RIO DE
JANEIRO – 1969...
Nas
dependências da poderosa Editora Brasil-América
(que dominava o mercado de HQs
no Brasil), sediada
na cidade do Rio de Janeiro, o diretor de arte,
repentinamente, entra em pânico na sala do editor e disse:
- Sr.
Aizen, com licença! Temo ter uma má notícia...
- Má
notícia? Uma de nossas impressoras deu problema? –
quis saber o editor. – Algum
funcionário do parque
gráfico se acidentou?
- Nada
disso, senhor... – respondeu o homem e completou:
- vão cancelar o título nos
Estados Unidos!
- Mas,
de que título você está se referindo, homem?
Temos diversos títulos americanos mensais
em banca?
Esse título é de algum personagem importante da casa? –
indagou
Aizen.
- Judo
Master, senhor... o pessoal da Charlton
Comics
acabou de comunicar que vai cancelar
o título...
- Essa
não!! – bravejou o editor, esmurrando a mesa. -
Justo este que caiu no gosto
popular!? Só faltava essa...
é tão difícil acertar num produto que seja viável
comercialmente e quando conseguimos atingir o
objetivo, acontece uma coisa
dessa?
E agora, o que vamos fazer?
- Só
há uma solução, senhor Aizen...
- ...
Produzir a serie no Brasil? E pagar royalties pelo título –
redarguiu o editor,
visivelmente preocupado, e indagou:
Mas, quem poderíamos contratar para fazer
os roteiros e os desenhos?
-
Pedro Anísio e Eduardo Baron, eles
são profissionais
experientes na área e
adoram fazer HQs, conheço-os
há um bom tempo... talvez eles
aceitem
encarar essa louca empreitada... não temos
tempo a perder. Tudo vai depender da
negociação.
O senhor sabe, preço, condições de pagamento, prazo etc...
-
Ligue imediatamente para esses homens,
meu rapaz! Afinal, a revista está dando
certo... e se
os nossos leitores querem ler Judo Master, daremos
Judo Master
para eles! Quanto será que
teremos que pagar, a mais, pelo licenciamento e para
podermos desenhar essa serie de no Brasil? –
resmungou o editor, rodopiando a
mesa.
Em seguida, acionou o interfone e disse a sua
secretária: - Minha
querida, ligue de imediato para
a Charlton Comics, nos Estados Unidos, agora,
e
me avise assim que completar a ligação.... OK?
Preciso falar urgentemente com
eles.
-
Senhor Aizen, pretende, mesmo, pagar royalties
pelo licenciamento para a
produção local e pelo
uso do título?- perguntou o diretor de arte da empresa.
- Há
outra solução, meu bom homem? A revista
precisa continuar... por sorte, eles
nos avisaram
com um mês de antecedência... caso contrário
estaríamos fritos... perdidos...
-
Podemos mudar o título... o que acha?
- Você
está louco!? Não se mexe num
time que está vencendo!
- O
judô... ele está em moda no país. As academias
proliferam nas grandes
capitais... um herói nacional
que praticasse o judô seria bem aceito, eu
acho... não concorda, senhor?
-
Tenho minhas dúvidas... Mas, talvez você esteja
com a razão e, de qualquer
forma, economizaríamos
os royalties... a ideia não é má.
Ligue imediatamente
para o escritor e para
o desenhista, vamos
ver o que eles acham sobre essa
mudança radical.
São profissionais do ramo, mesmo?
- Com
certeza, senhor Aizen! Eu garanto.
No dia
seguinte, logo nas primeiras horas da manhã,
o escritor Pedro Anísio, o
desenhista Eduardo Baron e
o diretor de arte estavam reunidos na sala de Adolfo
Aizen.
-
Senhores, o tempo é escasso... –
observou o editor -
precisamos reformular ou
dar continuidade de uma
revista em quadrinhos que está vendendo bem.
O título
foi cancelado, lá fora, mas isso é uma outra
história... Vocês foram indicados por
esse meu
funcionário, que é de extrema confiança. Espero
que possam encarar o
desafio... eis a revista...
– falou expondo uma edição da publicação
estrangeira sobre a mesa.
- Judo
Master? Um título americano? – disse o
desenhista, após folhear rapidamente a
publicação.
-
Vamos dar continuidade a esta serie gringa, senhor? –
indagou o escritor,
também observando a edição.
-
Sugeri mudarmos o nome – apartou o diretor de arte. –
Que tal Mestre do Judo?
Vocês tem alguma
sugestão? Se tiverem, estamos dispostos a ouvir...
-
Mudar o nome? Acha mesmo que essa mudança
radical poderia dar certo? –
interveio Aizen. –
Acho que você está errado, meu caro... errado...
sempre
considerei suas opiniões, mas dessa vez
sou obrigado a discordar. Mudar o
nome...
se mudarmos o nome, nas certa, perderemos
nossos leitores. Você
enlouqueceu?
- Nós
economizaríamos os royalties, senhor ...
– murmurou o diretor de arte,
timidamente.
- Mestre
do Judo e Judo Master é a mesma coisa.
Uma mera tradução... O mesmo título, em
português?
Isto não é nada original... – disse o escriba, Pedro Anísio.
- Que
tal... que tal... O Rei do Judô? Ou, O Mestre
do Judô? – sugeriu o Baron, o desenhista.
o escritor, após voltar a
examinar a revista, numa
rápida reflexão. – O nome pode ser o mesmo,
com uma
grafia diferente...
- O
Judoka? Com “K”? Com “K”... Hmmm... nada mal... –
disse o editor, pensativo. –
Bem... vocês decidem, afinal,
vocês são os artistas... O Judoka, com “K”...
é... por que não?
Achei interessante e não muda muito a coisa. Mas,
tem um
detalhe, senhores: as histórias devem
ser ambientadas no Brasil
contemporâneo... eu quero
que essa HQ tenha como pano de fundo a nossa
cidade,
o Rio de Janeiro...
- Mas,
senhor Aizen – interrompeu o diretor de arte -,
na serie americana Judo Master
combate os... os...
- Isto
pouco importa, meu caro – sentenciou o editor. –
Esqueça essa serie gringa. Já
que vamos criar algo
novo, que seja tipicamente nacional! Compreenderam?
Quero
um herói brasileiro contemporâneo.
Precisamos de um personagem que fale a linguagem
da nossa gente, que enfrente os problemas do
dia a dia como a gente. Enfim, precisamos desenvolver
um
personagem com o qual o povo se
identifique.
Como podem ver a Marvel acertou em cheio
com o Homem Aranha,
porque o personagem tem
problemas tanto quanto nós, pessoas comuns.
Entenderam?
Todos
assentiram com a cabeça.
-
Ótimo! Agora podemos falar, afinal, sobre a parte
que importa aos senhores –
falou se dirigindo
ao escrito e ao desenhista -, a financeira, meus amigos.
- O
senhor é quem manda, senhor Aizen – concordaram
todos, sorrindo. Essa é a parte
que adoramos...
- Mas,
o senhor sabe... essas mudanças bruscas,
de repente, senhor Aizen, podem dar
certo, mas também
podem dar errado. E se, de repente, as vendas
desabarem? – inquiriu o diretor artístico,
pensando
em tirar o dele da reta, caso a ideia falhasse.
- A
vida é feita de desafios, meu caro. Senhores, não
cheguei onde estou recuando
dos problemas. Hoje
somos a maior editora de HQs do país e talvez da América
Latina. A vida é como um pôquer, meus amigos.
E dessa vez decidi pagar para ver. Pagarei
para ver...
entendido? Se não der certo, cancelo o título.
Fazer, o quê? Não se
pode ganhar sempre,
infelizmente... além do mais, estou apostando na
criatividade desses dois... – disse o editor apontando
para o escriba e o
desenhista, que engoliram a
seco e deram um sorriso amarelo.
A história narrativa acima é fictícia. Foi
criada
por mim, é óbvio. Mas pode ser que algo parecido,
de fato, tenha
acontecido, na época.
Possivelmente,
foi assim que surgiu...
O
JUDOKA! UM DOS MAIORES
ÍCONES
DAS HQs NACIONAIS!
Década de 70 – Na TV, o seriado O Besouro Verde
e seu fiel escudeiro oriental chamado Kato
(Bruce Lee) era um campeão de audiência.
Os filmes de artes marciais estrelados por Bruce
Lee e Chuck Norris também faziam muito sucesso nos
cinemas do país e do mundo. Uma verdadeira
avalanche de filmes de live-actions produzidos no
Oriente, de súbito, invadiram os cinemas do país
e tiveram ótima receptividade. Consequentemente,
de repente, uma serie de academias de artes
marciais surgiram por todas as capitais do Brasil,
como uma verdadeira febre. Nos Estados Unidos
a Charlton Comics, há um ano atrás, tinha lançado
a serie em quadrinhos de um personagem
chamado Judo Master.
UM EDITOR DE VISÃO
Na Terra Brasilis, Adolfo Aizen, o experiente editor
tupiniquim, vivia atualizado nos modismos da época
no país e sempre estava de olho no que acontecia
no exterior. Ao perceber a onda que se alastrava mundo
afora, este homem que foi o pioneiro que trouxe as
HQs para o país, decidiu lançar a versão nacional
dessa revista em quadrinhos, cujo herói era um
expert de artes marciais. Resultado: O sucesso
superou as expectativas. A revista O Judoca,
em sua versão nacional caiu nas graças dos leitores
e passou a vender ainda mais.
Quando a editora americana decidiu cancelar a serie,
devido as baixas vendas, um mês antes da EBAL
lançar por aqui a sexta edição, a empresa comandada
por Adolfo Aizen não teve outra alternativa a não ser
dar continuidade à serie com artistas brasileiros.
Foram convocados para essa missão, às pressas,
o escritor Pedro Anísio e o desenhista Eduardo
Baron, que aceitaram o desafio e passaram
a criar e a desenvolver uma nova versão, um novo
personagem, com novas aventuras ambientadas no país,
conforme havia solicitado o editor. Assim, eles
conseguiram produzir a primeira HQ desse herói
genuinamente nacional e nem sequer sonhavam que
ele um dia iria se tornar um dos maiores ícones das
HQs do país, um clássico. Curiosamente, o nome da
revista, de repente mudou para O Judoka , com “K”.
E por incrível que pareça as vendas aumentaram.
O sucesso foi tanto que a revista em quadrinhos do
Judoka foi publicada por diversos anos até ser cancelada.
A concepção visual do personagem criada por Eduardo
Baron era simples e as cores do seu uniforme
(uma malha colante, um quimono e uma máscara)
correspondiam as cores da bandeira nacional.
O escriba, Pedro Anísio, escreveu a maioria das
histórias desse incrível personagem, que foram
desenhadas por diversos artistas.
Porém,
um engenheiro, que sempre adorou quadrinhos,
ousou escrever e desenhar algumas
histórias do Judoka
e acabou se destacando entre os demais por seu
estilo
diferenciado de quadrinização, tipicamente europeia,
a La Guido Crepax, autor
de Valentina, um clássico das
HQs eróticas criado na Itália. Ele assinava FAHF
e seu
nome é Floriano Hermeto de Almeida Filho.
DOS
QUADRINHOS
PARA A TELONA
Antes
que a serie O Judoka desaparecesse das bancas,
o galã Pedrinho Aguinaga, um
rapaz que fazia na TV
propaganda de uma marca de cigarros famosa, representou
Carlos, O Judoka, numa produção cinematográfica.
Ele contracenou com uma bela e jovem atriz chamada
Elisangela (que anos mais
tarde se tornaria parte
integrante do cast de diversas novelas da Rede
Globo de
Televisão). No filme, Elisangela, que viveu
o papel de Lúcia, a namorada do
herói, que também
o ajudava a combater o crime mascarada e com a
fantasia de
judoka. O filme, que foi considerado trash,
pela crítica especializada local, e
que tinha cenas de
combates ridículas e hilariantes, foi lançado em 1973,
em
poucas salas de exibições. Isso, com certeza,
frustrou a grande maioria dos fãs
das revistas
em quadrinhos que sonhavam em assistir o filme.
A
película foi distribuída pela Ipanema
Filmes, da
lendária Atlântida (que no passado foi uma espécie
de Hollywood
tupiniquim), uma subsidiária da
Roberto Farias Produções Cinematográficas, a
distribuidora recordista em números de filmes
campeões de bilheterias do Brasil,
como: Roberto
Carlos em Ritmo de Aventura, Roberto Carlos e
o Diamante
Cor-de-Rosa, Os Paqueras, Roberto
Carlos a 300 Km Por Hora, Os Machões e As
Aventuras com Tio Maneco, do impagável ator
global Flávio Migliaccio.
GRANDE EXPECTATIVA
Quando a famosa Ipanema Filmes decidiu comprar os
direitos para a distribuição
do filme, os especialistas
e os críticos acharam que essa empresa acredita
piamente
no êxito comercial do Judoka e que,
portanto só poderia se tratar de uma
produção
muito bem feita. Isso fez
aumentar ainda mais a
expectativa dos fãs da serie em quadrinhos da EBAL.
Porém, o filme foi um fracasso de bilheteria
devido a má distribuição.
UMA UNIVERSIDADE
ENVOLVIDA
Segundo boatos que circulavam na época, a Universidade
Gama Filho acompanhava
com atenção os preparativos
para o lançamento do Judoka, o filme, visto que o
professor
Gama Filho era um aficcionado e praticante
do judô. Ele e seus alunos tinham conquistado
diversos
prêmios internacionais em campeonatos dessa
modalidade de arte marcial.
Segundo consta, essa
famosa Universidade
ajudou na filmagem
de O Judoka, desde o seu início.
Há quem
afirme que algumas cenas foram filmadas no
próprio gabinete do professor Gama
Filho e que as
cenas de luta de rua foram filmadas atrás da Universidade.
Segundo relatos, o professor Gama Filho acabou
intercedendo
com as autoridades do subúrbio
carioca de Piedade, para que a equipe de do
filme tivesse total apoio ao gravar naquela região.
CHARLTON
COMICS
Devido
a boa receptividade que as histórias em
quadrinhos tiveram nos Estados Unidos
na década de
30, gerando riquezas, muita gente decidiu entrar
para o ramo
editorial visando atender a crescente
demanda e faturar alto. Nova Iorque
abrigava boa
parte desses editores, porém em outras cidades
americanas também
surgiram pequenas casas
editoriais e o interessante é que algumas delas também
fizeram história. Nesse caso se enquadra a Charlton
Comics, fundada no período
pós-guerra, em 1946.
Ela surgiu na cidade de Derby, Connecticut, e
gradativamente começou a ampliar suas publicações.
VÁRIOS
GÊNEROS DE HQs
Foram
lançados pela Charlton HQs de...
Western,
terror, guerra, policiais, romance, ficção
científica, humor e até
super-heróis, visto que a DC
e a Timoly (futura Marvel) estavam obtendo sucesso
com esse tipo de heróis e suas inverossímeis
aventuras destinadas aos
adolescentes.
John
Santangelo e Ed Levy, os fundadores da Charlton
Comics entraram no mercado com
pouco capital e
por isso procuravam economizar o máximo para
lançar os seus
produtos. É bom frisar que nessa época
as revistas em quadrinhos da América eram
impressas
num papel jornal de péssima qualidade e as impressões
eram feitas com
clichês – chapas de chumbo ou estanho.
Os dois
fundadores e editores daquela casa editorial
de Connecticut , por terem pouco
capital para investir,
estrategicamente optaram por adquirir material
inédito
de empresas editoriais que tinham falido ou
que estavam à beira da falência que,
em desespero
para saldar suas dívidas, vendiam seus acervos de
originais a
preços módicos em suaves prestações.
Segundo declaração de alguns autores que
foram procurar essa editora: “Eles pagavam mal.
Pagavam seus funcionários e
colaboradores com
preços abaixo daqueles que eram praticados pelas
demais casas
editoriais.” Mesmo assim, aos poucos,
a pequena empresa começou a se firmar e a
se
destacar no mercado. Com isso, acabou atraindo
bons profissionais. Uma gama
de
produtos editoriais,
com o
selo Charlton, começaram a preocupar as
concorrentes, porque chamavam a atenção nos
pontos de vendas, devido
ao crescente
número de títulos.
PERÍODO
TURBULENTO
Voltando
ao passado...
Após o
término da Segunda Grande Guerra Mundial o
mercado editorial americano
de
quadrinhos
entrou em crise. Alguns títulos de personagens
tradicionais, que
vendiam muito, foram cancelados,
em consequência das baixas vendas. Muitas
casas
editorias e gráficas passaram a fechar suas portas.
Foi justamente nesse
período turbulento do setor
editorial local é que a Charlton decidiu entrar
para
o mercado. Ao passo que personagens como Capitão
América (criado por Joe
Sinnot e Kirby) eram
engavetados, saiam
do mercado, editores encerravam
suas atividades e muitas autores de HQs ficavam
desempregados, assim como gráficos, papeleiros etc.
Os editores dessa pequena
casa editorial, temendo
pelo pior, decidiram ser criativos e usaram a cabeça:
se aproveitaram da crise para adquirir boa parte dos
direitos da Fawcett
Comics, que enfrentava sérias
dificuldades econômicas. Essa também lendária
empresa, naquela época,
por ter lançado o Capitão
Marvel, foi acusada de plagiar o Superman .
Portanto,
além da crise, estava enfrentando um
processo judicial movido pela DC Comics
nos tribunais.
Este fato ocorreu em 1952. No pacote de títulos
adquiridos pela
Charlton, da Fawcett) só não
entrou o
polêmico Capitão Marvel, devido ao
referido embate judicial. Assim, eles
passaram
a lançar cada vez mais novos títulos, novas séries.
UM
DIRETOR DE
ARTE DE VISÃO
Segundo
estudiosos, o período mais significativo
em que a Charlton se destacou no
mercado foi
na década de 60, em plena Era de Prata dos
Comics, quando Dick Giordano,
que dirigia o
departamento de arte e criação, contratou um ótimo
desenhista que
tinha acabado de deixar a Marvel
Comics, Steve Ditko, cocriador do Homem
Aranha, com Stan Lee.
Nesse
período, após a contratação de Ditko a
Charlton
lançou diversos novos títulos de terror e de super-
heróis. Dentre
esses últimos se destacaram:
Capitão Átomo e o Besouro Azul, personagens
que
saiam numa serie denominada Heróis em
Ação. De repente, a qualidade dos
produtos
melhoraram sensivelmente e assim eles acabaram
conquistando fiéis
leitores e uma boa fatia
do mercado editorial local.
Cheyenne Kid, Abbot e Costello, Billy The Kid, Blue
Beetle e
Capitain Atomo, foram alguns títulos
deles
que caíram no gosto popular. Porém, suas
vendas eram oscilantes e os
concorrentes
aumentavam lançando cada mais super-heróis.
Isso só tinha um significado: os concorrentes estavam
preocupados com \o número de títulos
que a Charlton colocava mensalmente
no mercado.
Porém, suas vendas dessa editora eram oscilantes.
No final dessa mesma década todos os títulos de super
-heróis da
Charlton foram cancelados, porque
estavam no vermelho.
ALERTA VERMELHO
Os
editores entraram em pânico. Era preciso reformular
tudo, urgentemente, renovar
a linha de produtos
editoriais ou sucumbir. A solução encontrada por
Dick Giordano e Frank McLaughlin foi publicar
material licenciado. Assim, os direitos de series da TV,
de quadrinhos e de
sucessos cinematográficos
foram adquiridos de empresas como Hanna-Barbera,
King
Features, Columbia Pictures etc. Outra grande
jogada dos editores, foi criar
versões em quadrinhos
de famosos seriados da TV.
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Giordano |
LIVE
ACTIONS
Em
1966, de súbito, uma verdadeira febre de filmes
sobre artes marciais invadiram
a América e atraíram
muita gente aos cinemas. Na TV, Bruce Lee, vivendo
papel
de Kato, ajudante do herói Besouro Verde, fazia
um grande sucesso. A filosofia
dos gurus orientais
indianos e a prática de artes marciais tomaram conta
do
país que estava envolvido até a alma
com a Guerra do Vietnã.
Tudo
começou quando os pretensiosos
“xerifes do mundo”,
em nome da democracia e da liberdade,
foram
se envolver num conflito interno daquele país, onde
o Vietnã do Norte
combatia o Vietnã do Sul. Um era
comunista (aliado dos soviéticos) e o outro
capitalista,
aliado dos americanos. As tropas americanas eram
compostas por
militares superequipados com alta
tecnologia e mesmo usando a terrível e
devastadora
bomba de Napal, proibida pela O.N.U, se deram mal
e acabaram
voltando para a casa humilhados.
A imprensa internacional não perdoou a gafe
ianque
e publicaram algumas irônias em suas manchetes,
como: “Americanos perdem
a guerra lutando
contra um exército munido de estilingues”.
Como o mais
poderoso exército do Ocidente poderia
levar a pior ao confrontar um exército de
um país
subdesenvolvido? , questionavam inconformados
alguns jornalistas e
especialista em conflitos
internacionais. Quando a própria imprensa
americana
começou a revelar as atrocidades
cometidas por seus soldados, aqueles que
voltaram para a Pátria Mãe (muitos mutilados)
foram vaiados e execrados por seu
próprio povo.
O trauma foi imenso. Tanto que anos depois o
cinema
criou Rambo, interpretado por Sylvestre Stallone, um
homem poderoso que
usando uma metralhadora,
sozinho, arrasava quarteirões repletos
de vietnamitas.
Pura ironia.
Mas,
voltando a falar da Charlton Comics...
Rapidamente,
antes que a onda de artes marciais
acabasse e dezenas de academias abertas pelo
país
fechassem o pessoal da Charlton decidiu lançar
o título Judo Master, na
esperança de aproveitar
o bom momento. Os primeiros números dessa
nova serie
foram bem, tanto, que (como já foi dito) o
editor brasileiro, percebendo que
aquela febre por
artes marciais também tinha chegado ao Brasil,
decidiu
adquirir os direitos para lançar Judo Master,
que passou a se chamar O JUDOCA,
pela EBAL.
LOVE
PEACE
Nas
ruas, os hippies, embalados pelas canções de
Bob Dylan, Joan Baez e Jimmy
Hendrix pregavam a
paz e amor, Betty Freeman (líder da Woman’s Lib –
Frente de
Libertação Feminina) queimava soutiens
em praça pública pleiteando igualdade de
condições
para as mulheres, os Black Panters, de Los Angeles,
lutavam contra o
preconceito racial aderindo a
campanha promovida pelo pastor negro Martim
Luther
King, John Lennon e Yoko Ono ficaram numa cama,
nus, na vitrine de uma
loja, em protesto contra
a guerra do Vietnã. Os jovens desejavam paz e
amor,
consumindo grandes lotes de maconha,
LSD e outras substâncias cabulosas. Por outro lado, a
União Soviética e os Estados
Unidos (as superpotências,
que eram os donos do mundo) ameaçavam deflagar
a
Terceira Grande Guerra Mundial, atômica. O mundo
vivia apreensivo vislumbrando
um
possível holocausto.
Nesse
clima turbulento a serie Judo Master teve breve
duração e acabou sendo
cancelada quando suas vendas
definharam. Porém, no Brasil o título deu certo. Quando
a editora de Adolfo Aizen estava preste a
lançar a edição # 6
dessa serie, ele foi informado que o título iria ser na
América. Sem alternativa, por não querer perder um
gibi que estava vendendo
bem, decidiu lançar
O Judoka, produzido por brasileiros.
MUDAR
PARA NÃO SUCUMBIR
Lutando
para sobreviver, enquanto assistia a Marvel
e a DC se dando bem com uma gama de
super-heróis,
os executivos da Charlton decidiram enveredar
por outro caminho:
HQs de automobilismo, visto
que as corridas de automóveis arrastavam multidões
aos autódromos e a outras raias de competições.
Pouco tempo depois surgiram
títulos como
Hot Wells, Drag Wheels, Grand Prix e outros.
ANOS
70
A
serie produzida para a TV chamada Kung-Fu, que
Bruce Lee sonhava em participar,
acabou sendo
estrelada, para a frustração de Lee, pelo ator David
Carradine. O seriado televisivo
apresentava um
chinês andarilho, que era expert em Kung-Fu
enfrentando os problemas e
malfeitores do velho Oeste.
Seu sucesso
foi imediato, por todo o mundo.
Sem
perder tempo, a Charlton lançou algumas
series baseadas no Kung-Fu da TV. Assim
surgiram
as HQs do mestre Chung Hui, que adotou o nome de
Yang, filho de um
mandarim que fora assassinado
em 1890, que em busca de vingança, vai atrás dos
assassinos de seu progenitor no longínquo velho
Oeste. No Brasil, esta serie da
Charlton foi publicado
pela EBAL na revista Kung-Fu, em 1975.
Na América,
aquele novo lançamento da Charlton,
talvez por abordar o mesmo tema do seriado
da TV,
deu certo. Isso motivou os editores a lançar outros títulos.
DECADA
DE 80
Nessa
época, mais uma vez a indústria dos comics
americanos entrava em crise. Muitos editores, preocupados,
diminuíram seus
títulos, cancelaram outros e na esperança
de reconquistar seus antigos e fiéis
leitores procuravam
renovar antigos personagens de títulos tradicionais.
Durante esse período, a Charlton Comics passou a ter
sérios problemas
financeiros, também, quando viu suas
vendas atingiram baixíssimo patamar que
mal cobria
os custos operacionais. A solução foi renegociar
as dividas e
encerrar definitivamente suas atividades,
em 1986, para o desespero de seus
leitores.
WATCHMAN E
OUTRAS SERIES
e que fez acontecer e até chegou a
preocupar os
editores de maior porte nos deixou um legado
duradouro: seus
super-heróis. Como Beetle Blue e
os espetaculares personagens da serie Watchman
que acabou sendo ressuscitada pela DC, após
adquirir os direitos autorais, anos
depois.
Inicialmente,
os executivos da DC pretendiam relançar
as antigas HQs de Watchman publicados
pela Charlton
mas, de repente, mudaram o plano e decidiram
encomendar para que
Alan Moore criasse
personagens similares para uma nova serie,
que acabou se
tornando um dos grandes
clássicos daquela casa editorial.
Alguns
super-heróis da extinta Charlton acabaram
para a cronologia da DC
Comics e até surgiram na
saga chamada Crise Nas Infinitas Terras.
Depois
dessa memorável serie, que revolucionou
o universo dos heróis DC, o Besouro
Azul – um dos
títulos mais bem sucedidos da Charlton -, entrou para
a Liga da
Justiça e o Capitão Átomo acabou ganhando
revista própria, assim como o Questão
(personagem de uma antiga serie que
abordava temáticas mais adultas), O
Pacificador
e o Sombra da Noite, que passou a fazer parte
do Esquadrão Suícida.
Numa das HQs de Crise Infinita, o Besouro Azul
acabou morrendo e o Sombra da Noite entrou
para um grupo de heroís chamado
Pacto das Sombras.
O JUDOKA BRASILEIRO
Graças a Charlton, que acabou cancelando a serie
Judo Master é que
surgiu o Judoka, um clássico das
HQs nacionais, em 1969. Com o passar do tempo,
na década de 80, outras editoras adquiriram os direitos
dos heróis Marvel e DC
e os lançaram no país
até conseguir implantá-los
definitivamente, depois
de uma serie de tentativas mal sucedidas.
Editoras como: Bloch, Globo, Abril, Mythos,
Ópera
Gráfica, GEP (Gráfica e Edirora Penteado), Editores
Associados, Abril,
contribuíram para a implantação
desses superseres no Brasil. Atualmente a
editora
Panini, cuja matriz é italiana e que representa
a Marvel pelo mundo,
domina o mercado local
com diversos títulos mensais de revistas de
super-heróis.
Porém, nenhuma delas
contribuiu de forma tão
contundente para a emplementação desse
gênero no país,
quanto a EBAL.
BRASIL-AMÉRICA
A Editora Brasil-América, sem
dúvida, foi a
maior
editora de quadrinhos do país e da América Latina.
Tornou-se a maior
divulgadora de história em
quadrinhos durante muitos anos, publicando revistas
das duas maiores majors e ferrenhas concorrentes
que sempre disputaram palmo a
palmo o mercado
de Hqs dos Estados Unidos, a DC e Marvel.
Em 1969, a editora carioca ousou lançar seu
primeiro herói brasileiro, o Judoka, criado por Pedro
Anísio e Eduardo Baron, que se tornou o mais bem
sucedido personagem
já criado para os quadrinhos no
Brasil.
Nem mesmo a poderosa Abril, no período
em que dominava o mercado, por detinha e
a
maioria dos títulos de super-heróis americanos
no país, conseguiu tal feito:
criar um personagem
genuinamente nacional e obter sucesso contínuo.
CINCO
ANOS DE SUCESSO
O
Judoka começou a ser publicado em 1969 e
sua última edição saiu em 1973. Durou
por cinco
anos. Um recorde, em se tratando de um personagem
nacional, sem
superpoderes e que competia nos
pontos de venda com grandes ícones dos
quadrinhos
internacionais como Batman, Superman,
Capitão América e outros.
Nunca,
na história das HQs nacionais, um personagem
criado no país durou tanto tempo.
Na década de
70 os ditadores militares comandavam a nação
à mão de ferro,
enquanto os adolescentes sonhavam
em ser Carlos, um rapaz comum, que se
transformava
no Judoka para combater as injustiças, trajando
um uniforme com as
cores da bandeira desse país,
cujo lema na época era: “Brasil, ame-o ou
deixe-o”.
Milhares de jovens brasileiros se
identificaram com o personagem.
CHAMADA
GERAL
Maio de
1970 - o Judoka e sua namorada Lúcia
apareceram pela última vez numa edição especial da
serie Epopeia, cujo nome era
Chamada Geral, uma
edição que comemorava 50 anos da fundação
daquela casa editorial. Nela apareceu diversos
personagens publicados pela EBAL,
ao longo dos anos
(em sua
maioria Made in America).
Essa edição fora de serie foi ilustrada pelo grande
mestre Eugênio Colonnese.
SAIBA QUEM CONTRIBUIU
PARA O
SUCESSO DESSE
GRANDE HERÓI
NACIONAL
Colaboraram
na serie O Judoka, os seguintes
mestres: Pedro Anísio (roteirista oficial) e os
seguintes profissionais do traço: Eduardo Baron,
Juarez Odilon, Cláudio de
Almeida, Floriano Hermeto
de Almeida Filho (FHAF), Francisco Sampaio,
Fernando
Ikoma, Alberto Silva e Eugênio Colonnese.
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FHAF |
A todos
os que se envolveram na elaboração e na
realização dessa serie que deixou
saudade em muita
gente, em nome de todos que ainda lamentam a
perda desse bom
título Made in Brazil, tenho um recado:
Parabéns, em nome de todos os fãs da
serie,
como eu vocês foram geniais.
![]() |
José Alvarez é colecionador e fã do Judoka. Ele esta terminando um livro sensacional sobre o personagem. Não perca! Você encontra o autor no Facebook. e-mail: alvarez.listas@gmail.com |
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