terça-feira, 26 de novembro de 2013

MESTRE ZALLA,UM ARGENTINO QUE FEZ HISTÓRIA NAS HQs DO BRASIL!


Nas décadas de 60 e 70, o Brasil viveu uma de suas 
épocas mais prolíficas de publicações de histórias 
em quadrinhos, tanto nacionais, quanto estrangeiras.
 Nesse período, a EBAL (Editora Brasil-América), de 
Aldolfo Aizen, e a Rio Gráfica-Editora (atual Globo) 
dominavam este gênero de publicações, lançando 
gibis interessantes de séries de TVs e sucesso
 cinematográficos, que faziam a cabeça da garotada.




 A EBAL publicava Os 3 Patetas, The Monkees, Jerry Lewis, 
Gunsmoke, Reis do Faroeste, Roy Rogers, 
, Cheyenne, The Lone Ranger (Zorro, no Brasil), fora uma 
gama de títulos de seres poderosos como
 Liga da Justiça, Turma Titã, Batman, Superman, 
Flash, Mulher – Maravilha, Capitão América, 
Homem de Ferro, Hulk, Thor, Namor, 





Tarzan, Korak, GaviãoNegro, Flash, Superboy, O Agente 
da U.N.C.L.E, Epopéia Tri, Flash Gordon e Príncipe Valente 
(em álbuns luxuosos), etc.


Edições EBAL






Por outro lado, a Rio-Gráfica Editora - principal concorrente –
 publicava: Flecha Ligeira, O Fantasma, Mandrake, 
Popeye, Rocky Lane, Don Chicote, Cavaleiro Negro,
 Nick Holmes, Brucutu, Flash Gordon, Príncipe Valente, 
Águia Negra, Robin Wood, Riquinho, Brotoeja, Bolota, 
Fix e Fox, Recruta Zero, Ferdinando, etc. 



Enquanto isto, a editora O Cruzeiro, publicava:
 Gasparzinho – o Fantasminha Camarada -, Brazinha, Luíza – 
a bruxinha -, 
Os Flintstones, Pepe Legal, Don Pixote,
 Zé Colméia, Combate, etc. Paralelamente, editora Abril, 
de Victor Civita, editava 
revistas quinzenais do Pato Donald, Zé Carioca, e 
mensais como o Almanaque Tio Patinhas 
(Uncle Scrooge) e Mickey Mouse. 




A saudosa editora Vecchi – de Lotário Vecchi - lançava 
Tex, Ken Park e, posteriormente Chet, do grande escriba 
brasileiro Wilde Portella. 
A Vecchi também publicou a revista Spektro – um 
almanaque de histórias de terror -, comandado 
pelo genial Otta – eterno editor da revista Mad,no Brasil. 
Spektro teve muito sucesso devido aos seus
 incríveis colaboradores.

Empolgados, com a publicação de tantos títulos 
estrangeiros bem sucedidos, alguns editores de
 menor porte, nacionais, timidamente surgiram 
com alguns títulos de terror e de guerra – inicialmente
 o material era importado -, depois para suprir a demanda 
e a escassez do material americano – em virtude do 
severo código de ética imposto pelos próprios 
editores daquele país -, começaram a convocar 
roteirista e desenhistas brasileiros para dar 
continuidade àquelas séries que faziam sucesso. 
Personagens, como Fantasma, 
Mandrake, Recruta Zero, etc,
 passaram a ser produzidos no país. 


Editora O Cruzeiro
Os Flintstones, e os personagens Disney também passaram a ser produzidos no país, devido ao estrondoso sucesso.
O mercado estava superaquecido. Foi nesta época propícia que um argentino decidiu vir para o Brasil, para fazer história no setor editorial nacional. Seu nome era...
RODOLFO ZALLA, O GRANDE MESTRE
DAS HQs NO BRASIL!

Zalla e eu, no último HQMix - SESC Pompéia
Ele nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, 
em 1931. Zalla, desde a tenra infância tinha inclinação
 para arte.Sua carreira teve início oficialmente quando este 
passou a colaborar para as revistas Poncho 
Negro e Patoruzito – publicações muito populares
 no país de los hermanos. Em 1963, aquele que 
se destacaria como um dos mais produtivos
 autores de HQs, decidiu vir para o Brasil. 
O grande mestre Rodolfo Zalla fez parte 
de um time de profissionais privilegiados 
que viveram numa época em que novos 
títulos de quadrinhos eram lançados quase 
que mensalmente e, portanto, 
as melhores casas do ramo viviam à 
procura de bons roteiristas e desenhistas. 
 Zalla foi contemporâneo de gente que fez 
muito pelas HQs nacionais. 

Muitos desses profissionais acabaram se destacando, 
como: Júlio Shimamoto, Jayme Cortez, Miguel Penteado, 
Getúlio Delphin, Rubens Cordeiro, Flávio Colin, 
 Luís Saidemberg, Primaggio Mantovi, Flávio 
Colin, Paulo Hamasaki, Walmir, Osvaldo Talo, 
Eugênio Colonnese, Paulo Fukue, Edmundo 
Rodrigues, Gedeone Malagola,
 Rubens Cordeiro, Luchetti, Ignácio Justo, 
Nico Rosso, Edmundo Rodigues, Wilson Fernandes, 
José Lanzelotti, Minami Keizi,
 Saidenberg, Igayara, 
Jorge Kato, Fernando Ikoma, Carlos da Cunha, 
Reynaldo de Oliveira, Queiroz, e outras feras 
do traço e da escrita.
Toda esta gente de peso viveu numa época
 excitante e gloriosa das HQs brasileiras, 
onde não faltava trabalho.

EDITORAS NACIONALISTAS

Se atualmente é raro vermos um título genuinamente 
criado no Brasil em nossas bancas – com exceção 
da Turma da Mônica, um
 grande sucesso editorial -, entre os anos 60 
e 70 a situação era 
bem diferente, onde os quadrinhos Made in Brazil 
disputavam leitores 
pau a pau com os títulos estrangeiros.
Casas editoriais como a Taika 
(ex-editoras Continental e Outubro), 
GEP (Gráfica e Editora Penteado), Edrel e Jotaesse,
 tinham gestores visionários como José Siedekerskis 
(Zelão), Manoel Cassoli (Manelão), Minami Keizi, 
Heli Lacerda e Miguel Penteado. 

Minami Keizi

Esses editores ousados tinham
 espíritos nacionalistas e decidiram investir nos autores nacionais, lançando uma gama de títulos dos mais diversos gêneros, como: 
terror, aventura, faroeste, super-heróis, histórias 
de guerra, cômicas, piadas, etc.





UM JOVEM COLECIONADOR

Naqueles anos dourados dos quadrinhos eu era apenas um jovem colecionador de revistas editadas no país e na América. Eu gastava uma grana preta comprando revistas em quadrinhos de diversos gêneros, tinha um acervo incrível, principalmente, de títulos estrangeiros. Aos poucos, fui adquirindo gibis italianos, dinamarqueses, franceses, belgas, ingleses e até indianos. Muitas vezes adquiria revistas repetidas para trocar com outros colecionadores, principalmente as importadas da Charlton Comics, King Features, Harvey, Archie, Gold Key, DC e Marvel, que valiam mais. Eu trocava uma importada por 3 editadas no Brasil. Com isso, o acervo ia aumentando cada vez mais. Meu pai achava um absurdo eu colecionar “tanto papel”, como ele se referia as minhas adoradas revistas.

AUTORES NACIONAIS



Inicialmente, comecei a notar que alguns desenhistas e roteiristas tupiniquins passaram a assinar capas de séries como: Cavaleiro Negro, Fantasma, Mandrake, Águia Negra e Recruta Zero. Achei incrível aquilo, pois não sabia que se produzia quadrinhos no Brasil. Depois passei a descobrir títulos genuinamente feito por brasileiros, como: Capitão 7, Jet Jackson, Jerônimo, Targo, Pabeyma, Super Heros, Juvêncio, Capitão Atlas, Tupãzinho, Fikom, A Múmia, 
O Lobisomem, Mylar, Mirza, Drácula, etc.
Meu pai ficou p... da vida quando descobriu que eu comprava gibis de terror e me proibiu de comprá-los. Às escondidas continuei a comprar aquelas revistinhas bacanas, assim como os catecismos (revistinhas pornôs desenhadas por Carlos Zéfiro), e até a revista Playboy. Este material censurado por meu progenitor, obviamente, eu escondia cuidadosamente no meu quarto, em baixo da cama, em cima do guarda roupa, etc. Quando meu velho as descobria, rasgava tudo. Aquilo me deixava revoltado. Mas, não desistia e voltava a comprá-las.
Nesta época jurássica, eu vivia enchendo os meus cadernos escolares com rabiscos de super-heróis, como Nacional Kid e Capitão 7, e por isso sempre era repreendido por meus país e professores.

EVOLUINDO...

Em folhas de papel sulfite eu comecei a fazer minhas primeiras revistinhas rústicas e artesanais. O primeiro super-herói que criei foi um tal de Super Atômico. Desenhava suas HQs, de ambos os lados do sulfite – não imaginava que um original só tinha desenho de um lado do papel e que estes eram produzidos grandes. 
Essas minhas “revistas de HQs” eram feitas
 com caneta esferográfica e pintava aqueles 
traços toscos com guache, só para mostrar para os outros colegas
 que também adoravam quadrinhos.

Nesta época, comecei a fazer cursos de desenho e publicidade e começava a sonhar em fazer um trabalho mais profissional a nankim, um dia. Ousei entrar num concurso sobre a História do Brasil, em quadrinhos, promovido pela EBAL e me dei mal, não tinha a menor chance de ser um dos classificados. Porém, fiquei feliz da vida ao ver meu nome publicado nas revistas daquela casa editorial na relação daqueles que tinham participado. Era preciso estudar mais,
 perseverar, caso eu quisesse um dia 
ver meu material publicado. 
Assim, passei a desenhar horas a fio na 
esperança de evoluir meus traços.

Continuei estudando arte por correspondência, enquanto passava por diversos empregos, como: Office boy, caixa de banco, etc. Funções banais para quem tinha começada a ganhar os primeiros trocados fazendo carretos nas feiras livres e vendendo gibis e sorvetes em caixas de isopor pelas ruas ensolaradas. Muitas vezes, não agüentando o calorzão, sentava embaixo de uma árvore e acaba chupando todos os sorvetes que eram para ser vendidos. Lá vinha bronca, toda vez que meu pai tinha que pagar pelos picolés que eu devorava. Sempre procurei minha independência financeira, mas aquelas atividades não me satisfaziam. Desejava trabalhar na área de comunicação e os quadrinhos, na época, era um grande veículo de comunicação de massa. Estava decidido: desejava me tornar um profissional do mundo editorial ou publicitário. Minha mãe, uma ex-professora primária me incentivava, mas meu pai torcia o nariz para minha opção profissional.

DESCOBRINDO RODOLFO ZALLA

DVD Produzido por Baraldi

Meus ídolos – desenhistas preferidos -, desta fase, eram: Edmundo Rodrigues, Ignácio Justo, Nico Rosso, Queiroz, Walmir, Getúlio Delphin, Minami Keizi, Paulo Fukue, Fernando Ikoma, Carlos Zéfiro, Benício – que detonava fazendo as maravilhosas capas de ZZ7, FBI, Brigitte Monfort e outros títulos de Pocket Book, que eu também lia e colecionava, da editora carioca Monterrey -, e Péricles, autor do Amigo da Onça.

Naiara por: Nico Rosso
A editora paulistana chamada Saber, dos irmãos Fittipaldi, lançava os clássicos da King Features no formato pocket book, com grande sucesso. Assim, HQs antigas e clássicas de Brick Bradford, Príncipe Valente, Flash Gordon, Fantasma, Mandrake, etc, foram republicadas. Além desses clássicos americanos, esta casa editorial também lançou O Praça Atrapalhado, um sátira sobre o exército, a La Recruta Zero – de Mort Walker, criada pelo autor brasileiro chamado Edú. “Mais um brasileiro na parada?”, pensei. “Então, é possível viver fazendo quadrinhos”, deduzi, e estava disposto a bater de porta em porta das editoras locais.
Comecei a fazer uma HQ de terror em parceria com Wanderley Felipe, um garoto maluco tanto quanto eu, que também adorava rabiscar HQs e que morava no mesmo bairro (Freguesia do Ó). Ao bater na porta da Minami e Cunha Editores fomos encaminhados para a casa de Ignácio Justo, um aviador da força aérea reformado que se notabilizara fazendo HQs de guerra. Na época, Justo estava desenhando uma série chamada “A Múmia”, escrita pelo professor Gedeone Malagola. No lendário “Barraco do Justo”, o mestre ensinava um bando de garotos que tinham a pretensão de um dia se tornar profissional. O mestre ensinava a todos, num verdadeiro regime militar, sem cobrar nada de ninguém. Muita gente boa passou por lá. Aprendia técnicas e anatomia com o mestre, enquanto minha coleção de gibis crescia cada vez mais.
A primeira vez que comprei uma revista com desenhos do mestre Rodolfo Zalla foi Targo, se não me engano. Depois, O Escorpião – serie que inicialmente era desenhada pelo bengala brother Wilson Fernandes, que anos depois conheci pessoalmente. Depois descobri muitas HQs de terror, de guerra e faroeste, feitas pelo mestre Zalla.
Ele tinha um traço diferente que me agradou muito e as pedras dos cenários que o mestre desenhava ele usava a técnica de um pano embebido em nanquim para marcar as rochas. Isto o diferenciava dos demais artistas, assim como seu traço estiloso.
Os primeiros dos meus ídolos que conheci pessoalmente 
foi Minami Keizi, Carlos da Cunha, Ignácio Justo, Edmundo Rodrigues, Nico Rosso, Kazuíco, Paulo Hamasaki, Kimil e Paulo Fukue, anos 70, 
através da Minami e Cunha Editores.
Tempos depois, quando eu era funcionário da Noblet (anos 70), tive o prazer de conhecer pessoalmente outros feras, como: Shimamoto, 
Jorge Kato, Fred Jorge, Jayme Cortez, Reynaldo de Oliveira, 
Alvaro Moya, Gilberto Freyre, Ataíde Braz e o cartunista Pace.
Nos anos 80, conheci Paulo Paiva, Otta, Roberto Kussomoto e Neide, Watson Portela, Spacca, Franco de Rosa, Vorney, Bilau, Beto, Jotacê (Jotah), Wilson Borges (Carioca), Primaggio, Igayara,
 Wilson Fernandes, Mauricio de Sousa, Rofolfo Zalla, Manuel 
Cassoli, Colonnese e Moacir Torres.
Conhecia e admirava o traço desse verdadeiro time 
de titãs das HQs, mas a arte de Zalla me impressionou, 
principalmente, 
as que ele fazia para as histórias de terror.

ESTÚDIO D-ARTE


De repente, uma série de revistas criadas
 e desenvolvidas no Brasil passaram a trazer
 a assinatura de um tal “Estúdio D-Arte”, criado 
por Zalla, em parceria com outros argentinos
 geniais: Colonnese,Oswaldo Talo, passaram 
a produzir aos quilos para diversas casas 
editoriais paulistanas. Suas histórias eram
 objetivas, seus traços eram limpos, e 
sabiam usar como ninguém a técnica de claro\escuro.
 Em pouco tempo esse trio parada dura de 
argentinos mostraram aos brasileiros como 
se produzia quadrinhos em larga escala, com 
certa qualidade. Vale a pena frisar que o 
grande problema dos autores nacionais –
 até hoje -, principalmente aqueles que fazem 
tudo sozinho -, é a ínfima produção. 
Os argentinos passaram a trabalhar em equipe, como
 os americanos, e com isso produziam aos quilos.




Segundo Zalla declarou na entrevista contida no DVD 
“Ao Mestre Com Carinho”, idealizado, produzido 
e lançado pelo cartunista mais rock and roll do país, 
Marcio Baraldi, e que acabou abocanhando, 
merecidamente, o troféu HQMix deste ano, os 
originais feitos pelo Estúdio D-Arte eram pequenos,
 pois só assim podiam atender a crescente demanda. 
Esses três paladinos argentinos produziram 
diversos gêneros de HQs.
Numa época em que não havia computadores 
pessoais ou programas de computação gráfica,
 esses hermanos fizeram milagres, produzindo
 na raça. Logicamente, nem tudo era perfeito,
 porém se analisarmos o conjunto da 
obra, eles foram geniais.


Baraldi e Zalla
PRÓS E CONTRAS
Basta rever algumas dessas antigas edições produzidas 
por este estúdio que ficou famoso, para perceber que 
a coisa era feita na pauleira, mesmo e que mantinham
 certo padrão de qualidade.
Em alguns quadros ainda é possível ver um balão
 saindo de um olho ou de um nariz em close-up. 
Este tipo de apelação era muito criticada 
por alguns profissionais brasileiros da área 
que diziam: “Assim, até a gente produz aos quilos.”
Os quadrinhos nacionais sempre foram mal 
remunerados, especialmente, se for comparado 
aos preços pagos pelas editoras de livros e 
agências de publicidade – que compram ilustrações.



 O único jeito de se ganhar um dinheiro razoável 
para se levar uma vida decente é produzindo
 em massa, visto que a confecção de uma 
boa HQ dá um trabalhão danado.
 E esses los hermanos fizeram a coisa 
certa, com algumas 
apelações, obviamente, mas com muita criatividade.


HERÓI NACIONAL QUE
CAUSOU POLÊMICA


Como a revista do Fantasma, de Lee Falk, vendia 
muito naquela época, o editor pediu ao desenhista 
Wilson Fernandes que criasse uma série chamada
 O Escorpião, similar ao The Phantom. 




O desenhista seguiu à risca as determinações 
do editor e assim o personagem também foi 
ambientado na selva, tal qual o personagem
 americano, e tinha uma mascara e uniforme
 que pouco diferenciava do herói gringo. 
De imediato, representantes da King Features 
Syndicate, no Brasil, pressionaram o editor, 
ameaçando processar a empresa
 e os autores por plágio.




Foi a partir da quarta edição que Rodolfo Zalla assumiu 
o comando da série e com extrema destreza criou 
um novo visual para O Escorpião, abrandando
 assim a fúria daqueles que detinham os direitos
 do personagem criado na América, no país.










TEMPO DE DITADURA MILITAR

Na década de 70, o chamado “Milagre brasileiro” 
estava em processo. O lema era: “Brasil, ame-o, ou deixe-o!” 
Os militares mandavam e desmandavam no Brasil. 
Pessoas que eram contra o regime ditatorial eram 
perseguidas, torturadas, deportadas e até mortas. 
Essa pressão militar
 exacerbada também acabou atingindo todos 
os setores artísticos do país e, como não podia 
deixar de ser, a repressão também chegou às 
editoras, através da censura prévia implantada em Brasília. 
Esses sensores eram que decidiam o que o povo
 podia ler, assistir ou ouvir. 
Um absurdo. Os órgãos de imprensa que 
ousavam publicar algo contra o regime –
 mesmo que fosse nas entrelinhas – eram 
rechaçados. O grande desenhista e bengala
 brother Paulo Fukue (desenhista das séries 
Pabeyma e Super Heros) –
 no tempo da Edrel – sofreu na pele a perseguição 
mplantada pelo regime militar. 


Pabeyma por: Paulo Fukue
Tanto, que após um certo sumiço do mercado, 
decidiu arrumar um bom emprego na editora Abril,
 e omitir suas convicções políticas\sociais. 
Na Abril ele permaneceu por anos a fio no comando de 
revistas didáticas dirigidas ao público infantil.
Publicações de terror, de guerra, e que
 traziam mulheres sensuais também foram fechadas.

LIVROS DIDÁTICOS

Rodolfo Zalla e seus parceiros, de repente, 
ficaram sem trabalho. Zalla, sem possibilidade 
de fazer quadrinhos de terror – sua grande paixão -, 
foi obrigado a migrar para o mercado de livros didáticos.
 Nele, passou a quadrinizar histórias da humanidade e até mesmo a história do descobrimento do Brasil.
Lembro-me bem que, no meu tempo de estudante, 
meus livros de colégio – didáticos da editora Ática -
 eram ricamente ilustrados por Zalla e Colonnese. 
Fiquei surpreso ao ver aqueles autores de
 HQs fazendo aquilo tipo de trabalho, que 
deixavam nossos livros mais atrativos.

ESPÍRITO EMPREENDEDOR




Década de 80 – Nesta época deixei a editora Noblet para abrir meu primeiro estúdio de arte e criação no bairro da Praça da Árvore. 
E, também foi neste período que transformei meu estúdio em minha primeira editora, após colaborar com as editoras:
 Evictor, Tálamus, Nova Sampa, Noblet, Acti-Vita, Imprima, 
e agências de publicidade.
Nesta mesma década, Zalla se mostrou um grande
 empreendedor. Com o apoio de Paulo, editora... 
o grande mestre argentino fundou a editora D-Arte. 
Por ela, lançou as revistas de HQs Johnny Pecos (western), 
Calafrio e Mestres do Terror. Johnny
 Pecos teve vida curta, mas as duas séries de
 terror foram publicadas por mais de 10 anos. 
O material era distribuído pela DINAP 
(Distribuidora Nacional de Publicações), do Grupo Abril.



 

Vendia muito bem em cidades do interior. 
É incrível como o brasileiro sempre apreciou este tipo de histórias.
Basta fazermos uma análise dos diversos títulos do gênero lançados no país – nos últimos anos, quer sejam eles nacionais ou importados - e poderemos constatar que as publicações que mais duraram na praça foram as que abordavam esses temas sinistros, para adultos, com exceção de Vampirella – lançada pela Noblet, nos anos 80.

ZORRO, PELA EDITORA ABRIL

Arte de Todolfo Zalla



Se na América o genial Alex Toth, que fez escola, se notabilizou por desenhar as HQs de Zorro, criada pelo jornalista... e adquirida pelos estúdios de Walt Disney, no Brasil as aventuras do justiceiro mascarado de capa e espada foram desenhadas magistralmente por Rodolfo Zalla, na década de 80. Mesmo ilustrando livros didáticos o intrépido portenho, paralelamente, fez um trabalho de suma importância, tanto quanto o de Toth. Nele, Zalla demonstrou toda a sua paixão pelos quadrinhos, caprichando ainda mais.





Arte Alex Toth

Capa da edição americana, pela Gold Key
 


Zorro - Por Rodolfo Zalla

UM INCANSÁVEL GUERREIRO

Atualmente, o grande mestre latino dos 
quadrinhos brasileiros está na casa dos 80 
anos de idade, mas continua super ativo. 
Continua desenhando diariamente HQs e
 nem pensa em se aposentar. Sua arte está cada vez
 mais elaborada, mais evoluída, como cabe a um 
verdadeiro e incansável mestre. Rodolfo Zalla
 continua lúcido, perspicaz e bem humorado 
e tem lançado edições alternativas e 
primorosas de HQs de terror sofisticadas 
que podem ser adquiridas na Comix e pela Internet.

TROFÉU HQMIX

Marcio Baraldi, Mauricio e Zalla

HQ de terror, especialidade do mestre

Este ano, quando soube que Zalla e Baraldi tinham 
sido contemplados com o Troféu HQMIX, o Oscar 
das HQs nacionais, pela realização do DVD
 “Ao Mestre com Carinho”, idealizado e realizado 
por Marcio Baraldi, não resisti e decidi ir até o
 SESC Pompéia para rever velhos amigos 
e, principalmente, Zalla e Baraldi.



Foi uma grande efeméride que reuniu a nata dos 
quadrinhos brasileiros, como: Mauricio de 
Sousa, Franco de Rosa, Bira Dantas, Fernando 
Gonsales, Angeli, e outras feras. A apresentação,
 como sempre, foi do apresentador da Rede Globo 
de Televisão Serginho Groisman (Altas Horas), 
com a participação do apresentador da 
TV Bandeirantes, Danilo Gentili, que confessou 
que um dia sonhou em ser um cartunista.
Reencontrar Zalla e Baraldi, entre a multidão, é 
sempre muito prazeroso. E, para a minha surpresa,
 Baraldi que estava colhendo diversos depoimentos 
sobre o mestre Zalla, com sua equipe de reportagem, 
me deu a honra de entrevistar este 
grande e querido bengala 
mestre argentino, que já se tornou brasileiro.

Dias depois, recebi um DVD pelo correio, enviado 
por Baraldi e confesso que não esperava encontrar
 aquela entrevista que fiz com Zalla no link depoimentos.
 Este foi um presente e tanto, emocionante. Baraldão,
 seu pentelho, muito obrigado, por me dar este privilégio.
Se você ainda não assistiu ao DVD “Ao Mestre 
com Carinho”, não sabe o que está perdendo. 
Ele pode ser adquirido na loja virtual www.comix.com.br 
e pelo e-mail: marciobaraldi@gmail.com
Vale a pena conferir.


Quantos aos depoimentos - segundo Baraldi -, 
está presente apenas num DVD que ele fez
 especialmente para os amigos.
Grande mestre e querido bengala brother Rodolfo Zalla, 
você é um exemplo vivo de garra, competência
 e perseverança. Que sua história e conquistas 
sirvam de inspiração para esta nova geração que 
está aí, ávida, por fazer quadrinhos e que fazem... 
e que sonham um dia se destacar neste incerto 
e instável mercado que tanto adoramos. 
Como se diz por aí: Só sofre críticas quem tem 
a ousadia de por a cara a tapa, quem tem a 
coragem de fazer, de realizar. Afinal, é i
mpossível agradar gregos e troianos. 
Só posso chegar à seguinte conclusão: 
O mundo é dos loucos, como nós, como eu, 
como você, grande
Mestre Zalla!




Viva todos os malucos belezas da vida, como 
dizia Raul Seixas! E, que Deus o mantenha ainda
 por muitos anos com este espírito jovem, como 
cabe a um verdadeiro bengala brother, mestre!
Por Tony Fernandes





Texto: Rubens Cordeiro - Arte: Zalla
Realização Estúdios Pégasus –
 Uma Divisão de Arte e Criação
Da Pégasus Publicações Ltda – São Paulo – Brasil
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 meramente ilustrativos e pertencem a seus 
autores ou representantes legais.