o mercado editorial nacional-, que teve início na década de 60
com os
diversos títulos da Disney e que se firmaram ao adquirirem os direitos
da Marvel, da DC e Hanna-Barbera, nos anos seguintes.
Esse período de ouro findou na década de 90, com a consolidação
dos games eletrônicos, computadores e dos
mangás Made in Japan.
Quando as vendas em geral da Abril vieram abaixo e muitos
títulos famosos foram cortados – inclusive os da DC e da Marvel,
deixando
muitos colecionadores frustrados -, meu velho e querido
amigo bengala brother Primaggio
declarou, parafraseando John Lennon:
as divisões infantil e infanto-juvenil ,especificamente
de
quadrinhos, perderam o emprego e alguns trabalhos passaram
a ser
terceirizados para estúdios independentes, dentre estes, destacava-se
o
Artecomix, do bengala friend Élcio de Carvalho, que anos
depois criou a Mythos
Editora e também passou a atender a poderosa
casa italiana de publicações
chamada Panini, representante mundial
da Marvel Comics. Estaria fadada a
poderosa editora criada
por Victor Civita a nunca mais dominar o setor de HQs?
Os títulos das revistas Disneys foram reduzidas, outras
foram reformuladas,
mas com a perda de assinantes habituais – dessas
tradicionais
publicações -, a coisa parecia ir de mal a pior, preocupando,
inclusive, a Redibra, representante Disney no Brasil.
Quando tudo parecia estar perdido, eis que surge um novo e bravo
guerreiro, que decidiu aceitar o desafio de fazer os quadrinhos da
Abril Jovem
voltarem a ser o que eram. Conquistar novos leitores
e reconquistar os antigos passou
a ser a sua missão.
Bengalas brothers and friends, eu tenho a honra de
entrevistar...
PAULO MAFFIA, O NOVO HOMEM
entrevista para este blog eu mal pude acreditar... é uma honra
poder
entrevistá-lo e poder divulgar o incrível trabalho que você e sua
equipe
vem desenvolvendo no setor de revistas em
quadrinhos da editora Abril. Seja bem
vindo...
Paulo Maffia 1: A honra
é minha, obrigado pelo convite!
Tony 2: Não há de que... Vamos nessa... Paulo, em que dia,
mês,
ano, cidade, estado, você nasceu?
Paulo Maffia: 10 de
julho de 1971, em São Paulo, capital
Tony 3: Qual é sua formação profissional e que experiências
anteriores você teve nesse setor?
Paulo Maffia: Sou
jornalista, formado pela Universidade
São Judas (apesar de achar esta coisa de
diploma para
jornalismo uma grande bobagem), já trabalhei com os
heróis da
Marvel e DC - e até com os quadrinhos dos
Simpsons, quando eram publicados pela
Abril.
Ajudei a criar e editei as revistas Sci-Fi News e
Sci-Fi News Cinema e além
disso estive de passagem
pelos jornais O Estado de S. Paulo e A Tribuna, além
de ter uma carreira no radiojornalismo.
Tony 4: Belo know how, você tem uma boa bagagem
profissional.
Vamos em frente... Como surgiu o convite para realizar essa
missão -
quase impossível -, para alavancar as vendas dos quadrinhos da Abril?
Qual é a designação do cargo ou departamento que você coordena?
trabalhei no site da editora, e
depois surgiu o
convite para cuidar dos gibis e outras revista da
redação licenças.
Hoje, sou o editor e responsável
pela seleção das HQs Disney na Editora Abril.
Tony 5: Uma responsabilidade e tanto, hein?
Pelo visto, você
adora desafios... Em que ano oficialmente,
você assumiu esse setor e quais eram
seus planos para resgatar
os assinantes e leitores Disney e das demais
publicações?
Paulo Maffia: No inicio
de 2004, e tenho que ser honesto
que naquela época, nossa preocupação era
sobreviver no mercado!
Tony 6: Creio que essa era a preocupação dos editores
em
geral, pois o mercado oscilou feio para todo mundo e
obviamente editores de
maior porte sentiram um impacto
maior, pois as vendas caíram geral e não apenas
nas revistas
de HQs, fazendo muita casa editorial quebrar... mas, como
dizem
por aí: “Editor é quem nem praga, morre um, nasce vinte.” (Rsss...).
No passado, os formatinhos lançados pela
Abril, quer fossem
da linha infantil ou infanto-juvenil, vendiam muito.
Nos
anos 90, um “gênio” decidiu sofisticar os produtos...
daí surgiram a linha de
super-heróis Premium, etc, todos no formato
americano, com 100 páginas
impressos em papel couche, em cores,
com qualidade impecável, porém, com preços
extorsivos.
Ao meu ver, isto também afungentou os leitores tradicionais das
bancas.
E pra acabar de ferrar tudo,surgiu a onda - que muitos julgavam
ser
passageira-, dos mangás, mas que estão aí até hoje.
Séries de animes da TV
como: Cavaleiros do Zodíaco, Pokémon e
Digmon saíram da telinha e foram parar nos
gibis, com incrível sucesso e
tiragens de até 300 mil exemplares. O incrível é
que a própria Abril
chegou a lançar alguns mangás sem obter o êxito alcançado
pela
Conrad e pela JBC... Qual é sua opinião abalisada sobre o ocorrido?
Sobre
essa grande virada de mercado?
A linha Premium, lançada pela Abril em 1996 |
Paulo Maffia: Nesta
época em particular eu estava fora da Abril e
do Mercado, então não tenho
muitos dados para uma análise,
mas acho que o declínio nas vendas das HQs, não
só da
Disney, mas como um todo, é um fenômeno mundial, e até
natural, hoje são
outros tempos, com computadores,
Internet, cem canais de televisão, a concorrência
pelo gosto das pessoas aumentou.
Tony 7: Exatamente. Hoje há uma gama de opções de
entreterimento,
coisa que não existia outrora... Sou das antigas, e no meu
tempo uma
revista em quadrinhos custava o preço de um jornal.
Atualmente, as
tiragens foram reduzidas, os produtos se sofisticaram
e os preços se tornaram
abusivos, um absurdo.
As HQs que eram um grande veículo de comunicação de massa
até os anos 80 acabaram se tornando produtos elitistas.
E o pior é que nem o
povão ou a elite parecem estar lá
muito antenados ou preocupados em adquirir
quadrinhos.
Qual é os eu ponto de vista?
Paulo Maffia: Quadrinhos
infantis são a porta de entrada
do público para o mundo das HQs , por isso tem
que
ser acessível a todos. Hoje nas HQs Disney temos
revistas para todos os
gostos e preços.
hoje serão os nossos leitores futuros... Ainda na década de 90 –
se
não me engano-, a Panini, que era associada ao Grupo Abril, no
setor de
figurinhas, rompeu a parceria e decidiu continuar a lançar
Marvel por conta
própria, na véspera do lançamento do primeiro filme do
Homem Aranha. Os
marketeiros da Panini decidiram manter o mesmo
tipo de apresentação gráfica
sofisticada que havia sido adotado
pela Abril e acabaram se dando mal também.
Segundo um grande amigo meu, que foi diretor de marketing da Abril
e da Panini,
nos primeiros meses em que o pessoal da Panini
checaram os baixos boletins de
vendas ficaram espantados.
Os italianos vieram ao país e estavam dispostos a fechar
as luxuosas edições.
Isto só não ocorreu devido as novas estratégias de
marketing
adotadas, como: redução do número de páginas, redução dos formatos
e
dos preços, e lançamentos especiais.
Você sabe algo, sobre esses problemas que
a poderosa Panini teve
que enfrentar?
Tony 9: É óbvio. Desculpe-me, pela indelicadeza... é que esses
casos ou lendas de bastidores sempre despertam a atenção de
todos. E, como prezo a verdade pensei que soubesse
de algum detalhe que pudesse trazer a luz a verdade...
Ainda segundo o bom e velho mestre Primaggio, que
comandou uma
importante divisão na Abril, as vendas
dos formatinhos haviam desabado, no
geral, sofisticar os produtos e
aumentar os preços foi uma estratégia desesperada para manter
as publicações.
Mas, pelo visto, o tiro saiu pela culatra. Na época, a
Abril recuou e voltou a
relançar os formatinhos, mas já havia
perdido muito de seus leitores. Daí coube
a Panini enveredar pelo
mesmo erro, que já havia sido cometido pelos editores
americanos.
Ao assumir o comando, qual foi a sua estratégia
fundamental,
bengala brother?
Antiga edição da Abril, de Mickey Mouse |
Paulo Maffia: Foi
simples: uma melhora editorial na linha Disney
como um todo, que vão desde as
melhorias das nossas
publicações, com uma escolha mais criteriosa das nossas
capas e da seleção do material que vamos publicar.
Modéstia à parte, acho que,
quando você oferece qualidade,
o público sempre responde positivamente a isso.
vocês e o material, de fato, evoluiu muito e as capas ficaram
sensacionais
aerografadas... As revistas quinzenais Disney e Tom e
Jerry e Os Simpsons
mantiveram suas qualidades e bons preços.
Surgiram as edições especiais e até
luxuosas, de praxe, da Disney.
Acho que isso foi ótimo, pois manteve alguns
fiéis
seguidores das séries adquirindo esses produtos editoriais.
Quando você
assumiu, qual era a situação dos assinantes?
Estavam em em baixa, suponho...
Paulo Maffia: Não
tínhamos serviço de assinatura.
de 2010,
mais um reflexo da retomada dos quadrinhos Disney...
Tony 11 – Pensei que elas, as assinaturas, também agrupavam as
revistas de HQs... as HQs Disney tiveram uma bela retomada, por sinal...
Foi possível reverter esta terrível
situação, em quanto tempo?
Paulo Maffia: Para
ser honesto, levou uns cinco anos de trabalho
duro, até começar a dar frutos!
Tony 12 – É... a coisa não foi fácil pra ninguém... mas, o que importa é
Tony 12 – É... a coisa não foi fácil pra ninguém... mas, o que importa é
que vocês, assim como outros pequenos e médios editores,
conseguiram suplantar os obstáculos, se adaptarem a nova realidade
e estão aí,
firmes, tocando o leme. Devo ressalatar que você foi
o primeiro profissional da área a admitir a crise editorial
que tivemos, pois quando eu questionava e escrevia sobre
ela, alguns editores jamais ousaram falar dela. Parabéns, por sua
franqueza e espontaniedade. Por fim, a verdade veio a tona e
não se limitou apenas aos bastidores. ..Let's go...
O ano passado
eu falei com você por telefone e perguntei se
você estaria organizando uma
equipe para que Disney voltasse
a ser produzido no Brasil, como antes. Daí você
me informou
que estavam dando prioridade para o material importado
e que
tencionava voltar a fazer alguma coisa no país, mas muito
pouco, naquele
momento. Com a situação revertendo, há
possibilidade de voltarmos a produzir
Disney por aqui, algum dia?
criação. Para comemorar, lançaremos um
especial com
600 páginas, divididas em duas edições. Neste especial, daremos
início à retomada da produção de HQs do personagem, que
deve depois se estender
para a revista mensal dele.
Tony 13 – Taí uma grande notícia, principalmente para quem sonha em desenhar
Disney, trabalhando para a Abril. Ele é um dos meus
personagens
favoritos...bon vivant... bem ao estilo tupiniquim (Rsss...)...
Quando
eu era jovem – faz tempo (Rsss...) -, existia a escolinha Disney,
criada e comandada
pelo mestre Jorge Kato.
Passei por ela, como muita gente e foi assim que
comecei a trabalhar
com a Abril, fazendo letras, decorados e, posteriormente,
desenhos
e argumentos. Muita gente boa começou assim. Com o crescimento
das
vendas dos produtos editoriais da Disney no país era inevitável,
naquela época
jurássica, formar profissionais tupiniquins especializados
em Disney.
Passávamos horas a fio estudando os model sheets.
A Abril foi e continua sendo
uma grande escola para qualquer
um que queira abraçar a carreira de desenhista,
roteirista, jornalista,
ou de produtor gráfico. Deu emprego a muita gente.
Foi
uma pena quando as divisões foram acabando.
Na sua opinião, quais são as atuais
perspectivas
do mercado editorial brasileiro?
Paulo Maffia: Infelizmente
nunca teremos mais uma
produção com a do passado, mas acho que poderemos
ter
agradáveis supressas no futuro.
Prosseguindo:
Inúmeros eventos sobre HQs acontecem anualmente
no país e no exterior. Isto
prova que há muita gente interessada nos
quadrinhos pelo mundo afora, apesar
das baixas vendas, no geral.
O evento realizado em Minas Gerais desse ano
atraiu um público
imenso que superou o famoso e tradicional Festival de Comics
de San Diego, na Califórnia, nos Estados Unidos. Tenho observado que
você e sua equipe têm
participado de feiras e convenções de
HQs por todo o país. Isso faz parte de
uma estratégia de
marketing, correto? E, qual tem sido o resultado dessas
suas incursões?
Há boa receptividade?
Paulo Maffia: Infelizmente
não me convidam tanto para
esse tipo de evento como eu gostaria, acho que há um
certo preconceito com a minha pessoa ou com a Disney/Abril,
sei lá, mas sempre que posso vou a esses eventos,
por que o contato com os leitores é fundamental.
Tony 15 – Não acredito que alguém tenha preconceito da sua
pessoa ou da editora Abril... acredito que todos torcem para a divisão
de HQs
da Abril volte a ser o que era... depois dessa sua entrevista,
aposto que
surgiram muitos convites, pode acreditar...
Nunca se publicou tantas HQs pelo mundo, como nos últimos anos.
Com a
consolidação e popularização da Internet surgiram sites
especializados em
vender quadrinhos online e com estes
surgiram uma gama de editores
independentes no Brasil e no
exterior fazendo tiragens pequenas, caras, destinadas
a um nicho
específico. Qual é sua opinião sobre esses editores independentes,
que acabaram aquecendo o mercado?
Paulo Mafia: Acho
excelente, tem duas editoras que eu
acho que fazem um trabalho admirável neste
área:
a Gal editora e a HQM Editora
Tony 17 – Concordo plenamente. Esses dois selos fazem um
trabalho
excepcional, possuem bons títulos e autores – inclusive meus
bengalas
brothers, Marcio Baraldi, o cartunista mais rock and roll do
Brasil, e o mestre
Antonio Cedraz, duas feras do traço...
Participar de eventos como a Festcomix e
a Bienal do Livro,
de São Paulo, ajudam a alavancar as vendas?
Paulo Maffia: Para editores
independentes sim, para nós não,
como estamos regularmente nas bancas de todo o
Brasil,
já conversamos com o nosso público, mas para esse
tipo de editora esses
eventos são vitais.
Tony 18 – Estive na última Bienal e foi possível notar a
presença macissa
dos independentes. Creio que pra eles foi ótimo em termos de
divulgação...
Com a rápida evolução tecnológica dos últimos tempos, editores
do
exterior têm investido pesado na venda de assinaturas
online oferecendo
quadrinhos digitais como uma nova opção
ao consumidor. As grandes majors
americanas dos comics parecem
estar obtendo um grande número de adeptos dessa
nova
forma de ler e curtir HQs através de celulares, IPads, IPods e Tablets.
Você tem dados sobre esta nova realidade que parece
estar bombando no exterior?
A editora Abril também pretende explorar esse segmento?
Está preparada para
isso?
Paulo Maffia: Sim. É só o que eu posso dizer neste momento,
sem
correr risco de vida ( risos).
Tony 19 – Risco de vida!? Pelo visto, a coisa é top secret,
bengala brother (Rsss...). OK. Não se fala mais no assunto, afinal,
pretendo
preservar o amigo (Rsss...). Prosseguindo: Promover o
surgimento de novos
talentos através daquele concurso que
vocês fizeram através da revista Recreio
foi uma ótima estratégia
de marketing e os vencedores já têm seus personagens
publicados
e expostos nas bancas.
Alguns desses novos títulos, desses autores revelados
pelo
concurso feito pela Abril, vingou, em termos de venda?
Qual dos novos
títulos nacionais lançados obteve maior êxito?
que estamos felizes com o resultado,
tanto é que o
prêmio Abril de Personagem teve sua segunda edição este ano.
Tony 20 – Sério? Juro que eu não sabia. O primeiro fiquei
sabendo e até
divulguei no blog, mas no segundo nem tomei conhecimento.
Mas, de
qualquer forma, Isso foi um bom sinal. Quando voces
realizarem algum outro concurso, podem contar com este
blog para divulgar o evento, assim como qualquer
novo lançamento, parceiro...
Quantos membros compõem sua equipe,
atualmente?
Paulo Maffia: Só eu,
mas como eu estou fora de
forma, pode contar dois....(risos)
Tony 21 – Uma equipe de um!? Um que vale por dois?
Essa foi boa (Rsss...). Quantos
títulos de quadrinhos – nacionais e
importados -, a Abril lança atualmente?
Zé Carioca, Pateta, Minnie e Tio
Patinhas.
Durante o ano, a Abril lança diversos especiais, minisséries e
coleções. Vários títulos têm periodicidade definida, como os
bimestrais: Disney
Big, Almanaque do Donald,
Almanaque do Tio Patinhas, Almanaque do Mickey,
Almanaque do Zé Carioca...
Tony 22 – Tem mais?
Paulo Maffia: Os Semestrais Disney Jumbo,
Almanaque do
Pluto, Almanaque do Prof. Pardal, Almanaque do Peninha,
Almanaque
dos Super-Heróis, Almanaque da Margarida,
Almanaque do Pateta. Os Anuais: Natal
de Ouro Disney,
e sem esquecer: Pato Donald Extra, Pateta Extra, Mickey
Extra
e Tio Patinhas Extra (em abril e outubro),
Pato Donald Férias, Pateta Férias,
Mickey Férias e
Tio Patinhas Férias (em julho e dezembro).
Fora as coleções
semanais e especiais temáticas
que estão se tornando mensais (UFA) .
Paulo Maffia: Fora o nosso novo lançamento, o
GEN sai dia
30/08. No estilo da revista Shonen Jump, trará diversas
tramas em
cada edição, começando com Souls Vs. Aliens,
Wolf e Kamen. E outras virão
oportunamente.
Parabéns...
Há algum carro-chefe, específico, nesse segmento?
Paulo Maffia: Pato
Donald. Eu vou além disto: a revista do
Donald foi de vital importância na formação da imprensa
brasileira. Isso por
que, em julho de 1950, chegava às
bancas brasileiras o número 1 da revista O
Pato Donald,
a primeira publicação da Editora Abril. Hoje, 62 anos depois,
a
Abril publica mais de 300 títulos, que chegam a 28 milhões de
leitores, e é um
dos maiores e mais influentes grupos
de comunicação da América Latina – e tudo
começou
com a revista do Pato Donald.
impressionante. Eu sabia que os produtos Disney tinahm um
grande poder de fogo, mas não sabia que chegavam a tanto...
a revista do Donald
é como se fosse a moeda número um do Patinhas,
para a família Civita (Rsss...).
O Pato Donald sempre será o xodó
da Abril. Você, como um homem inteligente e do
metiê sabe que
há uma rejeição do quadrinho nacional por parte dos leitores,
como
frisou Primaggio, em sua entrevista. Ele relembrou que a Abril, no
passado, fez diversas tentativas com autores brasileiros, mas
que nenhuma deu
certo. A revista Crás foi um exemplo clássico.
Na sua opinião, o que falta aos autores de quadrinhos nacionais?
Paulo Maffia: O mesmo
do cinema nacional, bons roteiros.
Mas isso é reflexo da pouca importância que
os governantes
têm com a educação: para um bom roteirista uma
formação cultural
é indispensável .
A Pantera Cor-de-Rosa e os Flkintstones foram lançadas na fase de ouro da Abril |
Tony 24 – Você está absolutamente certo, nosso cinema e
nossas HQs
sofrem do mesmo mal, sem dúvida... temos excelentes desenhistas,
mas
péssimos escribas. O pessoal se preocupa muito com os desenhos
e se esquecem o
principal: uma boa história...
As edições em quadrinhos de Conan, o bárbaro, lançadas pela Abril
são
inesquecíveis, pois abrangeram as melhores HQs do cimério, um
clássico da
literatura americana. Durante mais de 10 anos a editora faturou
alto com essa
série clássica da Marvel. Eu também – como apreciador
de uma boa HQ -, fiz
minha coleção, que guardo a sete chaves.
Mas, parei de comprar quando os
desenhos e os textos começaram
a perder a qualidade. Parece que a indústria
americana dos comics,
durante um certo período, perdeu sua criatividade e
passou a
criar HQs de péssimas qualidades. O mesmo sucedeu com o universo
dos
super-heróis que, de repente, ficou confuso.
Creio que esses fatores também
contribuíram para
que as vendas caíssem. O que você acha?
Paulo Maffia:
Concordo com você.
Marvel, pela Bloch Editores |
Marvel, pela RGE |
Uma edição da Abril |
Marvel, pela Brasil-América |
Tony 25 –Esses altos e baixos... a coisa parece ser cíclica.
A primeira editora a investir firme nos supers, no Brasil, foi a Brasil-América,
do saudoso Adolfo Aizen, nos anos 60\70, quando surgiram as séries
de desenhos
desanimados da Marvel na TV, que contava com
o patrocínio dos postos Shell.
Houve, naquela época, um grande
BOOM
editorial desse tipo de produto, que acabou empolgando
e motivando até pequenos
editores nacionais a lançarem super-heróis
criados no Brasil, como: Raio Negro,
O Escorpião, etc. Depois, veio a
decadência e os super-heróis faliram,
literalmente. Convém lembrar que,
os superseres foram “pro saco” quando a Brasil-América
decidiu
lançar edições luxuosas, em cores, com capas plastificadas
e caras.
Algum tempo depois, a RGE (Rio Gráfica e Editora – atual Globo) e
a Bloch
também insistiram em lançar os falidos heróis Made in
America, porém a ascensão
e queda desses títulos ocorreram
mais uma vez, apesar destes estarem em pauta
na mídia.
A editora Abril corajosamente ressuscitou essas antigas séries
falidas e foi a casa editorial que mais tempo permaneceu com
esses títulos em
bancas, pagando um grande royaltie anual.
Como é possível notar, os heróis
produzidos na América só deram
certo no país graças a insistência em
relançá-los, por diversos
editores – vide Tex. Não é justamente essa
insistência, que falta
para que um personagem nacional caia nas graças dos
leitores?
Paulo Maffia: Sim,
mas hoje você tem que se pensar no
personagem como multimídia , ou seja não só
nas HQS.
Tony 26 – Exato, pois o mundo mudou e precisamos nos adaptar
a
nova realidade... ao meu ver todo autor e editor deve ser multimídia,
caso
contrário, ta morto... Curiosamente, a
M&C Editores (Minami e Cunha),
foram os primeiros a lançar Conan no país.
X-men e o Surfista Prateado
foram lançados pela GEP (Gráfica e Editora
Penteado) e a revista Bidú –
com os personagens do genial Mauricio de Sousa -,
foi lançado
pelos Bentivegna... entretanto nenhum desses editores obtiveram
o
sucesso alcançado pela Abril quando relançou essas
séries ou personagens. Qual
é o segredo?
Paulo Maffia: Como
diz o Muricy Ramalho: Trabalho!
conheço muitos deles e a maioria se queixa das baixas tiragens
e
da má distribuição no país. Alguns afirmam que os distribuidores sempre
ditaram as normas de mercado e que estes é que mandam nos
editores, pois só
distribuem aquilo que lhes interessam.
O poderoso Grupo Abril, tem gráfica própria
e hoje é dono da
única distribuidora existente no país: a Trilog, após a
aquisição
da Fernando Chinaglia. Voces, na Abril, também têm queixa
sobre os
repartes enviados pela distribuidora para as diversas
regiões desse verdadeiro
continente chamado Brasil?
Voces, como funcionários, têm acesso aos boletins de
vendas?
Paulo Maffia: Sim,
eles são vitais para
sempre melhorar o nosso trabalho!
Tony 28 – Pensei que os boletins se restringissem apenas ao
setor
de marketing da empresa. Menos mal... Conversando com alguns
membros do
Sindicato dos Jornaleiros de S. Paulo descobri que
muitos deles acreditam que:
permitir que as editoras angariassem
assinantes foi um erro. Acreditam que isso
tirou os leitores das bancas.
Também acabei constatando que a maioria destes
preferem
vender revistas mais caras, com as quais
ganham mais (30% do preço de capa).
ganham mais (30% do preço de capa).
Na certa, é por isso que atualmente a distribuidora parece
ter
predileção em sugerir aos editores produtos mais sofisticados,
com CD-Rom ou
DVDs, para atender esses revendedores.
Você tem uma opinião formada sobre isso?
Paulo Maffia: Para
ser honesto, não.
Tony 29 – Gostei da sua sinceridade. Seguindo em frente...
Houve um tempo em que o
jornaleiro pagava pela mercadoria e
podia trocar os encalhes por uma nova
edição. Foi implantado o
sistema de consignação. Assim, hoje em dia, os
jornaleiros parecem
ter pouco interesse em oferecer ou procurar uma mercadoria
solicitada por um leitor e as grandes bancas se tornaram lojas de
conveniência,
pois vendem desde sorvetes, cartões telefônicos,
recargas de celulares, talões de zona azul, etc.
Você
não acha que isto também
contribuiu para que as vendas desabassem?
O sistema de
consignação, de fato, foi um erro?
Paulo Maffia: Se foi
um erro ou não, agora a esta altura
do campeonato, não interessa, o que
interessa , e aí
está o desafio do Editor, tornar o seu produto atraente
para
este novo tipo de mercado.
Tony 30 – É... como diz o dito popular: “Não adianta chorar
o
leite derramado”. O negócio é bola pra frente. Só temos esse mercado e
devemos nos adaptar a ele, isto é lógico e imutável... Não adiante
ficarmos reclamando dele, precisamos encontrar soluções. É isso aí!
Quais são suas metas,
perspectivas ou projeções de vendas
para 2013, meu querido bengala brother
Maffia?
Algum novo lançamento programado?
Paulo Maffia: Há um
longo caminho ainda a ser percorrido,
mas posso lhes garantir que iremos
avançar ainda mais no
próximo ano, com um novo pacote de assinaturas, novos
especiais temáticos, especiais em capa
dura e muitas outras surpresas.
Teria a onda dos mangás, abalado as demais publicações? |
Tony 31 – Na última reunião que fiz com o pessoal da DINAP-
há cerca de dois anos atrás-, tomei conhecimento de que as vendas do
mercado
editorial nacional crescem 4% ao ano. Nada mal.
Portanto, as vendas, de fato,
têm se mantido no mesmo patamar
já há alguns anos de forma positiva. O que
houve foi um aumento
descomunal de editores e de novos produtos segmentados.
Isto obviamente acabou dividindo o“bolo”, que antes era
degustado por um número
menor de editores e produtos.
Esse raciocínio é correto?
Paulo Maffia: Sim,
mas é um segmento muito sensível a
economia do pais: Na crise é a primeira
coisa que a pessoa
corta, e quando a coisa melhora, somos a última
coisa que o
pessoal volta a comprar.
Paulo 32 –Exato. É de se estranhar que estamos tendo
problemas
com vendas d erevistas, num país, como o
Brasil, que sofre menos
com a crise monetária internacional, se o compararmos
aos demais
países do mundo, que estão passando por esse tipo de problema,
que
já superamos. Porém, sou ciente de que a reação é lenta e gradativa,
infelizmente. Acredito que a coisa tende a melhorar...
Grande Paulo, parabéns
pelo belo trabalho que você e sua equipe – de um -
vem desenvolvendo para o
grupo Abril (Rsss...).
Estamos, todos, torcendo por vocês.
Que as vendas dos quadrinhos
da Abril – e dos demais editores -,
venham a crescer a cada dia, fazendo aquecer o mercado.
Muito sucesso
e grato, por sua atenção e colaboração.
Até a próxima, guerreiro.
Paulo Maffia: Valeu.
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