua gente. Enquanto isso, nos bastidores rolava negociações
 entre os representantes governamentais e de Young.

O ACORDO

As hostilidades tiveram fim em abril de 1858, quando o líder dos mórmons acabou aceitando as leis de um governador não-mórmon, considerado pagão. Os Estados Unidos concordaram em retirar suas tropas após um imponente marcha por Salt Lake City, para demonstrar a supremacia da República Federativa Americana. Nada mudou. Brigham Young continuou a governar sua igreja, que era Utah, e ignorou todas as cruzadas feitas contra a bigamia e acabou acrescentando mais algumas mulheres ao seu harém. Seus filhos se tornaram tão numerosos que precisou criar uma escola só para eles.
Ele tinha se tornado uma figura mundial e passou a ser visitado por celebridades que passavam por Salt Lake City. Segundo Horace Greeley, que o entrevistou, Young era um homem forte, de 55 anos, que parecia amar a vida e que não tinha pressa alguma de ir para o céu.
Sir Richard Burton, que viera da Inglaterra esperando encontrar um hedonista com um harém igual aos existentes no mundo árabe, viu nele um “gentil fazendeiro”. Na realidade, aquele homem simples de aspecto honesto era considerado por seus seguidores como um anjo de luz. Mas seus desafetos o consideravam como um duende amaldiçoado.

UM LEÃO FRUSTRADO

Assim, aquele que também se autodenominava o “Leão do Senhor” floresceu, criando um verdadeiro império. Mas nunca conseguiu anexar o território de Utah à União, apesar de ter lutado muito porque sonhava em transformá-lo num estado da Federação. Muito tempo
 após sua morte e da poligamia ser abolida da doutrina mórmon é que Utah
 se tornou um estado. Isso só ocorreu em 1896.

A MULHER PERFEITA?

Uma mulher pequenina quase dobrou o
 espírito de Brigham Young. Ela ficou conhecida 
com a Mulher # 19, porém na verdade vinha muito abaixo na lista das mulheres do pastor. Segundo alguns pesquisadores, ela era a mulher 51. 
Seu nome era Ann Eliza Webb. Ela era apenas uma menina 
quando Young fez acordo com o exército e só 
surgiu em cena anos mais tarde. Num período que 
passou a ser considerado como “A Época 
da Revolta das Mulheres no Velho Oeste.”

JOGO SUJO

Para salvar a pele do irmão – que Brighan Young 
havia endividado e ameaçava expulsá-lo 
da doutrina-, ela concordou em ser supostamente a décima nona mulher daquele insistente pastor. Segundo afirmam alguns, na verdade ela foi a vigésima sétima ou possivelmente a qüinquagésima mulher de Young. Por algum tempo o líder religioso manteve o casamento em segredo das suas outras esposas. Enviou-a para uma casa isolada em Salt Lake City.
Anos depois, ele declarou numa entrevista concedida ao The New York Times: “Meu casamento com Ann Eliza foi uma bobagem... os pais dela me convenceram a fazer isso. Só me casei para o bem dela. Ann era uma viúva bonita, boba e fútil. Nasceu perto da minha casa, 
seu pai era Chauncey Webb. Eu a batizei quando tinha 16 anos...”.
Também disse que ela havia se casado 
anteriormente com outro homem, que não 
se lembrava o nome, e que este teve 
o bom senso de se afastar dela e dos dois filhos. 
Alegou que os pais da jovem o tinham importunado 
para que ele se casasse com ela, que era infiel. Ainda
 segundo Brigham, Ann Eliza chegou a mandar 
a mãe embora só para ficar em companhia de vários homens.
Um homem batizado mais tarde em nossa 
igreja jurou que havia pecado com Ann, 
muitas vezes.” – sentenciou o religioso.

UMA ESCRAVA

1870. Foi na primavera, que Young transferiu
 sua nova esposa de Salt Lake City para um local 
chamado A Fazenda, que ficava a sete quilômetros da cidade. 
Lá encarregou ela apara cuidar da produção de leite e seus derivados, para suprir suas outras mulheres e filhos. Durante três anos ela foi escravizada naquele lugar ermo. Quando Young mandou-a voltar a Salt Lake City, Ann alegou que ele não procedeu assim por ter alguma consideração para com ela, sabia que ele desejava por outra pessoa em seu lugar.
Ao ser questionado, por um jornalista, sobre a declaração feita por Ann, que o acusava de escravagista, ele retrucou: “...Ela nunca fez nada para mim na vida, a não ser me enganar e me fazer de bobo. No próprio dia em que ela fugiu com um sujeito de Boston, que estava viajando a negócios para uma casa de móveis, ela saiu e fez uma compra de mais de 
cem dólares na loja da cooperativa.”

BUSCANDO LIBERDADE

No dia 15 de outubro de 1873, Ann Eliza decidiu fugir do domínio do pastor Brigham Young, exatamente um mês depois que ele mandou ela para uma casinha de Salt Lake City, sem lhe dar condições de suprir suas necessidades básicas. Para manter a si própria e seus filhos ela passou a hospedar pessoas nessa casa cedida pelo pastor, para sobreviver.
O término da ferrovia Transcontinental, em 1869, levou muitos não-mórmons para Salt Lake City, onde estavam abrindo negócios, igrejas e jornais. O pastor, evidentemente, acreditava que esses pagãos seriam facilmente convertidos para sua seita, visto que ele próprio outrora fora metodista. Por isso, deu permissão para que ela hospedasse esses “pecadores”.

O RELATÓRIO DA POLIGAMIA

Dentre esses hóspedes estavam o juiz Albert Hagan, um agente de mineração e sua mulher e James Burton Pond, um repórter que não era mórmon que escrevia para o jornal Tribune of Salt Lake City. Um destes deu a Ann um exemplar do Relatório da Poligamia de Utah escrito por Fanny Stanhouse uma inglesa que tinha vivido durante 20 anos como mórmon e que havia se rebelado contra a doutrina da igreja, por causa do seu endosso ao matrimônio triplo. Imediatamente, Ann, que se sentia humilhada e insultada, viu refletido naqueles relatos sua própria vida. E, de fato, encontrou seu próprio nome no referido livro, onde aparecia como uma das muitas mulheres do velho pastor.

DIVORCIAR OU NÃO? EIS A QUESTÃO!

A mulher lutava para se livrar das garras 
de Brigham Young. Mas não foi nada fácil 
para uma moça nascida na seita mórmon
 romper com ela. Sabia que ao romper com 
os mórmons teria que divorciar do pastor
 e abandonar aquela casa que ele lhe dera 
e que rendia algum dinheiro. 
Foi rebatizada e aceita pelo reverendo C.C. Strantton,
 pastor da nova igreja Metodista de Salt Lake City.
 Dias depois, procurou seus amigos que não 
eram mórmons e fez planos para se afastar do domínio de Brigham.
Para levantar dinheiro, leiloou todos os bens de sua casa. Alferiu 380 dólares com a venda dos seus objetos e com aquela pequena fortuna e contando com seus solidários hóspedes se mudou às escondidas para o Walker House, um hotel que não pertencia a nenhum mórmon, que em sua grande maioria dominava o comércio da região. Este famoso hotel era usado como Q.G. pelo governador de Utah e outros delegados daquele território, todos nomeados pelo governo americano. Entre eles estava o juiz James B. McKean, um homem que lutava contra a poligamia.
Apesar disso, Ann Eliza se sentia desamparada.

UM ESCÂNDALO NACIONAL

Foi graças ao repórter James Pond que a história real de Ann veio à tona nas manchetes dos jornais locais e de todo o país, após o telegrafo enviado por esse jovem da imprensa para a Associated Press.

MULHER DE BRIGHAM YOUNG FOGE EM BUSCA DA LIBERDADE!
A POLIGAMIA SOFREU UM DURO GOLPE!” – anunciaram as manchetes.

O povo americano ficou boquiaberto com as revelações contidas nos jornais. A reação foi imediata. Empresários teatrais, artistas e especuladores das mais remotas partes da nação passaram a enviar milhares de telegramas endereçados para Ann, que continuava residindo naquele hotel. Ela ficou desnorteada. Surgiram muitos convites. Alguns pediam para ela realizar palestras. Jornaleiros gritavam seu nome pelas ruas do país. A chamada “Esposa rebelde do pastor” passou a ser muito solicitada para dar entrevistas. Esses seus novos “amigos”, ansiosos por atacarem de forma mortal a poligamia pregada por Brigham Young pediam a ela que agisse com severidade contra o suposto enviando de Deus. O juiz Hagan se ofereceu para cuidar do divórcio; o reverendo Startton convidou para ser metodista; James Pond insistiu terminantemente para que ela fosse a Washington contar sua história tenebrosa no congresso, prevendo 
que ela seria uma lucrativa fonte de renda, 
caso a convencesse a realizar uma série
 de palestras, tendo ele como seu empresário.

A PALESTRANTE

Ele a convenceu de que era sua obrigação 
ir a capital americana expor os males da poligamia.
 Ajudou-a a preparar uma palestra e para 
dar início ao seu plano armou uma primeira
 reunião para a palestrante no próprio 
hotel Walker House. Centenas de pessoas
 compareceram ao evento. Isso acabou
 incentivando-a ainda mais a continuar aquela jornada. 
“Fiquei impressionada com o número de
 pessoas que vieram me ouvir”, disse ela.
O líder religioso, entretanto, declarou: “O juiz Hagan 
e alguns metodistas daqui encheram a cabeça dela com palestras e a mulherzinha boba vem viajando desde então, lendo suas composições 
de colegial sobre os mórmons, quando toda a sua participação no
 caso se deriva do fato dela ter sido a 
primeira mulher de Brigham Young, ou, 
como a corte decidiu, a décima nona amante.”

UMA CELEBRIDADE

Ann Eliza partiu de Salt Lake City de uma forma melodramática, criada por Pond. Ela afirmou aos repórteres que temia ser seqüestrada e assassinada. No dia 27 de novembro, acompanhada por um pequeno grupo de amigos, entrou numa carruagem e viajou 60 quilômetros através do manto negro da noite para Uintah, uma parada da estrada de ferro Union Pacific. Embarcou num trem que a levou até a distante cidade de Washington.
Porém, o espertalhão Pond decidiu desembarcar com ela em Laramie, no Wyoming, onde organizou uma palestra e fixou 
o preço de 1 dólar e meio – um preço alto para a época. O auditório ficou lotado e assim ele pode testar a habilidade dela em falar para estranhos.

ESPERTO EMPRESÁRIO

Ele se surpreendeu com a habilidade de sua protegida e com a curiosidade que ela fez despertar na platéia que ansiava em saber coisas sobre a vida íntima do pastor. Da cidade de Laramie foram para Denver, fazendo lotar outro salão de palestra. Imediatamente, o esperto empresário providenciou uma segunda palestra para a noite seguinte. As palavras citadas por Ann, nessas palestras, de imediato se espalharam 
por todo o país, devido aos despachos feitos pelos jornalistas locais. 
Outras cidades e vilarejos passaram a exigir a visita da palestrante.

REDPATH

A agência de Redpath ofereceu garantia
 substancial por uma série de 50 palestras. Pond, o empresário, 
convenceu-a a aceitar. Assim, da noite para 
o dia aquela mulher se tornou uma celebridade.
Sua palestra em Washington teve que
 ser adiada por cinco meses, pois a agenda da
 esposa rebelde de Brigham estava
 repleta de compromissos por todo o país. 
As histórias contadas por 
ela sobre o harém do pastor levavam
 a curiosa platéia ao delírio.

ANN NO CONGRESSO

Na primavera de 1874, finalmente, ela chegou em Washington. 
Foi recebida pelo congresso com pompa,
 como se fosse uma rainha. James G. Blaine,
o presidente da câmara, acompanhou-a até
a bancada, onde ela foi ovacionada em delírio. 
O presidente Ulisses Grant assistiu às primeiras 
palestras, aplaudiu suas observações e
 no final foi cumprimentá-la.
A publicidade que ela conseguiu obter após
 a palestra feita na capital do país fez aumentar
 ainda mais conhecida e os pedidos para que 
ela percorresse outras cidades e estados 
dando palestras aumentou.



Da primavera até o verão de 1974, Ann percorreu 
diversas salas de palestras pelo país.
Agosto de 1874. Suficientemente segura ela decidiu voltar a Utah e fazer mais seis conferências agendadas pela agência de Redpath. O povo se acotovelava para ver aquela mulher corajosa, pequenina, de olhos azuis brilhantes, que tinha um rosto bonito e um sorriso largo nos lábios, pelas ruas de Salt Lake City. Ela, de repente, tinha se tornado uma celebridade nacional. Tantos os mórmons quanto aqueles que não pertenciam a essa igreja foram ouvi-la na igreja metodista de Salt lake City. O pastor Brigham Young enviou um grupo composto por suas filhas que se sentou logo na primeira fila para fazer caretas para a palestrante.
Em vez de me aborrecer e fazer com que 
eu ficasse totalmente nervosa, como esperava o profeta, aquilo só me deu mais força ao meu objetivo... um novo ardor para as minhas palavras.” – confessou a mulher, 
após a tumultuada palestra.

A PEREGRINAÇÃO

Ann continuou a excursionar pelo Oeste
 durante todo o inverno e depois de um breve descanso reiniciou sua peregrinação pela América em trens sacolejantes, hotéis desconfortáveis e platéias cada vez mais exigentes. No ano de 1876, ela publicou um livro chamado Mulher Nº19, ou A História de Uma Vida de Servidão. A obra, embora fosse mais com o objetivo de abalar a estrutura dos mórmons do que uma autobiografia, foi um sucesso nos pontos de vendas e acabou renovando o interesse do público que continuou exigindo a presença dela.
Final da década de 1880. Ann Eliza ainda fazia excursões anualmente, oito meses por ano. Entretanto, aos poucos, o público foi perdendo o interesse por suas palestras. O preço do ingresso teve que ser abaixado para que os auditórios lotassem. Numa dessas viagens ela conheceu Moses Denning, que a convidou para ser hóspede em Manistee, Michican. O homem ficou tão apaixonado por ela que lhe propôs casamento, após se divorciar de sua mulher. Ann estava com 38 anos.

A ÚLTIMA PALESTRA E
O TERCEIRO MARIDO

Ela aconteceu no dia 24 de abril de 1883, Nessa data Ann Eliza fez sua derradeira palestra na cidade de Napoleon, em Ohio. Um mês depois, se casou com Mose. Este seu terceiro matrimônio durou dez anos, a maior parte deles infelizes, a julgar pela ação de divórcio.
Assim, graças a separação, mais uma vez 
ela se tornou uma mulher livre. 
Passou a viver uma vida obscura. Brigham Young
 já havia morrido há muito tempo. Sua igreja
 tinha abolido a poligamia e Utah passou 
a ser um estado como qualquer outro dos Estados Unidos. 
Em 1903, Ann estava vivendo em El Paso, Texas, 
numa rua com o nome de um homem que 
tinha sido muito importante na retomada do
 Sudoeste dos mexicanos – James Magoffin. 
Em 1907, ela voltou para o Leste com a 
expectativa de reescrever seu livro, chamando-o 
agora de: Vida na Servidão Mórmon.

Thomas S. Mosson, atual
líder Mórmon

FINAL DE CARREIRA

Este trabalho editorial foi lançado em 1908, porém o público não estava mais interessado nas histórias narradas por Ann Eliza Young, que sonhava em continuar faturando alto com aquele rico filão que descobrira, por acaso, no passado. Na época do lançamento dessa sua última obra ela tinha 74 anos. Nunca mais ninguém ouviu falar sobre a mulher que se revoltou contra o pastor e denunciou corajosamente a bigamia. Ninguém jamais teve notícias de como e quando ela faleceu.
Os polêmicos personagens dessa história real se foram há muito tempo. Mas a religião fundada por Joseph Smith, em 1844, continua aí, firme e forte. Sem a poligamia, é claro. Até hoje ela tem muitos adeptos na América.

Por Tony Fernandes\Estúdios Pégasus
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