Saudações,
meus queridos webleitores,
o entrevistado de hoje é desenhista, animador,
ilustrador, roteirista, chargista, autor
premiado de peças teatrais e bacharel em artes
plásticas e É
discípulo do grande mestre
da animação nacional Daniel Messias.
Vi
o trabalho dele, pela primeira vez, numa
vinheta da Globo, se não me engano em 1996.
Algum tempo depois, voltei a apreciar o trabalho
desse genial autor através de um
programa
dedicado as crianças.
Era uma animação exibida pela TV2
Cultura e de
imediato fiquei fã daquele traço estiloso e genial.
Este ano tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente
na entrega do Troféu Ângelo
Agostini, onde
fomos apresentados pelo ex-colaborador
e velho amigo
Jotáh, consagrado autor e
ilustrador de livros infantis. Portanto,
confira o
bate papo a seguir, que realizei com...
O
INCRÍVEL CÉSAR
CAVELAGNA!
TONY 1: Bem vindo, grande César, poder trocar
ideias com você e saber mais sobre sua brilhante
trajetória
profissional, com certeza, será uma honra.
Grato, por aceitar
responder minhas questões.
CÉSAR: Grande, Tony e amigos Webleitores, é
um
prazer participar e me sinto honrado pela oportu-
nidade de
compartilhar um pouco da minha
história com vocês.
TONY 2: A honra é toda minha, por poder divulgar
mais um grande profissional deste país, creia-me....
Jura dizer a
verdade, nada mais do que a verdade?
Rssss...
CÉSAR: Sim, meu capitão! Rsrsrsrsr...
TONY 3: Então vamos lá, meu querido grumete!
Vamos começar a velejar... Rsss... em que dia, mês,
ano, cidade,
estado, nasceu o autor de Simão e
Bartolomeu, série animada exibida
pela TV2 Cultura,
que ainda faz muito sucesso entre os baixinhos?
CÉSAR: Eu nasci aos 20 de Setembro de 1974,
na
cidade de São Paulo no bairro da
Vila Formosa.
TONY 4: Grande Vila Formosa, conheço bem...
lá
tem um cemitério muito famoso... Qual é o seu nome completo?
Atualmente, você mora em que
cidade e estado?
CÉSAR: Meu nome é César Cavelagna, do
jeitinho
que eu assino. Hoje moro na cidade de Jarinu no aglomerado
Jundiaí, cidade perto de São Paulo.
TONY 5: Pensei que fosse nome de guerra,
pseudônimo, você sabe... muitos usam nome de guerra.
Mora em
Jarinu, ou seja, fugiu para o interior de São Paulo, longe da selva
de concreto.... muita gente tem seguido
seus passos. A violência
impera na capital paulista, basta ver os noticiários diários.... em
alguns poucos lugares do interior ainda é possível viver em paz.
Conheço bem Jarinu. É a terra da cachaça, da boa...
Rssss. Sua
família, pelo visto, é de origem italiana...
fale um pouco sobre
ela. Quando migraram
para o Brasil? Há algum outro artista na
família?
CÉSAR: Sim, siamo tutti nervosi e comedor de
Lasanha! Rsrsrs... Meus bisavós vieram da Itália,
mas não sei
muito da história deles.
Sei que vieram da região da Calabria e
Napoli.
A Itália é berço de grandes artistas dos quadrinhos,
sou
muito fã do Giorgio Cavazzano.
Infelizmente não há outro artista
na família.
TONY 6: Ma que!? Nervosi?
Comedores de Lasanha?
Da Calábria e de Napoli? Tutti buona gente,
César!
Aliás, tamém adoro comida italiana! Ave, César...
Rssss. O Cavazzano é um grande
artista, sem dúvida,
assim como a maioria dos rabiscadores
italianos.
Sempre preferi os europeus do que os americanos,
são mais
artistas, eu acho...
O que você lia ou curtia quando era pequeno?
Preferia as histórias em quadrinhos ou
desenhos animados?
CÉSAR: Ambos! Adorava o universo mágico das
personagens infantis. Quadrinhos eu lia Mauricio de Sousa, Disney,
Recruta Zero, Luluzinha, O pequeno Nemo, Ziraldo, Ely Barbosa etc.
Quando fui crescendo lia MAD, Chiclete com Banana, CIRCO, Principe
Valente, Moebius, Will Eisner, Frank Miller. Sempre gostei mais dos
personagens Infantis (cartuns) a Super Heróis. Na animação eu
gostava de desenhos que passavam nas antigas TV Manchete, TVS(SBT) e
Globo como Lorde Gato e Marmaduke, Lobinho, Gasparzinho, Marco,
Thundercats, He-man, Disneylandia, Silver Hawks, Pinóquio, Tarzan,
Pica-Pau, Hanna-Barbera,
Herculóides, Shazan, Snoopy.
O meu desenho
predileto era Caverna do Dragão.
TONY 7: Só gostava de desenhos ruins?
Tô
brincando... Rsss. Também curti muitos deles.
Prefiro as animações
da antiga do que muito anime japurunga... Caverna do Dragão, esta
série fez a
cabeça de uma geração... Como, quando e por
que você
optou pelo mundo da animação?
CÉSAR: Eu sempre gostei de desenho animado,
mas como não via nomes brasileiros e nem personagens brasileiros na
TV, pensava que o Brasil não produzia desenho animado. Eu tinha
apenas quinze anos e assistia a comerciais e desenhos na TV. Curioso,
eu decidi pesquisar um pouco de animação no Centro Cultural
Vergueiro, lá eu pedia para a bibliotecária me fornecer material
sobre desenho animado.
Quase não tinha nada em Português, todo
material estava em inglês e eu tentava entender um pouco da produção
vendo as fotos e desenhos do livro.
TONY 8: Centro Cultural Vergueiro, conheço bem.
É
excelente e fica próximo a estação Vergueiro do metro.
De fato,
antigamente, só existiam livros gringos sobre animação e isso
desestimulava muita gente que queria
fazer desenhos animados, mas que
não manjavam de inglês... e portanto, não entendiam porra nenhuma.
Muitos desistiam da ideia.... era uma merda.
Segundo minha rede de
espionagem internacional,
quase secreta, você trabalhou ou estagiou no
Estúdio
HGN, de Haroldo Guimarães Neto...
como surgiu esta oportunidade? E o
que
desenvolviam eles, na época?
CÉSAR: Eu tinha 18 anos, por aí, estudava no
colégio São Judas. Uma colega da escola trabalhava como
recepcionista no estúdio HGN e vendo os desenhos que eu fazia na
carteira da escola, me falou:
- Por que você não vai lá no estúdio
que eu trabalho, eles fazem desenhos pra Disney!
Respondi: - O quê? Você tá falando sério?
Mas será que eu tenho chance ? Disney? Meu Deus! Kkkkk... Ela disse: - Vai lá e mostra seus desenhos
para o Haroldo.
TONY 9: Disney!? Putz... dá pra imaginar o
orgasmo que você teve, cara... rssss... continue...
CÉSAR: Enfim, eu fui até o estúdio e me
matriculei
no curso de Animação Disney. Rapidamente fui aprendendo
e logo passei a trabalhar como
assistente no estúdio. Na época eles
desenvolviam Comerciais e tinham produzido ALLADIN, PATETA, BONKERS,
DUCK TALES...
TONY 10: Que maravilha! Poxa! Pateta, Alladin
e
Duck Tales... adoro essas series e aposto que
nossos webleitores,
assim como eu, jamais imaginaram
que essas series foram produzidas no
Brasil.
É por isso que adoro colher depoimentos dos nossos
entrevistados e colaboradores. Sempre temos gratas surpresas,
principalmente, sobre os bastidores. Beleza, Cesão. Sempre adorei
desenhos animados. Tenho um projeto para fazer vinhetas de Fantastic
Man e Capitão (Buana) Savana – dois personagens criados por mim –
em animação. Mas esses projetos jamais saíram do papel,
principalmente, por que fazer animação dava um trabalho danado.
Mas, sei que atualmente a tecnologia facilitou muito na confecção
desse tipo de trabalho. Outro dia, um amigo sugeriu: “Por que vocês
não fazem desenhos desanimados, tipo, os primeiros da Marvel?”
Tamos estudando... Pergunto: Que ferramentas você
usa para fazer suas animações? Desenha ainda tudo manualmente?
Utiliza algum programa específico?
Descreva seu processo de
trabalho...
CÉSAR: A Tecnologia contribuiu muito para
agilizar e baratear o processo de produção de animação, porém,
os conceitos tradicionais são muito importantes ainda no
desenvolvimento de uma boa produção.
A própria Disney mantém
conceitos tradicionais e ferramentas para criar os concepts de seus
perso-
nagens e de suas animações até hoje.
O tradicional e o
Tecnológico caminham juntos
quando se trata de animação. Isso é
muito bom!
O meu processo de animação envolve conceitos
tradicionais e softwares avançados, ou seja, gosto
de desenhar no
Photoshop , animar também,
a nova versão do Photoshop oferece uma
time
line muito interessante pra fazer animação tradicional. Gosto
de colorir no Photoshop também, depois importo tudo no After Effects
e utilizo os recursos deste software para aprimorar ainda mais a
animação, gosto muito do Toon Boom Harmony também, mas nenhum
deste softwares serão usados em sua totalidade se os conceitos da
animação tradicional não estiverem
bem definidos na cabeça do
animador.
TONY 11: Ficou nítida a importância que devemos
dar aos conceitos da animação tradicional. Foi uma bela dica, sua,
para aqueles que desejam entrar para o mundo
da animação. Legal,
mestre. Seguindo.... A Borboleta
Sem Asas, este foi seu primeiro
trabalho profissional
ou teve outros antes? Fale-me sobre esta sua
interessante criação.
CÉSAR: A Borboleta sem Asas foi uma história
que criei com 20 anos de idade quando ainda era estudante de Artes
Plásticas na Universidade
São Judas. Ela foi inspirada na filha de
uma amiga
que nasceu com uma Amiotrofia Espinhal Aguda,
o que
impossibilita ela de ter movimentos
no corpo todo. Isso me tocou na
época e foi aí
que tive a ideia de criar uma história de uma
Borboleta Sem Asas. Esta história ganhou força ao longo dos anos e
virou um Musical infantil premiado, foram 2 prêmios PANAMCO em 2002
como Melhor Musical Infantil, em seguida virou uma produção
da TV
CULTURA exibida até hoje e em breve vai se transformar num longa
metragem de animação.
TONY 11: Genial! Parabéns! Como e quando surgiu a
oportunidade de fazer animações para a TV2 Cultura?
CÉSAR: Eu estava colaborando com o estúdio
HGN e estudava Artes Plásticas na Universidade São Judas, uma
professora chamada Sandra Vita era coordena-
dora da TV Cultura no
setor de Desenho Animado,
ela viu o meu trabalho, reconheceu meu
talento e me levou pra trabalhar na Cultura junto com o Diretor de
arte da época Luis Scarabel Junior.
TONY 12: Que sorte, hein? Essa professora caiu,
literalmente, do céu... Rssss... não acha? Vislumrou,
que ante ela
havia um grande talento... Suas animações surgiram pela primeira
vez nos programas X-Tudo e
Cartão Verde? Correto?
CÉSAR: Rapaz, você pesquisou mesmo,
hein...
Kkkkk...
Tony 13: Acha que eu e meus espiões, quase
secretos, estamos aqui pra brincadeira? Fuçamos a beca...
Rsss...
mas, responda, sem pestanejar, sobre o
X-Tudo e o Carão Verde, não
enrola...
CÉSAR: Sim, eu fui convidado para fazer parte
da equipe de animação da TV Cultura em 1997 pela Sandra Vita que
era coordenadora na TV Cultura e foi minha professora na
Universidade. Luis Scarabel
Junior era diretor de arte da TV Cultura
e me contratou. Eu fazia o visual do X-TUDO, abertura, vinhetas e
animações. No programa Cartão Verde eu iniciei como chargista
esportivo.
TONY 14: Você é um cara iluminado pelos deuses
da animação, meu caro... ainda bem, afinal, o que é do
homem o
bicho não come, diz um antigo ditado popular... Vamos nessa: Você
contou com uma equipe para desenvolver aqueles desenhos animados ou
trabalhou sozinho?
CÉSAR: Animação é um trabalho em equipe!
Não só contei com outros profissionais como
também aprendi muito
com artistas como Sebastião Santana, João Guarche, Augusto Bastos,
Haroldo Guimarães Neto, Ari Nicolosi, Adilson de Oliveira
entre
outros.
TONY 15: O time era da pesada, pelo visto....
Em
geral, quanto tempo você leva para fazer
aqueles belos desenhos
animados, que exigem
uma bela estrutura de produção?
CÉSAR: Entre criação, roteiro, storyboards,
cenários, animação, áudio e pós-produção, cada episódio do
Simão durava em média 45 dias para ser produzido. Contando com uma
equipe de aproximadamente 10 pessoas.
TONY 16: Dá pra imaginar a pauleira e o trabalhão
da turma, meu irmão. Colaborei com o Estúdio do
saudoso Ely Barbosa
e vi como eles ralavam pra fazer,
na unha, um comercial para a
D.D.Drim, de 15 segundos... era gente pra dedel... Simão e
Bartolomeu, vamos falar sobre esses seus carismáticos personagens...
a
primeira vez que os vi, se não me engano, foi no canal infantil
Rá-Tim-Bum, graças ao Jotáh, que me disse:
“Tony, dá uma olhada
no trabalho do Cavelagna.
Tá fazendo um grande sucesso entre a
garotada!”
Fui conferir e adorei Simão e Bartolomeu.
Quantos
filmes animados você fez dessa dupla apaixonante? E, quando você os
criou?
O cão me lembra o estilo de Francisco Ibañez, autor de
Mortadelo e Salaminho. Acertei?
Também sou fã dos desenhos cômicos
europeus...
CÉSAR:O Simão nasceu em 2005 e imediatamente
começamos a produzir uma série, começamos com pílulas de 1 minuto
cada. O sucesso foi tão grande
que de 1 minuto o Simão se
transformou em epi-
sódios de 11 minutos, durante alguns anos o Simão
foi o carro chefe do canal, além de ser o primeiro desenho animado
brasileiro produzido para o
primeiro canal infantil brasileiro da TV
por assinatura.
Seu sucesso rendeu um convite da Editora
Globo para
lançar livros e Quadrinhos.
A inspiração para a criação do Design do
Simão
foi o GRIMMY de Mike Peters.
TONY 17: Alguém aqui falou em Francisco Ibañez?
Rssss... só dou bola fora! Cheguei a comprar um desses livros da
Globo feito por você. Ótimo material. Errei,
sobre o Francisco Ibañez... Rssss.
Mas, o Mike também
tem um estilão fantástico, que lembra o
rabiscador
espanhol, também... talvez ele tenha se influenciado,
quem sabe, né? Rssss...
Prosseguindo: Sidney, O Ratinho Viajante...
fale-me
sobre esta sua outra criação.
CÉSAR: O Simão já estava consolidado como
personagem, com série na TV, quadrinhos e
livros pela Editora Globo
e um departamento de Marketing promovendo o personagem em todo o
Brasil e no exterior. Estava na hora de emplacar
outros personagens.
Eu adoro história e criei o
Sidney e o Juca Barato, 2 personagens
que
viajam no tempo e ajudam a história acontecer.
TONY 18: No país e no exterior? Fantástico! Eu
não imaginava isso... Parece que Sidney e Bartolomeu
ainda são
exibidos na TV, estou correto ou
redondamente enganado? Atualmente não vejo
muita TV...
CÉSAR: Sim, Ambos estão na grade de
progra-
mação da TV Rá TIM BUM e no Canal ZOO MOO
pela Sky.
TONY 19: É bom saber... nem sempre tenho tempo e
paciência pra ver TV... mas, vou conferir. Parabéns.
A editora Globo lançou
uma coleção fantástica de livros infantis, ricamente ilustrados,
feitos por você, do Simão
e Bartolomeu... como surgiu a
oportunidade?
E, em que ano isso aconteceu? Os textos e desenhos
são
seus ou contou com colaboradores? A série teve quantas edições?
CÉSAR: A Cultura Marcas era o departamento que
licenciava o personagem, Ricardo Fiuza era o dire-
tor na época e foi
o responsável pela negociação do Simão com a Editora Globo. A
Turma da Mônica de Mauricio de Sousa não fazia mais parte da
Editora
Globo e nesta época a Globo me convidou para
produzir
quadrinhos do Simão e Bartolomeu e livros infantis, na mesma época
também estavam sendo lançados produtos com o Cocoricó, Ziraldo com
o Menino Maluquinho e a obra de Monteiro Lobato
em quadrinhos. Aquilo
parecia um sonho pra mim!
Eu estava figurando no mercado de
quadrinhos
através da editora Globo junto com Ziraldo
e Monteiro
Lobato! Rsrsrsrsrsrs...
TONY 20: Uau! Você foi
um privilegiado do universo,
Cesão! Não conheci ninguém que tenha
conseguido tal feito... continue... que história mais excitante...
CÉSAR: Infelizmente a Editora passava por
dificul-
dades e todos estes projetos foram cancelados
anos depois. Eu contei com a participação de vários
excelentes colaboradores, entre eles o Jotáh, Peter-
son, Sergio
Morettini, Rolt, Marcelo Cassaro,
Anderson Nunes, Denise Ortega,
Kaled K. Kanbour
e muitos outros... Grandes talentos dos quadrinhos
que fizeram um trabalho incrível com o Simão.
A estes excelentes
artistas eu ofereço a minha
sincera gratidão e respeito.
Agradeço muito a Arlete Alonso, Luciane Ortiz
e a Dri Bertola da Editora Globo. A série teve 5
livros em quadrinhos e 5 livros
infantis.
TONY 21: De fato, você contou com grandes
profis-
sionais do mundo das HQs e da animação, meu amigo... todos
estão de parabéns, pelo excelente trabalho desenvolvido. Bem, agora
vamos falar sobre:
Vinhetas para a TV Bandeirantes... segundo meus
espiões, você fez diversas. Em que ano você as fez
e cite
algumas...
CÉSAR: Eu entrei na Tv Bandeirantes em 2003 e
fui Chargista esportivo até 2007. Lá eu fiz mais de 2.000 Charges
animadas para os programas da casa.
TONY 22: Isto é o que eu chamo de uma carreira de
sucesso, aliás, sucessos... Você tem um belo estúdio montado em
casa, ou seja, com todo o aparato neces-
sário para fazer desenhos
animados?
CÉSAR: Sim, eu tenho um belo estúdio com
Cintiq, prancheta, mesa de animação e todo o material mais moderno
para a produção de animações.
Eu tinha um estúdio físico que
ficava na cidade de Jundiaí, lá eu tinha alguns colaboradores fixos
além
de uma escolinha de Desenho Animado. Minha
intenção era
formar meus próprios profissionais. Também oferecia cursos
gratuitos para a
garotada que não podia pagar.
TONY 23: Tinha? Que pena que acabou... mas, de
qualquer forma, parabéns pelo seu altruísmo.
Oferecer cursos grátis
para incentivar gente de talento,
que não tem condições
financeiras é uma nobre atitude. Admiro você ainda mais. Também
ajudei muita gente a entrar no ramo, sem nada cobrar.
Aprendi isto
com o mestre Ignácio Justo, um cara que
até hoje tem um coração
gigante. Meu grande e
querido mestre...
De volta ao nosso bate papo legal... Em 2012, a
editora Europa lançou uma edição especial feita por você cha-
mada
Como Criar Personagens – aliás, muito bem feita. Você criou e
desenvolveu o projeto e foi oferecer para
eles ou fez sob encomenda?
CÉSAR: Eu criei e desenvolvi o projeto com a
intenção de oferecer um material brasileiro de
qualidade, em
português e com um preço aces-
sível para a garotada estudar
animação e desenho.
TONY 24: Gostei de saber. Quem quer, corre atrás,
vivo dizendo isso. Tem muito neguinho, por aí, criativo,
mas que não
corre atrás. Tem que ir pras cabeças...
Ah, comprei a tal edição.
É excelente... Bem, agora
vamos trocar idéias sobre a tradicional
revista Recreio – lendária publicação destinada aos pequeninos,
da editora Abril -, você também colaborou com ela?
Fazendo o quê? E,
como surgiu essa boa oportunidade? Ainda colabora com a referida
revista?
CÉSAR: Eu comecei a colaborador com a Revista
Recreio em 2000, fiz muitos Passatempos, Cadês,
Jogo dos Sete Erros
e ilustrações diversas para a revista. Entrei na Recreio graças a
indicação do
amigo Marinho para a Monica Pina que era a
editora da
revista Recreio. Sou colaborador até hoje, publico na Recreio
tirinhas com o personagem Simão. Adoro colaborar com a Recreio.
TONY 25: Essa revista, que foi criada pela
professora e escritora Ruth Rocha, até hoje faz a cabeça da
molecada.
É genial... Chargista da TV Record... Cacilda, você não
para nunca, hein? Rsss... Conta pra gente, como você conseguiu este
espaço nessa outra emissora de TV e
como era ou é esse tipo de
trabalho...
CÉSAR: Sou chargista da TV Record desde 2009,
como eu já era bem conhecido como chargista esportivo, da
Bandeirantes, e tive um Plim Plim
da Globo que ficou muito famoso,
fui convidado
para ser Chargista do Esporte Fantástico da
TV Record
pelo Sérgio Hilisnky, em seguida fui convidado por Julio Cesar
Balasso a fazer
Charges para toda a programação
Jornalística do
Canal.
Tony 26: Seu talento é imenso, César. Lembro-me
bem daquela animação que você fez para aquela vinheta da Globo.
Adorei... e, por justiça, surgiram os convites, porque todos
reconheceram seu talento... Qual é o nome do seu estúdio? É, de
fato, uma empresa constituída,
com CNPJ e Inscrição Estadual?
CÉSAR: O nome do meu estúdio é TO
BEAT
DESENHOS ANIMADOS LTDA. Sim, é uma empresa constituída com
CNPJ etc e impostos pra pagar! rsrsrsrsrs...
Tony 27: To Beat or Not To
Beat? Rsss... genial! Você é maluco, tanto quanto eu. Também
sempre vivi abrindo empresas e rebolado para pagar os encargos
sociais e
pra não deixar a “peteca cair”... C’est la vie, mon
ami,
como diriam os franceses. Mas, vale a pena se organizar
e
constituir empresa. Isto torna o artista um empreendedor
e mais
responsável, além de gerar empregos.
Fazer animação no Brasil
sempre teve um custo
operacional alto. No passado, a maioria das
animações
eram feitas quase que exclusivamente para comercias de
TV. Mesmo sabendo que a tecnologia chegou para
facilitar a vida dos
profissionais dessa área, como você mesmo frisou, questiono: Quanto
custa, em média,
um filme animado de 15 segundos?
CÉSAR: O custo de animação caiu bastante
devido as novas tecnologias, softwares etc.
Um filme animado de 15
segundos pode custar
entre R$ 5.000 até R$ 20.000 dependendo da
complexidade, quantidade de personagens etc
TONY 28: Sei que antigamente custava uma nota
preta... grato, pela informação... Daniel Messias, o finado Ely
Barbosa, Mauricio de Sousa e outros foram os pioneiros
da animação
profissional no país, segundo meus espiões... isto é correto?
CÉSAR: O Daniel Messias foi um dos
maiores
pioneiros da animação brasileira. Ely Barbosa e
Mauricio de
Sousa também foram grandes pioneiros nesta área. Aliás, os 3 foram
minhas inspirações
na infância.
TONY 29: Devemos, todos, tirar o chapéu para
esses geniais artistas, gente. Daniel Messias... vamos falar
sobre
esse mago da animação nacional, que fez trabalhos para inúmeros
comerciais de TV...
ele foi seu grande mestre, César? Em O Livro da
Animação, também lançado pela editora Europa, ele e você dão
dicas maravilhosas para aqueles que desejam entrar para o incrível
mundo do desenho animado.
Como surgiu a ideia de realizar esta bela
obra e
convidar o Messias, um expert no assunto?
CÉSAR: Tony, eu nunca trabalhei diretamente
com
o Daniel Messias, mas o trabalho feito por ele e por
seus
colaboradores me influenciaram diretamente. Quem não se lembra de
comerciais da Tostines,
Snoopy, Kellog’s, Cheetos e tantos outros
nos
anos 80? Me lembro de gravar estes comerciais num videocassete e
parar quadro a quadro no controle remoto para estudar as animações
destes comerciais.
Em 2014 eu convidei o Daniel para participar do
meu livro, ele colaborou com muito empenho e dedicação. Para mim,
foi mais um sonho realizado, lançar um livro com o Mestre foi
incrível. Novos livros virão em breve. Aguardem. Rsrsrsrsrs
TONY 30: Os comerciais que você citou foram
incríveis e marcaram gerações. Aliás, algumas dessas fantásticas
criações ainda estão aí, invadindo nossos lares, pela TV. Grande
Daniel Messias... Quanto a outros livros abordando
o mesmo tema:
Manda bala, Cesão! Chega de livros sobre animação só
estrangeiros. Precisamos formar novos e bons profissionais. Os
desenhos animados brasileiros, assim, poderão se tornar uma
realidade, como aconteceu com os desenhos japoneses, que atualmente
empesteiam (no bom sentido. Rsss. Os japas também fazem um grande
trabalho.) as TVs mundiais. Quais são os princípios fundamentais do
desenho animado?
CÉSAR: OS 12 príncipios básicos são:
Comprimir
e esticar, Antecipação, Encenação, Straight ahead e
Pose to
pose, Follow through & overlapping action, Aceleração e
desaceleração, Arcos, Ação
secundária, Timing, Exagero, Solid drawing e Appeal
TONY 31: São coisas a beça e quem não entendeu
bulhufas, tá na hora de fazer um bom curso de inglês, galera. Aonde
se viu um artista de HQs, publicidade e animação, que não sabe
porra nenhuma de inglês, com internet e o mundo globalizado? Estudar
é preciso...
Como era o mundo dos animadores antes
da tecnologia?
Antes do key frame?
Enfim, como era o processo de animação?
Lembro-me quando colaborei com o Estúdio
Ely Barbosa, como já
disse, para fazer um comercial
de 15 segundos ele contava com um
batalhão de colaboradores, uma grande equipe de free lancers...
CÉSAR: Antes da tecnologia existiam pilhas e
pilhas de papel! Rsrsrssrsr... Eu peguei o final desta fase, tive o
privilégio de aprender animação como se fazia antigamente, sem
auxílio de computadores, tudo
na mão, na raça e no talento. Hoje
ficou mais fácil, porém, novos animadores esquecem de aprender os
fundamentos básicos e tradicionais de uma animação.
A síntese da
animação está lá atrás, os conceitos tradicionais nunca podem
ser esquecidos. O computador é uma ferramenta indispensável na
animação moderna.
TONY 32: Além dos computers serem ferramentas
vitais, hoje, para os animadores, o processo ficou menos
antiecológico. Assim como nós, os desenhistas e
editores, os
animadores também detonavam pilhas
e pilhas de papéis. Haja
árvores... Rsss. Vamos nessa: Cenaristas... como o nome sugere,
devem ser os caras
que fazem os cenários, OK? Em que formato esses
trabalhos são feitos? E com que material eles são
pintados? Usam um
programa específico?
CÉSAR: O artista de Cenários é um
ilustrador!
Na minha opinião, um dos melhores desta área é o
Ronaldo Lopes Teixeira conhecido como ROLT.
É função dele criar o
clima adequado e a plataforma
de atuação das personagens. Hoje em
dia muitos cenaristas utilizam o Photoshop para ilustrar os cenários,
alguns ainda usam materiais convencionais como tinta, nanquim,
ecoline etc
TONY 32: Não sabia que o Ronaldão era o
bambambam
dos cenários. Parabéns, Ronaldo e grande mano amplexo,
fera! Fora os cenaristas, uma equipe de animação também precisa
contar com desenhistas, artefinalistas etc...
em geral, quantos
profissionais são necessários para
realizar um bom trabalho?
CÉSAR: Tudo depende do
tamamho da produção
e do orçamento! Kkkkkk... Uma produção
simples
vai precisar de no mínimo um roteirista, um artista
de
storyboard (Storyboardartist), um cenarista, um Concept artist, um
animador e um editor.
Tony 33: Quer dizer, se o l’argent, a grana, for
mixa,
a equipe também é pequena. Mas, se a verba for boa,
surge um
puta time... tem sentido.
E ainda há quem diga que dinheiro não
trás felicidade... manda buscar. Rsss. Todo filme animado precisa
ter um storyboard? Já fiz muitos storyboards para agências de
publicidade e para produtoras de comerciais de TV.
Um storyboard é
uma espécie de história em quadrinhos com imagens sequenciais e
textos que apresentam a
ideia do filme, tanto para o cliente quanto
para o diretor
que irá realizar o filme, em geral, com atores e
atrizes contratados.
CÉSAR: Exato, o Story board dará o
direcionamento
das cenas e serve como elo entre toda a equipe e as
etapas de produção.
Tony 34: Ta vendo como o véinho aqui ta ligado?
Rsss... Atualmente é possível substituir a tradicional mesa de
animação por um tablet?
CÉSAR: Sim, perfeitamente!
Tony 35: Deus salve a tecnologia! Rsss... Safe
Área é o termo em inglês que é usado para determinar um Guia de
Enquadração, OK? Explica melhor, para nós, os leigos, como é esse
tal guia e para que serve...
CÉSAR: Existem campos visuais que determinam o
enquadramento da cena. Por exemplo, em televisão
hoje usamos o
formato HD 16.09 1920x 1080 Pixels.
O Safe área seve para delimitar
as áreas que ocuparão as imagens e as áreas de texto também.
Tony 36: HD 16.09 nãoseioquepixels??? Cacilda,
você manja da coisa mesmo, hein? Estamos tendo uma verdadeira aula
sobre o assunto, galera... O que você prefere para executar uma
animação: Lápis ou caneta digital?
CÉSAR: Os dois! Porém, como em televisão
os
prazos são curtos acabo utilizando mais
a caneta digital.
TONY 37: Ficha de animação ou time line? Explica
pra “nozes”... Rsss...
CÉSAR: A ficha de animação serve para
apontar
os diálogos e detalhamento nas cenas, ajustar e sincronizar
as falas das personagens etc. A time
line é a mesma coisa, porém,
com mais recursos e efeitos oferecidos pelo software.
TONY 38: Voltando a falar sobre o grande mestre
Daniel Messias – sempre fui fã dele -, o mestre teve seus
traba-
lhos reconhecidos, devido a alta qualidade, pelos maiores
licenciadores internacionais, como: Warner, Hanna-
Barbera, Disney
etc... Além disso, quem é que não se lembra do frango da Sadia, da
menina Nhac da margarina Claybon, Dói-Dói da Johnson, do tigre da
Kellogs, Fandangos e outros comerciais memoráveis?
O tal frango da
Sadia até hoje é exibido e continua genial, agora com altos
recursos tecnológicos. Como foi trabalhar
e aprender com o mestre? O
homem é metido ou é
um cara simples? Rsss...
CÉSAR: Não cheguei a trabalhar diretamente
com o Daniel na época destes comerciais porque eu ainda
era uma
criança! Kkkkkk...
TONY 39: Putz... pisei no tomate, mais uma vez.
Você já havia me explicado isso, cara. Mil perdões, meus neurô-
nios
andam bambos... Rsss...
CÉSAR: Vou falar como foi ter lançado um
livro
com ele...
TONY 40: Legal... manda ver...
CÉSAR: O Daniel foi muito amigo e prestativo
e um
cara simples, forneceu todo o material e compar-
tilhou o seu
conhecimento. Foi muito legal e tranquilo trabalhar com o mestre
Daniel.
Pretendo lançar novos livros com ele em breve.
Não tem como falar de animação Brasileira sem
falar do Mestre
Daniel Messias.
TONY 41: Não resta dúvida. Ele é uma espécie
de
Disney tupiniquim. Ele é o cara! Galera que curte e quer fazer
animação: vocês não podem perder esses lançamentos. Fiquem
antenados nas bancas e livrarias! ARCS significa Linguagem da
Animação, acertei? Explica pra gente como essa coisa funciona...
CÉSAR: Figuras humanas e animais geralmente se
movimentam em arcos, sejam correndo ou andando.
É comum que o
animador, ao planejar a animação observe esta movimentação em
Arcos na hora de animar.
Tony 42: Staging é a Encenação... dá pra
explicar também?
CÉSAR: Em longas ou curtas metragens de
animação e até mesmo em um simples comercial
de TV de 30 segundos,
cada cena deve estar rela-
cionada com o filme todo, de forma a contar
melhor
a ideia apresentada. Esse trabalho é feito na etapa de
planejamento do projeto, por um profissional sob a supervisão do
diretor, ou mesmo, pelo próprio diretor. No processo de staging, os
melhores planos e ângulos são minuciosamente determinados, bem como
cada ação do personagem, a combinação adequada de cores e também
os movimentos dos cenários.
A preocupação básica nesse estágio é
procurar
tornar a ação clara para o público e ao mesmo tempo
coerente com o enredo do filme.
Tony 43: Grato, pela explanação, mestre...
Timing, ainda segundo a linguagem dos animadores mundiais, significa
Temporização. Logicamente se deduz que é através do Timing que
vocês sincronizam as imagens em tempo
correto em cada cena. Acertei
ou enfiei o pé na jaca?
Rsss...
CÉSAR: Mais ou menos, kkkk... O Sink labial
para sincronizar as vozes também está relacionado a
Timing, só que
a definição de Timing é um pouco
mais abrangente, vamos-lá:
Há uma espécie de “quase unanimidade”
entre os animadores de que timing é o mais importante, mas também o
mais difícil dos princípios em animação
e o que demanda mais
tempo do profissional para dominar a sua prática. Um bom exercício
é observar filmes de atores ao vivo. Timing é básico para
estabelecer o caráter do personagem e as suas emoções, suas
atitudes em geral e o animador
consegue isso combinando ações mais
rápidas
com ações lentas. Ações mais lentas demandam
um número
maior de desenhos e as mais rápidas, menos intervalos entre os key
frames. Para ações extremamente rápidas o animador deverá
empregar
todo o seu arsenal criativo para sugerir que a
imagem esteja
se deslocando com velocidade
extrema como ocorre com algumas imagens
que
vemos nessa animação.
Tony 44: Minha nossa... isto está virando um
intensivão sobre animação. Estamos aprendendo muito contigo,
teacher... Avante: Slow Out/Slow In são termos em inglês
que se referem a aceleração e a desaceleração dos movimentos.
Explique com palavras simples como é
esse processo...
CÉSAR: Aceleração e desaceleração (slow
out e
low in), as pessoas e os objetos não se deslocam
no espaço
com a mesma velocidade sempre. Geralmente, as ações são mais
lentas no início,
ganham velocidade e se tornam mais lentas antes
de
parar. Isso ocorre com todos os corpos, pois
estão submetidos à lei
da gravidade. Um exemplo ilustrativo desse princípio é o movimento
regular
de um pêndulo, mais lento quando próximo às
posições
extremas e mais rápido nas intermediárias.
O animador deve dominar
bem o princípio da acele-
ração (slow out) e desaceleração (slow
in) de um
corpo, como ocorre com naquela animação do
Piu-Piu: da mesma
forma que o pêndulo, a ação fica mais
lenta e exige mais desenhos
quando o personagem
está próximo aos Key frames sob o efeito da
inércia,
e se torna mais rápida, e, portanto,exige menos desenhos
quando está nas posições intermediárias.
Tony 45: Captei vossos “sinais de fumaça”,
grande guru
da animação. Entendido. Continuando: Exageration
(Exagero)... de fato, sempre vemos alguns exageros
nas animações,
mas isto deve ter uma finalidade
específica, né? Dá pra explicar?
CÉSAR: O uso do EXAGERO em animação é muito
bem vindo, é graças a este princípio que as ações
se tornam mais
perceptivas e divertidas em animação.
Tony 46: Ok... Dê um exemplo de Secondary Actions
(Ações Secundárias)?
CÉSAR: Como o próprio nome sugere, a ação
secundária é a animação que reforça a animação principal,
tornando-a mais interessante e dando a ela mais graça. Lógico, esse
tipo de animação sempre depende da principal e é sempre uma reação
à ação
que a governa. Exemplo: Uma personagem agita
freneticamente duas bandeiras. As mãos da perso-
nagem geram o
movimento principal e as bandeiras reagem como resultado dessa ação,
esta reação da bandeira é uma ação secundária.
Tony 47: Bem explicado. Agora, vamos falar sobre
Squash e Stretch (Achatamento e Alongamento)...
estes nomes designam
técnicas muito comuns nas figuras de animação. Você sabe dizer
quem foi o primeiro a desenvolver essa técnica?
CÉSAR: SQUASH (achatamento) e Stretch
(alongamento) são os princípios mais empregados
na animação e
portanto, os que um profissional que pretende fazer a animação deve
dominar com maestria. Squash pode ser visto em animações de curtas
metragens, com fortes estilizações dos personagens,
ou em suaves
deformações dos rostos dos personagens, nos diálogos dos filmes de
longas metragens. É usado quando um personagem, afetado pela força
da gravidade, é projetado e se “achata”
contra o chão ou uma
parede de uma forma diferente
da que ocorre no mundo real.
Tony 48: Saquei... de fato, da mais graça pra
animações... Solid Drawing – Weight (Desenho
Volumétrico)...
O que é um Desenho Volumétrico, grande
César?
CÉSAR: O animador deve sempre estar atento à
dinâmica do movimento e às suas leis, mesmo que
elas só existam
para serem contrariadas no reino da animação. O peso é uma dessas
forças, movimentos
de um ator que se levanta de uma cadeira e
caminha. Veja, Tony, no início esse movimento é lento, ganha
aos
poucos velocidade e desacelera até parar no final. Tudo se reduz a
um bom timing. Quando um personagem salta, ele realmente está sendo
impelido contra o chão. Ele tem que vencer a força que o prende
à
terra, portanto, quanto mais rápido ele correr,
mais alto será o
salto. Eventualmente, ele usará os ombros e os braços para
auxiliá-lo nesse esforço.
TONY 49: Com certeza... são detalhes mis que um
bom animador deve ficar atento, é óbvio... Straight Ahead
(outro
nome gringo que eu acho que significa Animação)... em outras
palavras, o que isto significa exatamente este termo?
CÉSAR: O principio STRAIGHT AHEAD é aquele
em
que você começa a animar do quadro 1 e vai
direto até o quadro
final pensando em cada detalhe e ajustando para o movimento sair bem
fluido. É um processo que chamamos de “DIRETO”. Onde o animador
ataca a animação sem dó.
Tony 50: Haja trabalho... Pose to Pose (Posição
Chave)...
O que é uma Posição Chave? – Já deu pra sacar que
entendo muito pouco ou quase nada sobre o assunto? Rssss...
Follow Trough (Continuidade)... bem, pelo menos
essa deu para manjar... afinal, todo filme tem um
continuísta para
não dar mancada, né?
Qual é a exata função desse suposto
profissional? –
se é que acertei... Rsss.
CÉSAR: Este princípio consiste na tendência
de determinadas partes de um objeto ou de um corpo (rabos, penachos,
folhas,etc) continuarem a se
mover mesmo depois que o objeto parou o
seu curso. Aqui, o rabo do frango, um elemento secundário do objeto,
“segue” o movimento original do objeto principal, o corpo do
frango, o qual determina o
curso desse movimento.
Tony 51: Aprendi esses termos lendo alguns livros
estrangeiros de animação, César... vamos ver outro: Overlapping
(Sobreposição)... Cacilda, um animador,
antes de tudo, tem que
fazer um bom curso de inglês...
Rsss. Termos em inglês também são
comuns nas
agências de publicidade. Mas, explique melhor o que é
Overlapping... se puder... Rsss...
César: Na natureza, as partes que compõe um
objeto ou corpo não se movimentam todos ao
mesmo tempo. No cartum
também ocorre fato semelhante. Braços, cabelos, roupas, grandes
orelhas continuam o seu movimento próprio
mesmo depois que a massa
principal do perso-
nagem parou ou mudou a trajetória do movimento.
Nada para ao mesmo tempo.
Tony 52: Claro, é uma questão de lógica, que um
bom animador profissional deve ficar atento... Appeal (apelo)... essa
eu juro que não entendi, pra variar... Rsss...
CÉSAR: APPEAL é o atributo que os personagens
dos “cartoons” devem apresentar para seduzir as plateias e isso
se consegue com um bom design, observando-se as leis da dinâmica e
do movimento
e, principalmente com a personalidade dos “atores”
animados, sejam eles, heróis, vilões, cômicos ou trágicos. Gestos
e expressões corporais têm que compor harmoniosamente um personagem
e fazer
as plateias reagir de forma positiva aceitando-os
como reais.
Não basta que a animação seja apenas tecnicamente boa, mas também
que consiga trans-
mitir convincentemente todas as peculiaridades dos
personagens envolvidos na história.
Tony 53: Cara, isto é fundamental e também deve
ser aplicado aos personagens das HQs, com certeza... Animação
cíclica... é uma animação repetida
várias vezes?
CÉSAR: Sim! Animação cíclica é um recurso
muito usado pelos animadores, mas que requer um certo cuidado em sua
elaboração, pois qualquer falha
poderá resultar em efeito
desagradável causado pela sucessão repetida do erro. Mas quando bem
execu-
tado, além da economia enorme de trabalho,
seu efeito é bem
interessante.
Tony 54: William Hanna e Joseph Barbera
(Hanna-Barbera) utilizaram muito este tipo de coisa, devido ao curto
espaço de tempo que tinham para produzir series contínuas para
a
TV... prosseguindo nessa verdadeira sabatina sobre animação...
rsss... Lip Sync e Model Sheets... Essas
consegui matar facilmente, eu acho... Rsss. Sincronismo labial
e Folhas de modelo (referência )dos personagens,
que devem seguir um
padrão. Quando desenhei Disney, Hanna-Barbera e super-heróis DC
(para merchandising) usávamos muito, como base, os tais model
sheets, que vinham da América. Essas folhas de referências servem
para que os desenhistas não deturpem a imagem dos personagens.
Suponho que deve ter sempre um profissional especializado em fazer a
Sincronização Labial, correto?
César: É necessário...
Tony 55: Color Sketches (Cenários – Esboços de
Cor)...
eles são feitos pelos cenaristas, acredito?
Por aqueles que
desenham os cenários...
César: Geralmente sim! Mas também pode ser
desenvolvido pelo artista de concept também.
Tudo depende do tamanho
da equipe e de quantos profissionais fazem parte do processo.
Eu
mesmo crio personagens e cenários se precisar.
Em um estúdio grande ou de porte médio, o
diretor
de arte providenciará os estudos de cor dos cenários juntos
com os personagens, enquanto uma outra
equipe irá desenvolvendo a
animação.
Esses estudos se constituem em pequenos esboços
de não
mais que 3X4 polegadas e essa dimensão reduzida ocorre por que é
mais fácil ter o controle
da harmonia de cores, o processo flui
rapidamente
e além disso, eles podem ser dispostos em serie
para
facilitar a visualização de toda a sequência.
Tony 56: Interessante... Há uma grande gama de
softwares, scanners, tablets e cintiqs, que atualmente ajudam a
facilitar o trabalho dos animadores, certo?
Há algum exagero em
dizer que a tecnologia digital revolucionou o mundo da animação?
CÉSAR: Exagero algum! A tecnologia não só
revolucionou como mudou o mundo da animação
pra sempre.
Tony 57: Obviamente, os profissionais emergentes
usam tecnologia... e os animadores tradicionais
ainda têm campo de
trabalho?
CÉSAR: Os animadores tradicionais que migraram
para o tecnológico ficaram imbatíveis. Infelizmente
nem todos os
grandes animadores tradicionais migraram para o digital, estes
acabaram perdendo mercado. Eu sou um dos profissionais que migrou
para o digital.
Tony 58: É isso aí. Ou o cara se adapta ou vai
pro saco, literalmente. Isto também se aplica as HQs... Atualmente o
mercado esta super aquecido. Há muita animação principalmente nas
TVs por assinatura... Na sua opinião, enveredar pelo mundo das
animações é um bom negócio? Ou ainda é muito restrito?
CÉSAR: É um bom negócio sim, mas não é
fácil
vencer nesta área. O futuro animador precisa
entender que
levam anos para se transformar num animador de ponta, não é apenas
aprender um ou
dois softwares que vai fazer o cara se dar bem nesta
área. É necessário empenho, talento, paciência, persistência e
sorte. Desenvolver uma mente de animador é diferente de arremessar
objetos usando softwares de animação.
Tony 59: Ouviram isto? Ele deu dicas preciosas...
caso você queira se tornar uma fera dessa área.
No passado a
maioria dos livros sobre animação, que apareciam no Brasil, eram em
inglês, como já dissemos... hoje em dia a coisa mudou. Você
recomenda algum
livro de autor nacional sobre essa matéria
fascinante?
CÉSAR: Recomendo os meus próprios livros!
Kkkkkk... São nacionais, de qualidade e preço justo.
Tony 60: Eu sabia que você não ia perder essa
oportunidade de fazer seu merchandising... afinal, a propaganda é a
alma da negócio. Rsss... tá certo...
Saibam todos os webleitores
que os livros do César,
pela editora Europa, estão à venda. Vale a
pena
conferi-los, galera. Recomendo-os... Preston Blair,
Walt Disney
e Walter Lantz e outros, todos foram
grandes mestres da animação.
Qual é sua opinião
sobre eles? Você se inspirou, para fazer seus
trabalhos, numa dessas feras?
CÉSAR: Com certeza, nos anos 80 a única forma
de termos um contato direto com animação era
através da televisão
assistindo aos desenhos e personagens produzidos por estes estúdios.
Preston Blair levou a didática da animação para
os livros de uma
forma simples.
Tony 61: Cheguei a comprar algumas edições do
Blair
que chegaram ao Brasil, mas na época meu inglês
era fraco
demais... daí, acabei desistindo de fazer animações, por pura
incompetência, por falta de dominar
o idioma inglês. Histórias em
Quadrinhos... já pensou
em fazer alguma destinada as crianças? Seu
estilo é fantástico...
César: Bom, já produzi álbuns em quadrinhos
com o Simão pela Editora Globo. Eu gostaria de produzir
novas HQS.
Quando conseguir uma nova editora que queira produzir meus quadrinhos
eu volto a fazer.
Tony 62: Que Deus te ouça... com a atual crise
política e monetária que atravessa o Brasil, tá duro achar
editores
pra investir. Mas, vai melhorar, com certeza. Não se deve
desistir, jamais... Bem, depois dessa verdadeira aula
sobre desenho
animado, aposto que muita gente vai ficar interessado em aprender as
técnicas dessa arte seqüencial encantadora, que atrai gente de
todas as idades... assim,
só me resta agradecer a você pela
paciência que teve em responder esta verdadeira sabatina sobre
animação.
Césão, valeu! Muito sucesso e até uma próxima
oportunidade. Precisamos de mais gente talentosa como você. E,
parabéns por suas realizações. Ave, César!
CÉSAR: Tony e Webleitores, foi um prazer
compar-
tilhar um pouco da minha história profissional com vocês. Eu
que agradeço a oportunidade. Abraços e
até a próxima!
Tony 63: Valeu! Foi uma entrevista fascinante,
pode acreditar. Principalmente para quem deseja entrar ou
saber mais sore o undo da animação, meu amigo!
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As imagens contidas nessa entrevista pertencem a seus autores ou
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